Por Fábio .F
“Nós, jornalistas de imagem, exigimos que as autoridades de segurança do estado do Rio de Janeiro instaurem imediatamente uma investigação criminal para apurar quem defende, financia e presta assessoria jurídica a este grupo de criminosos, hoje assassinos, intitulados black blocs, que agridem e matam jornalista e praticam uma série de atos de vandalismos contra o patrimônio público e privado” (1)
É o que foi dito no texto da Arfoc (Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio ) sobre a morte do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, falecido após ser atingido por um rojão em um ato contra o aumento das passagens no Rio de Janeiro, na última quinta-feira.
A primeira curiosidade é que nenhuma investigação ou imagem registrada do acidente aponta envolvimento de praticantes da tática Black Bloc, a segunda é como a mídia negligenciou a morte de um senhor atropelado por um ônibus ao fugir da repressão da PMRJ no mesmo dia.
Isso traz uma reflexão sobre o papel da grande mídia como agente repressor. A lente da grande mídia aponta para onde a PM deve atirar.
Em junho, uma das teses para a virada de lado da mídia, a qual no começo era terminantemente contra as manifestações, e que de repente mudou de lado, foi a de que isso ocorreu devido à repressão que os jornalistas sofreram da PM. Tese que nós, do Rizoma, recusamos de imediato:
“Não acreditamos que a mudança na cobertura dos protestos aconteceu por conta de meia dúzia de repórteres vítimas da violência da PM. Não é de hoje que essxs repórteres sofrem com a violência policial, além da violência das próprias empresas em que trabalham com contratos precarizados e muito descaso quando abusos acontecem. A mudança ocorreu por um único motivo: poder. O poder de manipular, e o poder de concentrar mais capital conquistando alguns pontos a mais no ibope, ou vendendo algumas revistas ou jornais a mais. A mídia corporativa não sente dó de vocês, de nós, das vítimas do massacre da favela Maré, nem da repórter atingida por uma bala de borracha. Ela sente necessidade de mais poder, e só.” (2)
Relembro isto para chegar a uma conclusão que me parece clara: quem está em luto, quem está sofrendo a morte de um(a) companheiro(a), não faz um texto no qual 3/4 são para acusar e pedir aumento da repressão. Luiz Hermano, presidente da Arfoc, não está triste pela morte do cinegrafista. Seus interesses são outros. Caso o contrário, o mínimo que esperaríamos deveria ser uma outra nota se posicionando sobre o fato de que a polícia é responsável por 75% dos casos de agressão a jornalistas. (3) Hermano, a globo, a folha, e toda grande mídia tem um lado, e não é o seu.
É preciso lamentar sim o falecimento de Santiago. Isso eu faço, e presto meus sentimentos e solidariedade a toda sua família. Mas também é preciso lamentar a morte de Tasnan Accioly, o senhor atropelado no mesmo dia(4), a perda da visão do estudante Vitor (que por muito pouco não morreu da mesma causa que Santiago)(5), a morte Fernandão (6), todos(a) mais de 1000 manifestantes que foram presos e detidos em atos após junho de 2013, e toda população negra, pobre e periférica assassinada todos os dias pela PM.
Ninguém esta na rua a toa, ninguém é idiota. A população se organiza e vai para rua protestar por causas sociais, como neste caso, o aumento da tarifa do transporte. O culpado por tudo isso é o governo do Rio de Janeiro que aumentou a tarifa, são os empresários do lobby dos transporte que prestam um serviço precarizado e ainda cobram muito caro, é a PM, sempre reprimindo mobilizações legítimas. Em outras palavras: é o Estado que te governa, o capitalista que te explora e a PM que te mata.
Na luta contra os de acima, nós, de abaixo, precisamos caminhar coletivamente. Portanto não dá para tratar nossas baixas com dois pesos e duas medidas. Quem faz isso e tenta nos confundir é a burguesia, como se fosse possível aplicar um valor a uma morte, para que esqueçamos que são eles nossos inimigos, e fiquemos brigando uns(umas) contra os outros(a). NÃO VAMOS CAIR NESSA! APOIO MÚTUO É A NOSSA MAIOR ARMA!
Meus sentimentos a todos e todas que morreram e foram feridos(as) lutando por um mundo mais justo.
(1) http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/02/abert-e-fenaj-pedem-punicao-autores-de-ataque-cinegrafista.html
(2) https://rizoma.milharal.org/2013/07/28/nao-comecou-ontem-e-nao-terminara-hoje/
(3) http://portal.comunique-se.com.br/index.php/comunicacao/73121-policia-e-responsavel-por-75-das-agressoes-a-jornalistas-revela-levantamento-da-abraji
(4) http://mplrio.wordpress.com/2014/02/09/nota-de-repudio-a-violencia-da-pmerj-contra-trabalhadores-e-manifestantes-no-dia-06022014-e-a-tentativa-de-criminalizacao-dos-movimentos-sociais/
(5)http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/09/1338985-estudante-perde-visao-de-um-olho-apos-confrontos-em-sp.shtml
(6) https://rizoma.milharal.org/2013/08/02/fernandao-vive-vive-para-sempre-em-nossas-resistencias/