LUTA CONTRA A REORGANIZAÇÃO ESCOLAR EM SP: Pós ato unificado, quais os próximos passos?

Na noite de quarta-feira, dia 09 de dezembro, mais de seis mil pessoas tomaram as ruas de São Paulo contra a reorganização escolar mostrando que a luta, que já dura mais de dois meses, segue forte. A repressão policial ao final do ato, com perseguições a pequenos grupos de pessoas em ruas paralelas, enquadros armados dentro de lojas e restaurantes e a chuva de bombas de gás lacrimogêneo foi uma demonstração de como o governo do Estado não sabe mais o que fazer para abafar a luta dos secundaristas. O que está em questão agora é: quais os próximos passos imediatos para darmos uma resposta à repressão policial e à insistência do governador em manter a reorganização escolar?

As ferramentas históricas da luta de classes como as ocupações e cortes de rua novamente se provam acertadas. Apesar das dezenas de atos regionais que foram impulsionados pelas escolas e que paralisaram importantes avenidas, estes dois meses não foram marcados por manifestações unificadas onde a sociedade como um todo pudesse somar esforços. Frente à repressão policial generalizada e à intransigência do governador já passou da hora de unificar as forças de secundaristas, professores, trabalhadores das escolas e toda a sociedade que também é contra a medida de reorganização escolar e tomarmos as ruas novamente.

Com a aproximação do fim do ano, a atuação da UMES e UBES que já cantam vitória e a dificuldade de articulação entre todas as escolas, pouco a pouco as ocupações estão sendo desfeitas e é preocupante que as escolas mais radicalizadas comecem a ficar isoladas neste processo. São decisões difíceis a serem tomadas, mas a história tem muito a nos ensinar com os acertos e erros cometidos em outras lutas.

Estes dois meses de mobilização já trouxeram muitos aprendizados e gostaríamos de destacar dois que se fizeram nítidos no ato desta quarta-feira: a forte referência da greve dos garis do RJ no ato dos secundaristas era nítida com o alcance da palavra de ordem “Não tem arrego” bem como o conteúdo político do primeiro jogral feito antes da saída do ato que vinculava a reorganização escolar com o pacote mais amplo de medidas de ajuste fiscal que tem alastrado demissões, arrochos salariais e terceirização para toda a classe trabalhadora. Este teor não se fazia tão presente quando esta luta começou e agora já faz parte do cotidiano destes milhares de secundaristas.

O aprendizado político deste processo com certeza extrapolará a luta contra a reorganização e continuará com mobilizações por contratação de professores, reajustes salariais, salas menos lotadas e de forma generalizada uma luta por melhores condições de estudo e trabalho. Uma nova geração de lutadores está se forjando e isso ninguém vai arrancar! Mas dezembro ainda pode nos reservar surpresas: que desde às bases as escolas mobilizadas definam os próximos passos e que esta chama não se apague!

Responder à repressão policial e a intransigência do governo!
Consolidar o aprendizado da luta e seguir avançando!

[NOTA SOBRE O ESCRACHO OCORRIDO NA LETRAS/USP]

Após passar por um período de refluxo, o movimento feminista demonstrou ter voltado com força. Com isso, temos nos deparado com discussões internas acaloradas, pois, como todo movimento que incomoda a ordem vigente, este aflora debates intensos e posições contrárias. Consideramos positivo o debate saúdavel de ideias e que as correntes feministas apresentem e discutam suas linhas políticas. Porém, ataques pessoais e reações descabidas têm marcado os últimos períodos e estão chegando em situações limites. Para a nossa surpresa, feministas adeptas à vertente materialista/radical têm sido perseguidas não só pela direita ou senso comum, mas também por movimentos de esquerda. Consideramos prejudicial à todo o movimento o esvaziamento político que tem ocorrido nesse tipo de situação, já que tem se tornado comum transformar debates entre concepções em escrachos de uma das partes envolvidas. Colocamos em questão tal prática na medida em que entendemos o escracho, tratando-se do movimento feminista, como uma ferramenta disponível às mulheres para que denunciem abusadores e situações de perigo, tanto para alertar outras mulheres quanto para fazer com que suas vozes sejam ouvidas.

Na USP, após as eleições para Centro Acadêmico da Letras, a chapa eleita (“Por Isso Me Grito”) promoveu o escracho de uma estudante feminista radical do curso que passava pelo corredor. Para além de gritos de ordem que pretendiam acusá-la de transfobia e de uma placa apontada para sua cabeça, o ataque veio seguido de postagens virtuais que faziam campanha de atitudes como essa. Durante as eleições, declaramos nosso apoio a esta chapa acreditando que os métodos defendidos pela mesma pretendiam mobilizar o curso de Letras. Porém, não fazemos coro com tal escracho e perseguição da estudante feminista do curso, feitos como se esta militasse em uma trincheira oposta a nossa. A própria esquerda uspiana, mesmo tendo divergências profundas com o feminismo liberal, nunca utilizou-se do escracho para perseguir as mulheres desta linha política.

As feministas radicais defendem uma concepção materialista do que é ser mulher e ser socializada para tal, enquanto outras linhas de feminismo defendem métodos de análise que não este. Tais diferenças devem ser debatidas no âmbito político para que avancemos na luta contra a opressão. Sob a séria acusação de transfobia, é perigoso que proíba-se e bloqueie-se todo o debate político que precisa ser travado entre as linhas do feminismo.

Ainda este ano a frente de mulheres do Rizoma promoveu o Ciclo de Debate das Minas*, por avaliarmos que o movimento estudantil, assim como os espaços políticos em geral, estão esvaziados de mulheres devido também à opressão histórica que sofrem e à ordem patriarcal e capitalista imposta até os dias de hoje. Por isso, consideramos que este aspecto deva ser levado em consideração ao se reproduzirem ataques às mulheres, os quais correm o risco de serem prejudiciais aos movimentos feministas de esquerda sem que haja o preterido avanço em questões de segurança e de debate das opressões internas ao movimento.

Para além disso, acreditamos que os Centros Acadêmicos têm a função de trazer e politizar as discussões e não de esvaziar os debates com ataques pessoais. Nesse sentido, declaramos nosso repúdio à esta atitude da chapa “Por Isso Me Grito” e que, apesar de termos apoiado a eleição desta gestão, não hesitaremos em nos opor aos métodos de perseguição pessoal.

*https://rizoma.milharal.org/atividade-seminario-das-minas/

[NOTA SOBRE A LUTA DOS SECUNDARISTAS E O RECUO DO GOVERNADOR]

Os estudantes secundaristas, após dois meses de luta, de ocupação de mais de 200 escolas e do fechamento de vias importantes da cidade, conquistam uma vitória parcial: a suspensão da reorganização escolar. Através de um decreto nebuloso que suspende a transferência do quadro de funcionários, Alckmin pretende apenas postergar a reorganização para desmobilizar o movimento dos estudantes. Mas o movimento não se deixou enganar e segue forte!

À revelia da UMES/UBES que já estão cantando vitória, a organização desde às bases dos estudantes – o Comando de Escolas Ocupadas – segue firme com as ocupações e fechamento de avenidas até que se reverta por completo a medida do Governo do Estado de São Paulo. O recuo de Alckmin e a saída do Secretário de Educação são demonstrações de força do levante dos secundaristas que conta com apoio massivo da população.

Além destas vitórias parciais durante o processo de luta se forjou uma vitória incontestável e completa: o salto organizativo para os secundaristas. O aprendizado das ocupações, a consolidação das ferramentas históricas de luta revolucionária – como as assembleias e os comandos -, os atos de rua radicalizados e tantas outras experiências recolocaram a política na ordem do dia para esta nova geração que se ergue. Extrapolando a reorganização escolar agora é preciso que este aprendizado político seja consolidado. Reavivar os grêmios estudantis, criá-los onde não existem, e manter as escolas articuladas é o que pode preparar o terreno para as lutas futuras. Barrar a reorganização é só o começo, esta geração sabe que pode mais!

Parabenizamos os estudantes secundaristas por este recuo do governador Geraldo Alckmin e declaramos nosso total apoio À continuidade desta mobilização até a sua vitória! Não podemos esquecer também os que foram presos e processados pelo Estado nessa luta que, apesar de estarem respondendo em liberdade, os três estudantes maiores de idade detidos pela Polícia ainda responderão a processos criminais. É tarefa de todo o movimento não deixar que estes processos caiam no esquecimento!

NÃO À REPRESSÃO!
DERROTAR O GOVERNO DO ESTADO!
BARRAR A REORGANIZAÇÃO!

NOTA EM SOLIDARIEDADE AOS ESTUDANTES DETIDOS! NÃO À REPRESSÃO

A quinta-feira, 3.dez, em São Paulo foi marcada por uma forte luta contra a reorganização escolar com importantes avenidas da capital sendo bloqueadas. Após brutal repressão policial diversos estudantes foram detidos e 3 deles foram encaminhados na noite da quinta para o Centro de Detenção Provisória e terão seus casos avaliados pelo Fórum Criminal da Barra Funda ao longo da sexta-feira.

Manifestamos nossa total solidariedade à todos os estudantes e trabalhadores reprimidos no protesto e colocamos todas as nossas forças à disposição para a luta contra a reorganização escolar e pela libertação de todos os detidos!

Fazemos também um chamado a cada lutador e lutadora para que se ergam! Somem esforços nas ocupações, nos atos de rua. Organizem ações de solidariedade em suas cidades, atos de rua, intervenções, o que seja. Disseminar a luta! Fazer com que todos os olhos – nacional e internacionalmente – estejam voltados para esta importante luta que chega em seus momentos decisivos!

AVANTE COMPAS!
Ninguém fica pra trás!

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PS: na imprensa toda se encontram imagens, vídeos e informes sobre as detenções, mas pra quem quiser um informe mais rápido aqui está o resumo das acusações judiciais: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-12/pm-prende-seis-manifestantes-em-novo-confronto-com-estudantes-nas-ruas-de-sao