Montevidéu: Companheirxs detidxs em passeata estudantil foram processadxs sem prisão

Por: agência de notícias anarquistas-ana

Na quarta-feira, 14 de agosto, no centro de Montevidéu, depois de finalizada a passeata estudantil em memória do estudante Liber Arce assassinado por policiais no agitado ano de 1968, as forças repressivas implantaram diferentes operações caçando as pessoas que participaram da manifestação.

Na esquina da Cerro Largo e Tristan Narvaja, e após monitoramento de policiais infiltradxs, 2 companheirxs foram presxs pelo D.O.E. (Departamento de Operações Especiais).

 Xs companheirxs passaram a noite na 3ª seccional e às 9 horas da quinta-feira, 15 de agosto, foram levadxs ao tribunal de Bartolomé Mitre e Buenos Aires, onde prestaram declarações; por volta das 19 horas retornaram para a sede central da polícia e às 21 horas já estavam soltxs.

 Ambxs foram incriminadxs sem prisão pela juíza Julia Starico, sob a acusação de “*delito de danos agravados pela exposição pública dos bens danificados*” (uma invenção à falta de provas) e três meses de trabalhos comunitários.

 Não há nenhuma dúvida de que o que está sendo condenado não é o ato de participar de uma passeata, mas o que elxs buscam com isso é, principalmente, gerar medo, dar uma lição a todxs àquelxs que não aceitam as condições de vida impostas pelxs poderosxs e xs exploradorxs.

 A luta está nas ruas, solidariedade com aquelxs que lutam em qualquer lugar do mundo.

 Se tocam em umx, tocam em todxs!

Vídeo da imprensa corporativa sobre a manifestação:

http://www.subrayado.com.uy/Site/noticia/26003/pedreas-y-disparos-con-la-policia-en-marcha-estudiantil

Da paz

Naruana Costa recitando “Da Paz”, de Marcelino Freire
https://www.youtube.com/watch?v=2g7DHBABdDI

Eu não sou da paz.

Não sou mesmo não. Não sou. Paz é coisa de rico. Não visto camiseta nenhuma, não, senhor. Não solto pomba nenhuma, não, senhor. Não venha me pedir para eu chorar mais. Secou. A paz é uma desgraça.

Uma desgraça.

Carregar essa rosa. Boba na mão. Nada a ver. Vou não. Não vou fazer essa cara. Chapada. Não vou rezar. Eu é que não vou tomar a praça. Nessa multidão. A paz não resolve nada. A paz marcha. Para onde marcha? A paz fica bonita na televisão. Viu aquele ator?

Se quiser, vá você, diacho. Eu é que não vou. Atirar uma lágrima. A paz é muito organizada. Muito certinha, tadinha. A paz tem hora marcada. Vem governador participar. E prefeito. E senador. E até jogador. Vou não.

Não vou.

A paz é perda de tempo. E o tanto que eu tenho para fazer hoje. Arroz e feijão. Arroz e feijão. Sem contar a costura. Meu juízo não está bom. A paz me deixa doente. Sabe como é? Sem disposição. Sinto muito. Sinto. A paz não vai estragar o meu domingo.

A paz nunca vem aqui, no pedaço. Reparou? Fica lá. Está vendo? Um bando de gente. Dentro dessa fila demente. A paz é muito chata. A paz é uma bosta. Continue lendo

Vagão para mulheres, sociedade para homens

Texto muito bom, retirado do Blog Café Feminista: http://cafefeminista.wordpress.com/2013/07/01/vagao-para-mulheres-sociedade-para-homens/#more-6

Está chegando para votação no plenário brasileiro mais um projeto de lei que diz respeito diretamente a nós, mulheres. O PL 341/2005, de autoria do então deputado Geraldo Vinholi (PSDB), obriga que as empresas tenham espaço somente para mulheres durante os horários de pico do transporte público. À primeira vista, seria possível imaginar que o projeto foi concebido por uma feminista, já que propõe nos “proteger” da rotina diária dos abusos sexuais no transporte público lotado. Essa é uma realidade cruel que atinge principalmente as mulheres de classe baixa usuárias dos trens, ônibus e metrôs em um sistema de transporte precarizado. Quem é mulher conhece a sensação de entrar no vagão lotado e, além de suportar o aperto, permanecer alerta a qualquer movimento estranho que possa indicar uma tentativa de abuso. É com horror que nós aprendemos muito cedo a estarmos em constante vigilância contra agressores em potencial, que, ironicamente, enfrentam a mesma dura rotina e ainda se aproveitam da situação para cometer os abusos.

Mas basta um olhar mais atento para perceber o objetivo problemático dessa medida: “Proteger as mulheres indefesas dos homens”. Dessa forma, estamos supondo e legitimando a ideia de que homens são sexualmente incontroláveis. Pior, estamos tentando solucionar o problema isolando as mulheres ao invés de promover o debate entre todxs. Ainda que pudéssemos considerar a lei pela ótica da medida paliativa, na prática, não são todas as mulheres que vão conseguir embarcar nesses vagões, então, teoricamente, todas que escolherem os vagões mistos serão consideradas ainda mais “vulneráveis”. Isso naturaliza o pressuposto de que todo homem é um agressor sexual em potencial e toda mulher uma vítima, um verdadeiro tiro no pé. É isso mesmo que queremos? Isolar mulheres como presas incapazes de se defender e reforçar o estigma do homem predador? Continue lendo

“Não começou ontem, e não terminará hoje.”

“Não começou ontem, e não terminará hoje.”
Sobre a atual conjuntura, por Rizoma

“A SS agora veste o cinza da PM”
(Discurso ou Revólver – Facção Central)

O ano de 2011

Este ano foi marcante e essencial para os movimentos sociais que atuam em São Paulo. Em meio à efervescência da Luta Contra o Aumento (quando a passagem subiu para R$3), da Marcha da Maconha e a reintegração de posse da Reitoria da USP, vivenciamos um pouco da violência e terrorismo da qual a periferia é vítima todos os dias. Na região do centro e da Av. Paulista, repletas de imprensa, a bala é de borracha e a Polícia Militar de SP precisa responder minimamente às acusações de abuso de poder. Sabemos que quando as câmeras somem e não se pode registrar e divulgar as ações policiais, a repressão na periferia é responsável pela morte sumária de nossa juventude preta e pobre.
Após a violenta repressão à Marcha da Maconha em maio de 2011 se organizou um grande ato pela Liberdade de Expressão e o Fim da Violência Policial. Naquele cenário vivenciamos uma primeira experiência de esvaziamento de pautas com a manipulação de grupos que tornaram o ato um grande guarda-chuva. Sob o fluido nome de “Marcha da Liberdade”, juntamos todas as pautas da esquerda alternativa frequentadora da região da Augusta. Naquele momento ainda juntávamos pautas de esquerda, mas a expulsão de partidos políticos de forma violenta – como se deu nos atos de 2013 – era algo improvável. Apesar da menor radicalidade e propostas desarticuladas com os movimentos de periferia e resistência, tivemos um terreno fértil para o surgimento de novos grupos e coletivos políticos.
2011 e o início de 2012 também foram cenários de fortes movimentos pautando a luta por moradia, greves e ocupações em universidades, articulação pela regulamentação das armas menos letais e desmilitarização da polícia, ocupações de praças públicas com aulas, oficinas, experiências de vivência coletiva e a terrível memória – que ainda segue travada na garganta de todxs – da reintegração de posse do Pinheirinho. Também tivemos marcos dentro do próprio movimento autônomo e libertário que trouxeram novamente à tona a importância da discussão de gênero dentro dos coletivos e a necessária resposta em casos de agressões machistas.
Foi em meio a este contexto que o Rizoma surgiu, quando se fez possível e necessária a construção de um coletivo libertário e autônomo que atuasse no movimento estudantil da USP a partir de linhas como ação direta, formação teórica coletiva, horizontalidade, solidariedade, e que se articulasse em rede com os demais movimentos e coletivos autônomos da cidade e do estado de São Paulo.
Essas linhas foram base para uma prática que engloba a construção de ações, para além dos discursos em palanques, contra a repressão e os processos que criminalizam estudantes na USP, o apoio à luta e aos saraus realizados na favela da São Remo, a proposição de encontros estaduais libertários, o estreitamento do diálogo e ações conjuntas com os demais coletivos autônomos da USP e centros acadêmicos, e atividades que tematizassem a violência de gênero, autogestão, horizontalidade, cultura de segurança e intervenção direta. Isso significa dizer que nossa prática e nossa compreensão de luta são baseadas nas experiências acumuladas coletivamente nesses processos.
Temos clareza de que o Rizoma tem sua ação localizada em um tempo e espaço. Esta compreensão parte do entendimento de que a ampliação da luta contra as opressões está associada à existência simultânea de vários focos sociais combativos. Em outras palavras, acreditamos na importância de uma rede que integre ampla quantidade de grupos, pessoas, reivindicações, instrumentos de luta, espaços, urgências, desejos e possibilidades – pois assim é possível lutar, sem deixar de respeitar e se valer dos acúmulos locais já existentes.

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