Paris rubronegra: ato contra o fascismo e em homenagem a Clément Méric

No dia 23 de junho milhares de pessoas foram às ruas de Paris numa passeata antifascista e em homenagem a Clément Méric, jovem de 18 anos, estudante de Ciência Política e militante do sindicato Solidires e da Antifa espancado e morto por neonazistas no final de maio.

PARIS RUBRONEGRA!

A passeata contou com muitxs anarquistas, autônomos, setores lgbt’s, antirracistas e antixenófobos. Durante o trajeto painéis publicitários e bancos foram quebrados e destruídos para não se esquecer que toda luta antifascista é também uma luta contra o Capital.

O ato percorreu as ruas de Paris, desde a Ópera até Stalingrado. Passou tanto por bairros mais burgueses da capital, como pelos bairros mais populares. Após o final da passeata, alguns ativistas continuaram na praça, onde foram reprimidos pela polícia, que deu um fim à manifestação. À manifestação do dia 23 de junho, não à luta antifascista, que se perpetua todos os dias, através de jovens como Clément, que ousam se levantar contra toda forma de fascismo e opressão.

Seja da França ou do Brasil, decerto perdemos um cidadão do mundo, um jovem que estava na mesma rede internacional, anticapitalista e antifascista que o Rizoma está inserido. Toda solidariedade e carinho a Clément, família e amigxs.

fascistas, nazistas, racistas: NÃO PASSARÃO!

Clément Méric

Acracia

Nas águas daquela fonte
Lavei
Minha alma juvenil,
Que já não volta.

Águas inquinadas
Recusei…
Por não serem as águas
Cristalinas
Daquela fonte
Que abracei!

– Artur Modesto

http://lahorde.samizdat.net/2013/06/24/paris-compte-rendu-et-photos-de-la-manif-du-23-juin/

Estudantes do Instituto de Artes da Unicamp lutam pelo seu espaço estudantil

A história já é meio que conhecida: a burocracia universitária de forma extremamente abusiva e autoritária retira um espaço estudantil sem o mínimo de debate com o conjunto dxs estudantes.
É uma história que tem se repetido diversas vezes em praticamente todas as universidades brasileiras, principalmente nas estaduais paulistas. Obviamente essas historias contam com suas próprias singularidades, originárias de suas geografias e seus desenvolvimentos únicos.
A bola da vez é o gramado de fronte ao Instituto de Artes da Unicamp, um espaço importante de vivência para xs estudantes – principalmente deste instituto -, local de reuniões, de estudo, de obtenção de ricas experiências que transcendem o limitado espaço da sala aula. É o típico local perigoso: ele permite a criação, ao invés da mera reprodução. Permite o questionamento dos espaços regrados, burocratizados. Aquelx que goza da liberdade que é cerceada na sala de aula é perigosx aos olhos da reitoria.
O motivo da tomada do espaço é a construção de uma biblioteca – Biblioteca de Obras Raras da Unicamp (BORA) . Parece um nobre motivo à primeira vista, mas xs estudantes não deixaram de questionar da razão delxs precisarem perder seu espaço para a construção desse prédio, que para além dos motivos já expostos, também seria construído em uma das poucas áreas verdes restantes na região do Ciclo Básico da universidade.

RESISTIR

Só peixe morto anda com a correnteza! Xs estudantes do IA já deram sua resposta a medida autoritária da reitoria. Há mais de uma semana ocupam o gramado e promovem arte, festa, política, vida. E fazem um chamado: BORA ocupar o gramado?

Saiba mais da luta dxs estudante na página do facebook:
https://www.facebook.com/ocupacao.ia

Aqui segue uma reportagem sobre o caso:
http://www.youtube.com/watch?v=GBDdeF0E7YY
“Raros são os espaços estudantis.”

1010676_1384552635096082_1973158962_nTODO APOIO A_S ESTUDANTES DO IA: NENHUM ESPAÇO A MENOS.

A revolução das pessoas comuns

Raúl Zibechi- Publicado no Jornal La Jornada -3/06/2011
tradução: Paulo Marques

Nos mais diversos rincões do planeta as pessoas comuns estão saindo às ruas, ocupando praças, se encontrando com outras pessoas comuns que não conheciam, mas que imediatamente reconhecem. Não esperaram ser convocadas, acudiram pela necessidade de descobrir-se. Não calculam as consequências de seus atos, atuam com base no que sentem, desejam e sonham. Estamos frente a verdadeiras revoluções, mudanças profundas que não deixam nada em seu lugar, ainda que os de cima creiam que tudo seguirá igual quando as praças e as ruas recuperem, por um tempo, esse silêncio de plomo que denominam normalidade.

Não encontro melhor forma de explicar o que está ocorrendo que trazer um memorável texto de Giovanni Arrighi, Terence Hopkins e Immanuel Wallerstein, 1968: o grande ensaio, capítulo do livro Movimientos antisistémicos (Akal, Madrid, 1999). Esse texto denso, inspirado na visão ampla e profunda de Braudel, se abre com uma afirmação insólita: Somente houve duas revoluções mundiais. A primeira ocorreu em 1848. A segunda em 1968. Ambas constituíram um fracasso histórico. Ambas transformaram o mundo.

A seguir os três mestres do sistema-mundo expõem que o fato de que ambas revoluções não estiveram planejadas e que foram espontâneas no sentido profundo do termo explica tanto o fracasso como sua capacidade de mudar o mundo. Dizem mais: que 1848 e 1968 são datas mais importantes que 1789 e 1917, em referência às revoluções francesa e russa. Estas foram superadas por aquelas.

O conceito herdado e hegemônico ainda de revolução deve ser revisado, e o está sendo nos fatos. Frente a uma ideia de revolução centrada exclusivamente na conquista do poder estatal, aparece outra mais complexa mas sobretudo mais integral, que não exclui a estratégia estatal mas que a supera ultrapassa. Em todo caso, a questão de conquistar a direção estatal é um atalho em um caminho muito mais longo que busca algo que não se pode fazer desde as instituições: criar um mundo novo.

Para criar um mundo novo, o que menos serve é a política tradicional, ancorada na figura da representação que consiste em suplantar sujeitos coletivos por profissionais da administração, e do engano . Pelo contrário, o mundo novo e diferente ao atual supõe ensaiar e experimentar relações sociais horizontais, em espaços auto-controlados e autônomos, soberanos, onde ninguém impõe e mando no coletivo.

A frase chave da citação é espontânea no sentido profundo. Como interpretar essa afirmação? Neste ponto há que aceitar que não há uma racionalidade, instrumental e estadocêntrica, mas sim que cada sujeito têm sua racionalidade, e que todos e todas podemos ser sujeitos quando dizemos Já basta. Se trata, então, de compreender as racionalidades outras, questão que somente pode fazer-se desde dentro e em movimento, a partir da lógica imanente que desvelam os atos coletivos dos sujeitos de baixo. Isso indica que não se trata de interpretar mas sim de participar.

Acima das diversas conjunturas em que surgiram, os movimentos da praça Tahrir no Cairo e da Puerta del Sol em Madri formam parte da mesma genealogia de que se valem todos: da revolta argentina de 2001, da guerra da água de Cochabamba em 2000, das duas guerras do gás bolivianas em 2003 e 2005 e da comuna de Oaxaca de 2006, para mencionar só os casos urbanos. O comum é basicamente dois fatos: por um freio aos de cima e fazê-lo abrindo saídas de democracia direta e participação coletiva sem representantes.

Esta estratégia com duas fases, rechaço e criação, desbota a cultura política tradicional e hegemônica nas esquerdas e no movimento sindical, que só contemplam parcialmente a primeira: as manifestações autocontroladas, com objetivos precisos. Essa cultura política tem mostrado seus limites, inclusive como rechaço ao existente porque ao não desbotar as causas institucionais é incapaz de frear os de cima e se limita, somente, a preparar o terreno para o relevo das equipes governantes sem mudança de política. Essa cultura política têm sido hábil para atingir as direitas e têm fracassado na hora de mudar o mundo.

As revoluções em marcha são estuários onde desembocam e confluem rios e arroios de rebeldias que recorreram longos caminhos, alguns dos quais bebem nas águas de 1968 mas as superam em profundidade e densidade. Rebeldias que vem de muito longe, montanha acima , para confluir de modo imperceptível e capilar com outras causas, as vezes minúsculas, para um belo dia mesclar suas águas em uma torrente onde já ninguém se pergunta de onde vem, que cores e sinais de identidade arrasta.

Estas revoluções são o momento visível, importante mas não fundante, de um longo caminho subterrâneo. Por isso a imagem da toupeira é tão adequada: um belo dia dá um salto e se mostra, mas antes fez um longo recorrido em baixo da terra. Sem esse recorrido não poderia nunca ver a luz do dia. Esse longo andar são as centenas de pequenas iniciativas que nasceram como espaços de resistência, pequenos laboratórios (como os que existiram desde finais dos anos 90 em Lavapiés, Madri) onde se vive como se quer viver e não como elos querem que vivemos.

Quero dizer que os grandes fatos são precedidos e preparados, e ensaiados como assinala James Scott, por praticas coletivas que acontecem longe da atenção da mídia e dos políticos profissionais. Ali onde os praticantes se sentem seguros e protegidos por seus pares. Agora que estas milhares de microexperiências têm confluído nestas correntezas de vida, é momento de celebrar e sorrir, a pesar das inevitáveis repressões. Sobretudo, não esquecer, quando voltem os anos de plomo, que são estas trabalhosas e solitárias experiencias, ilhadas e frequentemente fracassadas, as que pavimentam as jornadas luminosas. Umas com outras mudam o mundo.

Movimento Estudantil – Lutas na UNIFESP e UFMG!

UFMG:

A ocupação que teve início no dia 25 de junho, terça-feira, teve como estopim a presença das forças armadas dentro do campus, além das paralisações autoritárias nas atividades da universidade que ocorreram nos dias dos jogos da Copa das Confederações. O movimento acabou caminhando para uma série de reflexões referentes à lógica privativista de utilização do espaço público e sobre a democratização da universidade, uma pauta com uma reivindicação muito clara, que diz respeito a maior participação da comunidade acadêmica nos processos decisórios.

O movimento se desenvolve de maneira autonôma e horizontal. Segue aqui a carta aberta dxs ocupantes da reitoria:

https://www.dropbox.com/s/uz519ebqbgnplnx/1a%20CARTA%20ABERTA%20OCUPA%20REITORIA%20UFMG%20b.pdf

FORA MILICOS DO CAMPUS!
DEMOCRATIZAÇÃO DAS UNIVERSIDADES JÁ!
TODO APOIO A_S COMPANHEIRXS DA UFMG!

Unifesp em luta!

Duas salas da UNIFESP-Guarulhos já se encontram ocupadas, o indicativo e clima de greve já se coloca presente. Recém saídxs de uma intensa batalha contra a precarização do campus e a repressão policial, xs estudantes da EFLCH enfrentam um inimigo que já vem se aproximando a um tempo: a possibilidade de transferência do campus da periferia (bairro Pimentas, Guarulhos) para o centro de São Paulo. A proposta, que já é escandalosa por si só, se mostra mais monstruosa diante do contrato de 15 milhões com o grupo Torricelli-Anhanguera. E, obviamente, como não é de se espantar, a decisão foi tomada de forma totalmente autoritária pela burocracia universitária sem a menor consulta à comunidade unifespiana.
Racista, elitista, fascista! Muitos são adjetivos que caracterizam a proposta da reitoria. A lógica burguesa de afastar os serviços da periferia e concentrá-los no centro não pode ser encarada com naturalidade, principalmente sendo o campus de Guarulhos um dos que contam com a maior quantidade de estudantes oriundxs do ensino público, de origem humilde. É uma luta, acima de tudo, por dignidade! Apoiamos veemente a luta dxs compas da Unifesp!

– NÃO À TRANSFERÊNCIA DO CAMPUS DA UNIFESP-GUARULHOS!
– MAIOR PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE ACADÊMICA NAS DECISÕES!
– CHEGA DE ENRIQUECER AINDA MAIS A CÚPULA DA ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA!

Para mais informações: http://unifespemluta.wordpress.com/

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Nós queremos a queda do sistema – Carta enviada pelo coletivo Camaradas do Cairo (Egito)

Mais de 20 milhões de pessoas na rua, algumas fontes chegam a falar em 35 milhões, o maior protesto político da história da humanidade: é neste contexto que o coletivo Camaradas do Cairo, Egito, escreve a nota que segue em solidariedade ao MPL e às lutas no Brasil.

SOLIDARIEDADE DAS LUTAS: EGITO – BRASIL – TURQUIA

Carta enviada pelo coletivo Camaradas do Cairo (Egito) em 30/06:

Nós podemos cheirar o gás lacrimogênio do Rio e Taksim até Tahrir

“Para vocês, ao lado de quem lutamos,

Dia 30 de junho marcará um novo estágio da revolta para nós, construído sobre o que começou em 25 e 28 de Janeiro de 2011. Dessa vez nos rebelaremos contra o reino da Irmandade Muçulmana que tem trazido apenas mais das mesmas formas de exploração econômica, violencia policial, tortura e mortes.

Referências à chegada da “democracia” não têm relevancia quando não há a possibilidade de viver uma vida decente, com qualquer sinal de dignidade e sustento decente. Declarações de legitimidade através de um processo eleitoral distraem da realidade que, no Egito, nossa luta continua porque encaramos a continuação de um regime opressivo que tem novos rostos, mas mantém a mesma lógica de repressão, austeridade e brutalidade policial. As autoridades mantém a mesma falta de responsabilidade perante o público, e posições de poder se traduzem em oportunidades de aumentar riqueza e poder pessoais.

Dia 30 de Junho renova o grito da revolução “O Povo Quer a Queda do Sistema.” Nós procuramos um futuro governado nem pelo pequeno autoritarismo e familiar capitalismo da Irmandade, nem por um aparato militar que mantém em suas rédeas a vida política e econômica, tampouco o retorno das velhas estruturas da era Mubarak. Mesmo que os grupos de manifestantes que tomarão as ruas no dia 30 de Junho não estão unidos sob este apelo, ele deve ser o nosso – essa deve ser a nossa posição, pois não aceitaremos um retorno aos períodos sangrentos do passado.

Apesar de nossas redes de relacionamento ainda serem fraca, nós buscamos esperança e inspiração nos recentes movimentos, especialmente pela Turquia e pelo Brasil. Cada país nasceu de diferentes realidades econômicas e políticas, mas nós fomos todos governados por pequenos círculos cujos desejos por mais têm perpetuado a falta de visão de algo bom para o povo. Nós somos inspirados pela organização horizontal do Movimento Passe Livre, fundado na Bahia em 2003, e nas assembléias públicas que se espalham em Taksim.

No Egito, a Irmandade apenas adiciona uma via religiosa ao processo, enquanto a lógica de um neo-liberalismo localizado esmaga o povo. Na Turquia, uma estratégia de agressivo crescimento do setor privado igualmente se traduz num governo autoritário, a mesma lógica da brutalidade policial como primeira arma para oprimir oposição e qualquer tentativa de buscar alternativas. No Brasil, um governo enraizado numa revolucionária legitimidade, tem provado que seu passado é só uma máscara que ele usa, enquanto seus sócios, com a mesma ordem capitalista, exploram pessoas e natureza do mesmo modo.

Esses movimentos recentes partilham em uma luta mais velha que as constantes batalhas dos Curdos ou dos povos indígenas na América do Sul. Por décadas, os governos da Turquia e do Brasil têm tentado, mas falhado, acabar com a luta desses movimentos em sobreviver. A resistência deles em expor a repressão foi o precursor de uma nova onda de protestos que se espalharam pela Turquia e Brasil. Nós vemos uma urgência em reconhecer a profundidade em nossas lutas e buscar por formas de rebelião em novos espaços, vizinhanças e comunidades.

Nossas lutas compartilham o potencial de se opor ao regime global de nações-estado. Na crise, como na prosperidade, o Estado – no Egito sob o governo de Murabak, da junta militar, ou da Irmandade Muçulmana – continua a desapropriar e retirar poderes dos cidadãos em ordem de preservar e expandir a rqueza e privilégio daqueles no poder.

Nenhum de nós está lutando sozinho. Nós confrontamos inimigos em comum no Bahrain, Brasil, e Bosnia, Chile, Palestina, Siria, Turquia, Curdistão, Tunisia, Sudão, Sahara ocidental e Egito. E a lista continua. Em todo lugar nos chamam de vândalos, saqueadores e terroristas. Nós estamos lutando mais do que a exploração econômica, a crua violência policial, ou um sistema legal ilegítimo. Não são direitos ou uma cidadania reformada por que lutamos. Nós nos opomos às nações-estado comouma ferramenta centralizada de repressão, que permite uma elite local sugar a vida de nós e poderes globais reterem seu domínio sobre nosso dia-a-dia. Os dois trabalham como um, com balas e transmissões e tudo entre eles. Nós não estamos advogando para unir ou igualar nossas várias batalhas, mas é a mesma estrutura de autoridade e poder que temos que lutar, desmantelar e derrubar. Juntos, nossa luta é mais forte.

Nós queremos a queda do sistema.

Camaradas do Cairo”

Manifestantes iluminam helicóptero militar com lasers para atrapalhá-lo.