Resposta do Professor Tonico a carta dos 150 professores da FFLCH
ME GUSTAN LOS ESTUDIANTES
ANTONIO CARLOS ROBERT MORAES
Professor Titular do Departamento de Geografia – FFLCH/ USP
Me gustan los estudiantes quando a contenção das contratações começa a tornar inviável cumprir as grades curriculares e mesmo assim o corpo docente continua dando aulas para classes cada vez maiores, porém, hipnotizados pelo culto da ordem, não se rebela contra a situação;
Me gustan los estudiantes quando o governador fazendo uso de uma discutível prerrogativa legal, não utilizada na USP há mais de três décadas, desde o governo democrático de Franco Montoro (nunca utilizada na UNICAMP, e causadora da maior crise institucional vivida pela UNESP), não escolhe o primeiro indicado de uma também discutível lista de reitores, e o corpo docente da universidade não se revolta e parte dele ainda busca justificativas para a arbitrária e inaceitável atitude;
Me gustan los estudiantes quando este mesmo governador, no início de seu mandato, tenta se apossar dos fundos específicos da USP no Tesouro Estadual e o corpo docente se comporta como se não se tratasse de uma medida administrativa altamente lesiva para a instituição e um pequeno grupo de docentes, elevados ao staff governamental, são os artífices de tal medida;
Me gustan de los estudiantes quando o reitor ilegítimo, passando por cima dos documentos e normas que regem o funcionamento da USP, cria uma profusão de cargos diretivos não previstos no Estatuto e Regimento, criando um desenho administrativo altamente personalista e o corpo docente não se rebela;
Me gustan los estudiantes quando um reitor e seus “assessores”, destituídos de legitimidade, fazem uso dos recursos financeiros da USP de forma pouco transparente, notadamente em operações imobiliárias, e o corpo docente não se manifesta;
Me gustan los estudiantes quando uma política clientelista e de nepotismo domina a vida universitária, criando redes hierarquizadas de poder estranhas aos órgãos regimentais e o corpo docente não protesta ao ver sua vida comandada por um conjunto de colegas que fizeram do “envolvimento institucional” sua atividade principal na universidade.
Os colegas que legitimamente protestaram pelo direito de dar suas aulas poderiam ter pensado na violência burocrática a que fomos submetidos na última gestão. Violência esta que se manifesta, por exemplo, em uma pletora de reuniões, cuja frequência torna inviável o ensino e a pesquisa. Eu, e outros, não íamos a tais reuniões, por razões óbvias; mas alguém ia e votava “legitimamente” pelos “ausentes”. Vai alguma crítica a tal tipo de prática que, na verdade, somada a relatórios infindáveis, dificulta muito mais a docência do que as cadeiras empilhadas nos corredores, e que, vale dizer, pude afastar sem que tenha sido impedido por qualquer atitude violenta.
Me gustan los estudiantes quando um imobilismo político domina o corpo docente, parte cooptado por pequenos afagos, parte tornado zumbi pela ideia fixa do currículo Lattes, parte ainda empenhado na luta para subir nessa estrutura de poder montada na USP e, finalmente, parte ganhando dinheiro nas fundações, algumas inclusive vinculadas à FFLCH ou a seus professores. Diálogo já.
Triste este momento de tantas injustiças e tão pouca revolta, quando os docentes parecem só conseguir clamar pela ordem, para ministrarem suas tão importantes aulas. Nem uma reflexão sobre o autoritarismo, e a imensa burocratização de nossas vidas. Nem uma palavra sobre a insana quantidade de reuniões para que somos convocados, e que compromete boa parte do nosso dia. Nem uma reflexão sobre o fato de que os PMs de São Paulo, cujos salários são mais baixos do que os de seus colegas do Goiás, Tocantins e Sergipe, talvez não queiram invadir a USP.
Buscar o diálogo com os alunos me parece a única coisa razoável a ser feita. Diálogo já dos professores entre si. Dos funcionários. De alunos com professores. De professores com funcionários. De todos com os candidatos. E que as chapas que conseguirem melhores canais sejam elogiadas nos debates.