Passos na mobilização – Greve e Okupação USP 2013

Galera, tá treta nosso acesso à internet e estamos sim com um problema de comunicação. Pedimos desculpas a todas as pessoas que tem acessado o blog em busca de informes e tem se deparado com o vazio.Estamos tentando reorganizar tudo isso.

De qualquer forma fica o aviso que amanhã – domingo – às 16 horas estamos chamando uma conversa entre a galera libertária para pensarmos nossas posições, angústias, análises, etc. Nos vemos na Reitoria Okupada!

 

pm_usp

Grupo de Estudos Libertários – HOJE!

Segue divulgação do Grupo:

“O 4º Encontro do Grupo de Estudos Libertários será HOJE, sexta-feira, dia 04 de outubro das 17:30 às 19:30 Reitoria Okupada da USP!

Acreditamos ser de essencial importância construirmos a ocupação da Reitoria, pois nossos estudos não podemos star descolados da prática!

Texto prévio: “O que é o anarquismo” de Caio Túlio Costa, Coleção Primeiros Passos.

Texto para leitura coletiva durante o encontro: O que é anarquismo, de Nicolas Walter

Tentem levar mais cópias do texto para leitura coletiva, assim podemos distribuir para aquelxs que chegarem sem a cópia.

Nos vemos em breve!”

 

Fica o convite para todas as pessoas interessadas 😉

 

 

hkukhçl

A la mierda!

UMX PATRIOTA, UMX IDIOTA!

NACIONALISMO É O CARALHO, ESSE PAÍS É RACISTA E SANGUINÁRIO!

ABAIXO O ESTADO!

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

7 de setembro em São Paulo:

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Retirado de: http://incandescencia.org/2013/06/22/morte-ao-gigante/

O nacionalismo é objetivamente pró-fascista

O nacionalismo tem sido, ao longo da história, fiel aliado do conservadorismo dos mais fortes. Junto ao nacionalismo tem sempre vindo os valores tradicionais, a família, e Deus. O nacionalismo está sempre ali, na ranha fedida das famílias heterossexuais higienizadas do que há de mais branco no Brasil. Debaixo da bandeira, um amor pela nação. Mas o que é o nacionalismo?

O nacionalismo tem justificado atrocidades ao longo da história, através do amor pela pátria e por um “povo” que supostamente pertenceria àquela pátria. No Brasil, grupos de nacionalistas separatistas no sul e sudeste espancam e incendeiam pessoas do nordeste e indígenas. Na Grécia, nacionalistas matam pessoas estrangeiras. O nacionalismo e o autoritarismo são, se não sinônimos, também fortíssimos aliados. Há uma veia eugenista, racista, higienista que profetiza um “povo prometido” a uma terra.

O nacionalismo tem sido uma ferramenta de governos autoritários para conseguir que seu povo fosse conivente até com a mais desgraçada das decisões. Fazer seu povo apaixonar-se pela pátria, e imbuir-se de poder com este amor, porque você, enquanto Estado, é a materialização dessa pátria, é uma forma temerosamente eficiente de guinar para seu lado um rio muito caudaloso de aceitação popular. Em nome da pátria, de defendê-la, você pode invadir um país, fazer venerar um líder, cometer genocídios.

O nacionalismo torna mais vívidas as fronteiras imaginárias que dividem o globo. Que separam entre nações um proletariado sem nacionalidade. Que separam entre jurisdições os poderes ilegítimos. Que segrega em propriedades uma terra sem donos. O nacionalismo é um amigo íntimo da propriedade privada, sua deusa menor. Ele confere àqueles que nasceram dentro de determinadas fronteiras como melhores do que os que nasceram fora. O nacionalismo depende de um povo a se defender. Ele torna um dever defender e morrer por este povo. Não é por acaso que as forças armadas são recheadas de patriotismo: é preciso fazer alguém amar o Brasil para que se deixe matar por ele, para que mate  o outro povo. Porque o outro povo não é brasileiro. O nacionalismo é uma das paixões da guerra, do militarismo, porque é uma ótima retórica para justificar que você mate seus irmãos do outro lado da fronteira, ainda que seus interesses sejam comuns, ao contrário dos interesses de quem te manda matá-los. O nacionalismo nos deixa chorar por quem está deste lado e morre na fila dos hospitais, ou com as balas da guerra; e nos faz indiferentes, frios e silenciosos sobre bombas atômicas em cima dos lares dos outros. Mas não existem outros. Ilusões propostas por quem riscou as linhas. Ilusões propostas por quem teria os pilares de seu poder questionados se as pessoas percebessem serem um povo só. Ilusões que se fazem lúcidas e fortes com o grito afirmativo do nacionalismo.

der-bundesstaat-sao-paulo

Diante de qualquer crise, de qualquer insulto ao patrimônio público, diante de qualquer crise ou de qualquer problema, o Estado imediatamente corre ao patriotismo, e debaixo das cores da bandeira se pronuncia: “Não destruam o patrimônio, porque ele é do povo”. O cassetete que acerta quem milita por direitos é do povo, as bombas de gás lacrimogênio são do povo, as balas nas costas da população negra são do povo. O Estado é a materialização da nação. Ele detém o poder de ser o Brasil, de falar pelo Brasil de fazer acontecer no Brasil o que o Brasil deseja que aconteça. O Brasil não é autogestionado pelo seu povo, mas gerido por quem detém poder sobre o governo. Isto é, tanto sentimento nacionalista se resume a um sentimento não pela população, nem pela terra; mas pelo Estado. O nacionalismo é o amante mais bonito de um Estado autoritário — como todos os Estados são.

O contextualismo autoritário d’O Globo

 

“(…) o nome comum da práxis histórica só pode ser ‘genealogia do presente’, quer dizer, uma imaginação que traz a ser aquilo que existiu antes, da mesma maneira como constitui o ser por vir. Não se interpreta o passado, mas se experimenta.”

Antonio Negri, Kairòs, Alma Venus, Multitudo, p. 66.

As organizações Globo, após se verem transformadas em um dos alvos diletos das manifestações que povoaram as ruas de todo o Brasil a partir de junho (quando não em objeto principal de manifestações especificamente convocadas contra elas), lançaram um editorial aquiescendo do apoio dado ao golpe de 1964, instaurador de uma longa ditadura civil-militar, e manifestando que este erro ‘à luz da História’ (expressão que, como argumentaremos, é a chave para se entender a razão de não haver nenhuma confissão de erro, mas sim um ajuste histórico de posição das organizações) vem sendo debatido internamente desde há muitos anos, vindo à lume apenas agora por motivos do projeto Memória e sendo ‘chancelado’ pela ‘verdade dura’ exposta nas ruas.

Inicialmente, o texto intitulado ’1964′, aquiesce, de forma aparentemente severa, do erro de as organizações Globo terem sustentado o golpe, afirmando que a lembrança dessa postura, sempre exercitada por insatisfeitos com ‘qualquer reportagem ou editorial’ atual, não é refutável. ‘É História’, afirma o texto. A continuidade do texto alude, entretanto, tanto aos diversos veículos de imprensa que, assim como O Globo, apoiaram a ‘intervenção dos militares’, quanto ao ‘apoio expresso em manifestações e passeatas organizadas em Rio, São Paulo e outras capitais’, ou seja, apoio da própria população. É o primeiro passo do procedimento contextualista.

No passo seguinte, O Globo reconstitui a situação histórica e política em que teria se dado a sua intervenção editorial. Em meio a Guerra Fria, a polarização ideológica entre as forças defensoras do comunismo e do capitalismo era reproduzida em todos os países e, no Brasil, ‘ela era aguçada e aprofundada pela radicalização de João Goulart’, acusado, à época, de tentar instalar uma ‘república sindical’ no país (insinua-se a cantilena do golpe como contra-golpe preventivo). Jango teria conseguido revogar o parlamentarismo (aqui, embora, se mencione que isto se deu pela via de um plebiscito, o tom é o de que Jango logrou aceder aos ‘poderes plenos do presidencialismo’ por um golpe de mão e não por delegação soberana do povo brasileiro — quase 9,5 milhões de brasileiros votaram pelo retorno ao presidencialismo e apenas 2 milhões votaram pela manutenção do parlamentarismo). Feria-se, assim, a ‘saída negociada’ (eufemismo que designa o golpe frustrado de 1961, quando, após a obscura renúncia de Jânio, Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, iniciou um movimento de resistência, a Campanha da Legalidade, que freou a iniciativa golpista ao colocar o país na iminência de uma guerra civil caso Jango não assumisse).

Com os ‘poderes plenos do presidencialismo’ Jango teria dado início a uma radicalização da conjuntura política, ameaçando atropelar o Congresso e a Justiça para promover as reformas de base ‘na lei ou na marra’. O mote, em verdade, era dos movimentos sociais, como as Ligas Camponesas de Francisco Julião, e não de Jango e de militares próximos – um pequeno deslocamento discursivo muito útil à conformação do contextualismo justificativo do golpe. Com a explosão do movimento dos sargentos, a caserna, já ‘intoxicada’ de política, teria afundando em grave crise, e se desenhou o horizonte do golpe, uma intervenção ‘cirúrgica’, destinada a apenas a restaurar a ordem, devolvendo-se o poder aos civis tão logo o ‘perigo de um golpe à esquerda’ fosse eliminado. Não foi entretanto o que aconteceu. E é O Globo que admite:

“Não houve as eleições. Os militares ficaram no poder 21 anos, até saírem em 1985, com a posse de José Sarney, vice do presidente Tancredo Neves, eleito ainda pelo voto indireto, falecido antes de receber a faixa.”

(Corta para vinte anos depois – ficar detalhando o que ocorreu, por exemplo, entre 1968 e 1974, não seria recomendável).

Em 1984, quando o golpe completava vinte anos, entretanto, Roberto Marinho publicaria um editorial assinado na capa d’O Globo. Nele — um ‘documento revelador’, de fato, como se afirma em ’1964′ –, Marinho ressaltava a magnânima atitude do general Geisel de extinguir os atos institucionais e demais decretos ditatoriais (nada disso teria sido fruto da luta política intensa pela redemocratização, mas uma concessão de um ditador comprometido com a democracia). Além disso, destacava os avanços econômicos do regime (o arrocho salarial dos anos da ditadura e o intenso aumento da desigualdade social, apenas sanados nos últimos dez anos, não mereceram consideração) e voltava a declarar a crença de que as intervenções repressivas haviam sido ‘imprescindíveis’, não só em 1964, como ainda posteriormente, contra a ‘irrupção da guerrilha urbana’. Todo o palavrório de contestação moderada que se segue a justificação dos desaparecimentos, torturas e assassinatos (‘imprescindíveis para a manutenção da democracia!’) é tão somente a tentativa de maquiar a monstruosidade do apoio post-festum às atrocidades do autoritarismo.

A ‘mágica’ do contextualismo autoritário fica clara, entretanto, nos últimos três parágrafos do texto.

O texto d’O Globo afirma a História como ‘o mais poderoso instrumento de que o homem dispõe para seguir com segurança rumo ao futuro’ e a necessidade da contextualização na análise do ‘posicionamento de pessoas e instituições’. Invoca-se a máxima (inscrita na frase de Cícero, Historia magistra vitae est) da História como mestra da vida – que o pensamento histórico abandonou a partir da sua concepção moderna ou pós-renascentista — para assinalar que se aprende com os erros cometidos e reconhecidos.

O texto, então, opera um corte notável: os homens e as instituições que viveram 1964 são ‘história’, passado, devendo ser entendidos nessa perspectiva e, em seguida, afirma com todas as letras: ‘O GLOBO não tem dúvidas de que o apoio a 1964 pareceu aos que dirigiam o jornal e viveram aquele momento a atitude certa, visando ao bem do país.’ O que se anunciava como a confissão de um erro, através do condão da Historia e da mágica do contextualismo transforma-se, diante dos olhos incrédulos de qualquer leitor atento, numa justificação contextualizada do golpe de 1964, que, entendido nos seus termos, teria sido a ‘atitude certa’! O vertiginoso zigue-zague de opiniões prossegue no último parágrafo, quando o texto faz notar que ‘à luz da História, contudo, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro’. O procedimento contextualista do autoritarismo está completo. Operou-se um corte que instalou o erro como acerto na História (que o texto identifica com o passado) e o acerto como erro no presente.

O editorial d’O Globo se utiliza de uma diatribe corrente na reflexão sobre a história e a historiografia, segundo a qual a história só faria sentido nos termos dela mesma e, portanto — para fins de manutenção da ‘neutralidade axiológica’ do discurso historiográfico, evitando-se sua ‘politização’ — deve ser isolada, tanto quanto possível do presente, o anacronismo (ou seja, ‘um desencontro ou encontro sem cabimento; onde valores, hábitos, crenças de épocas diferentes são tratados como se fossem as mesmas coisas’) constituindo-se no pecado, por excelência, do historiador. No lugar dele, instaura-se uma homogeneização do tempo do qual o discurso histórico pretende tratar, cortando-se os fios entre passado e presente.

O texto d’O Globo parece uma boa oportunidade para que se reflita a respeito das consequências deste tipo de pensamento (amplamente disseminado) a respeito do discurso histórico e historiográfico. Mais do que isso, uma oportunidade para que se repense a centralidade do anacronismo no interior da prática histórica, não como incômodo a extirpar, mas como condição constituinte de todo e qualquer conhecimento histórico, que deve, por conseguinte, ser articulado no interior do discurso e não, pretensamente, deixado fora dele. Pensar a história (e o presente, história in actu) como instantes infinitos em que o tempo está aberto para diversos caminhos é a única maneira de impedir que discursos justificadores do autoritarismo se insinuem por dentro da própria prática historiográfica, dando azo, e validando discursivamente, operações como a que as organizações Globo protagonizaram. Mais do que afirmações peremptórias a respeito, que fique a necessidade da reflexão sobre as apropriações da história, não só como processo, mas também como regime de verdade que se articula na supressão dos diversos possíveis entre os quais os homens e mulheres de todos os tempos decidem todos os instantes.

Silvio Pedrosa.
http://oladoesquerdodopossivel.wordpress.com/2013/09/01/o-contextualismo-autoritario-do-globo/