Organizar para resistir! [Luta contra o fechamento das escolas estaduais em SP]

Dia 20 de outubro, às 15h na Praça da República, ocorrerá o 4º Grande Ato Contra o Fechamento das Escolas. Desta vez a APEOESP se unificará com os secundaristas que já estão realizando diversos atos pelas regiões centrais de São Paulo e também nos bairros onde as escolas serão fechadas.

Nós do Rizoma também somos contra mais este ataque do governo e este foi o panfleto que distribuímos no 3º Ato, que fechou a Marginal Pinheiros no dia 15 de outubro, marcando o Dia Nacional de Lutas:

ORGANIZAR PARA RESISTIR

Estamos sendo atacados: pelo menos 155 escolas estaduais serão fechadas! Mas também há resistência! Para barrar mais este ataque do governo contra estudantes e trabalhadores é preciso seguir forte na mobilização e nos organizar ainda mais.

Várias escolas já estão fazendo manifestações em suas regiões e os dois atos unificados mostraram a forte mobilização dos secundaristas. O ato da sexta-feira, dia 09, também mostrou a disposição para enfrentar as ações da polícia que tentou prender dois manifestantes e reprimiu centenas de estudantes.

A luta está forte, mas para vencer é preciso ir além. Para barrar a reorganização das escolas é preciso organizar os estudantes!

> Fazer assembleias em cada escola para conversar sobre a mobilização e pensar as próximas ações;
> Organizar meios de comunicação entre estas assembleias para troca de informes e ações conjuntas;
> Recuperar os grêmios estudantis: nas escolas onde não existem, criá-los! E onde já existem chamá-los para a luta!
> Juntar forças com os professores e todos os trabalhadores das escolas: a luta é uma só e lado a lado somos mais fortes!
> Seguir resistindo nas ruas!

“Se minha escola fechar, a cidade vai parar!”

TESE DO RIZOMA PARA O XII CONGRESSO DE ESTUDANTES DA USP

ATIVIDADE ABERTA DO RIZOMA
Atividade aberta na USP para apresentação da tese e debate sobre o movimento estudantil
Quinta-feira – 03/set/2015 – 18h no Espaço Aquário
, USP Butantã
https://www.facebook.com/events/895881617166748/

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Em outubro ocorrerá o XII Congresso de Estudantes da USP que poderá servir para realinhar o programa de lutas do Movimento Estudantil (M.E.), bem como reorganizá-lo frente à conjuntura nacional e específica da USP. Poderá cumprir um papel importante e isso só ocorrerá se este Congresso romper com a rotina dos últimos. Realizar a auto-crítica sobre o refluxo no qual se encontra o movimento estudantil da USP será fundamental para nos recolocarmos de forma ativa na luta contra todos os ataques que estão sendo direcionados aos trabalhadores e à juventude, seja por parte do governo federal ou estadual. Este deverá ser o papel do XII Congresso e nós do Rizoma vamos nos incorporar a este espaço guiados por estes objetivos.

É problemático que um fórum como este, cuja tarefa deveria ser organizar a mobilização, acabe refreando o movimento. As atuais direções do DCE – PSOL e PSTU -, dificultam qualquer levante estudantil às vésperas do Congresso ou mesmo com meses de antecedência. As respostas aos ataques que recebemos e a mobilização por nossas pautas não podem ser bloqueadas por conta da construção do Congresso. Este espaço deve ter função propositiva, caminhando junto à mobilização, para não se tornar um fórum artificial e burocratizado.

Reerguer o movimento estudantil é uma tarefa urgente! Chamamos todos os estudantes engajados e comprometidos em organizar a resistência e a luta por outra sociedade a se envolverem no Congresso para que façamos, lado a lado, este espaço cumprir a função que lhe cabe! Não abandonar as demais lutas para construir este fórum, mas utilizá-lo para fortalecê-las!

|Crise econômica e política: romper com o petismo e avançar na luta|

Estamos em meio a uma crise econômica no país que, sob o comando do governo do PT, tem colocado para todos os trabalhadores e estudantes ataques como demissões, cortes nos salários, aumento de mensalidades nas universidades privadas, corte de vagas nas universidades públicas e aumento generalizado dos preços com alimentação, transportes, água, luz e em outros artigos de necessidades básicas. As supostas resoluções para esta crise econômica encontram respaldo no Estado, implementando medidas de ajuste fiscal e cumprindo o papel de conter as mobilizações de trabalhadores. Há um fio de continuidade que une o lucro recorde de banqueiros e empresários, o PPE, as MPs 664, 665 e o PL 4330 com a forte repressão aos movimentos de resistência da classe trabalhadora.

O Programa de Proteção ao Emprego (PPE), defendido por algumas Centrais Sindicais, como a CUT, é uma medida que visa a manutenção do lucro dos patrões em detrimento de demissões e cortes salariais para milhares de trabalhadores. As Medidas Provisórias (MPs 664 e 665) são parte do pacote de ajuste fiscal e revisão previdenciária que, somados ao PL 4330 que regulamenta a terceirização, deixam milhões de trabalhadores e trabalhadoras nas condições mais precárias de trabalho. Para completar, a recente Agenda Brasil – proposta por Renan Calheiros e abraçada por Dilma – expande os ataques para áreas como o SUS, apontando para a cobrança deste serviço usado exatamente por estes trabalhadores que estão sendo demitidos e perdendo seus salários. Como se não bastasse, o Estado já se adianta e tenta implementar a “Lei anti-terrorismo” aumentando a repressão aos levantes populares que estão ocorrendo e devem se intensificar.

A linha oficial do governo federal na última década celebrava o “Brasil, país de todos”, imune às crises. Mas as ilusões difundidas pelo partido da estrela vermelha e seus satélites desmancharam-se, patentemente, em junho de 2013. A corrosão das condições de vida ficou escancarada: empregos altamente rotativos, sub-remunerados, com pouca ou nenhuma representação sindical, precariedade em serviços como transporte e saúde e o aumento da especulação imobiliária empurrando os pobres cada vez mais para a periferia, têm feito com que os trabalhadores se levantem e fortaleçam greves, paralisações e cortes de rua. Neste processo de luta torna-se ainda mais evidente que o Partido dos Trabalhadores não consegue mais manter sob controle as contradições inerentes às sociedades de classes. O programa do PT, a passos largos, não se diferencia em mais nada do programa do PSDB e outros partidos da ordem.

Frente a este cenário é preciso um programa e plano de lutas que se oponha aos objetivos do inimigo – seja ele o patrão ou o governo -, não nos limitando a simplesmente reformar a sociedade atual, mas revolucioná-la! E o movimento estudantil de todo o país deve assumir sua parte nessa tarefa!

|Unificar a luta da juventude com a dos trabalhadores!|

Com o desenvolvimento das presentes crises é cada vez mais nítido quem ataca quem. Os patrões, governantes e burocratas se unem, despejando todo o ônus sobre os ombros dos trabalhadores e sua juventude. Os altos índices de desemprego entre jovens de 18 e 24 anos, somados aos cortes na área de educação, atacam centralmente os estudantes pobres e escancaram a farsa política de “governar para todos”.

Na fachada: o governo que implementou cotas sociais e raciais nas universidades federais, que expandiu o ensino superior com inúmeros novos campi e garantiu o acesso às faculdades particulares via financiamento federal. Na realidade: um governo que ataca a juventude trabalhadora em prol de seu pacto com os empresários e banqueiros. Declarada oficialmente a crise econômica, foram os financiamentos do FIES e os programas de permanência estudantil os primeiros a serem atingidos na educação.

À juventude a conjuntura atual deve ensinar que, assim como o seu aliado é um só, o seu inimigo também é! Aqueles que mandam no país – os banqueiros, empresários, patrões e governantes -, independentemente se a cor é vermelha ou azul, estão unidos contra nós – trabalhadores e juventude trabalhadora. Precisamos responder com um só golpe todos aqueles que nos atacam! Somente na aliança entre trabalhadores e juventude que conseguiremos organizar nossa auto-defesa. Compor as ações unificadas da classe trabalhadora, como as paralisações nacionais contra o PL 4330 e as MPs 664 e 665, construindo-as desde as bases a partir da democracia direta é fundamental para que o Movimento Estudantil se recoloque na sua função revolucionária, há tantas décadas abandonada. Pautando-se em eixos classistas, como a defesa da permanência estudantil, utilizando-se de métodos radicalizados de luta, como atos, piquetes e greves, e aliando-se à classe trabalhadora, será possível construir uma alternativa ao plano dos governantes e patrões. Reerguer o movimento estudantil, defender a classe, romper com as direções governistas e pelegas e avançar contra os capitalistas e estatistas: este é o desafio para o próximo período.

|Na USP…|

Desde o início da sua gestão, em 2014, o atual reitor Marco Antônio Zago anunciava uma suposta crise financeira. Sob esse argumento, os reitores das três universidades paulistas junto com o governador do estado, Geraldo Alckmin, tentaram aplicar um arrocho salarial que foi bloqueado graças à vitoriosa greve das três categorias nas três universidades. Mas outros ataques passaram e os estudantes não estavam organizados para barrá-los: demissões, cortes de bolsas, fechamento das creches e do bandejão foram alguns deles, mas muitos outros já estavam sendo aplicados mesmo antes da gestão de Zago. Agora, somado a tudo isso, ainda temos o agravante do novo plano de policiamento no campus, reforçando a repressão que recai tanto de forma explícita, como nas bombas utilizadas contra nós no ato do dia 29 de maio, bem como através de processos administrativos e criminais contra diretores sindicais e estudantes. Conjuntura não falta para que os estudantes se levantem, mas algumas coisas estão nos bloqueando.

|Aprendizados da greve de 2014|

Da greve de 2014, que durou mais de 100 dias, podemos tirar vários aprendizados. Entre eles a constatação, na prática, a potência da unidade entre estudantes e trabalhadores possui e a força que nossos métodos impõem, pois foi com muita greve, piquete, trancaços e atos de rua que conseguimos fazer a reitoria e o governador se curvarem frente ao poder operário-estudantil. Também ficou evidente a força das pautas que defendem diretamente as condições de vida, garantidas através dos salários.

Mas a participação do movimento estudantil foi realmente aquém das possibilidades. A greve atravessou a Copa do Mundo, as férias letivas e o período de eleições presidenciáveis, e a atual gestão do DCE negou-se em todos estes momentos a assumir o papel que cabe a quem se dispõe a dirigir uma entidade de base históricamente tão importante como o Diretório Central dos Estudantes da USP. A greve conduzida pelo SINTUSP mostrou que a direção do movimento é, muitas vezes, determinante para a mobilização. Reconhecendo que durante uma greve os trabalhadores estão mais ativos e participantes das decisões políticas, a atual gestão do SINTUSP colocou a direção da mobilização nas mãos do Comando de Greve, garantindo maior participação da base, de forma que estes trabalhadores pudessem intervir de fato na luta. Pois uma greve não deve ser nunca apenas da direção sindical ou estudantil, mas sim de todos os trabalhadores e estudantes mobilizados.

|Reorganizar o movimento baseado em um programa revolucionário!|

O movimento estudantil da USP está com um problema que precisa ser resolvido urgentemente. De um lado temos vários Centros Acadêmicos completamente inertes ou abertamente governistas, utilizando as ferramentas de luta e defesa dos estudantes para blindar e proteger um partido que ataca a classe trabalhadora e sua juventude. Por outro, temos um DCE há anos servindo de âncora para o movimento estudantil, burocratizando os espaços de democracia direta, tais como assembleias gerais, bem como levando um programa artificial para o conjunto dos estudantes e menosprezando as mobilizações radicalizadas em detrimento das campanhas para seus parlamentares.

É preciso fazer um questionamento profundo sobre o papel da universidade no capitalismo para elaborar um programa coerente com os objetivos revolucionários que não podem ser perdidos de vista. Há tempos o movimento estudantil da USP tem sido guiado por propostas reformistas, com eixos e palavras de ordem que buscam reformar uma universidade desde a sua origem reprodutora e legitimadora da sociedade capitalista. Os momentos de relativa abertura do acesso às universidades públicas para os filhos de trabalhadores são cancelados ao primeiro sinal de crise econômica, mostrando que ensino superior para pobres não é um objetivo. Este lugar não foi feito para nós e os governantes e capitalistas não possuem pudores em admitir isso. A constatação da falência do petismo devido à sua política de conciliação de classes exige da militância a formulação de um programa que rompa com o reformismo apontando a revolução como única saída para a presente crise.

Não podemos nos iludir e devemos guiar a luta estudantil ao combate a estes setores que nos querem fora da universidade. Por isso, as reivindicações em torno do acesso – com as cotas raciais e sociais – e a permanência estudantil – com ampliação das bolsas, reajustes nos valores e ampliação de moradias – encontram destaque em nosso programa. Estas são as reivindicações que colocam em xeque o objetivo da universidade burguesa, bem como garantem a defesa mais imediata das necessidades dos jovens filhos de trabalhadores. É com estes estudantes, e com as pautas de classe, que o movimento estudantil deve se guiar. A defesa dos que lutam contra essa sociedade injusta também deve ser prioridade no movimento, e por isso a luta contra a repressão precisa ser pautada e conduzida de forma séria e comprometida, pois ela ataca diretamente as nossas organizações políticas e todas as pessoas que atrevem se erguer pela construção de outra sociedade, bem como avança para a destruição de nossos espaços de auto-organização.

É também fundamental e urgente que o ME da USP rompa com reivindicações corporativas e coloque os estudantes nas fileiras das lutas nacionais. Diversas greves ocorreram só neste primeiro semestre e os estudantes da USP não conseguiram prestar solidariedade ativa a estas categorias que serão nossos futuros empregos. É preciso caminhar para que o corpo estudantil perceba que não somos uma classe em si, pois há estudantes parte da classe dominante e estudantes parte da classe trabalhadora. Nós, possuidores apenas da força de trabalho de nossos familiares e a nossa mesma para vender em troca de sobrevivência, precisamos nos colocar ativamente nas mobilizações que barrem todo e qualquer ataque à nossa classe. É na construção da solidariedade de classe e na aliança operária-estudantil que conseguiremos bloquear os ataques vindos por parte dos capitalistas e estatistas.

Mas para organizar a luta para defender este programa, é preciso e urgente a superação das direções que travam a mobilização. As assembleias gerais deveriam cumprir o papel de serem um espaço fundamental para a organizar a mobilização, bem como as assembleias de curso deveriam ser espaços privilegiados para o debate e aprofundamento dos pontos da mobilização. Estes dois espaços fundamentais estão reféns de um movimento estudantil pouco dinâmico e estritamente dependente das direções. É preciso romper com estas direções, dar outra dinâmica ao movimento, para cumprir as tarefas colocadas pela conjuntura.

Precisamos de um movimento radicalizado, que defenda a organização estudantil classista, a partir das bases e dos fóruns de democracia direta. É essencial que a classe trabalhadora e o movimento estudantil estejam unidos nesse momento de acirramento na luta de classes. Devemos combater todo governo que nos ataca, o que significa, atualmente, retomar as nossas entidades por ora nas mãos do governismo, um nítido freio às mobilizações que se chocam com o governo do PT. Devemos também redirecionar nossos ataques e defesas. As lutas que pretendem somente a reforma da universidade, como as mobilizações pela democratização da estrutura de poder, não respondem ao fundamental dos ataques que sofremos.

Ousar lutar, ousar vencer!

Estes são os desafios e as nossas propostas, para fazermos o debate necessário e buscarmos resoluções conjuntas que reacendam a chama do movimento estudantil, relembrando qual é o papel histórico que temos a cumprir. É preciso reerguer o movimento sob novas bases, ampliar a sua articulação com outras universidades e escolas, aliar-se com o conjunto dos trabalhadores e ir ao combate sem temer!

ROMPER E AVANÇAR: TAREFAS PARA UM MOVIMENTO ESTUDANTIL COMBATIVO

PDF do panfleto: balanco-2semimgbalanco

Este ano começou com um evidente acirramento entre a classe trabalhadora e os capitalistas e estatistas, reflexo da crise econômica que estamos vivendo: ataques do governo através de arrochos salariais, inflação e ameaças como o PL 4330 da terceirização. Apesar de não termos conseguido barrar o aumento das tarifas nos transportes públicos, o conjunto de lutadoras e lutadores ao redor do país organizaram suas defesas com fortes greves de categorias como a dos professores de São Paulo e do Paraná, greve dos servidores públicos, metalúrgicos e muitas outras. Um número considerável de universidades federais também se levantou e seguem travando uma batalha contra os cortes do governo federal. O ano de 2015 começou marcado pela expressão “dois mil e crise” e o desafio que está colocado é como o conjunto da classe trabalhadora e sua juventude continuará dando respostas frente a tantos ataques. Enxergamos que o Movimento Estudantil tem um papel essencial nessa resposta, porque ele tem o poder de organizar uma parcela relevante dessa juventude.

*

Na militância estudantil das estaduais paulistas este primeiro semestre ficou marcado pela luta contra a repressão. Na UNESP, os estudantes conseguiram se organizar e realizar atos de solidariedade aos trabalhadores – como no caso do Instituto de Artes que realizou uma intervenção no metrô de São Paulo em solidariedade aos metroviários que foram demitidos – além de conduzir uma campanha contra os processos administrativos resultantes da ocupação por moradia em Araraquara. Apesar de vitoriosa, pois as expulsões foram revogadas, ficou latente a necessidade dos estudantes da UNESP darem um passo a mais na articulação a nível estadual. Os desafios para os próximos períodos serão cada vez maiores e somente com organizações bem consolidadas nas bases dos cursos e que estejam alinhadas a nível estadual será possível estarmos preparados para as respostas que a conjuntura exigirá de nós. A repressão já voltou a mostrar a sua cara com as ameaças de expulsões no campus de Rio Claro e o movimento não poderá vacilar. Para isso é urgente que todos os estudantes combativos da UNESP se engajem na consolidação de uma organização a nível estadual que seja efetiva para mobilizar as bases estudantis e colocar o movimento nas lutas do próximo período.

Na USP, a paralisação nacional do dia 29 de maio foi um marco para o movimento. A forte repressão que enfrentamos mostrou para toda a população a truculência intrínseca à polícia militar que reprime trabalhadores e violenta mulheres, mas este dia também mostrou que levamos a sério o lema “não tem arrego”. Esta resposta violenta do estado de São Paulo contra estudantes e trabalhadores da USP explicitou outro acirramento que estava sendo colocado neste primeiro semestre. O ano mal tinha começado e já estávamos em ritmo acelerado de paralisações culminando com a ocupação da reunião do Conselho Universitário (C.O.) pela reivindicação de cotas raciais e sociais. Vitórias estavam sendo alcançadas como no caso da EACH que arrancou da direção da universidade um espaço estudantil que havia sido roubado pela burocracia e a devolução de 700 bolsas de permanência estudantil que haviam sido cortadas. Na prefeitura do campus a mobilização de trabalhadores também foi vitoriosa conseguindo o afastamento de 4 chefetes da prefeitura do campus que assediavam os funcionários através de xingamentos homofóbicos, machistas e racistas.

Mas nossas respostas ainda ficaram aquém dos ataques, pois encerramos o primeiro semestre sem conseguir reverter, por exemplo, o fechamento de vagas nas creches – que afetam diretamente as mulheres trabalhadoras e estudantes. A ocupação do C.O. no IPEN resultou em repressão através de processos e o plano de demissão voluntária continua aumentando a exploração dos funcionários. Também terminamos o semestre com o fechamento do bandejão da prefeitura e com uma política de acesso à universidade que está bem longe do que o movimento estudantil reivindicava em torno da pauta de cotas.

Aqui é preciso fazer um balanço crítico sobre o que está ocorrendo na USP e no movimento estudantil como um todo. Na maior universidade do país estamos lidando há anos com uma direção que tem servido em diversos momentos para desorganizar o movimento estudantil, como é o caso do Diretório Central de Estudantes da USP nas mãos do PSOL e do PSTU. Reflexo disso foi a primeira assembleia geral do ano que só veio a ocorrer em abril, quando o movimento sindical já estava encabeçando importantes paralisações e o conjunto de trabalhadores e estudantes já havia realizado até ocupação no órgão máximo da burocracia universitária. Essa desorganização fez com que não conseguíssemos mobilizar para responder à implementação do ENEM – que veio como manobra para não aprovar cotas raciais e sociais – e tantos outros ataques. Também não estávamos organizados e mobilizados para que, no recuo da categoria de trabalhadores frente ao ínfimo reajuste dado pelo governo estadual e o desgaste da greve do ano passado, conseguíssemos assumir a linha de frente para barrar os diversos ataques que estão sendo efetuados pela reitoria da USP.

Para além das pautas específicas nas universidades, os estudantes deveriam ter se feito mais presentes nas mobilizações nacionais contra os ataques do governo federal. Com grande parte de suas entidades nas mãos de organizações governistas que, através da UNE, fazem do movimento estudantil uma proteção ao governo anti-operário do PT, toda a potência do movimento estudantil tem ficado atrofiada há anos. Devemos ter certeza: serão estas direções governistas que correrão novamente à defesa do governo no momento em que este, retalhado por suas contradições, se afunda em uma crise política. Sofrendo ataques políticos internos à própria dinâmica estatal (na câmara e no senado) e pressionado pelos trabalhadores em conjunto, serão organizações como o Levante Popular da Juventude e a Articulação de Esquerda que tentarão dirigir a juventude e o movimento estudantil à defesa de um governo inimigo da classe trabalhadora. Será nosso dever e dever de todas as organizações da esquerda combativa, disputar essa direção e organizar o movimento estudantil não em defesa do governo, mas ao lado da classe trabalhadora contra a conciliação de classe e a crença no projeto falido do petismo. Dessa maneira, explorando as contradições das direções governistas e oportunistas, devemos encabeçar um movimento de ruptura com esse projeto e avançarmos impulsionando o movimento estudantil à luta ativa contra o governo.

Frente a atual situação do movimento estudantil soma-se também o fato de que, quando não estão na mãos dos governistas, as entidades estão sob direção de outras organizações reformistas. É urgente a tarefa do crescimento de direções combativas e revolucionárias nos centros acadêmicos e diretórios para que estas não sejam exceções pontuais e consigam se colocar à altura dos desafios que se abrem no próximo período. Por isso, nós do Rizoma continuaremos focados na atuação pela base dos cursos tentando mobilizar e organizar o movimento estudantil, dando também um passo a mais para ampliar a atuação em outras universidades, pois só conseguiremos barrar os virulentos ataques que estão vindo dos capitalistas e estatistas com ações unificadas e radicalizadas de todo o corpo estudantil em aliança com os trabalhadores!

*

Os governos sabem a força que temos e, enquanto aplicava arrochos generalizados, tratou logo de tentar calar alguns dos sindicatos mais combativos e de setores mais estratégicos dando reajustes, ainda que com porcentagens menores do que a inflação, para trabalhadores das estaduais paulistas – que têm no SINTUSP uma importante e radicalizada atuação – e para os metroviários – setor altamente estratégico e também com forte tradição de luta. A derrota da greve de professores de São Paulo mostrou que o governo está disposto a reduzir ao máximo as condições de vida dos trabalhadores, mas serviu também para mostrar a traição das direções governistas que oscilam e muitas vezes fazem o jogo dos patrões e governos. A classe trabalhadora está rompendo cada vez mais rápido com as políticas de centrais como a CUT e diante do acirramento da luta esta tendência é ainda mais crescente. Cabe ao movimento estudantil também conseguir superar as direções que servem de âncora para um movimento que tem uma potência enorme.

Recuperar a combatividade estudantil, organizar o movimento e prepará-lo para os enfrentamentos necessários. Este é o desafio para o próximo período e no qual estaremos engajados. Esperamos que mais e mais estudantes componham estas fileiras de luta.

Avante compas!
Nenhum passo atrás!
Venceremos.

Fala realizada na PUC, na mesa “Memória, Invenções e Burocratização do Movimento Estudantil”

Compartilhamos com vocês a íntegra da nossa fala durante a atividade realizada na PUC “Antisemana de Ciências Sociais”.
A nossa participação foi na mesa “Memória, Invenções e Burocratização do Movimento Estudantil”, no dia 09/junho/2015 às 10h.

O texto também pode ser acessado em PDF: fala-puc-09-junho-2015-RIZOMA

“Primeiramente queríamos muito agradecer o convite. Esperamos que esta atividade, assim como todas as que nós organizamos consigam servir não apenas para falarmos a mesma coisa para os mesmos grupos de pessoas, mas para que seja um esforço real de termos neste espaço um acúmulo que possa balizar os próximos passos como um todo.

Por isso a gente aceitou o desafio de vir falar em uma mesa que se arrisca a abordar “memória” e “invenção”. Nosso desafio maior vai ser levantar provocações, para que possamos fazer um debate que saia do meramente trivial, mas que signifique de fato um combate e enfrentamento de ideias, pois isso é um elemento muito forte da nossa militância no Rizoma: testar a todo momento a nossa teoria na prática, sem o medo de voltar e fazer as autocríticas necessários.

Antes de falarmos de invenções, achamos importante falar de memória. E não dava para fazer nem nessa e nem em muitas mesas uma recuperação de toda a memória do movimento estudantil. Aqui nós decidimos por um ano específico, talvez batido, mas achamos fundamental. 1968.

68 na França é o mais conhecido. Importante levante de estudantes, mas que já vinha embasado de alguns anos anteriores com greves de trabalhadores. Podemos ousar fazer uma paralelo com levantes recentes no Brasil, particularmente o caso da USP em 2011 quando a greve começa por conta da tentativa da polícia em prender 4 estudantes. Na França o estopim é quase o mesmo. A prisão de um estudante membro do comitê contra a guerra do Vietnã leva à ocupação do prédio da administração de uma das universidades. Não cabe alongar aqui os pormenores desta mobilização, mas ficam os aprendizados para hoje: o balanço que se faz do maio francês não é exclusivamente sobre suas demandas imediatas, mas sim por todo o acúmulo e aprendizado que tiveram durante as mobilizações. Todo mundo aqui que já participou de uma greve, sabe o quanto nós aprendemos neste processo. Às vezes, e me atrevo a dizer que sempre, aprendemos muito mais nas greves sobre os mesmos textos que teríamos que ler para as nossas disciplinas da graduação do que na própria sala de aula.

Mas vamos ao próximo ponto. Todos sabem que semana passada alguns dos familiares dos estudantes mexicanos sequestrados em Ayotzinapa estavam em SP certo? Agora vou levantar uma provocação sem nenhum pudor, pois é curioso o fato de que muitas pessoas envolvidas na Caravana 43, que organizou todas as atividades, são justamente muitas das pessoas que frequentemente tecem críticas ao movimento estudantil dizendo que é inútil, é de playboy, etc etc etc. Os 43 estudantes mexicanos, para quem não se atentou a isso, foram sequestrados enquanto organizavam uma ação do movimento estudantil para arrecadar dinheiro e poderem ir participar da manifestação em memória do massacre de 2 de outubro de 1968, que foi uma operação policial que matou mais de 300 estudantes, que se organizavam através do movimento estudantil. Outubro de 68 foi um ponto da greve nacional que vinha desde julho daquele ano, começando com levantes contra a repressão policial que atacou diversos secundaristas. A mobilização de 68 se organizava através do Consejo de Huelga General com delegados eleitos nas bases. É um forte movimento estudantil que vinha da experiência de 1967 quando tiveram a primeira greve estudantil a nível nacional e de uma greve em 1966 que conseguiu derrubar um reitor. Todo este movimento de 1968 também bebia das referências de uma greve de 10 anos antes, em 1958, dos ferroviários que foram fortemente reprimidos e diversos foram presos. Uma das reivindicações do movimento estudantil em 68 no México era a libertação imediata dos ferroviários que estavam há 10 anos presos.

Podemos recuperar a memória do movimento estudantil em 68 nos Estados Unidos que travou uma unidade muito forte com o movimento negro. Ou mesmo no Brasil, onde o movimento estudantil cumpriu um papel muito importante na luta contra a ditadura militar.

Quando ficamos patinando em inovações para o movimento estudantil, não estamos apenas negando as ferramentas históricas construídas pela classe trabalhadora, como as assembleias por exemplo. Nós nos tornamos mais fortes se nos inserimos em uma tradição e localizamos nossas raízes históricas em um combate pelo fim da exploração que não começou ontem, mas que carrega um acúmulo de séculos. Negar essa história é assassinar mais uma vez todos aqueles que tombaram por este ideal. É abandonar a identificação com os estudantes que foram assassinados no México e ao redor do mundo, abandonar a identificação com os trabalhadores e trabalhadores que foram presos e ficaram encarcerados por décadas por tentarem dar um fim à exploração e lutavam por liberdade. Nós do Rizoma preferimos nos enxergar em todos estes companheiros de batalha, para que as suas barricadas não tenham sido em vão e para que as nossas também não sejam. Nós aprendemos com as experiências de nossos companheiros nesta luta que é e precisa ser internacional, e também estamos fazendo a nossa parte para deixar acúmulos e aprendizados, para que os próximos não precisem ficar recomeçando do zero a todo momento. E agora não estamos falando em termos de séculos ou décadas, estamos falado de um curto prazo.

O Rizoma nasceu logo nos primeiros dias de 2012 e um dos pontos fundamentais que nós aprendemos desde então é que o movimento estudantil tem um caráter muito rápido, pois a cada 4 ou 5 anos renovam-se as fileiras de luta. Um desafio é como manter uma linha de continuidade para que não se perca acúmulos recentes, coisa de 1 semestre ou 2, e para que os novos ingressantes na organização consigam dar as suas contribuições no sentido de irmos ainda mais além. Este é um dos papéis fundamentais de ter uma organização no movimento estudantil. E este é um erro que infelizmente apenas os anarquistas ou libertários cometem com tanta frequência. Nessa tentativa de ficar toda hora querendo criar algo novo e colocando que tudo que não for criado por você exclusivamente é autoritário faz com que estejamos em 2015 e ainda sem organizações libertárias bem consolidadas tanto no espaço estudantil como no sindical.

Nós surgimos e nos organizamos pautados na ação direta, na organização das bases e na defesa da democracia direta, não porquê achamos que tudo isso é muito inovador. Mas porquê nós fomos percebendo na prática que estes métodos são os mais eficazes e não por que algum intelectual disse que são, mas porque foram métodos que nasceram no próprio seio da classe trabalhadora. Nós nos inserimos nesta história de resistências e temos muito orgulho em dizer que não estamos criando algo do zero.

Em 1960 quando os estudantes se levantaram junto com os trabalhadores, muitos setores também diziam que não existia mais classe operária e que a luta de classes havia sido superada. As greves provaram o contrário. E ainda hoje nós precisamos fazer um exercício e chamar todos à realidade: o que na nossa vida não passou pela mão de trabalhadores em uma fábrica? Desde a tampa da caneta bic, passando pelo tubo, pela tinta, pelo plástico ao redor. Absolutamente tudo na nossa vida, o plástico filme do lanche vegan que alguém vende, o isopor onde guardam os brigadeiros, tudo, tudo ainda passa pela mão da classe trabalhadora e não tem como não passar.

Nós estamos perdendo tanto tempo divagando sobre uma sociedade atual que precisaria de métodos novos, que estamos dando espaço para a cristalização da burocracia em nossos movimentos de resistência. A burocracia estudantil, hoje representada pela UNE e outros setores ligados ao governo federal que por sua vez esta atrelado aos interesses burgueses e não representa mais os anseios da juventude da classe trabalhadora, se consolida como um entrave no movimento já nos anos 90. A situação só piora em 2002 quando Lula se torna presidente e esses setores que já estavam se degenerando pioram cada vez mais e acabam se tornando correntes de transmissão do governismo que hoje em dia realizam um apoio acrítico e irrestrito ao governo federal que hoje distribui ataques generalizados a classe trabalhadora e é responsável por grande parte da precarização nas universidades federais e pelo endividamento dos estudantes das privadas, vide os cortes do FIES.

E esta burocracia tem cumprido um papel: manter a sociedade exatamente como ela é, enquanto uma grande parcela divaga sobre a sociedade que acha que está sendo.

Essa tentativa de ficar inovando, tem nos levado a um imenso esvaziamento do movimento estudantil. É um movimento de mão dupla. O esvaziamento dá espaço à burocracia e o burocratismo afasta muitos estudantes. Mas aí entra o papel da organização né? Não dá para abandonarmos o movimento social só porque ele não está exatamente como a gente quer. Façamos então a disputa para que ele fique mais próximo ao que estamos defendendo. É uma pena que muitos estudantes só apareçam quando a casa está em ordem. Mas aí entra uma antiga palavra, que os “métodos inovadores” têm relegado, que é o papel da vanguarda. Não uma vanguarda intelectual que do alto do gabinete olha para o movimento e dá ordens. Mas todos nós, estudantes que tiram seus finais de semana, suas terças de manhã para pensar como fazer o movimento avançar. Que dormem e acordam quebrando a cabeça para fazer com que as greves dêem certo. Que se frustam 1, 2 e 3 vezes, mas não desistem. Cada levante e cada greve gera algum acúmulo, e cabe a nós fazer com que estes acúmulos possam ser os maiores possíveis, pois nós não queremos um capitalismo humanizado. Nós queremos a sua destruição total e uma nova sociedade.

Um pouco sobre o movimento estudantil atual, podemos fazer uma análise que desde a década de 60/70 o movimento estudantil no Brasil entrou em refluxo. Em 2007 há um novo despontar pelo menos em São Paulo com as estaduais, mas logo voltou à ressaca. Agora há um novo levante nas federais. Ainda precisamos acompanhar seus desdobramentos para fazer análises. Mas fato é que o movimento estudantil está patinando para se reencontrar no eixo revolucionário. Um dos elementos que seria fundamental que o movimento estudantil entrasse com força é com relação ao PL da terceirização que nos afeta diretamente.

Temos uma missão: recolocar o movimento estudantil e as suas fileiras novamente na luta de classes. Pois, apesar dos descrentes, ela ainda não acabou. E também não será pela via parlamentar que ela será solucionada. Por isso nós defendemos fortemente a criação de organizações revolucionárias dentro do movimento estudantil. Para que consigamos apoiar o processo de reerguer o movimento e para que não desistamos também da luta contra a burocracia que sequestra os movimentos de resistência e coloca-os a serviço de seus governos conciliadores de classe.

Mas agora abrimos para o debate que talvez consigamos construir algumas respostas conjuntamente.

Obrigada.”

[Atividade aberta] O papel dos grupos organizados no Mov. Estudantil + apresentação do Rizoma

O Rizoma surge, no final de 2011, como um agrupamento de diversos militantes independentes que sentiram, na prática, as limitações de não atuar de forma organizada no Movimento Estudantil.

Naquele momento vivíamos uma forte greve estudantil contra o convênio PM-USP e contra a repressão aos estudantes que foram detidos na brutal reintegração de posse da Reitoria. O início de 2012 foi marcado por uma assembleia geral que, a nosso ver, deveria ter sido decisiva para a continuidade da mobilização.

Naquele início de 2012 não estávamos organizados o suficiente para conseguir intervir na luta de forma a garantir a defesa de nossas pautas.

A partir dali muito amadurecemos, aprendemos, e hoje temos a certeza de que a melhor opção para fortalecer a militância e os anseios de mudança política é, sem dúvidas, através da organização.

// Convidamos a todos para esta atividade aberta de debate e troca sobre qual o papel dos grupos organizados no movimento estudantil e para a apresentação de quem somos, o que defendemos, e tudo o mais.

Nos vemos dia 11/maio!
Segunda-feira
18h
No espaço aquário (prédio da hist/geo – Campus Butantã)

+ Leia nossa carta de apresentação em: https://rizoma.milharal.org/carta-de-apresentacao-2/