“Não há violência no Black Bloc. Há performance”

“Não há violência no Black Bloc. Há performance”

Manifestante anarquista, que participou das ações diretas em São Paulo, fala com CartaCapital sobre os protestos e a depredação de bancos e concessionárias
por Willian Vieira e Piero Locatelli — publicado 02/08/2013
Retirado de: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cnao-ha-violencia-no-black-bloc-ha-performance201d-9710.html

Quebrar bancos não é violência, é performance. Esta é opinião de uma manifestante dos black blocs, tática que vem ganhando adeptos no Brasil. Participante dos protestos em São Paulo na última semana, que resultaram na quebra de bancos e concessionárias, Roberto (nome fictício), de 26 anos, falou com a CartaCapital por e-mail sobre as ações. Ele explicou sua insatisfação com partidos, e os motivos que o leva às ruas para depredar símbolos capitalistas. Leia a entrevista abaixo:

Imagem de Lola Vicious: https://www.facebook.com/lolaxvicious

CartaCapital: O que o motiva a fazer parte de um black bloc? São insatisfações com o sistema político, com partidos, com o capitalismo e o tipo de democracia que vivemos? Ou são outras razões mais específicas?

Roberto: O Black Bloc foi uma estratégia nascida em seio anarquista. Portanto, o que nos motiva é uma insatisfação com o sistema político e econômico em que vivemos. Para mim, as duas coisas são indissociáveis e têm problemas com raízes muito mais profundas do que partido X ou partido Y.

CC: De quantos protestos já participou, fazendo black bloc? Qual o primeiro?

Roberto: Fazendo Black Bloc, já foram três protestos. O primeiro foi o ato pela democratização da mídia, do dia 11 de julho. Mas antes já tinha participado de outras ações diretas, sem necessariamente a identificação com o Black Bloc. Por exemplo, os dois últimos atos pela redução da tarifa do transporte público, com a ação de queimar bandeiras do Brasil.

CC: Por que decidiu ir aos protestos e fazer parte do Black Bloc?

Roberto: Decidi ir porque considero a ação direta uma estratégia tão importante quanto a não-direta. Nossa sociedade vive permeada por símbolos, e saber usa-los é essencial em qualquer demanda, seja ela política ou cultural. Participar de um Black Bloc é fazer uso desses símbolos para quebrar pré-conceitos e condicionamentos. Não só do alvo atacado, mas até da própria ideia de vandalismo.

A sociedade tende a considerar a depredação como algo “errado” por natureza. Mas se nós sabemos e admitimos que os alvos atacados, em sua maioria agências bancárias até o momento, não foram realmente prejudicados – ou seja, os danos financeiros são irrisórios – qual é o real dano de uma estratégia Black Bloc? Por que deveria ser considerada errada a priori?

Não há violência no Black Bloc. Há performance.

CC: Não tem medo de ser preso ou de ser violentado pela polícia? Como lida com isso?

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