Por que precisamos de espaços exclusivos?

Por Janaina Oliveira para as Blogueiras Negras

Uma amiga feminista me contou sobre um novo coletivo negro na sua universidade. O coletivo é fechado, restrito aos alunos negros, o que minha amiga não entendia. Ela como feminista, que sabe da importância do debate sobre a questão racial, e que se identifica muito com algumas manifestações da cultura negra, não entendia porque não podia participar daquele espaço, apenas por ser branca. Outro dia, foi a vez de tentar explicar para um amigo feminista, negro e homossexual, porque existem espaços feministas onde homens não entram.

É mais do que necessário que nós, que atuamos no sentido de promover novos discursos e garantir direitos de grupos estigmatizados, sejamos pessoas empáticas ao sofrimento do outro, e entendamos as relações entre gênero, sexualidade, raça e classe.

Porém, por mais que você tenha consciência dos seus privilégios, isso não faz com que você os perca. Querendo ou não, usufruímos dos privilégios que nos são concedidos. Muitos deles, inclusive, passam despercebidos.

Não é difícil para mim, mulher cis, reproduzir transfobia sem perceber. Rever meu privilégio é um exercício diário, é desconstruir um discurso que me foi ensinado e que ainda é o discurso vigente. É ouvir, ouvir e ouvir, refletir sobre o meu local de fala e me colocar no lugar do outro. E ainda assim posso acabar falhando, porque estou lidando com sentimentos que não são meus. E dentro de instâncias de decisão e de espaços de acolhimento, isso pode ser desastroso.

Quando penso em espaços exclusivos são essas palavras que vem na minha cabeça: acolhimento e empoderamento (e eu nem sei se é possível pensá-las separadamente).

Eu já ouvi muitas pessoas brancas dizendo que se sentem negras. Bom, cada um de nós pode se sentir como quiser. Podemos nos aproximar de culturas diversas, que podem ter ou não relação com a nossa raça ou origem. Porém, por mais que uma pessoa branca admire e se entusiasme com a cultura negra, ela continua usufruindo os privilégios de ser branca. Eu posso ser apaixonada pela cultura escandinava, que continuarei sendo uma mulher negra nascida e criada em uma sociedade racista. Ainda que se tente problematizar um conceito de raça, a polícia sabe muito bem identificar a “cor padrão”, o mercado sabe muito bem quem tem “boa aparência”, todos nós aprendemos desde cedo o que é um “cabelo bom” e um “cabelo ruim”.

feminism-4

Pode ser extremamente difícil compartilhar uma situação de violência ou expor sua vulnerabilidade diante de quem representa justamente o privilégio, o espaço que lhe é negado, o motriz de seu sofrimento. Quando falamos de opressão, não falamos apenas de política e direitos negados. Estamos falando também de dor. E falar sobre nossas dores não é fácil.

Não é fácil apenas porque dói. Reconhecê-las também é difícil, principalmente quando falamos de negritude no país do mito da democracia racial.  As nuances muitas vezes sutis de um racismo que se alia ao sexismo, produzindo estigmas que começam já na infância, que se desdobram em aspectos mais íntimos, como as relações familiares, a sexualidade, a autoestima, e as relações amorosas. Questões que geram sentimentos comuns às mulheres negras, e sobre os quais ainda estamos aprendendo.

É expondo nossas dores que ligamos os pontos, e nossos sentimentos ganham sentido. E descobrimos que de repente aquela história não é única, é uma história de muitas. É esse compartilhar que nos acolhe e nos fortalece. Somos mulheres negras e temos uma identidade em comum, uma identidade em construção, ainda desconhecida para muitas.

Criar espaços exclusivos é também criar espaços de deliberação, é promover a voz de quem é silenciado, mesmo em movimentos sociais ou organizações ditas libertárias. Eu vejo feministas brancas por todos os lados se organizando e levantando suas questões. O velho clichê “lugar de mulher é na cozinha” hoje soa absurdo, mas onde estão as mulheres negras e pobres? Ainda permanecem nos velhos lugares marcados de um passado escravocrata: o do trabalho doméstico e o da objetificação sexual.

Todo mundo já sabe que racismo e machismo andam juntos, mas na hora da discussão, somos apenas um segundo (terceiro, quarto…) assunto, uma subpauta, em prol de um feminismo que se acredita único. Precisamos entender as nossas demandas, fortalecer nossas reivindicações e exercitar nossa autonomia. O protagonismo é um elemento chave no processo de empoderamento.

Não se trata de inverter uma relação de exclusão, como alguns reclamam. É promover um local seguro de discussão para quem dá de cara com portas fechadas todos os dias. Entendendo os espaços exclusivos como locais de autoconhecimento e fortalecimento, fica claro que não há contradição com a ideia de igualdade.

Fora que espaços exclusivos não são os únicos. Há espaços para trocar com outros movimentos, para construir frentes múltiplas, para dialogar com quem não é de movimento nenhum, e até espaços para enfrentamento.

Para todas as pessoas que, muito bem intencionadas, se sentiram barradas em algum momento: não é pessoal, não é uma retaliação. Seria uma verdadeira demonstração de empatia se entendessem que apoiar espaços exclusivos é apoiar o nosso fortalecimento político, e que aliar-se é estar ao lado, não à frente.

 

Via Campesina apoia greve dos trabalhadores rodoviários no RS

Retirado de MST

5 de fevereiro de 2014

 

Da Página do MST

 

A Via Campesina no Rio Grande do Sul, em nota, manifesta seu apoio à greve dos trabalhadores Rodoviários do Transporte Público de Porto Alegre.

“O direito de ir e vir deve ser garantido a toda a população; vivemos no Brasil um processo de urbanização e concentração nas metrópoles e a mobilidade urbana é dependente do serviço de transporte público, no entanto este serviço se converteu em mercadoria, explorada por grupos econômicos e acobertada pelos executivos municipais, as Prefeituras. Para se locomover é preciso pagar caro”.

Abaixo, leia a íntegra da nota:

Os movimentos sociais camponeses do Rio Grande do Sul, articulados pela Via Campesina do Brasil (MPA, MAB, MST, MMC, FEAB, CPT), vem por meio desta manifestar nosso apoio e solidariedade à greve dos Trabalhadores Rodoviários de Porto Alegre.

As vitórias que a classe trabalhadora logrou diante dos patrões foram construídas com processos de Luta e quando os trabalhadores se organizam para lutar, pela garantia e ampliação de direitos, deixam explícitas as contradições entre os que produzem a riqueza e os que se apropriam destas riquezas explorando o trabalho alheio.

O direito de ir e vir deve ser garantido a toda a população; vivemos no Brasil um processo de urbanização e concentração nas metrópoles e a mobilidade urbana é dependente do serviço de transporte público, no entanto este serviço se converteu em mercadoria, explorada por grupos econômicos e acobertada pelos executivos municipais, as Prefeituras. Para se locomover é preciso pagar caro.

Denunciamos as manobras realizadas pela Prefeitura municipal de Porto Alegre, pelos empresários que exploram as concessões públicas do transporte e pela RBS TV, que difamas e distorcem as informações sobre a greve, apontando os trabalhadores do transporte como responsáveis pelos transtornos na cidade, colocando a população contra os trabalhadores Rodoviários.

Os verdadeiros responsáveis pelos transtornos são os empresários e a prefeitura que não atendem as reivindicações dos trabalhadores e não garantem o serviço de transporte público.

A greve é uma ferramenta de luta das trabalhadoras e dos trabalhadores assegurado pela constituição do nosso país, denunciamos também o poder judiciário que se coloca ao lado dos patrões e não garante os direitos dos trabalhadores.

Os camponeses do Rio Grande do Sul Prestam Todo apoio e solidariedade a greve das trabalhadoras e dos trabalhadores do transporte público de Porto Alegre.

Transporte público não é mercadoria, por um transporte publico gratuito e de qualidade.

 

Seguimos firmes e fortes na Luta,

Até a vitória!

Saudações Socialistas!

Via Campesina Rio Grande do Sul.

Solidariedade à justa revolta dos usuários do Metrô!

Retirado de Movimento Passe Livre

5 FEVEREIRO 2014

metro-revolta

Solidariedade à justa revolta dos usuários do Metrô!

Ontem, a população enfrentou uma situação caótica no metrô. Um trem da Linha 3-Vermelha se desenergizou completamente, desativando com isso o sistema de ar condicionado dos vagões, obrigando os passageiros a descer nos trilhos para não passar sufoco. Toda operação da linha Vermelha foi paralisada por mais de 5 horas e também houve panes nas linhas 1-Azul e 4-Amarela. A revolta dos usuários se espalhou por pelo menos 7 estações

A tragédia já estava anunciada. Não por acaso, a falha de energia aconteceu num trem da Frota K – que teve sua manutenção terceirizada para o Consórcio ITTRENS, ligado ao esquema de propinas entre o Governo Estadual e os cartéis metroferroviários. Essa frota já havia registrado quase 700 falhas em um período de 30 dias, além de ter descarrilado na Barra Funda em agosto de 2013. O Sindicato dos Metroviários denuncia a situação da Frota K desde 2011.

Resistindo ao sufoco, ontem os passageiros se revoltaram e tomaram os trilhos. O Governo, ao invés de assumir o problema, responde atacando e criminalizando a população – Juradindir Fernandes, secretário de Alckmin, chama os passageiros de “vândalos” e diz que vai monitorá-los. Ora, se há um “grupo organizado” responsável pelo caos nos trilhos, está claro que é o próprio Governo, aliado aos cartéis da Siemens e Alstom, que LUCRAM com o sufoco dos trabalhadores e passageiros, sucateando e privatizando o serviço.

A pane de ontem não foi um fato isolado. As falhas diárias no metrô e na CPTM provam que o sistema metroferroviário de São Paulo está à beira de um colapso de grandes proporções. Da mesma forma, a revolta dos usuários não começou nem terminará ontem. A força que é sufocada pelo transporte dia após dia, é também a força que pode se organizar e se transformar em revolta, como mostrou a população em junho de 2013.

Chega de sufoco e lucro nos trilhos!
Abaixo à criminalização da justa revolta dos usuários!

05/02/2014

Movimento Passe Livre – São Paulo (MPL-SP)

A Fabricação do Vício

Texto retirado do site Libertas e escrito pelo Professor Henrique Carneiro.

A história de certos conceitos médicos é essencialmente política, ou seja, ligada ao poder e aos interesses materiais de instituições, classes, camadas e grupos sociais . Talvez o conceito médico mais controverso do último século e meio seja o de “dependência” de drogas. Este é o termo hoje adotado como o mais indicado, de acordo a uma nomenclatura normatizada internacionalmente pela OMS, mas antes dele houveram outros termos análogos e igualmente oficiais em suas épocas, tais como “adição”, “hábito”, “transtornos da vontade”, “insanidade moral”.

A construção política dos conceitos conecta o Estado e a Medicina, pois a “história social da linguagem é basicamente uma questão de poder” (Burke, 1987). Existem conceitos investidos de alto poder simbólico, conceitos “tótens”, como escreve Berridge (1994). A demonização do “drogado” e a construção de um significado suposto para o conceito “droga” alcança na época contemporânea um auge inédito. Um fantasma ronda o mundo, o fantasma da droga, alçado à condição de pior dos flagelos da humanidade.

Afinal, o que é a dependência de drogas? Hábito, vício, necessidade, desejo, vontade. Na definição atualmente aceita, o “abuso” se distinguiria do “uso” por produzir um quadro de tolerância, síndrome de abstinência, compulsividade, desestruturação da vida pessoal e persistência no consumo apesar dos efeitos nocivos .

O surgimento deste conceito, assim como deste personagem, é simultâneo de uma série de outros, como o “homossexual”, o “alienado”, o “erotômano” ou “ninfomaníaca”, o “onanista”. Antes desse momento impreciso, que toma seus contornos no início do século XIX, beber demasiado não era uma doença. No máximo, uma prova de mau caráter ou de falta de auto-controle. A embriaguez não suprimia a vontade, aliás, não se distinguia entre desejo e vontade de beber, não havia um vocabulário que expressasse a existência de uma compulsão, de uma escravidão à bebida ou alguma outra droga. As exceções são alguns relatos sobre o uso do ópio no Oriente no século XVI e, a partir do século XVIII, os  primeiros autores (J. Jones, 1701; Lettson, 1787; S. Crumpe, 1793) que passam a descrever “uma perda de controle voluntária do hábito”, que será mais tarde chamada de “abuso” (Berridge, 1994). Mas acima de tudo, o uso do álcool e outras drogas era visto como uma prática condenável em muitos aspectos, e virtuosa em outros, mas jamais como uma doença.

A doença do vício será uma construção do século XIX. A concepção da embriaguez como doença pode ser datada de 1804, quando Thomas Trotter publicou o Essay Medical Philosophical and Chemical on Drunkenness, que seria considerado um marco na “descoberta” (ou na criação?) de uma nova entidade nosográfica na medicina. Para Trotter, o hábito da embriaguez seria “uma doença da mente”.

Benjamin Rush, nos Estados Unidos, já em 1791, relacionara alcoolismo e masturbação como “transtornos da vontade”, desencadeando contra ambos uma campanha médica e psiquiátrica. Na França, Esquirol tipificou a ebriedade como “monomania” e “insanidade moral com paralisia da vontade”.

Continue lendo

1,5 bilhões para repressão aos movimentos sociais durante a copa.

O que é a violência? O Estado bem nos mostra:

“Um robô anti bomba guiado por controle remoto. Tanques com jatos d’água potentes para dispersar multidões. Pequenas aeronovas que captam e transmitem som e imagem aos centros de comando, além do arsenal já conhecido dos manifestantes: spray de pimenta, pistola de choque e granadas de efeito moral.

O governo federal e doze estados, que vão receber jogos da copa do mundo, estimam gastos de um bilhão e meio de reais com a compra de armas, reformas de estruturas e cursos.

Leia mais: http://cbn.globoradio.globo.com/grandescoberturas/copa-2014/2014/02/01/GOVERNO-FEDERAL-E-SEDES-DA-COPA-DO-MUNDO-ESTIMAM-GASTOS-DE-R-15-BILHAO-NA-COMPRA-DE-EQU.htm#ixzz2sINJ7kRU”