Ciclo de Debates “O CRUSP não foi dado!” – Debate esta terça-feira: CRUSP 1968

Esta terça, dia 11

Às 18h, na Ágora

O Grupo de trabalho do CRUSP, em conjunto com os GT’s dos cursos, tem o prazer de inaugurar o primeiro debate do ciclo O CRUSP NÃO FOI DADO, com o debate CRUSP 68, que contará com a presença de convidados que moraram no CRUSP na década de 60, para falar sobre esse período da moradia e o histórico da ocupação dos prédios.

Visite o blog e responda o questionário sobre acesso e permanência: www.acessoepermanenciausp.blogspot.com e entre em contato via e-mail: gtpermanenciacrusp@gmail.com

Evento do Debate no Facebook: https://www.facebook.com/events/296308563903409/

[texto] Por que somos a favor de cotas e permanência como eixos prioritários para o movimento estudantil

 Por que somos a favor de cotas e permanência como eixos prioritários para o movimento estudantil

Panfleto em PDF

De acordo com o último PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), a cada 10 estudantes brasileiros de ensino básico, 8 estão na rede pública de ensino; no Sudeste o número é um pouco menor: 7,5. (1) Entretanto, dos ingressantes na Universidade de São Paulo, apenas 7% são de rede pública. (2) No último censo brasileiro, ficou comprovado que mais da metade da população brasileira (50,94%) é parda ou negra (3), na USP, menos de 8% dos alunos correspondem a este perfil étnico-racial. (4)

Sim, a USP é elitista e racista. Diante destas afirmações, não compreendemos nenhuma outra forma de “democracia” que não comece pela imediata aplicação de cotas sociais e raciais na Universidade.

UNIVERSIDADE SEM POVO, TAMO NA GREVE DE NOVO (5)

O Rizoma luta por duas bandeiras que num primeiro momento podem parecer contraditórias: um movimento estudantil de recorte classista e a destruição da universidade burguesa. Sim, é verdade que não temos a menor ilusão com a universidade, e já afirmamos diversas vezes que para nós a universidade só irá brilhar diante dos olhos do povo quando pegar fogo, mas o argumento de que cotas sejam políticas reformistas é um absurdo. É inadmissível considerar como reformista medidas que garantam a defesa da classe trabalhadora, pois não há possibilidade real de uma universidade pública à serviço do povo se este é exatamente o setor excluído de seu interior.

É preciso olhar de forma honesta para história e admitir que a formação do Brasil sempre foi ligada a políticas de marginalização do povo negro. Foram mais de 3 séculos de escravidão, e para que a princesa Isabel assinasse a lei áurea, bem antes, em 1850 foi preciso estabelecer a lei de terras para manter a população negra livre bem distante dos meios de produção. Entre a assinatura da lei áurea, 1888, e 1988, a primeira constituição a reconhecer a necessidade de reparação histórica a essa população marginalizada, existe um abismo de 100 anos. E não adianta assumir que todo mundo já conhece esta história: enquanto as cotas não forem a principal bandeira do movimento estudantil, e esta bandeira não for vitoriosa, essa história precisará ser repetida quantas vezes for necessária.

E mesmo após o dia que esta vitória for alcançada, ainda sim será preciso recontar essa história e relembrar que no Brasil todo mundo carrega sangue negro: alguns nas veias, outros nas mãos. Será preciso relembrar da luta por liberdade e dignidade. Luta esta, que aliás, é negligenciada na nossa universidade: por que existem tão poucas disciplinas sobre a Africa? Por que o Núcleo de Consciência Negra continua sendo reprimido? A tática da USP é manter os negros e as negras invisíveis, mas sempre presentes nas cozinhas ou nos setores de limpeza. Minorias no conjunto de estudantes e docentes, negras e negros são a grande maioria dos funcionários terceirizados, condenados a péssimas condições de trabalho e baixíssimos salários. Grande parte vinda da favela São Remo, a elas e eles foi negado até mesmo o transporte gratuito.

Nossa concepção de luta não acredita em vanguardas e portanto não somos nós, que já nos encontramos na universidade e numa situação de privilégio, que conquistaremos vitórias para libertar “o povo oprimido”. Nós temos sim uma responsabilidade em defender até o fim a prioridade da luta por cotas, mas também precisamos articular esta luta com a sociedade. Não será de dentro para fora que veremos a força do poder popular exigindo seus direitos ao acesso. É preciso reaproximar o movimento estudantil das escolas públicas e cursinhos pré-vestibulares populares, para que tomemos as ruas por cotas já, e que se não for o suficiente, tomemos as reitorias, as salas de aula e que perante a intransigência do Estado de São Paulo na implementação imediata de cotas, a USP se encha de povo e que nada mais nessa universidade funcione tranquilamente até que as vitórias da classe trabalhadora sejam alcançadas.

Historicamente a população negra e pobre é excluída em todos os âmbitos e não podemos admitir que o Movimento Estudantil continue sendo um perpetuador desta política de segregação. Ao colocar a pauta de cotas sempre como uma tímida bandeira de reivindicação, o Movimento Estudantil vira as costas para a sua função de luta. Se não estivermos de fato fortalecendo a luta por uma universidade pública, gratuita e de qualidade à serviço das classes trabalhadoras e com esta compondo seus quadros discentes e docentes, então tudo o que estamos fazendo até agora não passa de brincadeira fantasiada de revolução.

Fazemos um chamado à todo o conjunto das/os estudantes. Acreditamos na potência do Movimento Estudantil e questionamos: se não agora, quando? Unifiquemos nossos esforços e caminhemos rumo a uma conquista real que será capaz de alterar o quadro tanto da universidade como do nosso próprio movimento estudantil. Precisamos deixar claro que a USP completou 80 anos de segregação e que não permitiremos nenhum ano a mais desta política elitista à serviço do capitalismo.

Não é por sorte, mas sim por muita luta, que a USP possui em seu interior dois espaços fundamentais na garantia das pautas trabalhadoras. O Núcleo de Consciência Negra e o CRUSP. Dois espaços de luta por cotas e por permanência estudantil. Pautas intimamente ligadas, pois não adiantam políticas de acesso à universidade se os índices de evasão crescerem porque estas/es estudantes não tiveram condições materiais para se sustentar na universidade. É preciso reconhecer o papel fundamental destes dois grupos, e defender as pautas de reivindicação que partam de suas bases. O projeto de cotas que o Movimento Estudantil deve defender, é aquele que o Núcleo de Consciência Negra elaborar. É o NCN que nunca abandonou a luta por cotas na Universidade e que, apesar da negligência do Movimento Estudantil, sempre seguiu forte em sua luta. E quando erguemos a defesa da pauta de permanência estudantil não estamos falando em abstrato. São estudantes do CRUSP e estudantes que recebem os auxílios sócio-econômicos da USP que devem, em sua assembleia, estruturar quais são as reais necessidades e reivindicações que o Movimento Estudantil deve lutar quando diz “permanência estudantil”. Lutaremos por cotas e permanência, fortalecendo as deliberações que partam das bases destes dois setores.

Garantir que o povo entre na universidade e nela se mantenha – pelo menos até o dia em que a destruirmos: são por essas pautas que acreditamos que o movimento estudantil deva lutar.

(1) www.ibge.gov.br
(2) educacao.estadao.com.br/noticias/geral,…
(3) www.ibge.gov.br
(4) ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2012-1…
(5) Alusão à palavra de ordem do MTST na luta contra a copa “Copa sem povo, tô na rua de novo”

[Amanhã] Ato dos moradores do Crusp contra os despejos e pela retomada dos blocos K e L

QUANDO:

Quarta (21.5)

HORÁRIO:

11:30

LOCAL:

Ágora – em frente ao bandejão central

Texto do Evento:

Na assembleia do dia 13, os moradores do Crusp, diante dos despejos e da falta de vagas e bolsas, decidiram chamar um ato para o dia 21 pedindo mais moradia estudantil na USP. A concentração será na Ágora. O ato irá da SAS até os blocos K e L.

A experiência universitária como uma interdição violenta de direitos

Os casos de ingerência, terrorismo psicológico e seleção sem critérios por parte da SAS/USP (Superintendência de Assistência Social) são incontáveis. A cada ano que passa mais e mais pessoas tem seu direito de moradia rejeitado sistematicamente no intuito de aprofundar a elitização da Universidade.

Reproduzimos a seguir um relato acerca do processo de seleção da SAS. Esse está hospedado no blog : http://relatoscrusp.wordpress.com/ que tem como objetivo colher relatos e denúncias da política excludente e elitista da Reitoria que se concretiza através de sua Superintendência:

“Meu nome é [nome omitido], sou aluno da graduação – curso de Filosofia -, ingressei na universidade no primeiro semestre de 2013 e tenho morado no alojamento do CRUSP desde então. Não pude ocupar uma das vagas da moradia estudantil (embora haja vagas) pois meu direito foi interditado, em grande medida, pela assistencial social que opera na USP.

Durante o processo de seleção que é realizado pela assistência social nos requisitam, recorrentemente, relatos – de nossa vida, de nossa situação socioeconômica, etc. Eu já os fiz incontáveis vezes. De tal modo, para mim, é difícil fazer esse relato, tendo em vista que isso se configurou num processo de tortura pelo qual eu tenho de rememorar não somente a minha trajetória até aqui, mas sobretudo o processo pelo qual tenho passado após minha entrada na USP, seu descalabro, sua violência, sua reificação e o mal estar que o permeia.

Falarei um pouco sobre a minha trajetória até a universidade e sobre como se deu a interdição do meu acesso à moradia. Para isso me valerei, além do que aqui escrevo, de todos os e-mails (49 e-mails, de 04 de Março de 2013 a 12 de Dezembro de 2013) que troquei com a assistente social responsável pelo meu caso, bem como de documentos, depoimentos e fotos que apresentei.

Peço que vocês acompanhem o relato com atenção.

Continue lendo