Em uma semana e meia 14 companheirxs foram presxs, isto se soma à campanha de escutas, perseguições, tentativas de despejos e ataques ao movimento anarquista em Montevidéu. Nada disto nos assusta, só nos faz mais fortes. Se nos golpeiam é porque incomodamos. Se incomodamos aos/às poderosxs e suas/seus delatorxs, estamos fazendo bem as coisas.
Há uma guerra social que passa por diferentes momentos. Xs poderosxs sabem, nós também. A imprensa oculta, ofegando sobre o barril do capital, impondo a ideia de uma democracia rançosa que não cumpre nem com suas próprias mentiras mais repetidas, segurança, direitos humanos, justiça…
Entre tudo isso a raiva abre passagem.
O governo dxs tupamarxs tortura. Onde está a novidade?
O Estado que ocupa o território uruguaio não é alheio ao medo e intenção de recrudescer o controle sobre sua população, como estão levando adiante os diferentes governos progressistas da região (lembrem os encontros de segurança e “antiterrorismo” do Mercosul). O fantasma da primavera árabe, é um medo longínquo mas que palpita e o Brasil se converte em pesadelo para a camarilha empresarial. Qual é o pesadelo para xs democratas, extremistas, radicais do poder e demais fascistas? A revolta, a insurreição que quando desperta não parece poder ser controlada. Uma raiva que não pode ser reconduzida pelo futebol ou a compra de roupas de marca ou congêneres. É aí onde aparecem xs que lhes fazem o “trabalho sujo” a Bonomi, Tabaré e Mujica, as forças da ordem a serviço de sua autoridade. É aí que xs mercenárixs criadxs pela direita e especializadxs pela esquerda do poder saem ao ataque.
Xs violentos, encapuzadxs, anarquistas
Palavras vazias de todo tipo tem enchido o papo dxs jornalistas estes dias. Que xs anarquistas isto e aquilo, que as táticas de violência urbana, que minorias, etc., etc. Xs violentos de 14 de agosto, xs radicais, xs infiltradxs em tudo, até na torcida do Penharol (como se nesta não houvesse sentimento antipolícia, que precise infiltrar-se xs ácratas). Por todos os lados a união entre a repressão policial, a coordenação política e a preparação do conluio feito pela imprensa. O ataque tem várias pontas. O Estado defendendo-se definitivamente. Mas de que? De que se defende o Estado? Hoje todo o exército que mantêm a ordem existente (imprensa, polícia, militares, políticxs e demais acomodadxs) se conjuga sob o abrigo de um nível inédito de consenso entre a direita e a esquerda no que têm a ver com a potencialização do desenvolvimento capitalista. Mas além do jogo eleitoral, as bases importantes do desenvolvimento do capital na região não se põem em discussão por nenhum dos partidos. A mega mineração, o desmatamento, a coordenação, em fim, pela instauração do plano IIRSA [Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana] e demais planos, sua grande coordenação política, econômica e militar seguem em marcha. É necessário deter e evitar toda resistência, todo germe de resistência. É necessário deter aos/às que não negociam, às/aos “violentxs”.
Um passo mais…
E que dizer da violência? Não é para nós uma “opção política” como creem xs sabidxs da faculdade de ciências sociais. Para nada. Não é uma opção e não é para nada política. A escolha que sim fazemos é a de tentar viver do único modo que nos parece digno, o livre. O de não calar, o de fazer algo quando vemos que a coisa vai mal e vai ainda para pior. Escolhemos resistir, escolhemos defender-nos. Aqui (mais além do jogo preferido da imprensa, dirigentes sindicais e demais políticxs) não há violentxs e não violentxs, bons/boas e más/maus, e demais categorias do poder. Quem não se haja enojadx, quem não haja sentido vontade de resistir à miséria, de opor-se e saltar ante tanta porcaria, simplesmente não deve ter sangue. Quem não se enoja conhecendo os negócios policiais com a pasta base, a miséria do trabalho ou o sabor da água de OSE? A violência neste mundo capitalista é natural, a resistência a ele, uma necessidade vital.
E outro depois…
Não negamos, jamais o temos feito, nossos crimes. Queremos e potencializamos a liberdade, esse é um grande crime contra o poder. Queremos e potencializamos não a etiqueta de liberdade, abstrata, utilizável e manejada por qualquer um/uma. Por isso praticamos a solidariedade, o apoio mútuo, a reciprocidade, a resistência e é essa prática a que inevitavelmente produz choque em um mundo voltado cada vez mais a negar chão a quem está caindo. A cultura do medo não pode, não tem podido e não poderá amedrontar-nos ainda que o tente. Por isso os insultos, as ameaças com a tortura e a violência, por isso a pistola na cabeça de um/uma companheirx na delegacia, a nudez forçada e os golpes. Por isso o enfurecimento.
E por que sorriem? Se perguntam…
Nós não temos aparência de vítimas. Se dizemos, se mostramos outro golpe ao movimento anárquico é para mostrar, para continuar mostrando esses golpes que sofremos geralmente em nossos bairros e que a polícia costuma silenciar. Sabemos falar, o fazemos bem e somos suficientemente livres e fortes para não nos calarmos. O porque de tantos e seguidos golpes ao movimento corresponde a um crescimento que o poder não tem podido frear, ainda que o tenha tentado. Corresponde a perda do medo e o abandono da confiança que parte da sociedade havia oferecido aos governos progressistas. Somos tratados com dureza porque o governo tem dado carta branca ante a presença que têm desbancado o parlamentarismo das ruas. Ante a ação direta que não busca negociar, que não pede nada. Somos tratados com dureza porque é contagioso um fazer auto-organizado que fomenta um verdadeiro diálogo, um entre iguais e não políticxs ou empresárixs. Sorrimos por que são bons os ventos e sabemos nos defender.
O espelho do poder.
Onde olham sempre buscando a si mesmos. Em seus interrogatórios quando não se baseiam no simples insulto ou a ameaça, o que buscam é a elxs mesmxs e sua necessidade de chefes, de alguém que lhes diga o que têm que fazer. O poder necessita inimigxs e não serve a seus interesses que estxs não se vistam de terroristas, não busquem governar ou que não tenham autoridades. A falta de respeito em todos os âmbitos não pode vir para os serviços de inteligência mais que de um só grupo de pessoas, não pode não ter chefes ou não ter uma grande estrutura organizada para infundir o terror. Mas nós que estamos nas ruas sabemos que o seu crédito social acabou e que xs companheirxs são muitxs e em nada respondem a lógica do partido. Pior para elxs mas é assim.
Nós xs anarquistas, não somos xs que mantemos um sistema de saúde que gera morte e insanidade, não fazemos mega operativos nos bairros pobres, não empreendemos o saque e a destruição do meio ambiente e definitivamente não somos xs que mantêm o negócio da pasta base nos bairros. Não dizemos às/aos jovens que não são nada se não têm certa marca de roupa e não fazemos cárceres para prendê-los depois.
Mas não somos tampouco cidadãos/cidadãs obedientes, não somos, jamais o temos sido dxs que esquecem, somos parte dxs que têm lutado sempre, como somos irmãs/irmãos dxs que lutam agora em qualquer parte do mundo contra um sistema que nega a vida. Impulsionamos e seguiremos impulsionando sempre a rebelião para conseguir mais e mais liberdade. Quiseram tirar da vista dxs turistas xs indigentes, criando uma ilusão de comércio, mas aqui não somos todxs clientes ou submissxs. Nem a todxs se pode tapar. Nem todxs se rendem.
Anarquistas
Montevidéu, Agosto-Setembro 2013
Tradução > Sol de Abril
extraído da agência de notícias anarquistas-ana