Texto do Coletivo Quebrando Muros (PR) sobre a greve nas federais
É abaixo e a esquerda…
Por todo o Brasil, desde o dia 17 de maio, as IFES (Instituições Federais de Ensino Superior) sucessivamente deflagram estado de greve docente – já há a adesão de aproximadamente 51 IFES (segundo informe do CNG-ANG 11.06) de uma esfera de 99 instituições. Os servidores federais também deflagraram greve, em 11 de junho. Tais movimentos representam a indignação e a reprovação às políticas que vêm sendo implementadas no setor público – do qual a educação não está fora. Enfrenta-se, portanto, as políticas de corte de orçamento (R$ 5 bi só na educação em 2011-2012), a expansão sem recursos e estrutura proporcionada pelo REUNI (que aumenta em 50% o número de vagas, mas apenas em 20% as verbas) que gera salas superlotadas e sobrecarga aos trabalhadores da educação. Combatemos também projetos como a PL 549, que congela contratações e aumentos reais nos salários por 10 anos no serviço federal; a EBSRH, que privatiza os HUs, precarizando o serviço, o trabalho e o ensino; e o PNE (Plano Nacional de Educação 2011/2020) que estabelece as “metas” de curto-médio prazo do governo, cujo lema é “privatizar e precarizar”. E como se não bastasse – para dissuadir de forma muito safada os professores da greve – aos 45 minutos do segundo tempo o governo edita aMP568 – na intenção de desarticular a greve dos professores e dividir os trabalhadores – concedendo míseros 4% de reajuste à categoria, corta à metade os salários dos médicos e reduz os benefícios referentes à insalubridade.
@s estudantes são atingidos diretamente por tais questões e vivenciam em seu cotidiano o sucateamento do ensino superior público e, portanto não têm como estar de fora dessa discussão.São péssimas as condições de acesso, ensino e permanência – o tripé universitário parece cada vez mais “manco”: pesquisa e extensão desarticulam-se cada vez mais do ensino fazendo da Universidade uma “fábrica de diplomas”. E diante de tal contexto @s estudantes não tem deixado de demonstrar sua força e mobilização, já são 30 Universidades em greve estudantil. Na UFPR nós já vivenciamos uma greve estudantil em 2011 e os resultados estão aí: café da manhã no R.U – que também passou a funcionar durante sete dias por semana, servindo as três refeições diárias – aumento no número e no valor das bolsas, indicativo de construção de três Casas de Estudantes, dentre outras conquistas. Tais resultados partem de nossa organização e luta que, quando sustentada pela Ação Direta demonstra o potencial da organização dos “de baixo” ao enfrentar o Estado.
Que derrotamos as burocracias!
Agora em 2012 uma nova conjuntura se desenha, pois, como citado anteriormente, os movimentos grevistas estão por todo o Brasil e se no ano passado os enfrentamos e as subsequentes conquistas foram a nível local, agora, para ambas as categorias, está colocada a possibilidade de articulações nacionais. Para nós, essa possibilidade significa repensar todo o Movimento Estudantil! Há anos que nos encontramos “órfãos” de nossa entidade nacional – a UNE – que se nos fins da ditadura representou os setores mais combativos d@s estudantes, hoje – justamente por conta do projeto que “comprou” (o do Partido dos Trabalhadores) e sustentou – não representa nada mais do que a burocracia do movimento. Alinhada com o governo e não com as bases e não fazendo mais do que um papel de interlocutora do Estado no próprio movimento – por vezes disfarçando-se por trás de um apoio crítico, mas no geral, sendo porta voz do governo. Chegou o momento de derrotarmos esse projeto, mas e o quê por no lugar?
Hoje, nos cabe o papel de reconstruir o movimento estudantil e como antes, as escolhas irão refletir-se lá na frente – temos o exemplo, citado no parágrafo acima, do que pode significar a constituição de um movimento que tem vínculos com projetos de governo e gestão do Estado. Além disso, a forma com que iremos nos organizar irá dizer muito sobre o que almejamos! Está a surgir um movimento que vêm das bases e se auto-organiza, cujos protagonistas somos nós e onde por meio da ação direta e da democracia da base decidimos os rumos do movimento. Por outro lado, voltam a aparecer os apologistas da crise de direção, dispostos a resolver as coisas “de cima” como se a solução fosse trocar o burocrata não destruir a burocracia. Defendemos a construção pela base e pela auto-organização, somente esta pode fazer nosso projeto sólido, afinal não se pode começar uma casa do telhado. Como antes, os explorados de ontem podem se tornar os exploradores de amanhã, num ciclo de burocratização das lutas que só pode ser rompido pelo caminho que abrirmos com nossas próprias mãos, construindo juntos, de baixo para cima, entre iguais e como diriam nossos companheiros Zapatistas: “Abaixo e à Esquerda”.
Fora a todas as burocracias, força aos de baixo! Ação Direta já!
“Onde há muros, há o que esconder”
Coletivo Quebrando Muros