Carta aberta sobre o término da ocupação do Movimento Autônomo Pela Educação (MAE):

Blog do MAE: http://movimentoautonomopelaeducao.blogspot.com.br/

Carta aberta sobre o término da ocupação do Movimento Autônomo Pela Educação (MAE):

Compas,

Recebemos nesta noite de domingo, 22 de setembro, a notícia sobre a deliberação do MAE em desmontar acampamento na Praça da República onde estavam, desde o dia 25 de agosto deste mesmo ano.

Gostaríamos de parabenizá-las/os por cada minuto, cada segundo que dedicaram nesta construção. Experiências como esta, ainda que breves, são geradoras de potenciais políticos incríveis. Nenhum/a de vocês seguirá igual depois da experiência deste mês em plena auto-gestão na Praça da República de São Paulo.

Nós, da Tendência Rizoma, temos dentro de nosso grupo pessoas que participaram dos processos junto ao Ocupa Sampa (antigo Acampa Sampa) que, fruto de um chamado global para a tomada das ruas, ocupou por 52 dias o Vale do Anhangabaú.

Sabemos todas as particularidades e dificuldades encontradas ao tentar seguir com um acampamento autogestionado em pleno centro da cidade de São Paulo e em uma sociedade que não apenas não é autogestionada, como luta para exterminar toda e qualquer iniciativa de tomada política de seus/suas habitantes.

Gostaríamos de parabenizar a todas/os vocês, com toda nossa admiração, carinho e respeito. Não é nada fácil dar conta das múltiplas jornadas que somos colocadas/os quando ocupamos uma praça. Muitas pessoas seguem trabalhando e não poder dedicar-se exclusivamente para a ocupação é algo que acaba desgastando todas as pessoas envolvidas.

Além do desgaste físico e emocional, há tbm as dificuldades práticas em se ocupar uma praça em uma cidade tão hostil quanto São Paulo. A solidariedade é nossa maior arma e só conseguimos nos manter firmes e fortes quando há uma real rede de apoio, com os comércios da região, moradoras/es, etc. Ao fechar as portas para vocês e recusar-se a ser uma base para o movimento o sindicato reforçou à quem serve, à quem está submetido e quais poderes quer manter inatingíveis.

Vocês não falharam em nada do que se propuseram e não deixem que digam o contrário. Vocês não fizeram um movimento isolado e auto-centrado, pois sempre estabeleceram uma rede de informação que explicava para todas as pessoas que passavam quais eram as propostas do movimento. Vocês fizeram atividades públicas e mantiveram seus canais de comunicação através do blog. Todas as pessoas que desejavam acompanhar os passos do MAE tinham acesso.

Dentro das limitações postas por todas estas dificuldades vocês seguiram organizadas/os, seguiram em assembleias e avaliaram cada passo que deveriam dar.

O Ocupa Sampa não teve vitórias concretas e possíveis de serem visualizadas durante aqueles dias que permaneceram acampadas/os, mas foi depois, ao nos reencontrarmos em várias outras trincheiras, que percebemos que o Ocupa Sampa fez algo incrível e que ninguém nunca irá tirar de nós: formou laços. Laços fortes, que não se pautam na amizade apenas, mas que pautam-se em saber que somos companheiras/os de luta e caminhamos nessa construção. Ocupar lado a lado, cozinhar, passar por bons e péssimos momentos faz de cada um/a de nós mais fortes, mais fortes ao olharmos no olho de cada pessoa que ocupou junto e saber: não estamos sós. A luta não começou e nem terminará hoje. Muitas outras batalhas virão e sabemos com quem contar.

Baixar acampamento não significa fraqueza ou desistência. Significa sabedoria e serenidade para saber que vocês plantaram mais uma semente neste terreno tão árido que é a sociedade que vivemos. Vocês plantaram uma ideia, plantaram uma vivência. E ela está germinando. Ela será para sempre regada, junto com tantas outras sementes plantadas em tantos outros tempos e espaços, tantos outros calendários e geografias. Estas sementes estão sob a terra fortalecendo-se, para – na hora exata – romper com o solo árido e crescer, crescer forte e alta, alimentada por todas as forças de todas e todos os companheiros que a regaram. Vocês plantaram mais uma semente do outro mundo que queremos, um mundo onde caibam vários mundos.

Obrigada por terem existido.
Abraços,

Rizoma.