Como funciona a repressão durante os mega eventos?

“As liberdades não se concedem, conquistam-se.”
― Piotr Kropotkin

Alguns links:

1) Desde a 1999, em Seattle, os autonomistas tem se fortalecido com nossa principal arma: a informação. Os Advogados Ativistas traduziram um documento explicando como funciona passo a passo a repressão durante  períodos de mobilização contra grandes eventos.

http://advogadosativistas.com/como-funciona-a-repressao-no-mundo-a-6-dias-antes-da-copa-prepare-se/

2) Um exemplo pouco comentado: 1968, um mega evento ocorreu no México, as Olimpíadas. O movimento estudantil se levantou contra o evento, ocupou o centro da cidade e conseguiu mobilizar boa parte da população. A repressão que se instaurou contra os protestos deixou um número incontável de feridos e mortos, até hoje não esclarecido.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_Tlatelolco
http://www.camacho.com.mx/tlatelolco68/indice.html


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LEMBREM-SE: apesar de tudo, a maior arma do Estado é o medo. Se deixarmos de protestar, ele venceu. Seguiremos nas ruas: atentxs e fortes!

A brutalidade da PM paulista e a mentira na TV

Por Patrícia Rodsenko, no Facebook

É com tristeza e indignação que venho compartilhar com vocês como me tornei recentemente mais uma das vítimas do nosso fracassado sistema de segurança pública. Na última quinta-feira, 15 de maio, enquanto voltava para casa durante os protestos que tomavam a Avenida Paulista e a Rua da Consolação, fui brutalmente atingida por um dos armamentos que a Polícia Militar do Estado de São Paulo tem usado para conter manifestantes e, como ocorreu comigo, qualquer outra pessoa que esteja ao alcance de suas ações desmedidas e injustificáveis.

Após sair de um cinema com uma amiga na Rua Augusta, fomos para um café ali perto e aguardamos um pouco. Quando a manifestação já parecia ter se dispersado, fomos para a Rua da Consolação pegar nosso ônibus.

Foi nesse pequeno trajeto que tudo aconteceu. Enquanto um grupo de manifestantes tentava se reunir novamente, duas viaturas policiais subiram no sentido oposto atirando bombas e outros dos seus artefatos “não-letais”.

Ouvi dois grandes estouros e logo depois senti uma pancada muito forte no meu rosto, na região dos olhos. Sem entender direito o que havia acontecido, percebi apenas que eu sangrava muito. Minha roupa estava cheia de sangue e eu não conseguia mais abrir meu olho esquerdo. Fui socorrida por minha amiga, cuja presença foi inestimável, e por pessoas que estavam na rua no momento. Alguns médicos que participavam de uma conferência num hotel próximo ao Metro Paulista também me deram os primeiros socorros. A todos gostaria de agradecer imensamente pela solidariedade.

Pensei que ficaria cega, mas por absoluta sorte meu olho não foi atingido. Concluí depois que, infelizmente, a sorte é muitas vezes a única coisa que nos protege da violência policial. Tive “apenas” o nariz quebrado e, segundo o relato médico que tive ao ser atendida no Hospital das Clínicas, uma lesão no osso abaixo dos olhos. E eis o resultado de mais uma ação policial: alguns pontos no rosto, anti-inflamatórios que não consegui adquirir pelo sistema público de saúde, uma cirurgia que farei nesta semana para reparar meu nariz e, o que talvez mais me dói como cidadã brasileira, mais um profundo golpe nos nossos direitos. Em nome da ordem pública e da preservação do patrimônio, se ignora outro dever constitucional do Estado em matéria de segurança pública: a proteção da integridade e da incolumidade das pessoas.

Por que tanta repressão arbitrária? Por que tanto despreparo, tanta violência? Para impedir manifestantes radicais de danificarem bancos e lojas, a polícia atira assumindo o risco de cegar alguém aleatoriamente? Não há inteligência policial para evitar excessos sem pôr em risco a vida de todos nós? É mesmo essa a policia que foi instituída como um dever do Estado para proteger a população? Uma polícia que atira no meu rosto é uma polícia que nos põe em dúvida com relação ao seu próprio sentido de existir!

Não pretendo entrar na discussão política sobre os gastos com o Mundial da FIFA, a qualidade dos serviços públicos no Brasil ou o verdadeiro nível de democracia em nosso país. Essas são discussões extremamente importantes, mas que ficam ofuscadas quando nosso direito básico de ser protegido pelo Estado se transforma na possibilidade de ser atacado por ele arbitraria e brutalmente.

Como um direito humano fundamental, o verdadeiro sentido da segurança jamais será o de uma prerrogativa do Estado para se defender de críticas e dos seus opositores, mas um direito que todas as pessoas têm de não se sentirem vulneráveis em relação à violência de quem quer que seja.

Como alguns de vocês sabem, moro numa das regiões mais pobres da cidade mais rica do país. Aqui, cada pessoa que sabe da violência que sofri me aconselha a não seguir adiante com meu testemunho e a não buscar reparação judicial pelo que estou sofrendo. Infelizmente, as pessoas (e a minha mãe talvez mais que todos) temem que eu possa ser alvo de retaliações policiais.

Até quando seguiremos nos sentindo vulneráveis e impotentes diante da violência? É dessa outra segurança, aquela que nos permite não ser refém do medo, que precisamos para nos tornarmos um dia a sociedade que desejamos ser. É dessa outra segurança que eu e os vários jovens brasileiros que sofrem nas periferias do país precisamos. É dessa segurança que precisam inclusive os policiais que cometem esses atos totalmente descabidos e lamentáveis, moradores que são eles também dessas mesmas periferias abandonadas pelo poder público.

Pelos jornais, pude ver que na última quinta-feira, quando fui vítima do despreparo policial, o Brasil assistiu a dezenas de manifestações em várias cidades do país. Eu não estava na manifestação que ocorreu aqui em São Paulo, mas sou totalmente a favor da população se reunir e expressar suas insatisfações com o Estado. Quantas vezes forem necessárias.

Não é um favor o que os governos fazem ao deixar a população ir às ruas se expressar. É uma obrigação! A liberdade de expressão é um direito do cidadão, não é? Está na constituição, não está? Por mais que se tente, não posso culpar qualquer manifestante “radical” pelo que me ocorreu. A polícia precisa aprender a lidar com eles, com todos os outros manifestantes e não manifestantes sem abandonar outros valores fundamentais para todos nós. Sairemos crescidos desse momento político se formos capazes desse gesto.

Ontem, assisti no jornal de maior audiência do país que a Secretaria de Segurança de São Paulo desmentiu a “mulher ferida em protesto”. Eu, Patrícia Rodsenko, já apenas mais uma pessoa na estatística da violência, estava enganada quando imaginei ter sido atingida por uma bala de borracha disparada pela PM.

A Secretaria afirmou em nota que garantiu zelosamente o direito à livre manifestação e que balas de borracha não foram usadas em nenhum momento no protesto. Não pretendo entrar numa discussão semântica sobre qual o nome do artefato que atingiu meu rosto na última quinta-feira. O fato inegável é que, sendo estilhaço de bomba ou bala de borracha, esse objeto quebrou meu nariz e por pouco não me cegou.

O sangue que permanece insistente na roupa que usava no dia é inegável e foi resultado de uma violência cometida em nome e sob a responsabilidade desta mesma Secretaria de Segurança. No meio dessa disputa com a opinião pública para mudar de nome os mesmos gestos injustificáveis, me pergunto apenas porque o Estado de São Paulo teria aceitado do Governo Federal em março desse ano 314 kits com armas de balas de borracha para combater protestos na Copa deste ano. Afinal, a Secretaria de Segurança diz não fará qualquer uso deles.

ATO dia 15 de maio: 15M – Dia Internacional Contra a Copa do Mundo de 2014

O Comitê Popular da Copa SP (articulação horizontal e apartidária) está organizando o dia internacional de lutas contra a copa da FIFA que será em 15 de maio, às 17h, saindo da Praça do Ciclista (Av. Paulista) em direção ao estádio do Pacaembú.

Nosso lema será: COPA SEM POVO, TÔ NA RUA DE NOVO!

Qual o legado da Copa de 2014?
– 8 mortes nas arenas da Copa e mais 3 em outras que seguem o mesmo modelo;
– 250 mil pessoas removidas à força de suas casas;
– trabalhadores ambulantes e artistas independentes impedidos de trabalhar;
– mulheres, criancas e adolescentes sofrendo com exploracao sexual;
– pessoas em situacao de rua sofrendo violência;
– empresas tomando conta de nossas ruas e espacos publicos;
– elitização dos estádios de futebol;
– bilhoes investidos em armamentos para a policia usar contra o povo;
– leis de excecao que criminalizam o direito de manifestar;
– e uma enorme e questionavel divida publica para a população pagar.

Responsabilizamos por isso as corporações patrocinadoras e construtoras da Copa, as máfias FIFA e CBF, os governos municipal, estadual e federal, os parlamentares e o poder judiciário!

O que queremos?
É verdade que a maior parte das violações para realizar a “Copa das Copas” já foi cometida, mas ainda existem possibilidades de revertermos o legado deste megaevento.
– moradia digna para todas as pessoas removidas! Chave a chave!
– fim da violência estatal e higienização das ruas do centro da cidade
– Revogação imediata das áreas exclusivas da FIFA previstas na Lei Geral da Copa e permissão ao trabalho ambulante
– Criação de campanhas de combate a exploração sexual e ao tráfico de pessoas
– Não instalação dos tribunais de exceção da FIFA
– Revogação da lei que concede isenção fiscal à FIFA e suas parceiras comerciais
– Arquivamento imediato dos PLs que tramitam no congresso, e normas infra-legais emitidas pelos governos, que tipificam o crime de terrorismo e avançam contra o direito à manifestação, criminalizando movimentos sociais e fortalecendo a violência contra a população pobre e a juventude do país.
– Desmilitarização da polícia e fim da repressão aos movimentos sociais

Exigimos nosso direito à cidade e nossa liberdade de manifestação!

Leia mais textos no Blog: https://comitepopularsp.wordpress.com/

Sem moralismo! Protesto em SP em solidariedade à luta no RJ

A MAIOR FALÁCIA DO SUPOSTO “ESTADO DE DIREITO” É A QUE DIZ QUE ELE TEM A POSSE DO MONOPÓLIO DA VIOLÊNCIA

Manifestação em SP – 26/7/2013:  http://www.youtube.com/watch?v=EK6TlkVayz0

O SALDO BANCÁRIO

O que prometia ser um ato tranquilo, simbólico apenas, dado o baixo quórum na concentração dos manifestantes no vão livre do MASP, se tornou uma noite… estilhaçada.

Assim que partiu em marcha, parando a Av. Paulista, o protesto contra Sérgio Cabral, marcado em solidariedade aos cariocas, rachou.
De um lado grupos que emergiram com os protestos, vestindo bandeiras do Brasil, alguns de cara pintada e um discurso de indignação difusa.
Do outro, o Black Bloc, jovens de rosto coberto e bandeiras anarquistas.

Em comum, apenas os gritos contra o governador do Rio e algumas máscaras de Guy Fawkes.

Os dois grupos disputavam a frente da manifestação. Os verde amarelos puxaram o coro ao megafone, imediatamente apoiado por uma ala dos “civis” que não pertenciam a grupo algum:
– Sem vandalismo!

Imediatamente recebido com vaias pelo Black Bloc e por dezenas de “civis” que, mesmo sem máscaras ou capuzes, simpatizavam com os anarcopunks:
– Sem moralismo!

Foi quando os primeiros relógios públicos começaram a ser destruídos. Em seguida, uma agência do Itaú. Vidros, caixas eletrônicos estourados. Corrimãos arrancados que se tornaram bastões para o Black Bloc. Uma turma se posicionou próximo de quatro policiais que estavam na frente de outra agência do Itaú. Sem confronto físico, cercaram os PMs que, após receberem ordens pelo rádio, se retiraram do local. Daí em diante, não se viu mais um policial, uma viatura pela próxima hora. Bancos foram sistematicamente depredados.

Os poucos funcionários que estavam dentro de algumas agências, alguns em pânico, foram protegidos e retirados por alguns mascarados que os acalmavam. Enquanto outros seguiam arrebentando vidros e equipamentos da agência. Um grupo tenta quebrar a vitrine de uma loja de celulares da Oi. Imediatamente coibidos pelo Black Bloc: “a Oi, não! A Oi, não!”.

Cabines da PM foram destruídas, arrastadas para a Paulista e, desmembradas, se tornaram escudos para os anarquistas que, ainda sob total ausência policial, desceram para a Av. 23 de Maio. Param a pista, fazem barricadas com lixo, cones e fogo. E, quando encontram uma van da Rede Record parada em frente ao Centro Cultural São Paulo, arrastam-na para o meio da avenida e colocam fogo.

Foi quando aparece o primeiro grupo de PMs. 3 apenas. Um saca sua pistola. O Black Bloc se posiciona. Não foge. Alguns, hesitantes, avançam. O PM guarda a arma e, com dois colegas sacam sprays de pimenta. Pedras são atiradas na direção dos policiais, mas o grupo dispensa o confronto e segue pela 23 de Maio enquanto os policiais apagam o fogo na van.

A Força Tática, batalhão chamado para conter distúrbios, apareceu por trás, quando o grupo subia pela alça leste-oeste. Gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral. E a primeira correria da noite. Ainda com um contigente baixo, a polícia não evitou que o Black Bloc destruísse parte de uma concessonária Chevrolet.

A repressão mais dura chegou apenas na Brigadeiro Luís Antônio que perseguiu os manifestantes de volta à Paulista, descendo a 13 de Maio e, em círculo, subindo a Brigadeiro de novo.

Às 22:30, depois de 4 horas e meia de protestos, a Rota, a Força Tática, o Choque e o resto da tropa se posicionam e avaliam a noite do outro lado da rua do MASP. Onde começou a reação dos paulistas ao autoritarismo de Sérgio Cabral. Sob o rotineiro proceder da PM de Alckmin: hora e meia de vista grossa e debandada policial – e súbita repressão violenta.

TEXTO: Mídia NINJA