Reformismo: um freio no movimento estudantil

Em maio publicamos um texto¹ de debate público em que apresentamos nossa estratégia de reivindicação das cotas raciais e sociais e como esta bandeira se encaixa em nosso programa para o movimento estudantil. No entanto, deixamos em suspenso a caracterização que fazemos sobre o reformismo no movimento estudantil.

Para nós este debate é essencial, pois o reformismo é composto por setores e correntes que isolam a luta de um horizonte revolucionário. Com o acirramento da luta de classes no Brasil torna-se ainda mais fundamental evidenciar esta prática para que o conjunto dos movimentos de resistência escolham entre duas vias: a reformista ou a revolucionária.

Se temos a revolução como horizonte devemos romper definitiva e imediatamente com o falido programa social-democrata do PT e seus semelhantes, utilizando os métodos históricos dos movimentos de resistência e combatendo a conciliação de classes. A nosso ver o reformismo no Movimento Estudantil tem se expressado de duas maneiras: a primeira atua a partir da substituição de métodos históricos de luta contra o Estado e o capitalismo por outros que não ameaçam a ordem vigente, através da burocracia, e a segunda por levantarem bandeiras que confundem o movimento, por conterem em si próprias a conciliação entre os dois lados que se enfrentam.

Os métodos Reformistas

No movimento estudantil, é frequente a tentativa de retirar a centralidade dos métodos utilizados historicamente pela classe trabalhadora e por nosso movimento – pautados na democracia e ação diretas – para se aventurar em métodos ditos “mais atualizados” ou que supostamente dialogam mais com o conjunto das/os estudantes. Ao fazerem isso, os setores que defendem esse tipo de “adaptação” aos novos tempos confundem grande parte dos/as estudantes que acabam de ingressar na universidade com disposição de luta, voltando-os/as para uma disputa formal nas estancias burocráticas nas quais não há nenhuma perspectiva de avanço para as pautas do Movimento Estudantil.

Essa prática que se expressa principalmente na negação das ações diretas – como paralisações, piquetes, greves e ocupações – dão espaço para disputas improdutivas e conciliatórias com os de cima, e tem como pano de fundo justamente o deslocamento da luta, passando-a dos espaços legítimos do movimento para o campo minado da burocracia universitária. Permitir esse deslocamento é um grave erro, pois ao invés de nos concentrarmos em ações e atividades que propiciem a massificação do Movimento Estudantil, gerando assim uma correlação de forças mais favorável às nossas mobilizações, acabamos por dedicar nosso tempo e energia em situações que dependem da boa vontade de um burocrata, quando não do próprio reitor ou governador. Não à toa, os grupos reformistas que enfrentamos no Movimento Estudantil pretendem, através dessas práticas, colocar freios à mobilização quando esta não serve aos interesses de suas burocratas e governantes aliados dentro e fora da universidade.

A via reformista, tenta esvaziar e deslegitimar nossos fóruns deliberativos, transportando a luta para dentro dos espaços “construídos em conjunto” com a burocracia e setores governistas. Não devemos depositar esperanças nas ferramentas de nossos inimigos, visto que a nossa própria experiencia nos prova que os métodos históricos de luta dos trabalhadores são os que de fato nos trazem resultados concretos. Nosso compromisso não está ligado à visão de mundo e à vida desses burocratas, mas aos/às estudantes da classe trabalhadora que em suas lutas apontam no sentido oposto, não pedindo ou implorando a um burocrata qualquer que nos aceite, mas impondo a ele nossas posições e reivindicações.

As bandeiras Reformistas

O reformismo se expressa também nas bandeiras que levanta. Caracterizamos assim todas aquelas que visam atingir as estruturas de poder da instituição como, por exemplo, “diretas para reitor”, “estatuinte” e “governo tripartite”.

Todas estas, independente do grau da radicalização retórica, possuem um único desdobramento: a crença do conjunto de nossa categoria nas mãos das instâncias burocráticas da universidade. Gera, assim, duas distrações principais: a primeira é a de que se outra pessoa ou grupo administrasse a universidade esta seria melhor, mais confortável ou mesmo mais aprazível, se abstendo, portanto, de levar um debate mais aprofundado sobre o papel desta instituição na sociedade capitalista, o que invariavelmente exporia grande parte das contradições contidas nela. A segunda é o sacrifício das lutas que atingem diretamente os/as estudantes e que possuem um recorte classista, como a por cotas e permanência, que são necessidades reais dos/as estudantes para a sua sobrevivência econômica dentro da universidade, em proveito de uma bandeira abstrata e sem nenhuma ligação com a realidade material.

Também joga no campo da burocracia as bandeiras de reivindicação de repasse de verbas tais como ICMS e/ou PIB. Ao nosso ver não temos que cair no equívoco de apoiar a burocracia em suas questões administrativas e sermos engolidos pela gestão da universidade burguesa. A nossa reivindicação precisa estar explícita. Se para atender às demandas de permanência estudantil ou de ampliação de contratação de funcionários a reitoria alega que não tem dinheiro, precisamos, com a força da mobilização, tornar insustentável a posição da reitoria e fazer com que ela que se resolva com os seus aliados governamentais para atender às demandas do movimento. Não podemos incorrer no erro de exigir maior repasse de verbas com uma pauta em abstrato que pode significar ampliação de recursos para áreas e setores completamente alheios às demandas materiais de estudantes e trabalhadores.

Nosso horizonte não é reforçar a universidade, buscando alternativas à sua gestão, mas explorar este terreno de contradições forjando militantes para a luta de classes. Parece-nos extremamente difícil que em algum momento as pautas de estrutura de poder possam dar vazão aos anseios imediatos do conjunto dos/as estudantes da classe trabalhadora, tornando-se assim, uma alavanca para um processo de lutas mais intenso.

Um programa de lutas para o Movimento Estudantil

Diante de tudo isso, a atuação que buscamos desenvolver dentro do Movimento Estudantil caminha no sentido de, por um lado, explicitar as contradições próprias da universidade – entendendo esta como uma instituição burguesa e que serve para alimentar a sociedade capitalista –, assim como evidenciar a condição dos/as estudantes enquanto, em grande parte, trabalhadores/as ou futuros/as trabalhadores/as, ou seja, enquanto componentes desta classe.
Para tanto, avançamos na construção de um programa que traga em si o recorte de classe – a partir das lutas por cotas e permanência –, impulsionando também mobilizações em unidade com a classe trabalhadora, estreitando esses laços da forma mais orgânica possível. Ao fazer isso, combatemos as práticas reformistas de conciliação de classes, devolvendo à juventude da classe trabalhadora a centralidade nesse processo, que deve ser pautado em seus métodos historicamente construídos de democracia e ação diretas.

A nosso ver, qualquer caminho que tangencie a perspectiva reformista é um grave erro que nos faz perder de vista nossas tarefas reais imediatas e futuras. Considerando a conjuntura atual, repleta de ataques que nos pressionam e testam nossas forças, se nosso movimento caminhar pelas vias reformistas pagaremos um preço ainda mais alto. Em um momento em que vemos a reitoria se empenhando cada vez mais para nos atacar, não podemos nos distrair! Hoje a luta que deve ser erguida pelo conjunto do Movimento Estudantil é aquela que responde diretamente às ofensivas da reitoria e do governo do estado. É necessário que nos foquemos na conquista das cotas, na defesa de nossas condições de permanência e na luta contra a repressão, abrindo a disputa de quem manda nesse espaço: se um punhado de burocratas ou o conjunto dos/as trabalhadores/as e estudantes!


¹ https://rizoma.milharal.org/2015/05/27/cotas-estrategia-e-mobilizacao/

8° reunião do coletivo antifa da USP + Cineclube

QUANDO:

sexta-feira (06.06)

HORÁRIO:

18h

LOCAL:

AMORCRUSP

texto do evento:

Na próxima sexta-feira o Coletivo Décio de Oliveira (Comitê Antifascista da USP) realizará sua 8ª reunião para dar prosseguimento às suasatividades. Teremos diversas pautas, como nossas próximas ações, o jornal do comitê e a continuação de seus grupos de estudo e exibição de filmes. Em seguida o coletivo dará prosseguimento às suas atividades de cineclube com o filme “Panteras Negras” (Mario Van Peebles, 1995, 123min). A obra de ficção mais bem elaborada sobre o grupo aborda uma questão fundamental na luta contra o avanço do fascismo e do racismo: a necessidade de autodefesa dos trabalhadores e povos oprimidos. Sinopse: História dos Panteras Negras, grupo surgido em meio aos conflitos raciais do final dos anos 60 em São Francisco, fundamental para o avanço das conquistas de direitos para o povo negro norte-americano.

Quinta de Cinema em Greve

Esta atividade conjunta que faz parte do calendário de greve e mobilizações do Ceupes Ísis Dias de Oliveira e do Cege Usp, surge de uma parceria entre o CineVerde do Espaço Verde com o Cine Aquário do Espaço Aquário.


Serão exibidos três filmes:

14h – A Classe operária vai ao paraíso (1971) do diretor Elio Petri.
* este filme foi o vencedor nas votações do Espaço Aquário

“Um dos filmes mais importantes do cinema político italiano. Lulu Massa é um operário vivido pelo ator Gian Maria Volonté, que trabalha duro para conseguir bônus, mas que, assim, desperta a antipatia dos colegas. Após um acidente de trabalho, ele se engaja na luta sindical.”(terra)

Local: Espaço Aquário – Vão da His/Geo – FFLCH-USP

16h30 – Peões (2004) do diretor Eduardo Coutinho
* este filme foi sugerido por membros do CineVerde e do Núcleo de Cultura do Prédio do Meio

Local: Espaço Verde – Prédio do Meio – FFLCH-USP

19h – Eles não usam Black-Tie (1981) do diretor Leon Hirszman

Local: Espaço Aquário – Vão da His/Geo – FFLCH-USP

Montaremos debates sobre os filmes para todxs xs interessados em discuti-los após sua exibição.

Aguardamos a presença de Todxs!