A Luta do Dia 29 de Maio na USP

PARALISAÇÃO NACIONAL DO DIA 29 DE MAIO. CONTRA O PLC DA TERCEIRIZAÇÃO E CONTRA AS MP’S 664 e 665 QUE ATACAM DIREITOS DA CLASSE TRABALHADORA.

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29 de Maio de 2015. 5:30 da manhã, no portão 1 da Cidade Universitária. Em torno de 40 pessoas aguardavam o caminhão de som, embaixo de um ponto de ônibus coberto, nos protegendo da chuva que caía. Um companheiro comenta brincando: “Isso aqui tá uma das maiores concentrações de lutadores por metro quadrado”.

Às 6 o caminhão chega e o ato aumenta. Começamos o trancaço do P1. Provamos mais uma vez que quem detém o controle sobre o funcionamento da universidade são as/os trabalhadoras/es e estudantes. Lutamos contra a terceirização de hoje e de amanhã. Contra a precarização do trabalho hoje e amanhã. E nós do Rizoma acreditamos ser fundamental que as/os estudantes enxerguem essas pautas não apenas como apoio aos/às trabalhadores/as, mas tendo em vista a perspectiva de que, se alguns de nós ainda não estamos inseridos/as no mercado de trabalho, logo estaremos. A precarização nos atinge diretamente e lutar por nossas condições de vida é necessário hoje e sempre.

Em seguida, deixamos o P1 para caminhar em direção à Raposo Tavares. Cortamos a rodovia com a rua Sapetuba, o caminhão atravessava o cruzamento. De repente, os cães de guarda do Estado deram início à brutal repressão.
Vimos a prisão de um companheiro estudante. Dezenas de policiais em cima de uma única pessoa, arremessando-o ao chão. Um policial enfiando o joelho em suas costas, prendendo seus braços, e com a mão, enfiando sua cara no asfalto. A revolta que tomou todas e todos naquele momento é inegável. Foi um dos fatores que explicam o sangue nos nossos olhos durante todo o restante do dia.

Frente à tentativa da PM de roubar a mochila do companheiro preso, quatro companheiras (entre elas, a Jéssica, companheira militante do Rizoma – Tendência Estudantil Libertária) impediram o roubo, que certamente teria resultado em provas forjadas para incrimina-lo. Não arredaram o pé e por mais que um dos policiais puxasse a mochila, atirando spray de pimenta contra os rostos das mulheres, elas se mantiveram firmes e se defenderam com socos e guarda-chuvadas! Foi talvez o maior ato de resistência daquele dia. Frente um brutamontes de capacete, cassetete, pistola e spray de pimenta, não teve arrego.

Companheira trabalhadora da Secretaria de Mulheres do SINTUSP enfrenta a brutalidade do PM verme, não arredando o pé e impedindo o roubo da mochila do companheiro.

 

Companheira Jéssica frente ao PM que tentava roubar a mochila.

 

Jéssica, militante do Rizoma – Tendência Estudantil Libertária se defende com socos e guarda-chuvadas no PM que agredia a ela e às lutadoras que impediam o roubo da mochila do companheiro preso.

 

E dali pra frente, resistimos ao limite do possível. NÃO TEVE ARREGO.

Após essa primeira dispersão, ainda voltamos a fechar a Raposo, um pouco mais à frente. Fechamos o trânsito e seguramos até uma nova chuva de bombas. Voltamos mais um pouco em ato e fechamos a Rua Camargo. Seguramos, resistimos a algumas bombas e fomos voltando pela rua. Fechamos então o cruzamento com a Vital Brasil. Os gritos de “Não Tem Arrego” sempre dando uma confiança coletiva inestimável ao movimento. A resistência era marcada pelas nossas palavras de ordem, nossas vozes se fortaleciam: FORA PM, NÃO À REPRESSÃO. GREVE GERAL, PIQUETE, OCUPAÇÃO!

O ato dispersado acabou resultando em pequenos grupos tentando sumir entre as ruas do Butantã. Onde a PM iniciou uma caça. Atirando de dentro dos carros, miravam em nossas costas. Um tiro de borracha atingiu um companheiro do Território Livre que foi ferido nas costas. Corremos, unidos/as em grupos, em direção à USP. Onde nos encontramos no SINTUSP.

PM atira da janela do carro, alvejando um companheiro do Território Livre. VAI TER VOLTA!

 

No sindicato, o ato havia se tornado uma concentração de pessoas a discutir o que fora aquele ato, os próximos passos, erros e acertos do dia, admiração pela resistência coletiva, preocupação com companheiras e companheiros feridos/as… Mas, principalmente, sobre como libertaríamos nosso companheiro detido. O SINTUSP acionou seus advogados e estávamos a postos para realizarmos outro ato em frente ao DP se fosse necessário.

Felizmente o companheiro foi libertado após algumas horas. Mas não esqueceremos sua prisão brutal. Não esqueceremos sua ida do DP ao hospital devido à agressão policial, precisando depois voltar ao DP para depor. Não esqueceremos das companheiras agredidas e do tiro pelas costas do companheiro de luta. Não esqueceremos do quanto tivemos que correr da caça policial. Mas nos espelharemos na resistência das companheiras frente ao spray de pimenta do verme armado. Na resistência da companheira do Rizoma, dando guarda-chuvadas e socos no mesmo policial que as agrediam. Na resistência de cada corte de rua daquele dia, frente a todas as bombas e balas.

É importante frisar, dia 29 de Maio, ao lado de sua importância enquanto paralisação nacional contra a terceirização e o ajuste fiscal, para todos nós que estávamos naquele ato, foi também uma expressão de força de nosso movimento contra a repressão, onde lado a lado, entre correntes, organizações e independentes, resistimos levantando uns/umas aos/às outros/as quando tombávamos.

A luta ensina. Dentre todas as lições de sua realidade, ela nos ensina a confiar cada vez mais em nossas companheiras e companheiros. Nos ensina a ganhar força admirando as ações destas e destes, de bravura e solidariedade. Nos ensina a acreditar cada vez mais na possibilidade de vitória. Pois, estando lado a lado camaradas, a vitória está cada vez mais próxima!

E a cada passo dado na luta, deixamos claro àqueles que duvidam: NÃO TEM ARREGO!

A cada passo dado na luta, deixamos cada vez mais claro àqueles que duvidam: NÃO TEM ARREGO.

A ideologia do Controle, e os recentes casos no RJ

retirado de: https://badernamidiatica.milharal.org/a-ideologia-do-controle/

Há apenas alguns dias o Baderna Midiática difundiu um vídeo intitulado “Severamente Punidos” no qual antecipava as consequências que se poderiam esperar da intensa campanha midiática contra os Black Blocs. O paralelo com o que acontecera em 2001 em Gênova servia de alerta: a apresentação dos Black Blocs como usurpadores violentos das manifestações, como vândalos incontroláveis, preparava o campo para uma repressão desmesurada, com o desrespeito de normas legais e o uso abusivo da violência policial. E, mais importante ainda, essa repressão não se limitaria aos vilões declarados, mas abrangeria todas as práticas de contestação, “pacíficas” ou não. Um massacre midiático antecipa sempre um massacre real, dizíamos. Esse massacre já começou.

A prisão dos administradores da página do Black Bloc RJ foi feito de maneira autoritária e ilegal por par parte do Departamento de Repressão a Crimes Informáticos (DRCI) – mas que pelo modo com que vem agindo merece guardar apenas a primeira parte do nome. Como pode ser considerado legal que pessoas que não foram flagradas cometendo nenhum “ato de violência” e nenhum “ato de vandalismo” sejam presas em suas próprias casas e imputadas por “formação de quadrilha”? Como se não bastasse o sigilo informático ser quebrado sem justificativa válida, a prisão foi logo completada pelos típicos procedimentos de incriminação da polícia. Os administradores da página são agora apresentados como a encarnação do Mal: não são apenas violentos, mas são também “corruptores de menores”, “pedófilos” e “maconheiros” ! Mas alguém consegue explicar porque a DRCI agiu de maneira tão contundente contra os Black Blocs, apresentando como prova de incriminação uma simples postagem na qual se ensinava a construir um “ouriço”, mas parece não se importar com as diversas páginas e publicações de conteúdo abertamente racista e filo-nazista?

Na verdade, como já havíamos dito, os Black Blocs são apenas o bode expiatório que serve para justificar um aparato repressivo geral. A propaganda do terrorismo e da violência é a ladainha que legitima a ilegalidade do Estado, desde que esse existe. E o Estado do Rio de Janeiro é um Estado de Exceção declarado desde a criação da “Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas”. A Comissão é a prova de que a repressão não se limita aos Black Blocs ou a nenhum outro grupo de “manifestantes violentos”. A recente determinação da “Ceiv” de que todos os “mascarados” serão fichados nas manifestações é provavelmente um dos atos “legais” mais inconstitucionais da história do Brasil pós-ditadura. Trata-se de fichar como criminosos pessoas que não cometeram crime nenhum. Será que ainda temos que lembrar o quanto é hipócrita um Estado que extermina impunemente nas favelas ter a cara de pau de dizer que violência é quebrar vitrines? Não bastando, ainda querem transformar manifestante mascarado em criminoso, pelo simples ato de usar máscaras (ainda estamos na terra do carnaval?). Fica evidente que o objetivo dessa repressão é transformar todo e qualquer manifestante em criminoso pelo simples ato de não se conformar a uma sociedade injusta e desigual.

Black Bloc em manifestação no Rio de Janeiro

Black Bloc em manifestação no Rio de Janeiro

E não nos iludamos sobre a possibilidade de traçar linhas de demarcação entre o bom e o mau protesto. O jornal “O Estado de São Paulo” – ainda mais que o “Globo” e seu falso mea culpa parece ter nostalgia dos tempos em que apoiava a ditadura. Em editorial de ontem , o “Estadão” saúda o autoritarismo da “Ceiv” e sua política de criminalização, por “combater o vandalismo”, ao mesmo passo em que saúda a ação da justiça de São José dos Campos que impediu uma manifestação do Sindicato dos Metalúrgicos de interromper o tráfego na Rodovia Presidente Dutra – ressuscitando o falacioso argumento de que as manifestações “perturbam o tráfego”, quando todos sabem que o trânsito das grandes metrópoles brasileiras não precisa de ajuda para ser perturbado: para isso já basta a espoliação do transporte público levado a cabo pelas diversas máfias dos transportes. Na argumentação do “Estadão”, fica claro como se articula a ideologia do controle. O combate ao vandalismo se conjuga rapidamente ao combate à toda e qualquer mobilização social, mesmo as mais tradicionais, como as sindicais. Nessa ótica, toda forma de reivindicação que ultrapasse o estreito limite da política parlamentar existente – com seus inúmeros resquícios legais da recente ditadura – deve ser “severamente punido”.

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Indicamos também a leitura de “Regulamentar as manifestações fere a liberdade de expressão. Um retrocesso para a democracia.”. Disponível em: http://radiodajuventude.radiolivre.org/2013/09/05/regulamentar-as-manifestacoes-fere-a-liberdade-de-reivindicar-direitos-um-retrocesso-para-a-democracia/

Sarau da Resistência – Sítio São Francisco

SARAU DA RESISTÊNCIA – SÍTIO SÃO FRANCISCO – PIMENTAS
Este sábado! 10/agosto a partir das 14 horas.
Rua Avaré, Sítio São Francisco – Pimentas
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Conheça o blog Sítio São Francisco! https://sitiovive.wordpress.com/2013/08/06/sarau-da-resistencia-1-aniversario/

O Sarau da Resistência está comemorando seu primeiro aniversário, e quer saber: Onde estão os Amarildos?

Amarildo, morador da Rocinha (RJ), desapareceu no dia 14/07 após ser levado por policiais das UPPs do Rio. A família presume que o pedreiro está morto. Com muita repercusão na  mídia, o caso de Amarildo não é isolado, pois os principais suspeitos da morte do trabalhador são os policiais militares das UPPs.

Na mesma semana tivemos ainda o julgamento dos policiais militares envolvidos no massacre do Carandirú, onde 111 presos foram assassinados depois da invasão da PM. O então governador do estado, Fleury Filho, declarou que não deu a ordem da invasão, mas se estivesse em seu gabinete autorizaria a ação criminosa da polícia.

“Aqui pro cidadão honesto ter um teto
só pondo o fogão na cabeça e invadindo o prédio
Saindo na mão com o PM do Choque,
sobreviver do tiro da reintegração de posse
Pergunta pro tio do terreno invadido no escuro
o que é um trator transformando tua goma em entulho”
(Facção Central – A marcha fúnebre prossegue)

Para comemorar o primeiro aniversário, o Sarau da Resistência vem de oficinas de desenho, quadrinhos, zines e rádio livre. Traga seu vídeo, música e poesia.

10/08 - a partir das 14h
Local: Rua Avaré, Sítio São Francisco - Pimentas

“Não há violência no Black Bloc. Há performance”

“Não há violência no Black Bloc. Há performance”

Manifestante anarquista, que participou das ações diretas em São Paulo, fala com CartaCapital sobre os protestos e a depredação de bancos e concessionárias
por Willian Vieira e Piero Locatelli — publicado 02/08/2013
Retirado de: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cnao-ha-violencia-no-black-bloc-ha-performance201d-9710.html

Quebrar bancos não é violência, é performance. Esta é opinião de uma manifestante dos black blocs, tática que vem ganhando adeptos no Brasil. Participante dos protestos em São Paulo na última semana, que resultaram na quebra de bancos e concessionárias, Roberto (nome fictício), de 26 anos, falou com a CartaCapital por e-mail sobre as ações. Ele explicou sua insatisfação com partidos, e os motivos que o leva às ruas para depredar símbolos capitalistas. Leia a entrevista abaixo:

Imagem de Lola Vicious: https://www.facebook.com/lolaxvicious

CartaCapital: O que o motiva a fazer parte de um black bloc? São insatisfações com o sistema político, com partidos, com o capitalismo e o tipo de democracia que vivemos? Ou são outras razões mais específicas?

Roberto: O Black Bloc foi uma estratégia nascida em seio anarquista. Portanto, o que nos motiva é uma insatisfação com o sistema político e econômico em que vivemos. Para mim, as duas coisas são indissociáveis e têm problemas com raízes muito mais profundas do que partido X ou partido Y.

CC: De quantos protestos já participou, fazendo black bloc? Qual o primeiro?

Roberto: Fazendo Black Bloc, já foram três protestos. O primeiro foi o ato pela democratização da mídia, do dia 11 de julho. Mas antes já tinha participado de outras ações diretas, sem necessariamente a identificação com o Black Bloc. Por exemplo, os dois últimos atos pela redução da tarifa do transporte público, com a ação de queimar bandeiras do Brasil.

CC: Por que decidiu ir aos protestos e fazer parte do Black Bloc?

Roberto: Decidi ir porque considero a ação direta uma estratégia tão importante quanto a não-direta. Nossa sociedade vive permeada por símbolos, e saber usa-los é essencial em qualquer demanda, seja ela política ou cultural. Participar de um Black Bloc é fazer uso desses símbolos para quebrar pré-conceitos e condicionamentos. Não só do alvo atacado, mas até da própria ideia de vandalismo.

A sociedade tende a considerar a depredação como algo “errado” por natureza. Mas se nós sabemos e admitimos que os alvos atacados, em sua maioria agências bancárias até o momento, não foram realmente prejudicados – ou seja, os danos financeiros são irrisórios – qual é o real dano de uma estratégia Black Bloc? Por que deveria ser considerada errada a priori?

Não há violência no Black Bloc. Há performance.

CC: Não tem medo de ser preso ou de ser violentado pela polícia? Como lida com isso?

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