Homens (pró-)feministas: aliados, não protagonistas

Texto de Henrique Marques-Samyn,

Publicado por http://blogueirasfeministas.com/2013/04/homens-pro-feministas-aliados-nao-protagonistas/

Em tempos recentes, houve no meio feminista brasileiro alguma polêmica sobre homens que, embora participantes de coletivos feministas, contestaram a legitimidade da formação de grupos compostos exclusivamente por mulheres; alguns deles teriam chegado a qualificar como ‘sexismo’ a defesa desses grupos como espaços legítimos. Há aí um sintoma da inconsistência política de que padecem muitos homens que se apresentam como feministas ou simpatizantes do feminismo: sendo a constituição de grupos exclusivamente femininos um dispositivo historicamente fundamental para o empoderamento das mulheres na sociedade patriarcal, desqualificar esses grupos — sobretudo sob a acusação de sexismo — implica reproduzir a lógica opressora ali onde ela deveria ser recusada com mais veemência.

Marcha das Vadias de Porto Alegre, 2012. Foto de Nanni Rios no facebook.

Marcha das Vadias de Porto Alegre, 2012. Foto de Nanni Rios no facebook.

Coisas desse tipo me levam a indagar se não é necessário refletir sobre certas atribuições no que tange à participação dos homens no feminismo. Refiro-me, particularmente, a um ponto crucial: nós, homens, somos aliados do feminismo, não seus protagonistas. Esse protagonismo sempre foi, e sempre será, um apanágio das mulheres: foram elas — e continuam a ser — as construtoras do movimento feminista, precisamente na medida em que sobre elas incide, ao longo da história e de modo imediato, a opressão patriarcal. Ainda que nós, homens, também soframos efeitos opressores do patriarcado, todos somos seus beneficiários, mesmo que nem todos sejamos seus signatários. Daí que nossa mais importante contribuição para o feminismo seja precisamente combater as múltiplas formas pelas quais colaboramos para a perpetuação das estruturas patriarcais, revisando nossos privilégios e questionando como atuamos em favor da opressão sexista.

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Discutir branquitude: o calo que me dói

Por Larissa Santiago para o Blogueiras Negras 08 de agosto de 2013

Na última segunda-feira participei de uma conversa que tinha como tema Feminismo Negro e Identidade: para além da transversalidade de gênero e raça. Com uma provocadora incrível (Profª Liana Lewis) e um filósofo mediando a mesa (Prº Sandro Soyão) a Ciranda Filosófica causou também um estranhamento à minha pessoa:  depois de reconhecer seu privilégio e relatar seu cotidiano embaraçoso com os alunos da cadeira Relações Raciais da Universidade de Pernambuco, fiquei querendo saber porque a incrível professora doutora [sem ironia] não preferiu discutir feminismo branco ou branquitude. Quando indagada, ela categoricamente respondeu afirmando ser necessário um estudo relacional: não existe negro sem branco nem branco sem negro.

Mas a profusão de estudos e de debates sobre negritude e a escassez de debates sobre branquitude (embora isso tenha mudado com os estudos sobre whiteness nos EUA) nos faz pensar que os problemas e resquícios do colonialismo só são possíveis de ser enxergados quando todos olhamos para o negro, o “desvio”. Onde fica a discussão da norma?

“Quando pessoas brancas se voltam para o racismo, tendem a vê-lo como um problema de negros e não como um problema que envolve a todos. Assim, brancos podem ver o trabalho antirracista como um ato de compaixão pelo outro, um projeto esporádico, externo, opcional, pouco ligado às suas próprias vidas, e não como um sistema que modela suas experiências diárias e seu sentido de identidade.” (BENTO, 2002a: 49).

Recordado os acontecimentos na Marcha das Vadias de Brasília, uma das questões que foi debatida em grupos específicos foi a discussão da identidade racial branca, seus privilégios e da posição “involuntária” de opressor. Me pareceu muito clara a dificuldade em tratar esses assuntos quando tudo o que se sabe é que há um oprimido e todos precisamos defendê-lo e, sinto dizer que a Ciranda Filosófica me passou a mesma impressão [que não foi a única]. Não quero dizer com isso que pessoas brancas não possam falar de negritude, mas no meu mundo ideal a intensidade no debate sobrewhiteness se daria só pelo fato de termos maioria branca nas academias e noutros lugares que nem preciso listar aqui.

branquitude_relações raciais

De todos os pontos que identifiquei na discussão iniciada depois do episódio MdV Brasília e que foram intensificados depois da Ciranda, quero trazer para discussão aqui com vocês esses três pontos acima citados: a identidade racial branca (ou o branco racializado), o privilégio branco e o que eu chamei de “opressão involuntária”. Esses pontos serão tópicos para próximos posts que pretendem humildemente provocar discussões e elucidações.

Esperando contribuir para um mundo melhor [brinks], esta autora pergunta: você já tinha ouvido falar em branquitude?


Larissa é baiana e escreve no Mundovão e no Afrodelia.


Acompanhe nossas atividades, participe de nossas discussões e escreva com a gente.

 

“Exploração de Classe e Opressão de Gênero” na Paralisação da UNESP

PARALISAÇÃO NA UNESP – Barra Funda/SP hoje dia 14/maio
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O grupo Poéticas Feministas finaliza amanhã, dia 14, o ciclo de debates “Exploração de Classe e Opressão de Gênero”.
Hoje (13/maio/2013) xs estudantes do Instituto de Artes da UNESP decidiram pela paralisação no dia de amanhã (14/maio) e para contribuir com as atividades dessa mobilização o grupo irá acrescentar ao debate a temática “Mulheres e a Permanência Estudantil”.
ATIVIDADE GRATUITA, ABERTA PARA TODXS!

Conheça o grupo aqui: http://feministaspoeticas.blogspot.com.br/

Contato: feministaspoeticas ARROBA gmail.com

Confira a atividade no Calendário de Movimentos Sociais: https://calendario.sarava.org/pt-br/evento/explora%C3%A7%C3%A3o-de-classe-e-opress%C3%A3o-de-g%C3%AAnero-na-paralisa%C3%A7%C3%A3o-da-unesp