Apontamentos sobre machismo no Movimento Estudantil

Nós, da Tendência Libertária Autônoma Rizoma, viemos a público manifestar nossa posição quanto às [não tão] recentes atitudes machistas no Movimento Estudantil.

“Neste sentido uma denúncia feminista legítima, e todas elas são, perdem-se em meio a brincadeira do “acusa-acusa”. Ocorre uma agressão machista, a sobrevivente5 cria coragem para fazer a denúncia, o movimento cria uma onda de propagação da denúncia, palavras de ordem, notas e mais notas são feitas e em poucos dias isto é abafado e o machismo que deveria ter sido discutido mandou um abraço. Ou então a denúncia é feita, em meio a uma assembleia, e o que se passa a discutir é se há quanto tempo atrás o grupo X rachou com grupo Y, ou se um partido é mais ou menos pelego que o outro, ou se foi certo ou não ter estourado uma caixa de som ou ter implodido uma assembleia. Novamente o machismo mandou um abraço e passou sorrindo, ileso.”

Leia nossa reflexão em: Apontamentos sobre machismo no Movimento Estudantil
Ou no corpo do texto abaixo.

Apontamentos sobre machismo no Movimento Estudantil

Gostaríamos de iniciar este texto explicitando com quem estamos dialogando, em que contexto estamos inseridxs1 e por quê acreditamos que o debate sobre machismo no Movimento Estudantil não deve se resumir à publicações imediatistas de notas de ataque entre partidos políticos.

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Nota do Rizoma e do coletivo Autônomo de Campinas sobre a agressão no Autônomos FC

“Então, reconhecer a estruturalidade da violência machista é começar a criar as condições necessárias para evitá-las e, finalmente, assumir a responsabilidade quando isso acontece em nosso meio. Mas muitas vezes isso não acontece porque assumir essa responsabilidade é abrir a porta à possibilidade de nos reconhecermos na pele do agressor, o que dá eco a lamentáveis estratégias de corporativismo masculino, nos quais os companheiros guardam silêncio por medo a que suas cabeças rolem junto à dos que estão sendo assinalados abertamente neste momento.”1

Nós do coletivo Rizoma – Tendência Libertária Autônoma e do Coletivo Autônomo de Campinas vimos a público nos manifestar frente à agressão ocorrida no Autônomos e Autônomas Futebol Clube.

As atitudes intimidatórias praticadas por alguns integrantes do Autônomos Futebol Clube, e a conivência dos demais, tornaram inviável a participação segura de diversas companheiras no mesmo espaço político. Compreendemos que toda prática de opressão seja ela manifestada de forma física, patrimonial, psicológica e/ou emocional deve ser tratada com a mesma seriedade. Relativizar casos de machismo como “mais, ou menos opressivos” é reforçar os discursos de deslegitimação da denúncia feita e a manutenção das estruturas do patriarcado.

Acreditamos na autonomia de cada coletivo, organização e/ou espaço libertário para lidar com as questões de machismo da forma que seja decidida pela sua coletividade. No entanto pedimos por coerência entre os ideais libertários/anarquistas e sua prática cotidiana. Mais do que nunca, julgamos emergente o comprometimento do meio libertário/anarquista com a questão de gênero, e, por isso, entendemos que, tanto o Autônomos Futebol Clube, quanto o espaço Casa Mafalda foram coniventes ao se silenciarem perante o ocorrido.

Desta forma marcamos nossa posição e declaramos que todas as tentativas de acobertamento de agressões serão encaradas por nós como continuidade do processo opressivo. Acreditamos que, se nós, enquanto libertárixs, temos coragem para confrontar o sistema, precisamos ter ainda mais coragem para encarar os processos internos aos nossos espaços que reproduzem essas formas de dominação.

Colocamo-nos em solidariedade à todas as companheiras que rompem com a corrente do silêncio e tiram os movimentos sociais de suas zonas de conforto-opressão e os colocam em questionamento. Se nossas lutas têm suas estruturas calcadas em processos de dominação do hetero-patriarcado e não estamos dispostxs a romper radicalmente com estas bases, melhor pararmos de brincar de revolução.

Nenhuma agressão ficará sem resposta

Nota

1) Texto: Quem teme aos processos coletivos? Notas Críticas sobre a ‘gestão’ da violência machista nos movimentos sociais – disponível no blog Difusora Feminista D.I.Y: difusionfeminista.blogspot.com.br/2012/… – Tradução livre feita pelo coletivo Rizoma