Sobre os ataques ao Movimento Anarquista em Montevidéu

Em uma semana e meia 14 companheirxs foram presxs, isto se soma à campanha de escutas, perseguições, tentativas de despejos e ataques ao movimento anarquista em Montevidéu. Nada disto nos assusta, só nos faz mais fortes. Se nos golpeiam é porque incomodamos. Se incomodamos aos/às poderosxs e suas/seus delatorxs, estamos fazendo bem as coisas.

 Há uma guerra social que passa por diferentes momentos. Xs poderosxs sabem, nós também. A imprensa oculta, ofegando sobre o barril do capital, impondo a ideia de uma democracia rançosa que não cumpre nem com suas próprias mentiras mais repetidas, segurança, direitos humanos, justiça…

 Entre tudo isso a raiva abre passagem.

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Aprovada “Salva de Prata” em Homenagem à ROTA

Depois de três tentativas, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou nesta terça-feira 3, em uma sessão marcada por muito tumulto, a “Salva de Prata” em homenagem às Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) pelos serviços prestados pela tropa de elite da polícia paulista durante a ditadura. (trecho extraído da revista Carta Capital)

O que achamos disso…

“Não tem alegria, a PM mata pobre todo dia!”

Fascistas, não passarão!

2º Encontro do Grupo de Estudos Libertários

"Numa sociedade sustentada pela mentira, qualquer expressão de verdade, ou de liberdade, é vista como loucura"

“Numa sociedade sustentada pela mentira,
qualquer expressão de verdade, ou de liberdade,
é vista como loucura”

ERRATA DO CARTAZ: 06/09! 06 de setembro.

 

Quando?

Nosso próximo encontro está marcado para o dia 06 de setembro – sexta-feira às 17h30.

Onde?

Vão livre da FAU (Fac. de Arquitetura e Urbanismo).

Como?

Vamos começar o encontro com trocas sobre o que é “libertário” para cada um do grupo.
Você pode trazer textos, poesias, vídeos ou a linguagem que desejar.

Também vamos discutir métodos e temáticas para prosseguir com os encontros. Traga os livros, textos, e materiais que você gostaria de discutir com o Grupo para montarmos nossa dinâmica interna.

O grupo é aberto para quem quiser colar!

Fechamento da FAU e mais um espaço estudantil sendo atacado

O Gfau na última semana divulgou duas notas importantíssimas. Na primeira revela que devido à reforma na cobertura do prédio, existe uma possibilidade, defendidas pelxs professorxs, de esvaziar o prédio durante este período. Na segunda, ainda mais grave, informa acerca da organização de uma sindicância que poderá ser aberta pela administração da FAU contra o grêmio, devido a alguns problemas no Piso do Museu, administrado pelxs estudantes.

É significativo que os espaços estudantis da FFLCH, ECA e FAU estejam sendo atacados constantemente nos últimos tempos. São estudantes que ainda demonstram resistência e luta política, sendo protagonistas da última greve. O cerceamento de seus espaços é uma ataque direito a suas possibilidades de organização. É preciso lutar fortemente por esses territórios!

Seguem as notas publicadas pelo GFAU:

“No dia 30 de agosto foi feita uma reunião extraordinária do Conselho Técnico Administrativo (CTA) da FAU pra discutir os impactos da reforma da cobertura.

A poeira e o barulho tem prejudicado não apenas o andamento de todas as atividades na FAU, como também a saúde dos funcionários (especialmente os terceirizados da limpeza), estudantes e professores.

Tendo isso em vista, a principal proposta defendida pelos professores na reunião foi a saída do edifício e realização das atividades letivas em outras unidades da USP – de acordo com a oferta de espaço disponível – até o término da obra. Isso seria feito ainda esse semestre, possivelmente mês que vem.

No entanto, o edifício da FAU está diretamente relacionado ao projeto de escola proposto. Ele carrega um significado único para o ensino de arquitetura no Brasil. Além disso, o funcionamento das atividades aqui realizadas seria inviabilizado. Não teríamos fácil acesso à biblioteca, os departamentos poderiam ficar separados em diferentes prédios e não teríamos contato com a administração da FAU. Não teríamos estúdios, o piso do museu, o salão caramelo e nenhum dos espaços de vivência dos estudantes. Seria uma outra formação.

Além de tudo, como estudantes da FAU, a nossa relação com este lugar torna importante a nossa participação e acompanhamento da reforma. As propostas colocadas por pessoas que não tem a mesma proximidade com este espaço muitas vezes desconsideram detalhes intrínsecos ao projeto.

Levando em conta a questão sob todos esses aspectos é importante que nos juntemos para tirar algum posicionamento. Foi marcada para a sexta feira, dia 13, a próxima reunião do CTA em que será decidido o posicionamento do órgão a ser levado para a congregação. No dia anterior será feita uma apresentação para a comunidade FAU sobre o tema. Assim, é necessário que essa discussão se inicie na segunda-feira para a arquitetura e para o design. Contamos com a presença de todos.”
31-08

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“Na última semana soubemos que a administração da FAU está organizando a abertura de uma sindicância contra o GFAU.

Trata-se de um processo administrativo que visa apurar todos os problemas de segurança, como furtos e depredações, gerados pelas atividades que ocorreram no Piso do Museu. Refere-se principalmente aos roubos ocorridos em um repiauer realizado ainda no começo do ano e organizado por um grupo dos estudantes.

A sindicância visa, portanto, delinear os problemas de segurança que ocorrem no Piso do Museu, cuja gestão que há muito pertence ao GFAU foi fixada no fórum do plano diretor de 2011. Logo, vemos que seu intuito é desqualificar a gerência do piso criando uma justificativa para retirá-lo da gestão dos estudantes e colocá-lo sob administração da diretoria.

A perda do Piso dos estudantes representa uma séria mudança na vida da comunidade FAU. Isso afetaria diretamente a possibilidade de organização os estudantes e suas atividades, que ficariam submetidos ao aval da burocracia e pela dinâmica de funcionamento da FAU. Além disso seria também comprometida a existência da Cooperativa Monte Sinai, da papelaria do Mário, da gráfica e do livreiro.

Representa ainda uma ameaça ao espaço de reunião do GFAU, da atlética, outros grupos estudantis e à vivência. A perda desse espaço implica na inviabilização das atividades do GFAU e atlética, cuja renda provém dos aluguéis do piso e festas (proibidas na USP por diretriz da reitoria).

Além disso, os estudantes já realizaram discussões e tomaram iniciativas com o intuito de melhorar a organização dos repiauers e ressarcir os danos causados a qualquer locatário do Piso do Museu. Assim, repudiamos a culpabilização do GFAU por fatos que já foram discutidos e remediados dentro do âmbito organizacional dos estudantes.

E, no sentido de preservar e manter os espaços e usos que desejamos e que fazem parte da nossa formação, nos colocamos contrários à retirada do Piso do Museu da gestão estudantil.”
03-08

O contextualismo autoritário d’O Globo

 

“(…) o nome comum da práxis histórica só pode ser ‘genealogia do presente’, quer dizer, uma imaginação que traz a ser aquilo que existiu antes, da mesma maneira como constitui o ser por vir. Não se interpreta o passado, mas se experimenta.”

Antonio Negri, Kairòs, Alma Venus, Multitudo, p. 66.

As organizações Globo, após se verem transformadas em um dos alvos diletos das manifestações que povoaram as ruas de todo o Brasil a partir de junho (quando não em objeto principal de manifestações especificamente convocadas contra elas), lançaram um editorial aquiescendo do apoio dado ao golpe de 1964, instaurador de uma longa ditadura civil-militar, e manifestando que este erro ‘à luz da História’ (expressão que, como argumentaremos, é a chave para se entender a razão de não haver nenhuma confissão de erro, mas sim um ajuste histórico de posição das organizações) vem sendo debatido internamente desde há muitos anos, vindo à lume apenas agora por motivos do projeto Memória e sendo ‘chancelado’ pela ‘verdade dura’ exposta nas ruas.

Inicialmente, o texto intitulado ’1964′, aquiesce, de forma aparentemente severa, do erro de as organizações Globo terem sustentado o golpe, afirmando que a lembrança dessa postura, sempre exercitada por insatisfeitos com ‘qualquer reportagem ou editorial’ atual, não é refutável. ‘É História’, afirma o texto. A continuidade do texto alude, entretanto, tanto aos diversos veículos de imprensa que, assim como O Globo, apoiaram a ‘intervenção dos militares’, quanto ao ‘apoio expresso em manifestações e passeatas organizadas em Rio, São Paulo e outras capitais’, ou seja, apoio da própria população. É o primeiro passo do procedimento contextualista.

No passo seguinte, O Globo reconstitui a situação histórica e política em que teria se dado a sua intervenção editorial. Em meio a Guerra Fria, a polarização ideológica entre as forças defensoras do comunismo e do capitalismo era reproduzida em todos os países e, no Brasil, ‘ela era aguçada e aprofundada pela radicalização de João Goulart’, acusado, à época, de tentar instalar uma ‘república sindical’ no país (insinua-se a cantilena do golpe como contra-golpe preventivo). Jango teria conseguido revogar o parlamentarismo (aqui, embora, se mencione que isto se deu pela via de um plebiscito, o tom é o de que Jango logrou aceder aos ‘poderes plenos do presidencialismo’ por um golpe de mão e não por delegação soberana do povo brasileiro — quase 9,5 milhões de brasileiros votaram pelo retorno ao presidencialismo e apenas 2 milhões votaram pela manutenção do parlamentarismo). Feria-se, assim, a ‘saída negociada’ (eufemismo que designa o golpe frustrado de 1961, quando, após a obscura renúncia de Jânio, Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, iniciou um movimento de resistência, a Campanha da Legalidade, que freou a iniciativa golpista ao colocar o país na iminência de uma guerra civil caso Jango não assumisse).

Com os ‘poderes plenos do presidencialismo’ Jango teria dado início a uma radicalização da conjuntura política, ameaçando atropelar o Congresso e a Justiça para promover as reformas de base ‘na lei ou na marra’. O mote, em verdade, era dos movimentos sociais, como as Ligas Camponesas de Francisco Julião, e não de Jango e de militares próximos – um pequeno deslocamento discursivo muito útil à conformação do contextualismo justificativo do golpe. Com a explosão do movimento dos sargentos, a caserna, já ‘intoxicada’ de política, teria afundando em grave crise, e se desenhou o horizonte do golpe, uma intervenção ‘cirúrgica’, destinada a apenas a restaurar a ordem, devolvendo-se o poder aos civis tão logo o ‘perigo de um golpe à esquerda’ fosse eliminado. Não foi entretanto o que aconteceu. E é O Globo que admite:

“Não houve as eleições. Os militares ficaram no poder 21 anos, até saírem em 1985, com a posse de José Sarney, vice do presidente Tancredo Neves, eleito ainda pelo voto indireto, falecido antes de receber a faixa.”

(Corta para vinte anos depois – ficar detalhando o que ocorreu, por exemplo, entre 1968 e 1974, não seria recomendável).

Em 1984, quando o golpe completava vinte anos, entretanto, Roberto Marinho publicaria um editorial assinado na capa d’O Globo. Nele — um ‘documento revelador’, de fato, como se afirma em ’1964′ –, Marinho ressaltava a magnânima atitude do general Geisel de extinguir os atos institucionais e demais decretos ditatoriais (nada disso teria sido fruto da luta política intensa pela redemocratização, mas uma concessão de um ditador comprometido com a democracia). Além disso, destacava os avanços econômicos do regime (o arrocho salarial dos anos da ditadura e o intenso aumento da desigualdade social, apenas sanados nos últimos dez anos, não mereceram consideração) e voltava a declarar a crença de que as intervenções repressivas haviam sido ‘imprescindíveis’, não só em 1964, como ainda posteriormente, contra a ‘irrupção da guerrilha urbana’. Todo o palavrório de contestação moderada que se segue a justificação dos desaparecimentos, torturas e assassinatos (‘imprescindíveis para a manutenção da democracia!’) é tão somente a tentativa de maquiar a monstruosidade do apoio post-festum às atrocidades do autoritarismo.

A ‘mágica’ do contextualismo autoritário fica clara, entretanto, nos últimos três parágrafos do texto.

O texto d’O Globo afirma a História como ‘o mais poderoso instrumento de que o homem dispõe para seguir com segurança rumo ao futuro’ e a necessidade da contextualização na análise do ‘posicionamento de pessoas e instituições’. Invoca-se a máxima (inscrita na frase de Cícero, Historia magistra vitae est) da História como mestra da vida – que o pensamento histórico abandonou a partir da sua concepção moderna ou pós-renascentista — para assinalar que se aprende com os erros cometidos e reconhecidos.

O texto, então, opera um corte notável: os homens e as instituições que viveram 1964 são ‘história’, passado, devendo ser entendidos nessa perspectiva e, em seguida, afirma com todas as letras: ‘O GLOBO não tem dúvidas de que o apoio a 1964 pareceu aos que dirigiam o jornal e viveram aquele momento a atitude certa, visando ao bem do país.’ O que se anunciava como a confissão de um erro, através do condão da Historia e da mágica do contextualismo transforma-se, diante dos olhos incrédulos de qualquer leitor atento, numa justificação contextualizada do golpe de 1964, que, entendido nos seus termos, teria sido a ‘atitude certa’! O vertiginoso zigue-zague de opiniões prossegue no último parágrafo, quando o texto faz notar que ‘à luz da História, contudo, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro’. O procedimento contextualista do autoritarismo está completo. Operou-se um corte que instalou o erro como acerto na História (que o texto identifica com o passado) e o acerto como erro no presente.

O editorial d’O Globo se utiliza de uma diatribe corrente na reflexão sobre a história e a historiografia, segundo a qual a história só faria sentido nos termos dela mesma e, portanto — para fins de manutenção da ‘neutralidade axiológica’ do discurso historiográfico, evitando-se sua ‘politização’ — deve ser isolada, tanto quanto possível do presente, o anacronismo (ou seja, ‘um desencontro ou encontro sem cabimento; onde valores, hábitos, crenças de épocas diferentes são tratados como se fossem as mesmas coisas’) constituindo-se no pecado, por excelência, do historiador. No lugar dele, instaura-se uma homogeneização do tempo do qual o discurso histórico pretende tratar, cortando-se os fios entre passado e presente.

O texto d’O Globo parece uma boa oportunidade para que se reflita a respeito das consequências deste tipo de pensamento (amplamente disseminado) a respeito do discurso histórico e historiográfico. Mais do que isso, uma oportunidade para que se repense a centralidade do anacronismo no interior da prática histórica, não como incômodo a extirpar, mas como condição constituinte de todo e qualquer conhecimento histórico, que deve, por conseguinte, ser articulado no interior do discurso e não, pretensamente, deixado fora dele. Pensar a história (e o presente, história in actu) como instantes infinitos em que o tempo está aberto para diversos caminhos é a única maneira de impedir que discursos justificadores do autoritarismo se insinuem por dentro da própria prática historiográfica, dando azo, e validando discursivamente, operações como a que as organizações Globo protagonizaram. Mais do que afirmações peremptórias a respeito, que fique a necessidade da reflexão sobre as apropriações da história, não só como processo, mas também como regime de verdade que se articula na supressão dos diversos possíveis entre os quais os homens e mulheres de todos os tempos decidem todos os instantes.

Silvio Pedrosa.
http://oladoesquerdodopossivel.wordpress.com/2013/09/01/o-contextualismo-autoritario-do-globo/