Da paz

Naruana Costa recitando “Da Paz”, de Marcelino Freire
https://www.youtube.com/watch?v=2g7DHBABdDI

Eu não sou da paz.

Não sou mesmo não. Não sou. Paz é coisa de rico. Não visto camiseta nenhuma, não, senhor. Não solto pomba nenhuma, não, senhor. Não venha me pedir para eu chorar mais. Secou. A paz é uma desgraça.

Uma desgraça.

Carregar essa rosa. Boba na mão. Nada a ver. Vou não. Não vou fazer essa cara. Chapada. Não vou rezar. Eu é que não vou tomar a praça. Nessa multidão. A paz não resolve nada. A paz marcha. Para onde marcha? A paz fica bonita na televisão. Viu aquele ator?

Se quiser, vá você, diacho. Eu é que não vou. Atirar uma lágrima. A paz é muito organizada. Muito certinha, tadinha. A paz tem hora marcada. Vem governador participar. E prefeito. E senador. E até jogador. Vou não.

Não vou.

A paz é perda de tempo. E o tanto que eu tenho para fazer hoje. Arroz e feijão. Arroz e feijão. Sem contar a costura. Meu juízo não está bom. A paz me deixa doente. Sabe como é? Sem disposição. Sinto muito. Sinto. A paz não vai estragar o meu domingo.

A paz nunca vem aqui, no pedaço. Reparou? Fica lá. Está vendo? Um bando de gente. Dentro dessa fila demente. A paz é muito chata. A paz é uma bosta. Continue lendo

(Re)volta às aulas – Estudantes do curso de Direito da USP entram em greve

Estudantes da SanFran decidiram em assembleia realizada na quinta-feira, 8 de agosto, entrar em greve a partir desta sexta-feira.

Em protesto contra as dificuldades em se matricular nas disciplinas pelo jupitweweb, escasso oferecimento de disciplinas optativas, pouca quantidade de vagas tanto nas optativas quanto nas obrigatórias, entre outros, xs estudantes decidiram pela paralisação total das aulas.

O problema enfrentado pelxs alunxs da SanFran está longe de ser uma exceção. É, na verdade, uma regra. Todo início de semestre todos os cursos da USP sofrem com o mesmo problema.

A grade de ensino engessada é consequência da privatização da Universidade, a qual tem como único objetivo a formação de um grande exército industrial de reserva, formada por estudantes que após se formarem exercerão uma atividade repetitiva e miserável no mercado de trabalho, sem nenhum comprometimento com uma transformação social.

Para isso, a Universidade faz questão de manter uma grade desestimulante, para que x alunx se forme (caia fora da universidade!) no tempo mais rápido.

A resposta dxs estudantes do Direito – USP foi certeira, é o momento ideal para uma greve que coloque em cheque a lógica da educação como mercadoria e toda mediocridade presente na estrutura pedagógica da USP, que há anos vem sendo questionada.

DIREITO À GREVE. DIREITO EM GREVE.

FAÇA GREVE, JÁ QUE NÃO HÁ POESIA EM SUAS AULAS.

TODO APOIO À GREVE DA SANFRAN!
AMANHÃ VAI SER MAIOR! GREVE GERAL JÁ!

Sarau da Resistência – Sítio São Francisco

SARAU DA RESISTÊNCIA – SÍTIO SÃO FRANCISCO – PIMENTAS
Este sábado! 10/agosto a partir das 14 horas.
Rua Avaré, Sítio São Francisco – Pimentas
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Conheça o blog Sítio São Francisco! https://sitiovive.wordpress.com/2013/08/06/sarau-da-resistencia-1-aniversario/

O Sarau da Resistência está comemorando seu primeiro aniversário, e quer saber: Onde estão os Amarildos?

Amarildo, morador da Rocinha (RJ), desapareceu no dia 14/07 após ser levado por policiais das UPPs do Rio. A família presume que o pedreiro está morto. Com muita repercusão na  mídia, o caso de Amarildo não é isolado, pois os principais suspeitos da morte do trabalhador são os policiais militares das UPPs.

Na mesma semana tivemos ainda o julgamento dos policiais militares envolvidos no massacre do Carandirú, onde 111 presos foram assassinados depois da invasão da PM. O então governador do estado, Fleury Filho, declarou que não deu a ordem da invasão, mas se estivesse em seu gabinete autorizaria a ação criminosa da polícia.

“Aqui pro cidadão honesto ter um teto
só pondo o fogão na cabeça e invadindo o prédio
Saindo na mão com o PM do Choque,
sobreviver do tiro da reintegração de posse
Pergunta pro tio do terreno invadido no escuro
o que é um trator transformando tua goma em entulho”
(Facção Central – A marcha fúnebre prossegue)

Para comemorar o primeiro aniversário, o Sarau da Resistência vem de oficinas de desenho, quadrinhos, zines e rádio livre. Traga seu vídeo, música e poesia.

10/08 - a partir das 14h
Local: Rua Avaré, Sítio São Francisco - Pimentas

Vagão para mulheres, sociedade para homens

Texto muito bom, retirado do Blog Café Feminista: http://cafefeminista.wordpress.com/2013/07/01/vagao-para-mulheres-sociedade-para-homens/#more-6

Está chegando para votação no plenário brasileiro mais um projeto de lei que diz respeito diretamente a nós, mulheres. O PL 341/2005, de autoria do então deputado Geraldo Vinholi (PSDB), obriga que as empresas tenham espaço somente para mulheres durante os horários de pico do transporte público. À primeira vista, seria possível imaginar que o projeto foi concebido por uma feminista, já que propõe nos “proteger” da rotina diária dos abusos sexuais no transporte público lotado. Essa é uma realidade cruel que atinge principalmente as mulheres de classe baixa usuárias dos trens, ônibus e metrôs em um sistema de transporte precarizado. Quem é mulher conhece a sensação de entrar no vagão lotado e, além de suportar o aperto, permanecer alerta a qualquer movimento estranho que possa indicar uma tentativa de abuso. É com horror que nós aprendemos muito cedo a estarmos em constante vigilância contra agressores em potencial, que, ironicamente, enfrentam a mesma dura rotina e ainda se aproveitam da situação para cometer os abusos.

Mas basta um olhar mais atento para perceber o objetivo problemático dessa medida: “Proteger as mulheres indefesas dos homens”. Dessa forma, estamos supondo e legitimando a ideia de que homens são sexualmente incontroláveis. Pior, estamos tentando solucionar o problema isolando as mulheres ao invés de promover o debate entre todxs. Ainda que pudéssemos considerar a lei pela ótica da medida paliativa, na prática, não são todas as mulheres que vão conseguir embarcar nesses vagões, então, teoricamente, todas que escolherem os vagões mistos serão consideradas ainda mais “vulneráveis”. Isso naturaliza o pressuposto de que todo homem é um agressor sexual em potencial e toda mulher uma vítima, um verdadeiro tiro no pé. É isso mesmo que queremos? Isolar mulheres como presas incapazes de se defender e reforçar o estigma do homem predador? Continue lendo