Mães de Maio e FdE

Segue abaixo, o ótimo posicionamento das Mães de Maio sobre o grupo “pós-capitalista” conhecido por Fora do Eixo.Mais informações sobre este coletivo tão, tão Fora da Realidade: http://dossiefde.wordpress.com/

MUITA GENTE TEM NOS PERGUNTADO SOBRE O “FORA DO EIXO”

Nosso movimento não tem como foco esta polêmica (temos a busca por Amarildos, Ricardos e Justiças como prioridade todos os dias), nem vamos entrar em qualquer onda de denuncismo, de crítica ética-moral ou fulanização da história. Reduzir qualquer crítica social mais profunda, da exploração capitalista e suas lógicas renovadas de lucro, ao tema da “corrupção” é sempre mais interessante para o próprio sistema capitalista – corrupto e corruptor na sua estrutura histórica – do que para os reais interesses de nós trabalha-dores. Temos visto muito essa manobra midiática nas ruas atualmente…

Enquanto movimento social autônomo, achamos que as experiências populares não podem ser capturadas de maneira nenhuma por empresas, ONGs, mídias comerciais, políticos ou outros intermediários de nossa cultura de resistência. Ninguém fala, muito menos capitaliza, em nosso nome! Isso vale para o campo da cultura e comunicação, onde acreditamos que os coletivos de artistas e comunicadores populares devem cada vez mais empoderarem-se e serem fortalecidos diretamente – sem intermediários. Isso vale também para as iniciativas sociais que lutam diretamente contra o genocídio da população preta, pobre e periférica, que sempre foi e continuará sendo nosso foco prioritário, e cuja luta não está à venda.

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“Não há violência no Black Bloc. Há performance”

“Não há violência no Black Bloc. Há performance”

Manifestante anarquista, que participou das ações diretas em São Paulo, fala com CartaCapital sobre os protestos e a depredação de bancos e concessionárias
por Willian Vieira e Piero Locatelli — publicado 02/08/2013
Retirado de: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cnao-ha-violencia-no-black-bloc-ha-performance201d-9710.html

Quebrar bancos não é violência, é performance. Esta é opinião de uma manifestante dos black blocs, tática que vem ganhando adeptos no Brasil. Participante dos protestos em São Paulo na última semana, que resultaram na quebra de bancos e concessionárias, Roberto (nome fictício), de 26 anos, falou com a CartaCapital por e-mail sobre as ações. Ele explicou sua insatisfação com partidos, e os motivos que o leva às ruas para depredar símbolos capitalistas. Leia a entrevista abaixo:

Imagem de Lola Vicious: https://www.facebook.com/lolaxvicious

CartaCapital: O que o motiva a fazer parte de um black bloc? São insatisfações com o sistema político, com partidos, com o capitalismo e o tipo de democracia que vivemos? Ou são outras razões mais específicas?

Roberto: O Black Bloc foi uma estratégia nascida em seio anarquista. Portanto, o que nos motiva é uma insatisfação com o sistema político e econômico em que vivemos. Para mim, as duas coisas são indissociáveis e têm problemas com raízes muito mais profundas do que partido X ou partido Y.

CC: De quantos protestos já participou, fazendo black bloc? Qual o primeiro?

Roberto: Fazendo Black Bloc, já foram três protestos. O primeiro foi o ato pela democratização da mídia, do dia 11 de julho. Mas antes já tinha participado de outras ações diretas, sem necessariamente a identificação com o Black Bloc. Por exemplo, os dois últimos atos pela redução da tarifa do transporte público, com a ação de queimar bandeiras do Brasil.

CC: Por que decidiu ir aos protestos e fazer parte do Black Bloc?

Roberto: Decidi ir porque considero a ação direta uma estratégia tão importante quanto a não-direta. Nossa sociedade vive permeada por símbolos, e saber usa-los é essencial em qualquer demanda, seja ela política ou cultural. Participar de um Black Bloc é fazer uso desses símbolos para quebrar pré-conceitos e condicionamentos. Não só do alvo atacado, mas até da própria ideia de vandalismo.

A sociedade tende a considerar a depredação como algo “errado” por natureza. Mas se nós sabemos e admitimos que os alvos atacados, em sua maioria agências bancárias até o momento, não foram realmente prejudicados – ou seja, os danos financeiros são irrisórios – qual é o real dano de uma estratégia Black Bloc? Por que deveria ser considerada errada a priori?

Não há violência no Black Bloc. Há performance.

CC: Não tem medo de ser preso ou de ser violentado pela polícia? Como lida com isso?

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Criminalização dos Black-Blocs: uma armadilha [RJ]

Retirado de: http://daslutas.wordpress.com/2013/07/13/criminalizacao-dos-black-blocs-uma-armadilha/

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Criminalização dos Black-Blocs: uma armadilha

por Mariana Corrêa dos Santos*

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“O que precisa ser discutido, e parece esquecido nessa busca por culpados e pela criminalização de novos grupos ativistas anti-sistema, é a violência escalonante da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Esse é o debate.”

Observamos nos últimos dois dias, e bem de perto, a criminalização do jovem ativismo anarquista, como outros movimentos também foram criminalizados num passado não muito distante. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, os movimentos do campo passaram por criminalizações similares, invenções midiáticas de invasão de terras “supostamente” produtivas, num claro revide contra a Reforma Agrária pleiteada. Com o auxílio da mídia convencional, esses movimentos foram taxados de vândalos, bárbaros, destruidores e um atraso para o desenvolvimento do país.

O que temos pra hoje são “caixas” e “mochilas” de molotovs confeccionados em garrafas de mesma marca, quase uma produção fabril, colocadas no chão por possíveis policiais infiltrados, ao lado dos Black Blocs que marchavam na Av. Rio Branco. Cenas que foram capturadas em câmera pelas mídias independentes. Esses mesmos infiltrados agem como se “descobrissem” os molotovs, e responsabilizam os grupos anarquistas. Ao reproduzir  novamente o discurso de que esses jovens são os responsáveis pelos conflitos, a mídia convencional só pode partir da presunção de que toda uma população ainda está imbecilizada. É esquecer que, ao custo de muita bomba e bala de borracha, as mídias independentes retiraram o véu de qualquer mentira e armação, e estão acessíveis a quase todos aqueles que buscam informações.

Quem está desde junho nas ruas sabe que os movimentos anarquistas, em especial os Black Blocs, servem de proteção aos manifestantes, pois colocam-se na linha de frente, com escudos e proteções, prontos para devolver bombas aos seus atiradores. Sem essa linha de frente, quem estava na Presidente Vargas no dia 20/06 não teria saído a tempo sem ser pisoteado, baleado, ou fortemente intoxicado.

O que precisa ser discutido, e parece esquecido nessa busca por culpados e pela criminalização de novos grupos ativistas anti-sistema, é a violência escalonante da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Esse é o debate. Não pode ser naturalizado uma criança de cerca de 8 anos desmaiada no meio da Cinelândia por intoxicação de gás lacrimogênio. Não pode ser considerado normal que a polícia faça duas linhas fechando a Av. Rio Branco, e uma linha lateral onde obrigatoriamente seria o escoamento, e jogar spray de pimenta em todos que passavam.

A polícia carioca age na surdina, com carros envelopados sem identificação, atirando em manifestantes que já haviam dispersado. Persegue manifestantes por ruas, bairros, longos percursos, atirando bombas em hospitais, em residências, em passantes, bares, praças, deliberadamente, e planejadamente. Não são despreparados, são uma máquina de repressão comandada pelo Estado.

Aos que tem acesso à informação, não permitam que se criminalize mais um grupo social simplesmente por existir e por questionar o poder vigente. É preciso encampar essa luta, é preciso desmilitarizar, desarmar essa máquina de matar. Pois, como bem diz uma das faixas das manifestações: “A mesma polícia que reprime no asfalto é a que mata nas favelas”. E o que vai acontecer quando esse grupo que é a linha de frente das manifestações for criminalizado? As balas vão deixar de ser de borracha no asfalto também?

“É preciso estar atento e forte…”

*Mariana é integrante Das Lutas