Nota Pública do Coletivo Quebrando Muros sobre a ocupação da Reitoria UFPR: Nenhum passo atrás: Ocupar e resistir rumo às conquistas!

Todo apoio a ocupação da UFPR!

Viva a luta estudantil! Viva a ação direta!

Tirado de http://quebrandomuros.wordpress.com/2012/07/04/nota-publica-do-coletivo-quebrando-muros-sobre-a-ocupacao-da-reitoria-ufpr-nenhum-passo-atras-ocupar-e-resistir-rumo-as-conquistas/

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A greve estudantil na UFPR, que já dura mais de um mês, vem mantendo @s estudantes mobilizad@s em assembleias semanais  – já ocorreram seis –  em atos e comandos de greve locais, por campus e para coordenar a luta como um todo, no comando geral.  Desde a instalação do comando de greve – deliberado em assembleia estudantil – os estudantes encaminharam uma comissão de negociação para tratar de negociar nossas pautas junto a Reitoria.  Desde o dia 14 de junho, em ato público conjunto das três categorias entregamos nossas pauta para a Reitoria. No dia 19 de junho foi realizada a primeira rodada de negociação! Neste período em que se estenderam as negociações de nossa comissão junto a representação da administração, muito pouco avançou no que tange às pautas estudantis e mais, podemos afirmar que estas foram inférteis, definitivamente não acumularam nada em nossas demandas.  Desde o começo da negociação, a Reitoria gastou muito tempo da nossa comissão afirmando seu compromisso com a Universidade pública e sua qualidade, e afirmando seu comprometimento junto @s estudantes. Porém, nada conseguimos além de promessas vazias (sempre para depois da greve, ou em algum lugar longínquo), quando não, a Reitoria reiterou o quanto já está trabalhando em prol d@s estudantes, simplesmente deslegitimando nossas demandas e afirmando já supri-las. Mais ainda, em certos momentos, por meio de seus representantes, hostilizou as manifestações estudantis como, por exemplo, no episódio protagonizado pela pró-reitora de assuntos estudantis, Rita.

E hoje (4), na VI Assembleia Geral dos Estudantes da UFPR, após o ato nacional dos estudantes pela educação – 3J – por entenderem que a negociação não estava apresentando resultados concretos, os estudantes lançaram mão de seu instrumento de luta histórico: ocupação da reitoria.

Nós, do Coletivo Quebrando Muros, acreditamos que o movimento deve ser construído pela ação direta e que suas conquistas se dão através da luta e força que “os de baixo” podem exercer por meio deste instrumento. Ou seja, defendemos o uso do instrumento de ocupação (ação direta) por ele empoderar a base no processo de luta, redimensionando as estruturas de poder e construindo relações baseadas na coletividade e horizontalidade. Nesse sentido, construir a luta desse modo não é somente eficiente para o avanço nas conquistas concretas, mas também para o acúmulo de consciência e organização, decorrentes das reflexões possíveis proporcionadas por esses momentos nos quais tomamos as rédeas do movimento, permitindo repensar todas as relações de poder colocadas na nossa sociedade, propondo  alternativas germinais para a organização desta.

Hoje, diante da ocupação pelos estudantes, a Reitoria apresenta um posicionamento diferente do apresentado no ano de 2011 – nessa época apenas com a ocupação ela se mostrou disposta a apresentar propostas concretas para as pautas dos estudantes e agora afirma que “a negociação com os estudantes está suspensa até que eles desocupem a reitoria”, o que caracteriza claramente, uma tática para tentar desmobilizar os estudantes em suas movimentações de greve, mostrando que nossa Reitoria esta afinada com o Governo Federal e sua estratégia de desmontar o movimento estudantil. Tal resolução é ratificada também pela reunião da ANDIFES que orienta aos reitores a não negociarem com grevistas.

Ressaltamos que uma das maiores preocupações do movimento estudantil da UFPR é a garantia da integridade e manutenção do patrimônio da Universidade, financiada pelo dinheiro público e ao invés de temer que os estudantes possam destruí-lo ou danificá-lo de alguma forma, a Reitoria deveria perceber que quem não cuida deste patrimônio é ela própria, em conjunto com o governo federal, a exemplo das privatizações e precarizações de forma geral, como podemos observar ocorrendo dentro da universidade. Atualmente elas ocorrem sob o manto do REUNI, criação de cursos de especialização pagos, falta de professores, salas super-lotadas de alunos, privatizações, terceirizações e etc.

E como se o movimento estudantil grevista já não enfrentasse problemas com as burocracias do Estado, passa a ter de enfrentar as burocracias do movimento, ambas velhas parceiras. Os nossos supostos “representantes” (UNE) tentam tomar a direção deste processo através de golpes ao movimento como, por exemplo, sentar em uma mesa para “discutir” (negociar) com o nosso ministro da educação Aloízio Mercadante. A UNE tenta assumir o papel que foi designado ao Comando Nacional de Greve dos Estudantes pela base estudantil através de Assembleias Gerais locais. Enxergamos nesta atitude da UNE um claro golpe no movimento,  mais uma vez cumpre o papel a que foi designada na burocracia do Estado: servir como correia de transmissão de interesses do mesmo e de seus partidos gestores hoje (o PT, e mesmo o PC do B que aparelha a entidade). Tal atitude demonstra o grau de burocratização a que esta entidade chegou, demonstrando o quão nociva é a associação das entidades que devem ser “dos de baixo” as esferas do Estado, e a tendência que este tem de arrastar as lutas para as instâncias institucionais, fazendo do movimento parte do corpo estatal. Temos a noção que o Estado não é uma instituição neutra, pelo contrário, tem a função de salvaguardar a ordem dominante e promover a conciliação entre os contraditórios interesses que se apresentam na sociedade. Nesse sentido não acreditamos na possibilidade de disputa deste, que tem um caráter bem definido, nem na construção de um “Estado dos trabalhadores” tampouco “popular”, as conquistas e transformações que o movimento constrói só podem ser efetivadas contra o Estado. Logo não há ligação benéfica possível entre Estado e movimento, este deve se constituir fora dos marcos do Estado e ter completa independência.

Além disso, esta “velha forma” de fazer o movimento hoje se encontra em crise. É amplamente questionada pelo movimento estudantil que vem organizando as greves e ocupações de Reitoria pelo Brasil, tendo esta crítica se expressado concretamente no movimento que hoje se organiza pautado pela democracia direta, delegação e, claro, tendo como método de atuação a ação direta. Esta “forma velha”, a da representatividade indireta, hoje encarnada e reivindicada pelos burocratas do movimento que desejam ser a voz “oficial” d@s estudantes, busca se expressar como a autoridade do movimento e é rechaçada pel@s estudantes em luta, a exemplo disso o repudio a UNE e ao DCE – UFPR por da assembleia de estudantes da UFPR. A participação d@s estudantes nesta forma se resume a escolher um representante e deixar que ele o represente da maneira que achar mais adequada, extorquindo o ser político da base a usando em favor de projetos alheios. O novo jeito de fazer o movimento estudantil, no qual acreditamos ser o ideal, é o que consiste na intervenção direta dos estudantes nos processos políticos e decisórios no quais estão inseridos e que coloca estes estudantes como protagonistas da construção de seu movimento e não os seus representantes, delegando a estes apenas a função executiva do movimento e não deliberativa, pois esta cabe somente as instancias da base.

 

Por fim, destacamos que a ocupação da Reitoria se deu de acordo com a necessidade de radicalização do movimento estudantil grevista – já previsto em muitas ocasiões durante o processo de construção da greve. O movimento como um todo vem amadurecendo esta ideia de radicalização já há um bom tempo e hoje se concretizou em forma de ocupação, ou seja, é uma demanda do movimento grevista – visto que é só com a radicalização do processo que podemos pressionar localmente a reitoria para que responda com seriedade e compromisso às demandas estudantis locais. Dito isto, afirmamos que – ao contrário do que a nota publicada pela UFPR sobre a ocupação redige – a ocupação não foi impensada e desnecessária, mas fruto de um longo processo de construção e amadurecimento da greve em que, se os estudantes sentiram a necessidade de utilizar esse instrumento de luta, a responsabilidade é inteiramente da Reitoria por não apresentar propostas concretas em relação às nossas demandas/pautas. Cabe destacar que somos contra qualquer forma de criminalização das lutas e que pensamos ser natural a reação da Reitoria, afinal ela é representante da gestão do Estado e não poderia agir diferente, sempre apelando à conciliação (diferente de resolução) dos conflitos e tentando impor ao movimento os limites da legalidade, mas sabemos que nestes limites as conquistas dos movimentos nunca aconteceriam, pois a legalidade representa os limites da atual ordem. Neste sentido, afirmamos que ao contrário do que a Reitoria espera, intensificaremos nossas mobilizações até que obtenhamos uma proposta concreta e satisfatória sobre nossas pautas, compreendendo que este é um momento crucial para o nosso movimento se fortalecer e obter conquistas.

Afirmamos que o CQM estará ombro a ombro nas lutas! Apoiamos e reivindicamos esta forma de fazer movimento estudantil como vem se construindo na UFPR. Movimento calcado nas bases e organizado de forma que as decisões desta sejam soberanas. Acreditamos ser esta a forma de movimento capaz de materializar nossas conquistas e as necessárias transformações para a construção de outro projeto de educação. Desta vez, construído pelos “de baixo”.

Lutar! Criar Poder Popular!

Coletivo Quebrando Muros

Resposta do Coletivo Quebrando Muros à nota da reitoria sobre a ocupação

Todo força a ocupação da UFPR!

Viva a ação direta!!!

tirado de http://quebrandomuros.wordpress.com/2012/07/04/resposta-do-coletivo-quebrando-muros-a-nota-da-reitoria-sobre-a-ocupacao-em-assembleia-aberta-realizada-pelo-comando-de-greve-dos-estudantes-da-ufpr-a-plenaria-decidiu-a-favor-da-ocupacao-da-reitori/

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Em assembleia aberta realizada pelo Comando de Greve dos Estudantes da UFPR a plenária decidiu a favor da ocupação da reitoria da instituição. Tal atitude motivou a publicação de nota estapafúrdia por parte daqueles quem os alunos pressionam.

Gostaríamos de ressaltar que, se por um lado existe mesa de negociação, por outro as contrapropostas da reitoria são, em geral bastante vagas ( o que futuramente permitiria uma interpretação dúbia do acordado) ou com sentenças iniciadas por escapismos como “em 90 dias após a greve será feita uma avaliação…”. Esse tipo de sandice apareceu até em contrapropostas acerca de comprometimentos que a reitoria já havia assumido em mobilizações anteriores. O pedido de avaliação sobre a possibilidade de abrir os RUs nos finais de semana serve de exemplo do tipo de atitude que os burocratas tem assumido frente aos grevistas. O descaso da reitoria em relação ao Movimento Estudantil revelado pela mesa de negociação é motivo mais que suficiente para a radicalização iniciada hoje.

Em tempo: é importante reafirmar que o Coletivo Quebrando Muros constrói o Movimento Estudantil pela base. Todas nossas atividades são pautadas pela autogestão e pela ação direta, ou seja, pelo fim da política norteada por modelos de representação e partilha de poder. Ao afirmar que a ocupação “parece um ato político-partidário” a pró-reitora Maria Zainko não fez nada alem de revelar boa dose de ignorância sobre as entidades que tecem o movimento de greve.

Por fim é necessário rechaçar a afirmação feita pela “professora Rita”. Estamos em greve porque sem ela os estudantes não conseguem diálogo. Ocupamos porque que queremos diálogo direto e sem tramoias.

Somente sem embromação existe luta! Somente ombro a ombro o Movimento Estudantil conquista suas pautas! Os grevistas que compõe o Coletivo Quebrando Muros repudiam a burocracia estatal. Ação direta na Greve! Ação direta na educação!

Em assembleia aberta realizada pelo Comando de Greve dos Estudantes da UFPR a plenária decidiu a favor da ocupação da reitoria da instituição. Tal atitude motivou a publicação de nota estapafúrdia por parte daqueles quem os alunos pressionam.

Gostaríamos de ressaltar que, se por um lado existe mesa de negociação, por outro as contrapropostas da reitoria são, em geral bastante vagas ( o que futuramente permitiria uma interpretação dúbia do acordado) ou com sentenças iniciadas por escapismos como “em 90 dias após a greve será feita uma avaliação…”. Esse tipo de sandice apareceu até em contrapropostas acerca de comprometimentos que a reitoria já havia assumido em mobilizações anteriores. O pedido de avaliação sobre a possibilidade de abrir os RUs nos finais de semana serve de exemplo do tipo de atitude que os burocratas tem assumido frente aos grevistas. O descaso da reitoria em relação ao Movimento Estudantil revelado pela mesa de negociação é motivo mais que suficiente para a radicalização iniciada hoje.

Em tempo: é importante reafirmar que o Coletivo Quebrando Muros constrói o Movimento Estudantil pela base. Todas nossas atividades são pautadas pela autogestão e pela ação direta, ou seja, pelo fim da política norteada por modelos de representação e partilha de poder. Ao afirmar que a ocupação “parece um ato político-partidário” a pró-reitora Maria Zainko não fez nada alem de revelar boa dose de ignorância sobre as entidades que tecem o movimento de greve.

Por fim é necessário rechaçar a afirmação feita pela “professora Rita”. Estamos em greve porque sem ela os estudantes não conseguem diálogo. Ocupamos porque que queremos diálogo direto e sem tramoias.

Somente sem embromação existe luta! Somente ombro a ombro o Movimento Estudantil conquista suas pautas! Os grevistas que compõe o Coletivo Quebrando Muros repudiam a burocracia estatal. Ação direta na Greve! Ação direta na educação!

É abaixo e a esquerda que derrotamos a Burocracia! (CQM)

Texto do Coletivo Quebrando Muros (PR) sobre a greve nas federais

É abaixo e a esquerda…

Por todo o Brasil, desde o dia 17 de maio, as IFES (Instituições Federais de Ensino Superior) sucessivamente deflagram estado de greve docente – já há a adesão de aproximadamente 51 IFES (segundo informe do CNG-ANG 11.06) de uma esfera de 99 instituições. Os servidores federais também deflagraram greve, em 11 de junho. Tais movimentos representam a indignação e a reprovação às políticas que vêm sendo implementadas no setor público – do qual a educação não está fora. Enfrenta-se, portanto, as políticas de corte de orçamento (R$ 5 bi só na educação em 2011-2012), a expansão sem recursos e estrutura proporcionada pelo REUNI (que aumenta em 50% o número de vagas, mas apenas em 20% as verbas) que gera salas superlotadas e sobrecarga aos trabalhadores da educação. Combatemos também projetos como a PL 549, que congela contratações e aumentos reais nos salários por 10 anos no serviço federal; a EBSRH, que privatiza os HUs, precarizando o serviço, o trabalho e o ensino; e o PNE (Plano Nacional de Educação 2011/2020) que estabelece as “metas” de curto-médio prazo do governo, cujo lema é “privatizar e precarizar”. E como se não bastasse – para dissuadir de forma muito safada os professores da greve – aos 45 minutos do segundo tempo o governo edita aMP568 – na intenção de desarticular a greve dos professores e dividir os trabalhadores – concedendo míseros 4% de reajuste à categoria, corta à metade os salários dos médicos e reduz os benefícios referentes à insalubridade.

@s estudantes são atingidos diretamente por tais questões e vivenciam em seu cotidiano o sucateamento do ensino superior público e, portanto não têm como estar de fora dessa discussão.São péssimas as condições de acesso, ensino e permanência – o tripé universitário parece cada vez mais “manco”: pesquisa e extensão desarticulam-se cada vez mais do ensino fazendo da Universidade uma “fábrica de diplomas”. E diante de tal contexto @s estudantes não tem deixado de demonstrar sua força e mobilização, já são 30 Universidades em greve estudantil. Na UFPR nós já vivenciamos uma greve estudantil em 2011 e os resultados estão aí: café da manhã no R.U – que também passou a funcionar durante sete dias por semana, servindo as três refeições diárias – aumento no número e no valor das bolsas, indicativo de construção de três Casas de Estudantes, dentre outras conquistas. Tais resultados partem de nossa organização e luta que, quando sustentada pela Ação Direta demonstra o potencial da organização dos “de baixo” ao enfrentar o Estado.

Que derrotamos as burocracias!

 Agora em 2012 uma nova conjuntura se desenha, pois, como citado anteriormente, os movimentos grevistas estão por todo o Brasil e se no ano passado os enfrentamos e as subsequentes conquistas foram a nível local, agora, para ambas as categorias, está colocada a possibilidade de articulações nacionais. Para nós, essa possibilidade significa repensar todo o Movimento Estudantil! Há anos que nos encontramos “órfãos” de nossa entidade nacional – a UNE – que se nos fins da ditadura representou os setores mais combativos d@s estudantes, hoje – justamente por conta do projeto que “comprou” (o do Partido dos Trabalhadores) e sustentou – não representa nada mais do que a burocracia do movimento. Alinhada com o governo e não com as bases e não fazendo mais do que um papel de interlocutora do Estado no próprio movimento – por vezes disfarçando-se por trás de um apoio crítico, mas no geral, sendo porta voz do governo. Chegou o momento de derrotarmos esse projeto, mas e o quê por no lugar?

Hoje, nos cabe o papel de reconstruir o movimento estudantil e como antes, as escolhas irão refletir-se lá na frente – temos o exemplo, citado no parágrafo acima, do que pode significar a constituição de um movimento que tem vínculos com projetos de governo e gestão do Estado. Além disso, a forma com que iremos nos organizar irá dizer muito sobre o que almejamos! Está a surgir um movimento que vêm das bases e se auto-organiza, cujos protagonistas somos nós e onde por meio da ação direta e da democracia da base decidimos os rumos do movimento. Por outro lado, voltam a aparecer os apologistas da crise de direção, dispostos a resolver as coisas “de cima” como se a solução fosse trocar o burocrata não destruir a burocracia. Defendemos a construção pela base e pela auto-organização, somente esta pode fazer nosso projeto sólido, afinal não se pode começar uma casa do telhado. Como antes, os explorados de ontem podem se tornar os exploradores de amanhã, num ciclo de burocratização das lutas que só pode ser rompido pelo caminho que abrirmos com nossas próprias mãos, construindo juntos, de baixo para cima, entre iguais e como diriam nossos companheiros Zapatistas: “Abaixo e à Esquerda”.

Fora a todas as burocracias, força aos de baixo! Ação Direta já!

Onde há muros, há o que esconder”

Coletivo Quebrando Muros

Rizoma: apresentação

Na botânica, o termo Rizoma se refere ao caule polimorfo capaz de dar origem a diferentes ramos – floríferos, folíferos ou raízes –, normalmente situado abaixo da terra e dotado de crescimento horizontal. Em 1980, no livro Mil Platôs, Giles Deleuze e Félix Guattari se apropriaram do rizoma botânico para corporificar um sistema filosófico desprovido de raízes fundamentais, que se articula como rede integrada em que todos os elos ao mesmo tempo sustentam e derivam dos demais. Abordagem complexa e inovadora, o rizoma preocupa-se em delinear multiplicidades no nosso mundo, em mensurar as linhas subterrâneas que as perpassam, defini-las por estratos e segmentaridades, por associações e por conflitos. Abre, o rizoma, a possibilidade de se perseguir o traço que necessariamente se conecta a outros traços – o lócus onde tudo está em relação com tudo: “um rizoma não cessaria de conectar cadeias semióticas, organizações de poder, ocorrências que remetem às artes, às ciências, às lutas sociais.”.

Outros pensadores endossam a inteligibilidade do rizoma. E dentre esses o mais conhecido é Michel Foucault.

Igualmente atento as multiplicidades, Foucault estudará os conflitos e associações entre as forças sociais, as assimetrias de potência e de estratégias entre elas, os embates históricos e espaciais pelo exercício do poder. No livro Vigiar e Punir, de 1975, Foucault demonstrará como o poder nunca é exercido por uma força única e estritamente repressora. O poder envereda-se por vários grupos distintos, mediante uma série de diferentes dispositivos e mecanismos, ordenando os corpos, criando prazeres, exorcizando as almas, produzindo riquezas.

Caso articulemos o rizoma de Deleuze e Guatari ao poder de Foucault numa análise de nosso próprio tempo e espaço, a apreensão de traços ocultos (ou melhor, ocultados) de nossa sociedade torna-se possível.
Em São Paulo atual, a partir desse prisma, nota-se de imediato que existe um estrato social bastante discernível e seleto que exerce e legitima o poder. São alguns grupos especializados e dinâmicos, e que existem em recíproca associação: os governantes executivos do estado, as chefias legislativas e burocráticas, grupos de juízes, desembargadores e promotores do judiciário, investidores e especuladores de grandes fundações e empresas, pesquisadores e cientistas alinhados aos interesses da acumulação, setores midiáticos conservadores, as altas patentes militares – o exercício do poder fia o tecido subterrâneo que os associa.

Efetivamente, poucos lugares reproduzem de maneira tão completa essa associação como a Universidade de São Paulo: os altos cargos burocráticos da reitoria são nominados pelo governo do estado do PSDB; juntos, ambos advogam a submissão do amparo à pesquisa a critérios mercadológicos, ao mesmo tempo em que impõem padrões empresarias de produção e convívio acadêmico; professores titulares tecnicistas garantem a perpetuação desse projeto nos seletos conselhos universitários; o desenvolvimento dessa universidade – empresarial e capitalizada – induz a presença de muros, fardas e armas, sempre legítimas para algum juiz da ordem e do patrimônio; setores conservadores da mídia veiculam esse projeto como “inovador” e “modernizador”; empresas prestadoras de serviços terceirizados à universidade (como a União e a BKM), fundações privadas com sedes no campus (como a FIA e a FIP), e grandes empresas beneficiadas com a pesquisa mercadológica (como a Volkswagen e a Bayern) apóiam institucional e financeiramente a perpetuação da reitoria e dos gestores do estado, terminando o circuito.

Embora a USP seja talvez o mais perfeito exemplo de oligopolio empresarial e institucional, tal padrão de associação existe em todo tecido social na contemporaniedade, percorrendo outras universidades, juízes, burocratas, empresas, bancos, polícias, governantes…

A mobilização estudantil nos últimos anos, realizada tanto na USP como em várias outras universidades brasileiras, desafia concretamente esses circuitos oligárquicos, uma vez que os exclui do espaço universitário, opondo a seus padrões empresariais e a seus saberes de mercado a solidariedade da auto-gestão e a liberdade de criação que só o convívio horizontal pode possibilitar.

É essa oposição concreta que motiva as prisões e os processos criminais, as expulsões, as demissões, as difamações difundidas pelos latifundiários da informação, as agressões nos nossos espaços de convívio.
É, todavia, também por causa dessa oposição que um outro circuito de associação entre gurpos se ramifica subterrâneamente, em oposição ao estrato social oligárquico por se realizar no exercício e na reflexão de práticas de resistência – e não na reafirmação das relações de dominação.

Em outras palavras, se há ramos que percorrem o gabinete do governador, passam pela mesa do reitor e alcançam a salinha do delegado, existem também ramos que podem vir a integrar os alvos dessa dominação nas práticas de resistência, renovando-lhes as possibilidades de um modo de vida mais autônomo e mais justo. Os estudantes mobilizados das mais diversas universidades, os funcionários e os operários combativos, os intelectuais realmente críticos, grupos de juízes democráticos, entidades sindicais e estudantis não aparelhadas, grupos partidários externos ao Estado e ao teatro democrático, meios de comunicação livres, movimentos sociais que reivindicam moradia, terra ou trabalho – esses grupos dividem o peso das opressões impostas pelas elites, ao mesmo tempo em que se unem nas perspectivas de um futuro melhor.

Analisando o exercício do poder em nossa sociedade atual pela ótica do rizoma, assim, percebe-se que múltiplas forças sociais compõem dois conjuntos maiores que existem em conflito: de um lado, o circuito oligopolista que elabora os critérios para se discernir o que se pode e o que não se pode fazer, que possui a legitimidade para internar e encarcerar, que se apropria dos espaços e do trabalho coletivo em nome de valores como “democracia” e “ordem”; e do outro lado o círculo da resistência, mais volátil e constantemente ameaçado, que se expressa de diferentes formas para garantir autonomias básicas, para assegurar seus espaços de convívio e confraternização, para dar sobrevida a suas tradições de arte, de produção, de conduta.

É evidente que a relação entre esses dois pólos maiores é complexa e multiforme, e em ultima instância depende das associações e dos conflitos menores que cada multiplicidade social desenvolve com as demais. É evidente também que esses dois conjuntos não correspondem a totalidade da sociedade: entre eles se situam outras diversas multiplicidades sociais, que oscilam entre os dois pólos e jamais podem julgar-se neutras.

Todavia, parece inegável também que nos últimos anos essa polarização só se fez aumentar, e conflitos como em Pinheirinho são exemplos reais das novas tendências de radicalização que se abrem.

Nesse processo de radicalização que prenuncia mudanças sociais, os estudantes libertários podem e devem aparecer como agentes sociais relevantes. Podem porque detém o privilégio de desfrutar de uma formação com potencial de crítica a nossa sociedade, além de estarem livres de parte das coações que inibem e domesticam a maior parte do povo. E devem porque é fundamental para o tempo de hoje que grupos pensem e experimentem novos modos de vida coletiva, tornando assim mais aguda a oposição aos modelos consumistas e artificiais que ainda nos dominam. Em suma, os estudantes autônomos e libertários podem contribuir socialmente criando possibilidades – mesmo que encerradas numa curta duração – de ruptura com as tradicionais cadeias de hierarquia, de superação dos espetáculos e das simulações do capitalismo, estimulando a autogestão e a cooperação, valorizando concepções não mercadológicas da arte, do espaço, da vida.

É diante dessas perspectivas que nos organizamos na USP: para solidificar uma tendência libertária e horizontal entre os estudantes, que transcenda as tradicionais expressões partidárias da esquerda e sugira novas possibilidades de criação e reflexão frente a um conflito cada vez mais tenso. Um coletivo estudantil que rompa com as noções de vanguarda para erigir as bandeiras de autogestão, de democracia direta, de formação coletiva teórica, de emancipação dos espaços públicos. Um grupo ativo, um grupo libertário, um grupo de estudantes.

Versão em PDF para divulgação

Em defesa de uma educação pública, gratuita e de qualidade! Fortalecer a GREVE!!! (Por TERP)

Texto da Tendência Estudantil Resistência Popular RS

Já são mais de 55 Instituições Federais de Ensino Superior em Greve em todo o Brasil.
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Um movimento legítimo de professores, servidores técnico-administrativos e de estudantes em resposta a uma conjuntura específica que vem se forjando num período mais longo de precarização e flexibilização das condições de trabalho e de privatização e sucateamento progressivo das instituições de ensino superior. A discussão sobre o caráter das políticas educacionais dos últimos governos federais e seus efeitos sobre o ensino superior já tem uma longa história, assim como as lutas travadas por setores estudantis e dos trabalhadores da educação no combate a essas políticas. Se traçarmos um breve histórico da privatização do ensino superior brasileiro mais recente, veremos o aumento significativo das Universidades privadas em detrimento das Universidades Públicas na década de 90, auge das medidas neoliberais de FHC. Com a eleição de Lula, as medidas privatistas e de sucateamento da educação não deixam de serem adotadas, porém agora sorrateiramente, buscando combinar medidas fragmentadas que dificultem a mobilização coordenada e unitária do Movimento Estudantil. Junto a isso, programas educacionais com forte apelo popular e com o apoio da burocracia do Movimento Estudantil, a UNE, mas que mantém no cerne de suas ações a lógica privatista e mercantilista dos governos anteriores.