Greve dos estudantes da UFPR: pautas, instrumentos, lutas! (Coletivo Quebrando Muros)

“Encontramos-nos em um momento que é crucial para o movimento de greve dos estudantes, o momento em que temos de centrar todas as nossas energias para formas de pressionar a reitoria a atender o máximo possível de pautas, visto que acreditamos que todas são prioritárias e imprescindíveis para a melhora da educação dentro de nossa universidade. Entramos num novo patamar da negociação da greve. A Reitoria da UFPR já sentiu a força do movimento estudantil combativo, e demonstra medo diante da possibilidade de nova radicalização. Isso só nos mostra o quão legitima e eficaz é a luta travada, que só através do processo de greve forte e combativo de tod@s estudantes unidos, e não através de unidades representativas, que conseguimos real avanço para as melhorias na universidade.”

Publicado originalmente em: http://quebrandomuros.wordpress.com/2012/07/26/greve-dos-estudantes-da-ufpr-pautas-instrumentos-lutas/

@s estudantes da UFPR, em assembleia geral no dia 29 de maio de 2012, deflagraram greve por entender que este era o único instrumento de luta que cabia naquele momento para reivindicar e conquistar as melhorias para a sua universidade. Desde então, construiu-se em assembleias gerais, de forma exaustiva, um documento que contemplava as suas principais pautas para ser apresentado à Reitoria pela comissão de negociação d@s estudantes.

No sentido de contextualizar este processo, é importante pontuar alguns elementos para possibilitar uma boa análise, como o fato de que nos encontramos no período pós-REUNI que, como foi previsto pel@s estudantes da UFPR em 2007 quando ocuparam a reitoria como forma de protesto a este projeto, precarizou o ensino superior público, expandindo o número de vagas ofertadas sem expandir, também, a estrutura e o financiamento de forma proporcional (50% mais alunos e 20% mais verbas – os números não batem) com o argumento de que a universidade encontra-se com estrutura ociosa, o que é claramente, se não uma mentira, um erro de análise do governo federal.

Esta greve apresenta algumas peculiaridades, como o fato de ser nacional e também unificada entre as três categorias da UFPR (servidor, estudante e professor), diferentemente do que ocorreu na greve do ano passado (2011) onde o que se viu foi uma greve simultânea e não unificada. Estas peculiaridades implicam na subdivisão de nossas pautas em três níveis: locais, conjuntas (das três categorias) e nacionais.
Localmente nossas pautas contemplam nove eixos, entre eles se encontram reivindicações referentes à assistência estudantil (aumento no número e valor das bolsas e auxílios, mais ônibus intercampi, casa estudantil para mães, etc.), estrutura física, humana e técnica para a universidade (construção de um colégio de aplicação para os estudantes de licenciatura, etc.), estágios obrigatórios (política de assistência financeira aos estudantes que precisam realizar estágio obrigatório, alimentação garantida no local de estágio), não retaliação aos estudantes grevistas, acessibilidade (rampas para cadeirantes, intérpretes de libras, etc.), biblioteca (aumento do acervo, abertura para a comunidade externa e estudantes já formados), currículo (não divisão das habilitações nos cursos), democracia na universidade (paridade qualificada, transparência nos conselhos e colegiados), privatizações (fim da privatização de laboratórios na universidade, fim dos cursos pagos) e pós-graduação (assistência estudantil para cursos de especialização).

Após duas semanas em greve (19/06), foram iniciadas as mesas de “negociação” entre @s estudantes e a administração da UFPR, que havia reconhecido a greve estudantil e recebido as pautas na semana anterior (14/06), após grande ato das três categorias (servidores, professores e estudantes) junto à comunidade. Foram travadas, num primeiro momento, duas exaustivas reuniões para o esclarecimento das reivindicações pautadas pel@s estudantes.

Já na 5º rodada de “negociação” com a reitoria, no dia 3/07 onde acontecia, simultaneamente, o ato 3-J convocado pelo CNGE (Comando Nacional de Greve dos Estudantes), e visto que não havia nenhum avanço concreto nas pautas dos estudantes, em assembleia pós-ato @s estudantes optaram pela ocupação do prédio, entendendo a necessidade deste instrumento de luta diante do cenário que se apresentava a eles naquele momento.

A radicalização dos movimentos sociais se faz necessária quando não há avanços na luta dos “de baixo”. É um instrumento de luta legitimo e eficaz como forma de pressão para que o movimento seja visto com seriedade e se obtenha as conquistas almejadas.

A reitoria da UFPR considerou a ocupação como ruptura da “negociação” por parte d@s estudantes alegando que as negociações estavam ocorrendo e que o movimento estava se precipitando ao dizer que não havia, de fato, avanços concretos com esta. Com base nesse argumento, tentou de todas as formas deslegitimar o instrumento de luta do movimento estudantil e enfraquecê-lo. Após quase duas semanas de ocupação foi chamada uma nova reunião com a comissão de negociação estudantil pela reitoria. Entretanto, ao contrário do que era esperado – reinicio das negociações, com real avanço, para que a reitoria fosse desocupada – a reitoria utilizou dessa reunião para ameaçar @s estudantes e, desta forma, descumprindo acordo prévio, criminalizar o movimento.

Após 18 dias de ocupação da reitoria, @s estudantes, de forma tática, decidiram pela desocupação como forma de “trégua”, mas não de forma recuada, sempre pontuando que conforme a necessidade o movimento irá radicalizar novamente, da mesma forma com que já fez várias vezes na história. É importante citar que esta trégua se fez necessária diante das constantes e progressivas ameaças por parte da reitoria aos estudantes ocupad@s, ameaças que chegaram a citar expulsão destes e abertura de processos judiciais.

Encontramos-nos em um momento que é crucial para o movimento de greve dos estudantes, o momento em que temos de centrar todas as nossas energias para formas de pressionar a reitoria a atender o máximo possível de pautas, visto que acreditamos que todas são prioritárias e imprescindíveis para a melhora da educação dentro de nossa universidade. Entramos num novo patamar da negociação da greve. A Reitoria da UFPR já sentiu a força do movimento estudantil combativo, e demonstra medo diante da possibilidade de nova radicalização. Isso só nos mostra o quão legitima e eficaz é a luta travada, que só através do processo de greve forte e combativo de tod@s estudantes unidos, e não através de unidades representativas, que conseguimos real avanço para as melhorias na universidade.

Nacionalmente e localmente, a situação da greve das outras categorias da universidade (técnicos e professores) não é boa: o governo federal se nega a negociar até onde é possível, depois disso ele marca reuniões que não chegam a lugar algum, se mostra intransigente e desrespeitoso com o movimento. Isto nos mostra que não sofremos de um problema local, isolado; este descaso com os movimentos grevistas é a regra e não a exceção. Temos um governo que se diz dos trabalhadores, mas que afirma não negociar com grevistas, um governo que prefere direcionar dinheiro aos banqueiros e empresários ao invés da educação. E é por isso que a nossa única opção neste momento é fortalecer e se somar à luta, de demonstrar nossa solidariedade aos companheir@s que se encontram no mesmo processo de luta que nós e não recuar jamais!

Lutar, criar, poder popular!

 

Desocupação tática: Trégua sim. Recuo jamais. (CQM)

Tirado de http://quebrandomuros.wordpress.com/2012/07/23/desocupacao-tatica-tregua-sim-recuo-jamais/

 

Na última assembleia estudantil, dia 20, o Movimento Estudantil da UFPR votou pela desocupação da reitoria da instituição. A ação de radicalização do movimento trouxe para junto dos alunos grevistas grande força externa para com sua luta. Os movimentos de paralisação de ambas as categorias, professores e servidores, manifestaram publicamente seu apoio à luta através da ocupação. Diversas entidades estudantis e coletivos de esquerda publicizaram moções nas quais se colocavam ombro a ombro com o Comando de Greve dos Estudantes. A força adquirida pelos alunos não podia mais ser ignorada pelos burocratas do poder.

Acuada pela pressão estabelecida pela ocupação, a Reitoria da Universidade Federal do Paraná não teve outra escolha além de criminalizar e difamar os alunos que tomaram a dianteira do processo. Aliados ao DCE, os representantesda instituição espalharam junto à imprensa diversas mentiras que versavam desde uma falsa ligação da totalidade do Movimento para com partidos políticos (nunca é demais lembrar que o Coletivo Quebrando Muros é veementemente contrário a construção política realizada dessa maneira) até acusação de depredação do prédio ocupado, o que o próprio reitor Zaki Akel teve que desmentir depois da vistoria do prédio. Poucos dias antes da desocupação o mesmo reitor foi aos principais veículos de comunicação para amarrar ameaça de expulsão dos grevistas com a acusação de que o os discentes mobilizados se colocavam como entrave para liberação de medicamentos para a Maternidade Victor Ferreira do Amaral e também para a reforma do Campus Teixeira Soares.

Acusações falaciosas. Durante o processo de construção da greve, que começou a cerca de dois meses, militantes das três categorias (alunos, servidores e professores) visitaram, levantaram dados e realizaram atividades para esclarecer a situação do Teixeira Soares. Não só o Campus já era verdadeira ruína pós-apocalíptica, e, portanto, excessivamente atrasada, como o projeto do Campus atende uma lógica de ensino que contempla um projeto pedagógico absolutamente nefasto. A ocupação não poderia ter atrasado as obras, uma vez que elas nem sequer tinham, de fato, começado. E, com respeito, a Maternidade, a ocupação possuía uma Comissão de Ética que avaliava todos as requisições de documentos enviados para liberá-los se julgasse necessário. Documentos necessários para compra de remédios do Hospital de Clínicas foram liberados. Não haveria porque o tratamento ser diferente para com a maternidade se os documentos tivessem requisitados. Aliás, a mesma Comissão de Ética entrou em contato com a Maternidade e verificou que ela não estava com deficiência em seu estoque de medicamentos, desmentindo assim a matéria televisionada.

Ainda há de ser ressaltado que graças à militância na ocupação o Movimento continuou mobilizado mesmo em período de férias.  Tal mobilização garantiu que a maior assembleia de alunos da UFPR esse ano fosse realizada em meados de julho com cerca de 600 participantes que votaram pela manutenção da ocupação em tal ocasião. A excepcionalidade da radicalização do movimento evidenciou o movimento de greve perante a sociedade brasileira, inclusive forçando setores da imprensa que até então faziam de conta que a greve não existia a cobrir o evento.

Frente a isso fica claro que a saída da Reitoria não se dá por recuo, e sim, por trégua. O reinício imediato das negociações, e dessa vez pra valer, revela que a desocupação realizou-se de maneira estratégica e na hora certa. Não é mais possível a impassibilidade e ignorância que os burocratas tinham praticado frente às pautas elaboradas coletivamente por aqueles que lutam contra a destruição do ensino universitário. A mesa de negociações não é mais um faz de conta inócuo. A urgência com a qual os representantes do poder querem resolver nossas pautas só pode significar uma coisa: Os burocratas reconhecem a força do Movimento Estudantil e sabem que radicalização construída pela base é eficiente. Sabem que se a base optar pela radicalização, o Movimento radicaliza. Frente a um Movimento Estudantil forte e que opta pelo combate todos os ouvidos desensurdecem.

 

Quer saber porque o Movimento havia optado pela ocupação?
Clique aqui.

 

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RESISTIR NA OCUPAÇÃO: Por que manter a força estudantil na Reitoria da UFPR.

Tirado de http://quebrandomuros.wordpress.com/2012/07/11/resistir-na-ocupacao-por-que-manter-a-forca-estudantil-na-reitoria-da-ufpr/

Como já colocado neste espaço, o Coletivo Quebrando Muros compõe e apoia a ocupação de estudantes na Reitoria da Universidade Federal do Paraná. Esta ocupação, ao contrário do que vem sendo pautado em uma parte da imprensa e nos posicionamentos oficiais da Reitoria, não ocorre meramente como uma “radicalização vazia” nem sequer constitui ato de “vandalismo”, como vem sendo exposto. Cabe lembrar o histórico do movimento: desde o início das negociações, a Reitoria tem-se mostrado bastante intransigente e, ao contrário do que tem dito, não apresentou uma disposição favorável ao diálogo com os estudantes, apresentando às pautas apenas respostas vagas e sem prazo concreto para efetivação.

Não é demais relembrar, também, o modo como se deu o movimento de greve estudantil do ano passado, no qual os estudantes saíram com conquistas históricas: RUs abertos aos domingos e nos cafés-da-manhã, aumento no valor de bolsas em 20%, ampliação do número de livros para empréstimo na biblioteca para 5 por aluno, entre outros. Estas conquistas não vieram do “compromisso” ou “excelência” dos nossos diretores acadêmicos, pois nada nos será concedido meramente pela boa vontade destes. Vieram, senão, através da organização e ação direta do movimento estudantil, que através de sua luta e organização autônomas, é capaz de obter as conquistas através de sua própria força. Neste sentido, cabe retomar os instrumentos de luta utilizados pelos estudantes neste processo: foi somente com a ocupação da Reitoria, que foi possível pressionar a Administração da Universidade em ceder e garantir nossas pautas. Portanto, consideramos legítimo o uso desse instrumento novamente na greve deste ano, levando em consideração que até o presente momento não houve proposta concreta da Reitoria, apenas enrolação.

Entretanto, desde que a Assembleia Geral dos Estudantes deliberou pela ocupação, a Reitoria optou por romper com a mesa de negociação em curso e retaliar sistematicamente todo o corpo de alunos da Universidade. Entendemos gestos tais quais: não-pagamento de bolsas, veto ao uso de ônibus para ida a eventos e congressos, e cancelamento das sessões do Conselho Universitário, como um ataque direto ao movimento, na tentativa de criar tensões internas entre o corpo discente para desmobilizá-lo. É importante frisar, porém, que quem rompeu com as negociações foi a Reitoria, e não os estudantes. Além disso, é responsabilidade da Reitoria garantir o devido funcionamento dos serviços interrompidos, o que é perfeitamente possível, como feito, por exemplo, em 2007, quando a Reitoria realizou uma sessão do Conselho na maternidade do HC, devido a uma ocupação em curso no mesmo período. Consideramos curioso, portanto, que a Reitoria agora venha dizer que não é possível realizar sessões do Conselho sem ter a sala disponível. Não é de hoje que a Reitoria tem feito isto: em 2009, houve liberação de verba emergencial para comprar comida a ser enviada para as casas de estudantes, por conta do fechamento do RU devido à gripe suína. Porém, no movimento de greve atual, a Reitoria coloca a culpa pela falta de alimentação dos estudantes na greve dos técnicos. Perguntamos à Reitoria: por que tinha verba em 2009 para garantir a alimentação mesmo com o RU fechado, e agora na greve de 2012 não tem? Ou seria mais uma tática para desmobilizar as categorias, jogando-as umas contra as outras?

Neste sentido, acreditamos que nosso movimento não deve ceder às pressões da Reitoria. Não deve aceitar seus argumentos e seu jogo de desmobilização e retaliação. Nosso movimento deve ser forte e resistir na luta e na ocupação, sem retroceder em suas conquistas e seus avanços. Nós, estudantes, só seremos capazes de avançar e conquistar vitórias se nos mantermos firmes e unidos, se tivermos força para lutar, e para isto já sabemos o que tem se mostrado como o instrumento adequado.

OCUPAR É RESISTIR! NÃO À BUROCRACIA DA REITORIA! A LUTA CONTINUA!

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Por que libertária e autônoma?

Antes de apresentar o resultado de nossos debates sobre o que é o Rizoma, achamos importante destacar algumas ressalvas: não temos a intenção de apresentar definições imutáveis e não queremos nos apegar a conceitos rígidos. Apesar de entendermos que não são as definições que engessam os coletivos, defendemos que os conceitos e as definições devem sair de nossas práticas coletivas, e servir para o fortalecimento destas, possibilitando a construção de discursos que expressem reflexões e legitimações acerca da nossa ação. Isto é, entendemos que as definições aqui apresentadas são somente uma única foto de um longo filme. Queremos construir um coletivo dinâmico, em permanente construção, que mantêm uma autocrítica e se renova constantemente: o Rizoma não é, está sendo.

Exatamente por intencionarmos que o nosso grupo seja fluído e aberto a mudanças, escolhermos o conceito de tendência para nos definir. Tendência porque queremos que as ações e as reflexões de nosso grupo tendam a um horizonte político, no caso, ao horizonte da vertente libertária. Tendência porque o que nos une são alguns acordos metodológicos e programáticos – alguns consensos sobre os fins que queremos, e sobre os devidos meios. Tendência porque entendemos que através de nossa atuação na microrealidade universitária, podemos contribuir de maneira rizomática em lutas mais amplas. Tendência porque entendemos também que é necessário termos compromisso e respeito coletivo nesta caminhada afim de que ela se dê da melhor maneira possível – somos contra a disciplina como meio de domesticar os corpos, mas defendemos sim a importância do compromisso, do “procedê”, de se cumprir as tarefas com as quais nos comprometemos individualmente e coletivamente. Todavia, gostaríamos muito de frisar que visamos a leveza, de maneira alguma entendemos que o Rizoma deva funcionar como um partido tampouco como uma seita – não queremos um grupo uniforme nem uniformizado! O Rizoma que viemos nos esforçando para construir nestes seis iniciais meses não é um coletivo restrito a pessoas de uma determinada posição ideológica ou filosófica; o Rizoma que queremos é tão somente um grupo de estudantes que participam do movimento estudantil e compartilham alguns objetivos e alguns métodos de luta. Queremos sim influenciar o movimento fortalecendo algumas práticas e aspectos específicos deste, todavia, não queremos impor nossas posições e cooptar pessoas tanto quanto não queremos somente aceitar ou negar posições de outros. Não queremos ser nem a vanguarda, tampouco a retaguarda do movimento. Queremos propor, criticar e construir coletivamente; ombro a ombro.

Ao dizermos que o Rizoma não é restrito a uma determinada corrente político-ideológica não queremos de maneira alguma negar que temos sim proximidade com algumas correntes, como por exemplo, com diferentes linhas do anarquismo, com o situacionismo, com o autonomismo, com o zapatismo, com algumas linhas heterodoxas do marxismo (autonomistas, conselhistas, lefebvrianos…). Queremos sim deixar claro que o Rizoma é uma tendencia, não um partido; que é um determinado setor do movimento, não um grupo político. Sendo assim, achamos sim ser necessário termos alguns objetivos de longo prazo, alguns horizontes convergentes, entretanto, sem deixar que estes acordos engessem o grupo. É aí que entra a segunda parte da definição do Rizoma: por que libertária e autônoma?

Libertárixs porque somos contra todas as formas de opressão, sejam elas econômicas, políticas, ideológicas etc. Somos contra a dominação Estatal (antiestatistas), somos contra a exploração capitalista (anticapitalistas), somos contra as opressões étnicas, de gênero e de orientação sexual e somos contra as instituições e ideologias disciplinares, que nos tornam servos doceis. Somos libertárixs porque entendemos que somente através da ação direta, somente com xs próprixs oprimidxs realizando as suas lutas sem depender nem contar com representantes, é possível conquistarmos avanços rumo a uma sociedade sem dominação. Somos libertárixs porque entendemos que devemos começar a construir agora, através de nossas lutas, a sociedade em que queremos viver amanhã – e por isto, defendemos a autogestão e a democracia direta como formas organizativas. Somos libertárxs porque entendemos que a minha liberdade individual é estendida ao infinito quando se encontra com a do outro, isto é, porque entendemos que a liberdade individual tem que ser complementar a liberdade coletiva. Somos libertárixs porque reivindicamos a liberdade social, não a liberdade egoísta do senso comum liberal. E somos libertárixs também porque entendemos que somente com uma ampla aliança entre os movimentos sociais dos diferentes setores populares é possível a transformação que tanto desejamos.

E por sermos libertárixs, não queremos aparelhar lutas nem coptar militantes. E por semos libertárixs, nos identificamos com as diferentes lutas populares históricas e contemporâneas contra esta sociedade de dominação. E por sermos libertárixs, entendemos que deve haver sim coerência entre o discurso e a prática, e estamos aqui pra agir, não pra fazer discursos vazios – a ação e a nossa maneira de agir é parte intrínseca e inseparável do que somos. E por sermos libertárixs, não apresentaremos nunca uma proposta pronta, fechada e imutável; entendemos que o caminho se faz caminhando, que a construção é constante e permanente. E por sermos libertárixs, não lemos a realidade como um mero resultado das relações econômicas, mas sim como resultado de complexas relações de poder das diferentes esferas da realidade social. E por sermos libertárixs, quando olhamos ao nosso redor e vemos tanta repressão, inexoravelmente, levantaremos as mangas de nossa camisa, e iremos corajosamente a luta – até destruirmos tudo o que nos oprime! Até construirmos uma sociedade igualitária e livre!

E por sermos libertárixs, somos também autônomos. Autônomos porque defendemos que os próprios movimentos devem definir seus destinos – os caminhos devem ser decididos por todxs do movimento e no movimento, não em gabinetes de partidos, empresas, governos, ou de qualquer outro tipo de organização e de instituição . Autônomos porque queremos ressaltar a importância da questão territorial nas lutas contestativas.

Por isto tudo, resolvemos nos empenhar neste projeto coletivo, e estaremos sempre abertos a todxs que quiserem ajudar na construção desta alternativa para o movimento estudantil.

 Lutar por uma outra universidade para construir uma outra sociedade!
Rizoma, julho 2012


Resposta à carta aberta do DCE: Não nos Representam!

Abaixo os burocratas!

Tirado de http://quebrandomuros.wordpress.com/2012/07/04/resposta-a-carta-aberta-do-dce-nao-nos-representam/

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O conceito moderno de democracia estabelece um modelo político baseado na representatividade, democracia indireta: onde um indivíduo ou grupo de indivíduos toma decisões e posições em nome do coletivo sem, necessariamente, consulta-lo. Este modelo apresenta sinais de estar em crise, pois os representados tem percebido, cada vez mais, que seus interesses não condizem com a postura dos representantes. Parece ser esse contexto de crise política que nos envolve. Temos, recentemente, no Brasil, diversas manifestações de descontentamento por parte de trabalhadores de diversos setores contra o PT, partido que tem o discurso histórico de compromisso com essa classe. Exemplo disso é o que vivemos hoje na educação, em que quase todas as Universidades Federais se encontram em greve em suas três categorias, todas insatisfeitas com os projetos do governo que precarizam e privatizam essas instituições.

O DCE da UFPR não foge a essa tendência. Formado por setores que compõem a UNE, tem servido de correia de transmissão do governo, pois ao invés de defender as posições dos estudantes contra o governo, vem representar o governo no movimento estudantil, atuando como uma força desmobilizadora. Exemplo disso, é o golpe aplicado pela UNE semana passada que, com a participação de nosso DCE, negociou com o governo nas costas dos estudantes que vem construindo a greve, que tinham seus delegados legitimamente tirados em assembleia. Assembleias essas que o próprio DCE tinha reconhecido como instância de decisão maior que o próprio DCE. Além disso, podemos citar a movimentação que fizeram antes da greve. Antes da assembleia geral que deflagrou greve, estavam articulando com os CAs que eram contrários a ela, e, ao perceber nessa assembleia que perderiam essa pauta, mudaram rapidamente de discurso. O que caracteriza um grande oportunismo, pois, mesmo depois disso, não ajudaram a construir a greve, tentando implodir os comandos e esvaziando as assembleias.

Depois do golpe da semana passada, a assembleia pediu uma retratação pública por parte dessa entidade, que atacou diretamente nosso coletivo. Por isso, para contribuir com uma discussão saudável, destacamos alguns elementos de respostas que achamos pertinentes para o debate. Primeiramente, destacamos que a carta de retratação foi positiva, pois eles mostraram realmente quem são: uma entidade que não tem vergonha de atropelar assembleias de base(pois raramente participam delas) e nem de negociar com o ministro nas costas dos grevistas, ficando claro o prévio acórdão que tinham com o governo, assumindo-se como verdadeiros burocratas, descolados da base. Com isso, afirmamos que não temos nenhum interesse em fazer unidade com quem faz esse tipo de política, e que por questão de princípios não fazemos e nunca faremos aliança com o grupo que está hoje no DCE. É uma questão de qualidade de democracia que faz a diferença aqui: enquanto os burocratas defendem uma democracia representativa, que aliena a base das decisões políticas e levam as políticas das próprias organizações para os espaços de decisão, nós defendemos a democracia direta, em que a base se apropria dos instrumentos de decisão política – as assembleias gerais e de curso, que tem um caráter horizontal e permitem a todos darem suas opiniões e votarem nas pautas que lhes dizem respeito.

Quem acompanha as movimentações do cotidiano observa que nosso objetivo é e sempre foi a construção das vitórias do movimento, a partir das demandas da base, e da forma mais democrática possível, com sinceridade e humildade na luta. Lutamos sempre contra entidades e grupos políticos que tentam atravancar o movimento. Observando que, historicamente, estudantes que ocuparam cargos na burocracia da UNE se aproveitaram dessa condição para alavancar cargos parlamentares, e que nosso objetivo nunca foi assumir qualquer forma de poder estatal, afirmamos que, quem usa o movimento estudantil para autoconstrução de sua organização e como trampolim político é a UNE e suas entidades parceiras.

Nós, do Quebrando Muros, estudantes da universidade, ressaltamos que não somos alienígenas alheios à base, mas sim parte dela, e não trabalhamos com militantes liberados, ou seja, militantes que são pagos por seus grupos políticos para fazer movimento estudantil e ficam 10 anos na universidade. Somos parte da base e, portanto, construímos o movimento a partir e em conjunto com ela, de baixo para cima, sempre estimulando seu protagonismo, a partir da democracia direta. Não somos estudantes PARA fazer política, mas fazemos política porque somos estudantes, e queremos lutar, em conjunto com a base, por nossas demandas.