Solidariedade à justa revolta dos usuários do Metrô!

Retirado de Movimento Passe Livre

5 FEVEREIRO 2014

metro-revolta

Solidariedade à justa revolta dos usuários do Metrô!

Ontem, a população enfrentou uma situação caótica no metrô. Um trem da Linha 3-Vermelha se desenergizou completamente, desativando com isso o sistema de ar condicionado dos vagões, obrigando os passageiros a descer nos trilhos para não passar sufoco. Toda operação da linha Vermelha foi paralisada por mais de 5 horas e também houve panes nas linhas 1-Azul e 4-Amarela. A revolta dos usuários se espalhou por pelo menos 7 estações

A tragédia já estava anunciada. Não por acaso, a falha de energia aconteceu num trem da Frota K – que teve sua manutenção terceirizada para o Consórcio ITTRENS, ligado ao esquema de propinas entre o Governo Estadual e os cartéis metroferroviários. Essa frota já havia registrado quase 700 falhas em um período de 30 dias, além de ter descarrilado na Barra Funda em agosto de 2013. O Sindicato dos Metroviários denuncia a situação da Frota K desde 2011.

Resistindo ao sufoco, ontem os passageiros se revoltaram e tomaram os trilhos. O Governo, ao invés de assumir o problema, responde atacando e criminalizando a população – Juradindir Fernandes, secretário de Alckmin, chama os passageiros de “vândalos” e diz que vai monitorá-los. Ora, se há um “grupo organizado” responsável pelo caos nos trilhos, está claro que é o próprio Governo, aliado aos cartéis da Siemens e Alstom, que LUCRAM com o sufoco dos trabalhadores e passageiros, sucateando e privatizando o serviço.

A pane de ontem não foi um fato isolado. As falhas diárias no metrô e na CPTM provam que o sistema metroferroviário de São Paulo está à beira de um colapso de grandes proporções. Da mesma forma, a revolta dos usuários não começou nem terminará ontem. A força que é sufocada pelo transporte dia após dia, é também a força que pode se organizar e se transformar em revolta, como mostrou a população em junho de 2013.

Chega de sufoco e lucro nos trilhos!
Abaixo à criminalização da justa revolta dos usuários!

05/02/2014

Movimento Passe Livre – São Paulo (MPL-SP)

A Fabricação do Vício

Texto retirado do site Libertas e escrito pelo Professor Henrique Carneiro.

A história de certos conceitos médicos é essencialmente política, ou seja, ligada ao poder e aos interesses materiais de instituições, classes, camadas e grupos sociais . Talvez o conceito médico mais controverso do último século e meio seja o de “dependência” de drogas. Este é o termo hoje adotado como o mais indicado, de acordo a uma nomenclatura normatizada internacionalmente pela OMS, mas antes dele houveram outros termos análogos e igualmente oficiais em suas épocas, tais como “adição”, “hábito”, “transtornos da vontade”, “insanidade moral”.

A construção política dos conceitos conecta o Estado e a Medicina, pois a “história social da linguagem é basicamente uma questão de poder” (Burke, 1987). Existem conceitos investidos de alto poder simbólico, conceitos “tótens”, como escreve Berridge (1994). A demonização do “drogado” e a construção de um significado suposto para o conceito “droga” alcança na época contemporânea um auge inédito. Um fantasma ronda o mundo, o fantasma da droga, alçado à condição de pior dos flagelos da humanidade.

Afinal, o que é a dependência de drogas? Hábito, vício, necessidade, desejo, vontade. Na definição atualmente aceita, o “abuso” se distinguiria do “uso” por produzir um quadro de tolerância, síndrome de abstinência, compulsividade, desestruturação da vida pessoal e persistência no consumo apesar dos efeitos nocivos .

O surgimento deste conceito, assim como deste personagem, é simultâneo de uma série de outros, como o “homossexual”, o “alienado”, o “erotômano” ou “ninfomaníaca”, o “onanista”. Antes desse momento impreciso, que toma seus contornos no início do século XIX, beber demasiado não era uma doença. No máximo, uma prova de mau caráter ou de falta de auto-controle. A embriaguez não suprimia a vontade, aliás, não se distinguia entre desejo e vontade de beber, não havia um vocabulário que expressasse a existência de uma compulsão, de uma escravidão à bebida ou alguma outra droga. As exceções são alguns relatos sobre o uso do ópio no Oriente no século XVI e, a partir do século XVIII, os  primeiros autores (J. Jones, 1701; Lettson, 1787; S. Crumpe, 1793) que passam a descrever “uma perda de controle voluntária do hábito”, que será mais tarde chamada de “abuso” (Berridge, 1994). Mas acima de tudo, o uso do álcool e outras drogas era visto como uma prática condenável em muitos aspectos, e virtuosa em outros, mas jamais como uma doença.

A doença do vício será uma construção do século XIX. A concepção da embriaguez como doença pode ser datada de 1804, quando Thomas Trotter publicou o Essay Medical Philosophical and Chemical on Drunkenness, que seria considerado um marco na “descoberta” (ou na criação?) de uma nova entidade nosográfica na medicina. Para Trotter, o hábito da embriaguez seria “uma doença da mente”.

Benjamin Rush, nos Estados Unidos, já em 1791, relacionara alcoolismo e masturbação como “transtornos da vontade”, desencadeando contra ambos uma campanha médica e psiquiátrica. Na França, Esquirol tipificou a ebriedade como “monomania” e “insanidade moral com paralisia da vontade”.

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1,5 bilhões para repressão aos movimentos sociais durante a copa.

O que é a violência? O Estado bem nos mostra:

“Um robô anti bomba guiado por controle remoto. Tanques com jatos d’água potentes para dispersar multidões. Pequenas aeronovas que captam e transmitem som e imagem aos centros de comando, além do arsenal já conhecido dos manifestantes: spray de pimenta, pistola de choque e granadas de efeito moral.

O governo federal e doze estados, que vão receber jogos da copa do mundo, estimam gastos de um bilhão e meio de reais com a compra de armas, reformas de estruturas e cursos.

Leia mais: http://cbn.globoradio.globo.com/grandescoberturas/copa-2014/2014/02/01/GOVERNO-FEDERAL-E-SEDES-DA-COPA-DO-MUNDO-ESTIMAM-GASTOS-DE-R-15-BILHAO-NA-COMPRA-DE-EQU.htm#ixzz2sINJ7kRU”

Por que «Não vai ter Copa»?

Retirado de passapalavra 29/jan de 2014

o dizer que não vai haver Copa do Mundo, o que se está a afirmar é que não haverá consenso nacional algum. Por Eduardo Tomazine

 

Sei que ninguém perguntou a minha opinião a respeito, mas vou dizer o que entendo com o programa político revestido pelo bordão Não vai ter Copa. Afinal, quando eu disse em uma discussão que era necessário um pouco de sutileza intelectual para se comprendê-lo, argumentaram que esperar sutileza intelectual das “massas” era, no mínimo, pouco pedagógico. (O curioso é que foi justamente parte dessa mesma “massa” quem mais repercutiu a palavra de ordem…) Tendo em vista que agora até mesmo parte da esquerda de oposição ao governo resolveu adotar um slogan de conciliação, como ”Vai ter luta na Copa” (PSTU) – o qual já vem sendo compartilhado por militantes do partido do governo empenhado em organizar o evento –, creio ser importante discutir sobre essas diferenças que superam em muito as picuinhas semânticas.

Em primeiro lugar, o Não vai ter Copa é resultado de um acúmulo de debates e de ações de uma parte importante de movimentos organizados contra os abusos cometidos sob o alvará dos preparativos para a Copa: as remoções forçadas, a truculência da polícia, a criminalização dos movimentos, os gastos astronômicos do dinheiro público, os desmandos da Fifa, a imposição de uma legislação de exceção etc. No princípio, inclusive, defendeu-se o programa ”Por uma copa com direitos” (ou algo do gênero), mas os acontecimentos mostraram que a realização de um megaevento como a Copa do Mundo da Fifa com respeito aos direitos dos trabalhadores é uma contradição em termos, então o Não vai ter Copa acabou prevalecendo naquele que é o fórum mais adequado para se elegerem programas políticos: as ruas em luta. Lembrar disso é importante para que não se pense que o Não vai ter Copa teria sido cunhado sob as ordens de uma direção qualquer ou que teria resultado do diversionismo de uma ultraesquerda inconsequente.

Ora, pelo que eu saiba e tenha acompanhado nos protestos que se seguem desde muito tempo antes de junho de 2013, os manifestantes que exclamam “não vai ter copa” ainda não começaram a rasgar dinheiro ou acreditar que Elvis realmente não morreu. Todos sabemos que a Copa do Mundo, de um jeito ou de outro, protegida pelas Forças Armadas e caucionada por uma enxurrada ideológica da classe política e da grande mídia, irá acontecer. Nem mesmo o sequestro da delegação israelense nos Jogos Olímpicos de Munique foi capaz de interromper esse tipo de evento insensível às desgraças sociais, e seguramente não é bem isso o que os manifestantes daqui desejam. Àqueles que duvidam da sutileza intelectual alheia, uma tentativa de explicação: Não vai ter Copa significa a negação radical do que é a Copa do Mundo tal qual ela é no mundo realmente existente, e não na fantasia daqueles que reclamam o espírito esportivo, a união dos povos e essas coisas que constam no manual da Fifa ou nos álbuns de figurinhas. A Copa do Mundo sempre foi uma peça de legitimação política dos dirigentes que compram o direito de sediar tal evento em suas jurisdições, um instrumento poderoso da ideologia do consenso nacional, uma autorização para o desperdício do dinheiro público, uma concessão dada a empreiteiras para fazerem lucros excepcionais e um alvará para a despossessão da população pobre que tem o infortúnio de residir ali onde os organizadores rabiscam seus mapas da mina.

Ao dizer que não vai haver Copa do Mundo, o que se está a afirmar é que não haverá consenso nacional algum; que uma parte da população não é estúpida o suficiente para endossar sorridentemente a rapina; que as manchetes e videorreportagens das vitórias e derrotas das seleções em campo terão que dividir espaço com o noticiário das ruas apinhadas pela multidão em protesto, as bombas da polícia, a violência arbitrária do Estado e manifestantes presos e/ou feridos no país do futebol. Em acontecendo dessa maneira, não vai haver Copa – mesmo que no dia 13 de julho o capitão do time campeão erga bem alto a taça diante das câmeras de TV do mundo inteiro. O que teremos, afinal, não será aquela Copa do Mundo da montanha mágica da Fifa em seu paraíso fiscal da Suíça, mas a irrupção à cena pública das contradições e disputas que constituem a nossa sociedade até o caroço, além de um chamamento em grande estilo aos povos do mundo para que se revoltem contra essa mais nova modalidade de controle ideológico capitalista, que é o circo sem pão.