Nota do Rizoma e do coletivo Autônomo de Campinas sobre a agressão no Autônomos FC

“Então, reconhecer a estruturalidade da violência machista é começar a criar as condições necessárias para evitá-las e, finalmente, assumir a responsabilidade quando isso acontece em nosso meio. Mas muitas vezes isso não acontece porque assumir essa responsabilidade é abrir a porta à possibilidade de nos reconhecermos na pele do agressor, o que dá eco a lamentáveis estratégias de corporativismo masculino, nos quais os companheiros guardam silêncio por medo a que suas cabeças rolem junto à dos que estão sendo assinalados abertamente neste momento.”1

Nós do coletivo Rizoma – Tendência Libertária Autônoma e do Coletivo Autônomo de Campinas vimos a público nos manifestar frente à agressão ocorrida no Autônomos e Autônomas Futebol Clube.

As atitudes intimidatórias praticadas por alguns integrantes do Autônomos Futebol Clube, e a conivência dos demais, tornaram inviável a participação segura de diversas companheiras no mesmo espaço político. Compreendemos que toda prática de opressão seja ela manifestada de forma física, patrimonial, psicológica e/ou emocional deve ser tratada com a mesma seriedade. Relativizar casos de machismo como “mais, ou menos opressivos” é reforçar os discursos de deslegitimação da denúncia feita e a manutenção das estruturas do patriarcado.

Acreditamos na autonomia de cada coletivo, organização e/ou espaço libertário para lidar com as questões de machismo da forma que seja decidida pela sua coletividade. No entanto pedimos por coerência entre os ideais libertários/anarquistas e sua prática cotidiana. Mais do que nunca, julgamos emergente o comprometimento do meio libertário/anarquista com a questão de gênero, e, por isso, entendemos que, tanto o Autônomos Futebol Clube, quanto o espaço Casa Mafalda foram coniventes ao se silenciarem perante o ocorrido.

Desta forma marcamos nossa posição e declaramos que todas as tentativas de acobertamento de agressões serão encaradas por nós como continuidade do processo opressivo. Acreditamos que, se nós, enquanto libertárixs, temos coragem para confrontar o sistema, precisamos ter ainda mais coragem para encarar os processos internos aos nossos espaços que reproduzem essas formas de dominação.

Colocamo-nos em solidariedade à todas as companheiras que rompem com a corrente do silêncio e tiram os movimentos sociais de suas zonas de conforto-opressão e os colocam em questionamento. Se nossas lutas têm suas estruturas calcadas em processos de dominação do hetero-patriarcado e não estamos dispostxs a romper radicalmente com estas bases, melhor pararmos de brincar de revolução.

Nenhuma agressão ficará sem resposta

Nota

1) Texto: Quem teme aos processos coletivos? Notas Críticas sobre a ‘gestão’ da violência machista nos movimentos sociais – disponível no blog Difusora Feminista D.I.Y: difusionfeminista.blogspot.com.br/2012/… – Tradução livre feita pelo coletivo Rizoma

 

Nota em apoio aos estudantes da PUC

“A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa” Marx, o barbudo.

Já vimos este filme antes, e sabemos o desenrolar da história.

Atropelando o processo já nada “democrático”, alguém – que se considera acima de todos os mortais – elege como reitor(a)aquele/a que não ocupa o primeiro lugar da feudal lista tríplice.

Quando o ocorrido foi na USP, o desenrolar da história foi cada vez pior. De invasão da PM no campus, eliminações e processos à câmeras espiãs por toda a usp – incluindo os refeitorios. Estamos todxs reféns de uma reitoria que veio, a toque de caixa, destruir a Universidade Pública, a livre criação artística e os direitos de manifestação política garantidos pela – tão santificada e nada revolucionária – constituição.

Desde já nos colocamos totalmente em apoio ao movimento grevista, e saudamos a atitude dos docentes e trabalhadores em apoiar ativamente as reivindicações, o que demonstra que os estudantes não estão isolados nessa luta, e que ela não é interessa somente a um setor da Universidade. Quando o mesmo ocorreu na USP, pagamos pela imobilidade dos outros setores, que nos apoiaram de maneire geral tão somente com palavras bonitas. Fato que facilitara a criação de uma imagem estigmatizada dxs estudantes da USP como baderneirxs que usam o dinheiro público para não estudar por parte da grande mídia. Este estigma foi e é mais uma das tantas barreiras que temos que enfrentar ao tentar construir um movimento forte, mas não desanimemos com a manipulação da mídia – esta possuí seus próprios interesses em quanto grupo social. E se mentem sobre nós, é porque combatemos suas políticas opressoras e a de seus aliados.

Nos colocamos em solidariedade e lado a lado para o que for preciso.E dizemos: Sigam fortes, sigam em luta!

Todo apoio à greve da PUC/SP!
Viva a ação direta e a solidariedade!

Saudações libertárias, Rizoma – Tendência libertária e autônoma

Teoria da alienação, organização política e o movimento estudantil da USP

Retirado de: http://passapalavra.info/?p=67274

A mesma contradição de interesses intrínseca à divisão do trabalho está contida no interior dos partidos políticosPor Matheus Nordon Preis

O ano de 2012 parece ter colocado em evidência a última pista necessária para desvendar o mistério acerca do estado deplorável em que se encontra o movimento estudantil da Universidade de São Paulo (USP). Prevendo o fim do mundo, as organizações políticas presentes no corpo discente resolveram abandonar a luta por uma sociedade mais justa, esqueceram-se dos seus ideais e seguiram reproduzindo-se enquanto pequenas estruturas hierarquizadas concentradoras de poderzinhos políticos; ou abandonaram a prática-crítica da realidade (que se aproxima cada vez mais do fim) para se reclusar no maravilhoso mundo do discurso, onde podem fazer o que quiserem e descansar confortavelmente da realidade conflituosa e contraditória; um mundo que nunca sofrerá mutações nem acabará.

Deixando de lado a crueldade do tom irônico, pretende-se fazer uma crítica das relações sociais engendradas pelos partidos no meio político dos cursos. É preciso destacar que trata-se de uma pequena crítica estrutural, não de uma crítica moral ou pessoal a seres complexos – dotados de desejos e medos – que não são individual, ou naturalmente, responsáveis pelas dinâmicas problematizadas. Toma-se aqui por partidos: organizações políticas totais (i. e. que não se restringem a tratar de temas específicos) institucionalizadas, de estrutura hierarquizada, que possuam um projeto de escalada ao poder político.

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Democracia direta e representativa e a USP (por Hugo Scabello)

Versão em pdf: Democracia direta e representativa e a USP pdf

Hugo Scabello, priemeiro semestre de 2012.

Assembleia, autogestão e democracia direta; eleição, heterogestão e democracia representativa

Por participar duma tendencia estudantil que possui como dois pilares a autogestão e a democracia direta, considerei como importante elaborar um texto visando destrinchar estes, além de construir uma defesa a eles e criticar a forma representativa de se fazer política – a qual atualmente disputa espaço, poder e legitimidade com a direta no movimento estudantil. Em outras palavras: como entendemos que a política deva ser organizada e executada, porquê entendemos assim, e porquê somos contra a forma representativa de se fazer política.

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