Rizoma por Deleuze e Guattari (Introdução de Mil Platôs [Capitalismo e Esquizofrenia])

Rizoma – Deleuze e Guattari em pdf

 “Contra os sistemas centrados (e mesmo policentrados), de comunicação hierárquica e ligações preestabelecidas, o rizoma é um sistema a-centrado não hierárquico e não significante, sem General, sem memória organizadora ou autômato central, unicamente definido por uma circulação de estados. O que está em questão no rizoma é uma relação com a sexualidade, mas também com o animal, com o vegetal, com o mundo, com a política, com o livro, com as coisas da natureza e do artifício, relação totalmente diferente da relação arborescente: todo tipo de “devires”.”

Gilles Deleuze e Félix Guattari

Texto extraído de Mil Platôs (Capitalismo e Esquizofrenia) Vol. 1

 Tradução de Aurélio Guerra Neto e Célia Pinto Costa

 1.INTRODUÇÃO: RIZOMA

 Escrevemos o Anti-Édipo a dois. Como cada um de nós era vários, já era muita gente. Utilizamos tudo o que nos aproximava, o mais próximo e o mais distante. Distribuímos hábeis pseudônimos para dissimular. Por que preservamos nossos nomes? Por hábito, exclusivamente por hábito. Para passarmos despercebidos. Para tornar imperceptível, não a nós mesmos, mas o que nos faz agir, experimentar ou pensar. E, finalmente, porque é agradável falar como todo mundo e dizer o sol nasce, quando todo mundo sabe que essa é apenas uma maneira de falar. Não chegar ao ponto em que não se diz mais EU, mas ao ponto em que já não tem qualquer importância dizer ou não dizer EU. Não somos mais nós mesmos. Cada um reconhecerá os seus. Fomos ajudados, aspirados, multiplicados.

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Teoria da alienação, organização política e o movimento estudantil da USP

Retirado de: http://passapalavra.info/?p=67274

A mesma contradição de interesses intrínseca à divisão do trabalho está contida no interior dos partidos políticosPor Matheus Nordon Preis

O ano de 2012 parece ter colocado em evidência a última pista necessária para desvendar o mistério acerca do estado deplorável em que se encontra o movimento estudantil da Universidade de São Paulo (USP). Prevendo o fim do mundo, as organizações políticas presentes no corpo discente resolveram abandonar a luta por uma sociedade mais justa, esqueceram-se dos seus ideais e seguiram reproduzindo-se enquanto pequenas estruturas hierarquizadas concentradoras de poderzinhos políticos; ou abandonaram a prática-crítica da realidade (que se aproxima cada vez mais do fim) para se reclusar no maravilhoso mundo do discurso, onde podem fazer o que quiserem e descansar confortavelmente da realidade conflituosa e contraditória; um mundo que nunca sofrerá mutações nem acabará.

Deixando de lado a crueldade do tom irônico, pretende-se fazer uma crítica das relações sociais engendradas pelos partidos no meio político dos cursos. É preciso destacar que trata-se de uma pequena crítica estrutural, não de uma crítica moral ou pessoal a seres complexos – dotados de desejos e medos – que não são individual, ou naturalmente, responsáveis pelas dinâmicas problematizadas. Toma-se aqui por partidos: organizações políticas totais (i. e. que não se restringem a tratar de temas específicos) institucionalizadas, de estrutura hierarquizada, que possuam um projeto de escalada ao poder político.

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Democracia direta e representativa e a USP (por Hugo Scabello)

Versão em pdf: Democracia direta e representativa e a USP pdf

Hugo Scabello, priemeiro semestre de 2012.

Assembleia, autogestão e democracia direta; eleição, heterogestão e democracia representativa

Por participar duma tendencia estudantil que possui como dois pilares a autogestão e a democracia direta, considerei como importante elaborar um texto visando destrinchar estes, além de construir uma defesa a eles e criticar a forma representativa de se fazer política – a qual atualmente disputa espaço, poder e legitimidade com a direta no movimento estudantil. Em outras palavras: como entendemos que a política deva ser organizada e executada, porquê entendemos assim, e porquê somos contra a forma representativa de se fazer política.

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Sobre os bons policiais

Texto escrito por Mandi para o zine Falando pro Mundão.

Sobre os bons policiais

“E quem pacifica a polícia?” – dizia um cartaz que li dia desses. Não sei. Não sei, pois não há diálogo entre quem porta uma arma versus quem tem somente a própria boca (ou a maioria das bocas do mundo!).

Também me pergunto, como uma das músicas da Frente 3 de Fevereiro, “quem policia a polícia?”. Mas dessa, eu sei a resposta: todas e todos nós. E, se considerarmos que o mundo se divide entre dominante x dominado; oprimido x opressor; quem manda xquem obedece; quem tem dinheiro x quem não tem… Podemos dizer que há duas versões sobre a atuação policial. Em qual você acredita?

Em nenhum momento que a Globo, a Veja (a mesma coisa, né?!) ou Estado defendem a polícia, o estão fazendo sem algum interesse. Para a grande mídia (que são empresas), para as grandes empresas (que patrocinam a grande mídia), para o Estado (que facilita a vida de grandes empresas) e para empresários (que mandam no Estado), é fundamental fazer com que todo mundo acredite que o policial é o herói, o mocinho que nos salva de todo mau, o que não é mentira. Para eles. Os dominantes. Para os que tem dinheiro e propriedades a serem defendidas (e vendidas e compradas e leiloadas).

Já diria Facção Central: Isso aqui é uma guerra. E além disso, também nos diria que na guerra, o mais inocente é o favelado de fuzil russo. Isso porque, enquanto eu escrevo esse texto (e você lê!), milhares de moleques pegam em seus primeiros revolveres, enquanto ninguém vê. Enquanto ninguém quer saber se o moleque já comeu, mas se a lei permite que ele seja preso. Enquanto tudo que importa, é ver o bom policial expulsando mais uma família sem teto (que é a família do menino…) dum predio qualquer. A polícia que eu conheço defende a propriedade, não o ser humano.

A polícia que eu vejo é a que está em guerra, todo dia, contra o povo pobre dos bairros não nobres e periferias. A polícia que eu conheço é a vilã. Que enquadra todo pobre que ousa pensar que é livre para andar nas ruas. A polícia que conheço tem o “suspeito padrão”, o ser humano que será perseguido desde que nasceu. A polícia que conheço é racista.

De onde venho, a polícia me faz engolir bandeira e faixa, se resolvo agir, me manifestar ou fazer parte de movimento social. A polícia bate em 100, 200, 500, se resolvemos abrir a boca, se cansamos dos enquadros, do racismo… Da fome, da falta de emprego, da falta de perspectiva, da falta de casa pra morar. A polícia que conheço taca bomba de gás e bala de borracha em manifestante que, na falta de tudo, tem esperança de sobra. A polícia que conheço não é povo.

Se a televisão me diz que a polícia protegeu a esposa do empresário de ser assaltada, eu digo pra televisão (eu falo sozinha), que nos bairros escuros, aqui de baixo, o policial estupra a mulher, estupra a menina. Elas não são nem a esposa nem a filha do empresário. Aqui em baixo a polícia é o demônio, personagem central nesse inferno.

Até quando fecharemos nossos olhos? Até quando o inimigo nos convencerá?

Fora polícia! Dos bairros, favelas, escolas e vidas!

(Texto dedicado à todas as pessoas mortas pela polícia – que são muitas! – em especial às dos últimos dias, em que a chacina pulsa diante de nossos olhos)

Por Mandi