“Buscando uma perspectiva autônoma e libertária da construção do movimento, acreditamos que se faz necessário colocar questionamentos como: qual a real utilidade de um DCE e a validade de uma assembleia ‘submetida’ a ele? Será que uma assembleia burocraticamente submetida ao DCE serve de alguma coisa? Não há de fato possibilidade de mobilização que não seja passando pelas entranhas do Diretório?” (trecho do panfleto)
O que não falta no movimento estudantil uspiano são as críticas à direção do DCE e à falta de efetividade das assembleias. Porém, existem formas diferentes de fazer essas críticas e as mais comuns são aquelas elaboradas pela própria esquerda tradicional que as encaminham sempre na mesma direção: as críticas se limitam à gestão, e nunca são capazes de colocar a problemática que envolve a própria existência e constituição da entidade “representante” do Movimento. A esquerda tradicional e heterônoma parece não conseguir se desvincular do papel de “oposição ao DCE”, o que dificulta a busca de uma atuação política que não se paute pelo ‘órgão central’.
Como sempre, criticam o rei, sem contestar o trono.
O modelo de assembleia que vem sendo adotado é o de um espetáculo. Como grande parte dos grupos organizados tem um discurso “único” para ser defendido na assembleia, o grupo com mais militantes – mesmo que sem nada a dizer – ganhará a maioria das falas no sorteio e poderá monologar por mais minutos na frente da plenária, como se todxs estivéssemos ansiosxs para sermos iluminadxs pela “sabedoria” dxs “nossxs representantes”. As duas horas que sempre perdemos com essas falas repetidas, com essa reprodução de cartilhas programáticas de organizações, são as mesmas que faltam ao final da assembleia, na hora de votar coisas importantes (como greves, ocupações…) – mas elas já foram gastas com a repetição ‘ad nauseum’ da agenda de um ou dois partidos.
Não precisamos nos esforçar também para perceber que existem “animadores de torcida” que, de costas para a mesa e sem prestar atenção às falas, chamam gritos de guerra e indicam aos militantes de suas organizações em quais propostas votar. Como se estes estivessem em uma graaaande excursão e precisassem de umx guia para lhes explicar o que e quando fazer. Também vale o questionamento sobre a quem a assembleia tem servido, pois a partir dela – por mais que as deliberações sejam contrárias – o DCE segue organizando atos sem graça na frente do papai Rodas, com uma pauta esdrúxula de “quero votar no papai” e, ainda por cima, com ares de quem está “representando o movimento”.
Observemos a experiência da assembleia realizada na POLI em 20/agosto/2013, uma assembléia “legítima”, segundo os critérios estabelecidos pelo diretório. Nesta assembleia assistimos horrorizadxs a uma mesa que, confortável perante uma plenária com maioria de seus/suas militantes, tratorou absolutamente todas as votações para que suas pautas fossem colocadas como ‘eixos de mobilização’ e sua proposta de calendário passasse a ser a de todo o Movimento. Já havia sido manifestado, em outras assembleias, que o eixo de “Diretas para Reitor” não é o eixo de luta que se quer construir para o movimento. Mas o DCE segue, reiteradamente, ignorando as deliberações de assembleias passadas, e a cada momento precisamos reabrir pontos de pauta até que o DCE consiga novamente passar seu eixos e apoiar-se em uma falsa legitimidade para suas pautas. É como se nossas assembleias fossem grandes “consultas à oposição” e xs membrxs do DCE muito generosxs por estarem nos “ouvindo”, mas que no fim das contas seguirá atuando de acordo com seu programa à revelia da construção coletiva da assembleia.
A questão é: xs dirigentes do DCE fazem isso porque são maus/más? bobxs e chatxs? Sim e não. Mas fazem isso principalmente porque podem, e só podem porque nós permitimos.
Uma mesa manipuladora – ou folgada mesmo – só existe a partir do momento em que se cria um ambiente de permissão para isso. O ambiente perfeito para uma mesa que gosta de tratorar é aquele em que a maioria é militante de seu partido ou organização e no qual as pessoas que possuem críticas não conseguem se desvencilhar dos modelos e estruturas pré-estabelecidas como certas e necessárias. A ‘mesa folgada’ é tanto causa quanto consequência do esvaziamento – tanto político quanto de pessoas – das assembleias.
Isso faz retomar nossa responsabilidade em estar presente e participar das assembleias.
Buscando uma perspectiva autônoma e libertária da construção do movimento, acreditamos que se faz necessário colocar questionamentos como: qual a real utilidade de um DCE e a validade de uma assembleia ‘submetida’ a ele? Será que uma assembleia burocraticamente submetida ao DCE serve de alguma coisa? Não há de fato possibilidade de mobilização que não seja passando pelas entranhas do Diretório?
Talvez já tenha passado da hora de começarmos a pautar assembleias que tenham autonomia perante o DCE. No fim das contas, nunca precisamos de um DCE para construir as mobilizações (vide as “grandes contribuições” que nossxs burocratas de plantão tiveram em 2011 ou mesmo nas mobilizações de junho).
As assembleias – tanto de curso, quanto geral – são um importante momento de organização da luta de nosso Movimento. São nelas que nos encontramos e debatemos iniciativas que achamos importantes, sendo a divergência de posições e opiniões algo intrínseco a elas. No entanto, o que temos assistido é um monopólio absurdo desse espaço por parte de uma direção burocrática que nada faz além de descer pautas alienígenas à todxs nós, e lançar boletins com cores que mudam de acordo com a tendência do verão. Enquanto que nós, por outro lado, temos sido incapazes de quebrar com esse monopólio e temos nos perdido mais e mais no labirinto da alienação burocrática. Cabe a nós reconstruirmos esse espaço, ou construirmos um novo que, desvencilhado do monopólio formal do DCE, consiga encaminhar ações a serem desenvolvidas pelo conjunto dxs estudantes de nossa Universidade e que faça a luta no interior dessa instituição avançar até que consigamos romper os muros que nos separam e nos sufocam.
Reforçamos a importância da construção das assembleias junto aos cursos, onde o debate pode ser feito com mais calma e menos disputas partidárias. É este espaço que precisa ser fortalecido com análises de conjunturas e debates sobre formas de atuação. À assembleia geral cabe apontar eixos que organizam o movimento. A força e o objetivo do movimento deve estar acima de qualquer que seja a pauta programática de um grupo específico. Nunca deixamos de lutar esperando que o DCE nos convocasse! Fazemos um chamado geral para que todxs xs estudantes sejam protagonistas das mobilizações e não agentes passivos à espera da direção de uma instituição falocêntrica que se debate em busca do poder. Construir a luta é também construir os espaços por onde ela se dá!