Militante do Bloco de Luta denuncia intimidação de seu filho durante assembleia do movimento em Porto Alegre

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Lorena Castillo afirma que um segurança particular de umaempresa terceirizada tirou fotos de seu filho de sete anos durante uma assembleia do Bloco | Foto: Vinícius Rorato/Sul21.

| Foto: Vinícius Rorato/Sul21.

 

Por Samir Oliveira

 

Na noite do dia 12 de fevereiro, o Bloco de Luta pelo Transporte Público realizou uma assembleia com cerca de 300 pessoas na sede do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (SIMPA). Durante o encontro, integrantes do coletivo afirmam que um indivíduo tirou fotografias do filho de Lorena Castillo, militante do Bloco e da Federação Anarquista Gaúcha (FAG). A denúncia foi feita logo após a reunião, em um depoimento no Facebook, e reiterada na tarde desta quarta-feira (19), em coletiva à imprensa promovida pela FAG.

Pela denúncia dos ativistas, o sujeito que teria praticado esta ação é um segurança privado, funcionário de uma empresa terceirizada de segurança contratada pelo SIMPA. Os integrantes do Bloco recordam que, durante a assembleia, começou a chover e o filho de Lorena, que tem sete anos, saiu para brincar na chuva. Neste momento, Lorena ficou na porta do auditório, cuidando da criança e observando o desenrolar da assembleia.

Ela afirma que o segurança estava na porta dos banheiros, próximo ao menino – e que ele estava vestido à paisana, sem o uniforme da empresa que o emprega. Segundo Lorena, no momento em que ela se virou para acompanhar a assembleia, ele teria tirado as fotos de seu filho.

| Foto: Vinícius Rorato/Sul21.

“Meu filho me disse: ‘mãe, o cara tá tirando foto de mim e fez sinal de que está me cuidando’”, recorda Lorena. Com isso, ela acionou outros militantes do Bloco e interpelou o segurança. “Prontamente fomos atrás dele e ele disse: ‘estou fazendo o meu trabalho, essas são minhas provas’”, relata.

A partir daí, os militantes retiraram o celular das mãos do segurança e verificaram que havia pelo menos duas fotos do filho de Lorena – que foram deletadas pelos ativistas. Após essa abordagem, uma diretora do SIMPA que acompanhava a assembleia dispensou o funcionário da empresa de segurança.

Para Lorena, trata-se de uma ação de intimidação comparável com a prática adotada pela repressão durante a ditadura militar. “Como mãe e como militante, quero denunciar isso. Esse tipo de intimidação de crianças ocorria na época da ditadura. Sabemos que existem policiais infiltrados, mas usar criança para intimidar e fazer esse tipo de acossamento é um ato de terror. A criança ficou bem abalada”, lamenta. Ela acredita que o funcionário da empresa terceirizada é um policial militar que estava lá para investigar o movimento. “Desde a época da ditadura, sabemos que quem comanda empresa de segurança privada é milico”, comenta.

Diretora do SIMPA, Veridiana Machado afirma que o sindicato já entrou em contato com a empresa terceirizada e solicitou o afastamento do funcionário que estava em serviço no dia 12 de fevereiro. A reportagem do Sul21 entrou em contato com a empresa de segurança, mas não conseguiu falar com sua direção. O funcionário que falou com a reportagem disse desconhecer a ação denunciada pela FAG e se recusou a confirmar se existe um contrato de prestação de serviço ao SIMPA ou se o funcionário denunciado é um de seus empregados. Ele disse que comunicaria à direção da empresa sobre o acontecimento. Até o fechamento desta reportagem, o Sul21 não conseguiu entrar em contato com os responsáveis pela empresa.

Já o tenente-coronel José Luís Ribeiro Paz, que responde interinamente pelo comando do Comando de Policiamento da Capital (CPC), da Brigada Militar, disse, em resposta à reportagem, que “aquele cidadão que eles apontam não é brigadiano” e que “a Brigada Militar não participa das assembleias do Bloco”.

Lorena Castillo avisa que os advogados do movimento estão estudando o ingresso de uma ação na Vara da Criança contra o segurança. A área onde estavam o funcionário e o filho de Lorena possui duas câmeras de segurança. O SIMPA e a FAG irão verificar as imagens. “Tocaram onde é mais delicado para nós: as nossas crianças. O que condenamos dos crimes na época da ditadura começam a aparecer de forma muito singela novamente, dentro de um marco dito democrático”, qualifica.