Porque não compor o XI Congresso

Por que nao compor o Xi Congresso em Pdf

A tendência libertária e autônoma Rizoma visa contribuir na construção de um movimento estudantil amplo e combativo, que se paute pela autogestão e pela democracia de base, que tenha a ação direta como método de luta e que compreenda a importância da solidariedade entre estudantes de diferentes escolas e universidades, e também entre os movimentos contestativos de diversos setores de resistência. Pensando nisto e reconhecendo que somos um coletivo pequeno, no qual a maior parte dos membros trabalha e estuda, entendemos que é importantíssimo distribuir nossos esforços na construção de atividades que podem de fato trazer avanços rumo a um movimento horizontal e libertário. E assim como avaliamos que as eleições não podiam contribuir efetivamente para este norte, acordamos que o XI Congresso também não possui potencial de construção horizontal, solidária, libertária e pautada na ação direta.

Dentre os motivos que poderíamos elencar para afirmar essa posição está o fato do congresso ser historicamente descolado da realidade, tanto dxs estudantes da USP quanto do mundo – basta lembrarmos por exemplo que já fora até mesmo aprovado o fim do capitalismo em congresso, e que, obviamente, além deste não ter terminado, nenhuma luta real dos estudantes foi construída. Não podemos nos esquecer também que a burocratização e o aparelhamento do movimento estudantil asfixia e aliena os estudantes dispostos a lutar, e o XI Congresso não é outra coisa que um espaço de legitimação deste método burocrático de agir, reafirmando e disseminando a agenda política dos partidos hegemônicos na universidade – basta lembrarmos que as deliberações finais do Congresso já estão inclusive fechadas de antemão (observe o tópico da plenária final na programação).

Entendemos que a luta contra a lógica de representação (partidária ou não) é um passo fundamental para a construção de um movimento forte, autônomo e combativo, pois tenta fazer de cada pessoa um agente ativo e comprometido com a realidade cotidiana na qual está inserida, ao invés de impor a ela o papel de mero atuante esporádico na escolha de seus representantes. O Congresso, além de ser construído pelo burocratizado e aparelhado Conselho de Centros Acadêmicos, contará, sem a menor dúvida com uma esmagadora maioria de delegadxs interessados tão somente em falar em nome dxs estudantes, e não em construir a luta com elxs. Talvez estes mesmos estudantes aleguem que são representantes de pautas de seus cursos para o Congresso. A isto poderíamos opor uma simples pergunta: como um delegado poderia levar a posição dos cursos, sendo que atualmente não há discussão alguma na grande maioria destes?

Não condenamos os grupos e pessoas que estão se envolvendo na construção do Congresso, muitos dos quais companheiros de outras lutas que já provaram sua combatividade. Porém, mesmo que movidos por boas intenções, a estes camaradas afirmamos que nossa prática e leitura política não compactuam com a ideia de participação por participação – de participar tão somente para marcar posição. Privilegiamos a construção do movimento a partir das bases e dos espaços periféricos, não a partir de disputas dos pretensos centros de poder e representação do movimento. Entendemos que estes centros não passam de fetiches e armadilhas burocráticas, pois os avanços que queremos só podem ser conquistados com a construção da participação direta – logo não-representativa – dos estudantes.

Frente às práticas burocratizantes, levantamos a necessidade de garantir e rearticular os espaços autônomos da USP – o espaço aquário, o espaço verde, o núcleo de consciência negra, o canil – ocupando estes espaços com atividades questionadoras que motivem a participação de todos; de construir ombro a ombro atividades com a comunidade São Remo, junto de coletivos da comunidade, da associação de moradores, de artistas que vivem lá; de questionar e subverter o poder institucional da reitoria e de seus aparelhos, incentivando a ação direta e estudos coletivos contrários à coação e à violência sofrida por estudantxs e trabalhadorxs na USP. Não nos consideramos a solução universal frente ao capitalismo e ao Estado, e tampouco nos vemos como uma vanguarda revolucionária. Mas somos um coletivo que busca alternativas às posições burocráticas e representativistas do movimento estudantil da USP, por acreditarmos que os problemas que encontramos internamente no movimento vão muito além dos programas que adotamos ou das pretensas “direções” que temos, mas estão fundados na própria maneira de nos organizarmos e agirmos. Exaltamos a necessidade de uma construção horizontal, conspiradora (conspirar é respirar em conjunto), solidária e subversiva. É com essa construção que acreditamos ser possível reconstruir o movimento estudantil da USP, e não com palavras bonitas e boas intenções – das quais os congressos também estão cheios.

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