A experiência da Poligremia – autocrítica em busca de um sentido histórico no movimento secundarista

retirado de http://passapalavra.info/?p=60822

Romper o ciclo de eterno (re)começo das lutas e organizações secundaristas exige manter vivas suas experiências anteriores e contemporâneas, relacionar passado, presente e futuro. Por Caio Martins, Leonardo Cordeiro, Luiza Mandetta e Marcelo Hotimsky.

 

Para nós, no movimento secundarista, parece que estamos sempre começando. Por um lado, começando nossa atuação política; por outro, começando ou retomando do zero a organização de nossos espaços políticos. Boa parte de quem participou de grêmios estudantis teve que se dedicar, primeiro, à sua (re)construção. O ritmo imposto pelo ciclo de três anos do colegial é hostil à formação de organizações estudantis duradouras. É difícil para os mais velhos, que estão deixando a escola e participaram da criação do grêmio, consolidar e transmitir suas experiências às turmas mais novas, o que leva comumente à desestruturação ou ao desaparecimento destas organizações. Em geral, o que sobrevive dos grêmios é só uma vaga lembrança entre os alunos e professores – que vez por outra incentiva uma nova geração a começar de novo.

Grêmios contra o aumento em 2006.

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A Tirania das Organizações Sem Estrutura

Texto de formação

tirania das organizações sem estrutura, a – pdf

Artigo de Jo Freeman, 1970

Durante os anos em que o movimento feminista se formava, dava-se grande ênfase ao que se chamava de grupos sem estrutura, sem liderança, como a forma principal do movimento. Essa idéia tinha origem numa reação natural contra a sociedade superestruturada na qual a maioria de nós se encontrava, no controle inevitável que isso dava a outros sobre nossas vidas e no elitismo persistente da esquerda e de grupos similares entre aqueles que supostamente combatiam essa superestruturação.

A idéia da “ausência de estrutura”, no entanto, passou de uma oposição saudável a essas tendências a um dogma. A idéia é tão pouco examinada quanto o termo é utilizado, mas tornou-se uma parte intrínseca e inquestionada da ideologia feminista. Para o desenvolvimento inicial do movimento, isso não importava muito. Ele definiu inicialmente seu método principal como a conscientização e o “grupo de discussão sem estrutura” era um meio excelente para esse fim. Sua flexibilidade e informalidade encorajavam a participação na discussão e o ambiente freqüentemente receptivo promovia a compreensão pessoal. Se nada de mais concreto que a compreensão pessoal resultasse desses grupos, isso não importava muito, porque seu propósito, na verdade, não ia além disso.

Os problemas básicos não apareceram até que grupos de discussão individuais exauriram as potencialidades da conscientização e decidiram que queriam fazer algo mais específico. Neste ponto, eles normalmente se atrapalhavam porque a maioria dos grupos não estava disposta a mudar sua estrutura na medida em que mudava sua tarefa. As mulheres tinham comprado totalmente a idéia de “ausência de estrutura” sem perceber as limitações de seus usos. As pessoas tentavam usar o grupo “sem estrutura” e a reunião informal para fins para os quais não eram apropriados, acreditando cegamente que quaisquer outros meios seriam simplesmente opressivos.

Se o movimento quiser avançar além desses estágios elementares de desenvolvimento, ele deverá livrar-se de alguns de seus preconceitos sobre organização e estrutura. Nenhum dos dois tem nada de intrinsecamente ruim. Eles podem e freqüentemente são mau usados, mas rejeitá-los de antemão porque são mau usados é nos negar as ferramentas necessárias ao nosso desenvolvimento ulterior. Precisamos entender porque a “ausência de estrutura” não funciona.

Estruturas formais e informais

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Moção de apoio à ocupação da UFPR

“Carregamos um mundo novo em nossos corações, que cresce a cada momento. Ele está crescendo neste instante […].”
Buenaventura Durruti

Nós do Rizoma, uma tendência libertária e autonôma que atua na USP, gostaríamos de expressar publicamente nosso apoio e solidariedade aos estudantes ocupantes da reitoria da UFPR. Entendemos que a única maneira efetiva e transformadora de lutar por conquistas sociais é tendo a ação direta como método – pois somente quando os próprios interessados protagonizam a luta, sem contar com representantes ou intermediários políticos, se torna possível a transformação social e o avanço rumo as nossas bandeiras, além de fortalecer a construção e o amadurecimento do movimento como um todo: é na participação real na luta política que se aprende a lutar e fazer política transformadora. E sendo toda ocupação uma forma de ação direta combativa, e que coloca em cheque a própria hegemonia territorial, essa além de possibilitar as importantíssimas experiências de autogestão autonôma do espaço ocupado, é também e por isto mesmo, um forte instrumento de pressão para alcalçarmos nossas reivindicações.

Viva a construção da greve geral na educação!
Todo apoio as ocupações universitárias!
Viva a ação direta e a solidariedade!
Lutar por uma outra universidade para construir uma outra sociedade!

Rizoma – Tendência Libertária e autonôma, 12/07/12

RESISTIR NA OCUPAÇÃO: Por que manter a força estudantil na Reitoria da UFPR.

Tirado de http://quebrandomuros.wordpress.com/2012/07/11/resistir-na-ocupacao-por-que-manter-a-forca-estudantil-na-reitoria-da-ufpr/

Como já colocado neste espaço, o Coletivo Quebrando Muros compõe e apoia a ocupação de estudantes na Reitoria da Universidade Federal do Paraná. Esta ocupação, ao contrário do que vem sendo pautado em uma parte da imprensa e nos posicionamentos oficiais da Reitoria, não ocorre meramente como uma “radicalização vazia” nem sequer constitui ato de “vandalismo”, como vem sendo exposto. Cabe lembrar o histórico do movimento: desde o início das negociações, a Reitoria tem-se mostrado bastante intransigente e, ao contrário do que tem dito, não apresentou uma disposição favorável ao diálogo com os estudantes, apresentando às pautas apenas respostas vagas e sem prazo concreto para efetivação.

Não é demais relembrar, também, o modo como se deu o movimento de greve estudantil do ano passado, no qual os estudantes saíram com conquistas históricas: RUs abertos aos domingos e nos cafés-da-manhã, aumento no valor de bolsas em 20%, ampliação do número de livros para empréstimo na biblioteca para 5 por aluno, entre outros. Estas conquistas não vieram do “compromisso” ou “excelência” dos nossos diretores acadêmicos, pois nada nos será concedido meramente pela boa vontade destes. Vieram, senão, através da organização e ação direta do movimento estudantil, que através de sua luta e organização autônomas, é capaz de obter as conquistas através de sua própria força. Neste sentido, cabe retomar os instrumentos de luta utilizados pelos estudantes neste processo: foi somente com a ocupação da Reitoria, que foi possível pressionar a Administração da Universidade em ceder e garantir nossas pautas. Portanto, consideramos legítimo o uso desse instrumento novamente na greve deste ano, levando em consideração que até o presente momento não houve proposta concreta da Reitoria, apenas enrolação.

Entretanto, desde que a Assembleia Geral dos Estudantes deliberou pela ocupação, a Reitoria optou por romper com a mesa de negociação em curso e retaliar sistematicamente todo o corpo de alunos da Universidade. Entendemos gestos tais quais: não-pagamento de bolsas, veto ao uso de ônibus para ida a eventos e congressos, e cancelamento das sessões do Conselho Universitário, como um ataque direto ao movimento, na tentativa de criar tensões internas entre o corpo discente para desmobilizá-lo. É importante frisar, porém, que quem rompeu com as negociações foi a Reitoria, e não os estudantes. Além disso, é responsabilidade da Reitoria garantir o devido funcionamento dos serviços interrompidos, o que é perfeitamente possível, como feito, por exemplo, em 2007, quando a Reitoria realizou uma sessão do Conselho na maternidade do HC, devido a uma ocupação em curso no mesmo período. Consideramos curioso, portanto, que a Reitoria agora venha dizer que não é possível realizar sessões do Conselho sem ter a sala disponível. Não é de hoje que a Reitoria tem feito isto: em 2009, houve liberação de verba emergencial para comprar comida a ser enviada para as casas de estudantes, por conta do fechamento do RU devido à gripe suína. Porém, no movimento de greve atual, a Reitoria coloca a culpa pela falta de alimentação dos estudantes na greve dos técnicos. Perguntamos à Reitoria: por que tinha verba em 2009 para garantir a alimentação mesmo com o RU fechado, e agora na greve de 2012 não tem? Ou seria mais uma tática para desmobilizar as categorias, jogando-as umas contra as outras?

Neste sentido, acreditamos que nosso movimento não deve ceder às pressões da Reitoria. Não deve aceitar seus argumentos e seu jogo de desmobilização e retaliação. Nosso movimento deve ser forte e resistir na luta e na ocupação, sem retroceder em suas conquistas e seus avanços. Nós, estudantes, só seremos capazes de avançar e conquistar vitórias se nos mantermos firmes e unidos, se tivermos força para lutar, e para isto já sabemos o que tem se mostrado como o instrumento adequado.

OCUPAR É RESISTIR! NÃO À BUROCRACIA DA REITORIA! A LUTA CONTINUA!

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