“Tudo para todos. Para nós, nada”, EZLN.

Recomendamos o vídeo “Severamente Punidos” que denuncia a campanha midiática contra o movimento Black Block como uma estratégia para criminalizar os protestos e incentivar a repressão policial.

Um massacre midiático prepara sempre um massacre real. Violenta é a mídia!

Veja aqui: https://rizoma.milharal.org/2013/08/31/severamente-punidos-a-midia-demoniza-o-black-bloc/

“Eu não escondo o meu rosto”

Segue um brilhante texto – só que ao contrário – sobre os “black blocs” (considere que a definição utilizada de “black bloc” é a mesma dos partidos autoproclamados esquerda e da revista veja). Assim como os ursinhos carinhosos, e futuros candidatos a vereadores, o autor do texto não esconde seu rosto e acredita nas manchetes da Folha. Boa leitura!

Retirado de: http://juntos.org.br/2013/10/eu-nao-escondo-o-meu-rosto/

“A Folha de S. Paulo traz em sua manchete, hoje, a notícia de que 95% dos paulistanos rejeitam os “black blocs”. Neste dado, duas questões chamam a atenção. Por um lado, é assustador o esforço da classe dominante em ter como alvo os black blocs. Toda sanha policial e repressão é justificada por sua existência. Com isso, esconde-se o fato do próprio fenômeno dos black blocs já refletir as deformações do sistema em que vivemos, em que boa parte da juventude é formada num contexto de profunda violência e repressão, sem qualquer perspectiva de futuro.

Ao mesmo tempo, fica claro o evidente: a tática dos black blocs é nefasta para o movimento de massas e tende a afastar o conjunto da população das manifestações.

Essa compreensão é fundamental. Sobretudo, diante de um dado que a Folha, hoje, busca mostrar de maneira tímida: 66% da população apoia as manifestações. A ampla maioria. Um número estrondoso se levarmos em conta a campanha homérica que tem feito a burguesia brasileira para tirar as pessoas da rua. Todos os dias, Jornal Hoje, Jornal Nacional, todos os telejornais e até a TV do metrô exibem fartamente cenas de violência, com o único intuito de afastar as pessoas.

Entretanto, reverter junho é uma tarefa muito dura. Que ninguém se esqueça de que, até recentemente, a maioria da população simplesmente desaprovava os protestos.

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Quem matamos Amarildo?

Retirado de: https://badernamidiatica.milharal.org/quem-matamos-amarildo/

Um artigo de Matheus Pichonelli publicado na Carta Capital chama atenção para uma relação que precisa ser estabelecida e debatida, entre o cinema brasileiro recente e a legitimação da violência do Estado. O argumento geral é o de que a plateia que vibrou com as torturas e execuções praticadas em Tropa de Elite autorizou a barbárie que hoje se volta contra ela. O Brasil que aplaudiu de pé o personagem Capitão Nascimento teria optado por negar o papel civilizacional do Estado, pois legitimava a tortura, morte e desaparecimento de muitos, incluindo Amarildo de Souza, assassinado numa UPP durante sessão de choques elétricos e sufocamentos comandada – como no filme – por um oficial do Bope.

Ainda que concordemos com alguns pontos dessa leitura, é preciso questionar outros tantos, retomando assim o intenso debate ocorrido em diversos meios – ligados ao cinema, à militância política, às universidades, etc. – na época do lançamento de Tropa de Elite. O momento atual, em que se discutem mudanças na política de segurança pública e o papel da mídia na criminalização das lutas sociais, impõe esse debate. A presente crítica ao artigo da Carta Capital (que teve o mérito de recolocar a questão) é nossa primeira contribuição nesse sentido. Ela se divide em três partes, sendo a primeira sobre a obra e sua recepção imediata (Por que os aplausos?), a segunda a respeito dos discursos sobre a violência urbana e seus lugares sociais (De onde vêm os aplausos?), a terceira sobre os pressupostos culturais que podem esvaziar uma crítica à violência estatal (Para quem são os aplausos?). A depender dos rumos deste debate, outros textos poderão ser elaborados num segundo momento.

Quem matamos Amarildo? Reflexões sobre cinema e violência no Brasil

 

Parte I – Por que os aplausos?

Tropa de Elite foi um fenômeno cinematográfico único no Brasil das últimas décadas. Sucesso absoluto de mercado (inclusive pirata), de crítica e de público, o filme invadiu a linguagem do cotidiano com os jargões do Capitão Nascimento, gerou intensos debates nos mais variados meios e polarizou posições políticas a respeito da violência estatal, dos direitos humanos, da guerra às drogas e de outros temas. Central naquele contexto era a discussão sobre as intencionalidades envolvidas na produção. Deixando de lado as visões ingênuas de que se tratava de um “retrato fiel e neutro da realidade” ou de “uma produção artística sem compromisso com seu contexto social” restavam duas posições diametralmente opostas: tropa de Elite era uma crítica ou uma legitimação dos métodos de tortura e extermínio nas favelas do Brasil.

Tanto na época quanto hoje – e apesar do que se possa dizer sobre Tropa de Elite 2 (2010) – a posição daqueles de nós que se envolveram em tal debate foi a de que o público que aplaudiu a tortura podia ter (e de fato tinha) muitos defeitos, mas não o de ser incapaz de compreender a obra. O que tinham diante dos olhos era um filme cuidadosamente construído para que a violência estatal (incluindo a tortura e o extermínio) gerassem aplausos.

Todas as opções estéticas e narrativas de Tropa de Elite se encaminham para o reconhecimento de uma figura de herói salvador e redentor no Capitão Nascimento e de uma instituição infalível e incorruptível no Bope. A narrativa a partir de um drama doméstico do narrador onisciente, ao estilo dos filmes policiais norte-americanos, produz uma identificação do espectador que poderia dar margem à crítica desde que em algum momento seus valores inabaláveis ou sua infalibilidade fossem colocadas em questão. Não é o caso, pois os discursos que se contrapõem ao do “herói” são tão toscos que levam à aversão imediata do expectador. No filme, o Bope é a única instituição não dominada pela corrupção, o que vale também para cada um de seus agentes. O “sistema” envolve moradores das favelas, policiais convencionais, universitários, todos estereotipados e estigmatizados como agentes da violência, sendo a “missão” do Bope “corrigir”, pela tortura e extermínio, os males que essas pessoas causam.

Não por acaso, no auge do sucesso de Tropa de Elite um coronel da PM se sentiu autorizado a definir sua instituição como “inseticida social”, pois a desumanização do inimigo estava garantida pela eficácia do discurso de Padilha (e evidentemente, por tudo que veio antes nesse sentido, especialmente na televisão). Naquela ocasião, disse o mesmo oficial que “quem não gosta do caveirão gosta de maconha, quem não gosta do caveirão, gosta de cocaína”. Baseando-se em Tropa de Elite, e não no cotidiano dos morros, seu discurso é verdadeiro: a reação à violência estatal só pode partir de quem tem interesses – como traficante, usuário ou policial corrupto – no narcotráfico. A constatação da relação entre mercado de drogas ilícitas e violência, que poderia servir para questionar a política de guerra às drogas, apenas a reforça. O filme se presta integralmente à defesa da indústria da morte garantida pela criminalização.

Como afirma outro texto que dá sequência a este debate (escrito por Antônio David e publicado no Viomundo), a capa da revista Veja que cristalizou a imagem do Capitão Nascimento como “primeiro super-herói brasileiro” incentiva uma política aberta de tortura e extermínio, num discurso que abusa de eufemismos (como chamar o personagem de “implacável com os bandidos”). Porém, boa parte do que diz aquele semanário sensacionalista encontra sustentação na própria narrativa do filme (sobretudo o primeiro, ainda que a capa tenha vindo na esteira do segundo).

Se uma revista sem nenhuma seriedade jornalística ou compromisso com a democracia criou um super-herói torturador de pobres e negros, seu trabalho foi facilitado por Padilha, que forneceu todas as peças e uma narrativa convincente para essa nova figura do Panteão Nacional – que, aliás, já contava com personagens históricos que cumpriram papéis semelhantes. (Um parênteses: Duque de Caxias, cultuado até hoje como patrono do Exército Brasileiro, se apresentava como “pacificador” diante dos “bandidos” do sertão do Maranhão, que nada mais eram que camponeses rebelados contra as arbitrariedades e o racismo do Estado. Tal como o Capitão Nascimento, ele os exterminou de forma “implacável” e pode legitimamente ser reconhecido como seu precursor.)

O discurso de Tropa de Elite, apropriado e adaptado (mas não inventado) pela mídia conservadora legitimou, como sabemos, as operações de guerra e a criação das UPPs no Rio de Janeiro. Os brasileiros se acostumaram a remakes de Tropa de Elite, com direito a rajadas disparadas de helicóptero e a defesas da tortura como método. Os aplausos continuam, pois o filme já ensinou que os tiros só atingem “bandidos” (nenhuma vítima executada pelo Capitão Nascimento é, como Amarildo, apenas morador do morro) e que a tortura é infalível e necessária (nenhuma vítima de tortura em Tropa de Elite é, como Amarildo, alguém sem envolvimento com o crime e, portanto, incapaz de revelar algo de “útil”).

Amarildo, a vítima-padrão do Bope, não existe em Tropa de Elite, pois os “homens de preto” são infalíveis e suas vítimas são “bandidos”.

O Caveirão, instrumento-padrão do Bope, também não existe em Tropa de Elite, pois os “homens de preto” são destemidos e não os covardes da vida real.

Tudo isso são opções narrativas e estéticas que tendem a provocar aplausos em um público já envolvido pelo discurso da mídia corporativa, que divide o mundo em “cidadãos de bem” e “bandidos”. Nesse discurso, a decisão sobre a vida e a morte, nas mãos dos “infalíveis” do Bope, tem por critério o caráter bom ou mau do indivíduo e não os cortes de classe e raça que os dados sobre violência no Brasil demonstram fartamente. Ao contrário do que afirma o texto de Carta Capital, ser alvo ou não da violência estatal não é questão de sorte e o fato de o primeiro Tropa de Elite terminar com a arma apontada para a plateia não gera qualquer identificação com quem está na mira. Voltaremos a isso num outro momento.

Não, estas armas não estão apontadas para todos os brasileiros.

Considerando essas e outras opções, é nítido que Padilha desejou aqueles aplausos, ainda que provavelmente não pudesse prever o quanto seria bem sucedido. Pode ter desejado por convicção ideológica (lembremos que o diretor é colaborador do think tank conservador Instituto Millenium) ou por esses aplausos representarem um maior sucesso para sua mercadoria. Mas é ingenuidade crer que não esperasse que sua narrativa fosse apropriada para uma maior legitimação da violência estatal. É difícil imaginar que um diretor de reconhecida competência e capacidade técnica e artística como é José Padilha (talento reconhecido até por Hollywood, que colocou em suas mãos o novo Robocop) tenha feito tantas opções coerentes sem querer.

Mas o leitor pode perguntar: e Tropa de Elite 2? Ele não nega essa intencionalidade ao mostrar tanto os podres da política de segurança quanto as boas intenções de um crítico dos massacres nas favelas? Sem dúvida há uma mudança de perspectiva e uma narrativa mais complexa nessa sequência, mas o essencial já estava dito e podia ser pressuposto. A complexificação da narrativa vai no sentido de integrar a corrupção política à violência urbana. A legitimidade da violência estatal é pressuposta, o problema está na “corrupção”. Afinal, que dizer da cena em que Mathias, um digno oficial do Bope é assassinado ao tentar cumprir seu dever de policial honesto, torturando um “bandido”? A identificação do público deve ser, mais uma vez, com quem tortura para fazer o bem e que, neste caso, é vítima de quem executa para fazer o mal.

Tropa de Elite 2 de fato é um filme crítico à política de segurança no Brasil, mas trata-se da nossa conhecida crítica moral à corrupção e não da necessária e urgente crítica à violência do Estado contra sua população. De resto, com o primeiro Tropa de Elite, Amarildo já estava na conta do Padilha – como estava na de muitas outras pessoas, mas não na de um genérico “Brasil” como afirma o texto da Carta Capital. Como veremos a seguir, as responsabilidades pela violência estatal neste país não se dividem igualmente entre seus cidadãos.

De que lado você está?

Retirado de: http://daslutas.wordpress.com/2013/10/09/de-que-lado-voce-esta/

1377277_238982496257634_1727823953_n*Texto por Luis Carlos de Alencar

Aos grupos do lado de cá:

Compas, não se assustem com o achaque da mídia corporativa, ela sabe o que faz; não se admirem com os intelectuais orgânicos dos partidos, eles sabem o que dizem; não se impressionem com a burguesia que lá do alto de seu campanário começa a tremer de medo, ela sempre soube o que faz; não se preocupem com a camarilha eleitoral que se arvora a dona do caminho certo para as mudanças, ela sabe o que temer; não vacilem com a polícia pretoriana, cães fardados, racistas  assassinos, nós já vivemos todos os dias o que eles fazem; não temam os congressos brasileiros e o recrudescimento das leis engaioladoras, já faziam isso, sabemos. Compas, os grupos do lado de cá, somos diferentes, várias pautas, modos de agir, táticas diversas, pensamentos divergentes, nós não sabemos o que virá, mas se for para virar, viraremos juntos: ônibus, camburão, mídia corporativa, intelectuais orgânicos dos partidos, a burguesia, a camarilha eleitoral, a polícia, os congressos, e tudo o mais que durante todo esses 25 anos de democracia representativa brasileira não nos permitiu avançar na luta contra o autoritarismo e na defesa do bem comum contra sua expropriação pelo capital neoliberal. Queremos mais! Democracia radical e o fim do capitalismo.

Aos grupos do lado de lá:

Continuem, nós já sabíamos do que vocês são capazes para resguardar vossos privilégios. Continuem, defendam a sua zona de conforto, a malta está nas ruas, a turba está chegando, os Piratas do Tietê não deixarão pedra sobre pedra. Continuem, façam o discurso cínico que sempre sedimentou o autoritarismo na sociedade brasileira, aquela mesma postura que assentou as vigas da exploração do capital sob todos os cantos em que nossos olhos podem pousar, em nossas casas, em nossas ruas, em nossas cidades, no campo, no céu, no ar, em nossos corpos negros, indígenas, sodomitas, femininos, travestidos. Continuem, vocês sabem muito bem o que podem perder. Mas a maioria de vocês já perderam uma coisa: a dignidade, a capacidade de se distinguirem, foi por terra toda a diferença. Nós mostramos a vocês, que sabem, que agora não são distintos dos seus. Vocês jogam as bombas, atiram as balas, miram em nossas cabeças, querem-nos ajoelhados para que possam continuar vossa caravana da morte. Vocês são nossos inimigos também.  E a morte? Nunca a tememos. Essa sempre esteve aqui, do nosso lado. Brasil, país onde 80 mil pessoas morrem assassinadas todos os anos. Todas elas estão aqui, do nosso lado agora. Nós não somos mil, 5 mil, nem 100 mil marchando: nós somos os milhões que tombaram na sanha cruel da vossa indiferença, da cumplicidade assassina de quem atira e de quem faz de conta que não atira.

E aos que acham que não estão em nenhum dos lados: sejam rápidos, essa história não permite coadjuvantes. Somos todas protagonistas. De um lado ou de outro.

Severamente Punidos – a mídia demoniza o Black Bloc

O vídeo denuncia a campanha midiática contra o movimento Black Block como
uma estratégia para criminalizar os protestos e incentivar a repressão
policial. Lembramos aqui que o mesmo aconteceu em Gênova em 2001. A
campanha da mídia italiana contra os Black Blocks legitimou a repressão
policial que resultou na morte de Carlo Giuliani, assassinado por um
policial com dois tiros a queima-roupa durante uma manifestação, e no
massacre da escola Diaz, quando uma operação envolvendo mais de 300
policiais deixou 82 feridos, 63 hospitalizados e uma jovem em coma.

Um massacre midiático prepara sempre um massacre real. Violenta é a mídia!

Coletivo Baderna Midiatica

blog: https://badernamidiatica.milharal.org/

facebook: https://www.facebook.com/badernamidiatica

Recomendamos o documentário “Del Poder”, que retrata os episódios da luta antiglobalização em Gênova no ano de 2011:

En Génova 2001 el enfrentamiento entre el Estado y los movimientos sociales dejó ver la verdadera naturaleza del poder. La represión policial fue la respuesta a la más numerosa protesta que se había vivido hasta el momento. Trescientos mil manifestantes vieron de frente el lado más violento de la democracia.

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