Goiânia: sobre o autoritarismo eleitoral no movimento estudantil

Via Passa-Palavra (http://passapalavra.info/2013/05/76663)

Dizem que os brasileiros não participam de atividades políticas. No entanto, muitas vezes pessoas que nunca participaram de atividades chegam nesses espaços e se sentem como “massa de manobra”. Por Eduardo Santos

Caros colegas, estudantes, professores e professoras, amigos e amigas da Faculdade de Letras,

Diante de alguns acontecimentos que envolvem as eleições para o Centro Acadêmico da Letras, especialmente os debates que aconteceram na última sexta-feira, dia 26 de abril, gostaria de deixar aqui algumas reflexões e fazer algumas críticas com o objetivo de pensarmos nossa concepção de Centro Acadêmico (CA), de Universidade, de democracia, de movimento estudantil e também refletirmos sobre o processo eleitoral.

Antes de tudo, aclaro que as observações que pretendo fazer não são críticas pessoais ou expressão de não reconhecimento do trabalho e empenho individual de todos que de alguma forma ajudaram na construção do processo eleitoral em si, da organização dos debates e da construção das chapas. Reconheço, inclusive, que independentemente das posições divergentes de cada um, todos que de alguma forma se envolveram tiveram que abrir mão de atividades acadêmicas, de momentos de ócio e etc. Pensava que tal observação seria desnecessária; no entanto, depois de fazer algumas críticas nos debates e ser combatido com o argumento de que eu não teria o direito de criticar porque não ajudei em nada, vi ser necessário pontuar isso. Não estou em nenhuma das chapas e reconheço aqui que realmente não fiz nada em relação à organização das eleições e que, enquanto discente que usufrui do ambiente acadêmico, enquanto estudante que goza de alguns direitos conquistados graças a muitos que inclusive perderam (alguns muitos) suas vidas para garantir nosso direito de ter um CA nos dias atuais, realmente deveria ter ajudado em algo, mas por motivos que não cabem explanar aqui não o fiz.

Como bem divulgado pela comissão eleitoral e pelas duas chapas que pleiteiam a gestão do CA, estavam marcados três debates entre as duas chapas para a última sexta-feira, um em cada um dos turnos. Como nas sextas-feiras tenho aulas nos períodos matutino e vespertino e considerando a importância das atividades, participei dos debates dos turnos matutino e noturno.

Em relação à mobilização para o debate, é bastante animador ver o apoio de muitos professores que liberaram seus alunos para irem ao debate e o apoio democrático da direção e coordenação da nossa Faculdade ao evento. Destaco inclusive que achei extremamente positiva a presença no debate no turno matutino do professor Francisco e que todos da comunidade acadêmica devem ser convidados às atividades discentes. Os CAs podem funcionar em parceria com a direção das Faculdades ou da Universidade, não devem necessariamente fazer oposição aos diretores, coordenadores ou reitoria; no entanto, não podem estar presos à instituição, à direção ou ao que quer que seja. A única entidade a qual o CA deve submeter-se é à assembleia dos estudantes.

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Só queremos a USP virada do avesso se o outro lado for mais inflamável! Posicionamento do Rizoma sobre as eleições para DCE

Versão em PDF: texto-eleicoes-DCE-2014-avesso

avesso

 

Estamos às vésperas de mais um processo eleitoral para o Diretório Central dos Estudantes da USP. Todo mundo está se sentindo no clima de São Paulo Fashion Week, onde já podemos escolher qual a melhor tonalidade para esta estação. Entre um desfile e outro de nuances bem distantes do vermelho, podemos nos deliciar com maravilhosas pílulas de imobilismo. Enquanto aproveitamos este momento emocionante de êxtase onde, em breve, aplaudiremos cada cédula preenchida, cada voto implorado, chorado, suado, onde poderemos ligar imediatamente para nossa dirigência para contar que fizemos bem a tarefa de casa e que em breve poderemos (re)começar a escolinha de “como conquistar um cargo político em 3 passos”, gostaríamos de propor uma breve retrospectiva para deixar claro que os anos de eleições têm sido tóxicos para o movimento:

Em 2011 tivemos um final de ano marcado por momentos de fortíssima resistência. Com a entrada da Polícia Militar na USP dois processos de ocupações foram deflagrados, manifestações de rua estavam sempre na pauta do movimento e a tendência era de crescimento exponencial das lutas. Era quase fim de ano e ouvíamos de alguns setores do Movimento Estudantil que era melhor entrarmos de férias e depois retomarmos as mobilizações. Garantiam que o ano recomeçaria com uma forte mobilização, comprometeram-se com isso, mas estes setores já são muito bem treinados no curso avançado de “como ser cara de pau”.

Desta forma 2012 começou. Começou bem para a REItoria que, enquanto fazia a reintegração de posse da Moradia Retomada, expulsava 6 estudantes e processava mais de 90, assistia de camarote a diversão colorida cheia de confetes e serpentinas das eleições para CAs e DCE no começo do ano, misturada com as eleições municipais e mais eleições para DCE no final do ano. 2012 terminou em completo marasmo, de fato foi o ano da “Universidade em Movimento que Não ia Se Adaptar”, mas que entregou de bandeja todo o setor estudantil para o banquete cerimonial do Rodas.

O ano seguinte permaneceu quase inteiro sem grandes acontecimentos. De fato a chapa de “unidade” para o DCE estava muito ocupada construindo luta nos sofás cor-lilás. Outro graande acontecimento é o mês de outubro que dá uma energia nova para o movimento. A greve e ocupação iniciadas foram importantes para explicitar o iminente colapso da estrutura universitária. Também ficou claro que o interesse das/os estudantes e o da grande maioria do corpo docente são inconciliáveis. Até mesmo o setor mais progressista do professorado não conseguiu disfarçar o descontentamento com nossos piquetes, trancaços e ocupação, enfim, nossos métodos de luta. Esses acontecimentos são resultados da democracia direta, da luta real que é travada quando o movimento estudantil consegue superar, mesmo que momentaneamente, as alienações que o separam da realidade. Mas novamente fomos tomados por uma súbita vontade de “tirar férias” da luta. Mais uma vez a mobilização foi sequestrada por parte daquelas/es que não admitem seguir com o jogo se não for nas regras delas/es, e que, sendo os donos da bola, interrompem a partida quando bem convém.

2014 chegou e, somado aos problemas não resolvidos na greve passada, vivemos um período de corte orçamentário que afeta diretamente toda a categoria estudantil que precisa de programas de permanência, temos um campus inteiro da USP em crise e os processos de vigilância e repressão se intensificando, com instalação de câmeras e continuidade dos processos contra estudantes que se mobilizam. Também estamos em um cenário de constantes casos de opressão envolvendo machismo, racismo e trans-bi-lesbo-homofobia que exigem uma resposta imediata do movimento. Mas já estamos em abril e nada foi feito.

Qual a solução para tantos problemas? Dissimuladamente dirão que são as eleições! Alegando que “se elegermos corretamente uma chapa, composta por pessoas iluminadas que compreendem em sua totalidade todos nossos sonhos e demandas, os problemas serão resolvidos”. É preciso rejeitar essa desculpa esfarrapada! Voto é alienação! É separar o indivíduo da sua capacidade política e entregá-la para alguém pretensiosamente mais inteligente e preparado. É o contrário da democracia e da ação direta. É a reprodução das ferramentas dos de acima. É preciso que não se tenha mais ilusões neste método que há tempos aponta para seu fracasso completo.

Há dias estamos imersos em cartazes e faixas das mais variadas cores e formas, nomes pomposos, exércitos uniformizados que se atacam superficialmente dizendo querer fazer o melhor por você, estudante. E tudo o que você precisa fazer é ajudá-los a adentrar no gabinete-mirim.

Para nós revolução social não se faz indo até a urna mais próxima. Lutar é muito mais do que disputar direções e entidades. Nos espere perto das urnas apenas quando elas estiverem pegando fogo, pois nossos sonhos não cabem nelas.

Por isso continuaremos a construir campanhas marginais e periféricas a favor das lutas contra a repressão, por cotas sociais e raciais e por permanência estudantil. Mas não nas urnas! Não nas urnas, pois simplesmente não temos tempo a perder nesta guerra contra o capitalismo e o Estado que nos violenta. Não nas urnas, pois para nós o movimento não é estágio para conseguir cargo em gabinete. Não nas urnas, porque não aceitamos que nos sequestrem a política! Não nas urnas, porque todas as conquistas significativas foram fruto da luta e da organização popular das mais variadas formas, mas nunca representativa. Não nas urnas, porque o papo é reto e a democracia é uma farsa se não for democracia direta!

Não dependa, não se submeta. Construa a luta com suas próprias mãos!

SAUDAÇÕES E FORÇAS AOS CORAÇÕES LIBERTÁRIOS!

Indicamos também a leitura de outros 2 textos nossos:

20/agosto/2012: PORQUE NÃO COMPOR O XI CONGRESSO
[https://rizoma.milharal.org/2012/08/20/porque-nao-compor-o-xi-congresso/]

27/novembro/2012: 2012, O ANO DA UNIVERSIDADE EM MOVIMENTO QUE NÃO IA SE ADAPTAR
[https://rizoma.milharal.org/2012/11/27/2012-o-ano-da-universidade-sem-movimento-que-nao-ia-se-adaptar/]

No ano dos protestos, número de filiações a partidos despencou

SE registrou em 2013 somente 136 mil novas inscrições, o menor contingente dos últimos 5 anos.

SÃO PAULO A filiação de brasileiros a partidos políticos despencou no Brasil em 2013. Dados divulgados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TSE) mostram que, desde 2009, nunca foi tão baixo o número de pessoas que se engajaram na atividade partidária no país. No ano em que uma onda de protestos populares tomou as ruas em diversos estados, foram contabilizadas somente 136 mil novas filiações. Isso representa quase metade do novo contingente registrado em 2012 (222 mil) e menos de 10% das adesões de cinco anos atrás, quando 2,5 milhões entraram para algum partido.

Em percentuais, significa dizer que o ritmo de crescimento das filiações caiu de um patamar de 22% em 2009 para 0,9% em 2013. O TSE vem registrando há alguns anos quedas constantes. A mais recente estatística do TSE, divulgada em janeiro, apontou que, atualmente, 15,3 milhões de brasileiros estão filiados aos 32 partidos do país. Essa contabilidade é feita anualmente, depois que as legendas encaminham ao tribunal, em outubro, a relação de seus militantes.

A desaceleração de filiações não é um fenômeno novo nem restrito ao Brasil, segundo especialistas em partidos políticos. Mas, para o professor Lúcio Rennó, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), chama a atenção a velocidade com que essas taxas caíram no país nos últimos anos.

— Uma hipótese é de que isso seja resultado da acentuação do processo de perda de credibilidade das formas tradicionais de engajamento político. Embora seja uma tendência mundial, ela se mostraria mais aguda no Brasil pelos episódios de corrupção e pela insatisfação com o desempenho dos partidos — afirmou Rennó.

Não há como saber, por enquanto, se essa queda expressiva em 2013 tem relação com as manifestações que pararam as ruas do país, num claro recado de descontentamento com o sistema político e seus representantes.

— Somente uma análise mais detalhada poderá responder a essa questão — disse Rennó.

Segundo o cientista político Marcus Figueiredo, pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o incremento do número de militantes costuma ser sazonal. Ele explicou que é após um ano eleitoral que os partidos registram os crescimentos mais expressivos de filiados — resultado da exposição e da mobilização das siglas durante a campanha.

— Não estamos falando aqui de filiação de quem quer ser candidato, mas de pessoas que querem se engajar. As eleições estimulam esse tipo de participação — disse Figueiredo.

Mas as estatísticas oficiais mostram que isso não ocorreu no último pleito, em 2012. No ano da eleição, o aumento do número de filiados foi de 1,49% e, no ano seguinte, de 0,9%.

— A hipótese mais plausível é que tenha crescido o desinteresse por atividades partidárias, e as demonstrações nas ruas são um sintoma dessa perda de interesse — avaliou Figueiredo.

PMDB e PSDB perderam filiados

Entre os cinco maiores partidos, PMDB e PSDB foram os que tiveram o pior desempenho no ano passado. Ambos não registraram novos militantes. Pelo contrário, perderam filiados. O exército tucano registrou cerca de 4 mil baixas, e o do PMDB, 1,3 mil. Se isso foi proveniente de desligamentos ou de atualização cadastral — em casos de falecimento, por exemplo —, as estatísticas do TSE não esclarecem.

O PT foi o único nesse grupo a ter incremento de filiados acima da média nacional nos últimos anos, com 37 mil novos militantes. Para o professor Rennó, isso tem uma explicação:

— Os partidos que estão no governo sempre acabam atraindo mais filiados e simpatizantes do que as legendas de oposição.

Rennó diz que o fato de o país estar registrando a cada ano um número menor de filiações partidárias não significa, necessariamente, um aumento da despolitização da sociedade. Para ele, os brasileiros estão procurando outros canais de representação, como movimentos sociais e organizações não governamentais.

— Em outros países, estamos assistindo a esse mesmo fenômeno. Os partidos hoje têm mais competidores. Não vejo isso como uma ameaça à democracia e sim um aprofundamento de outros mecanismos de pressão política.

Marcus Figueiredo apontou um outro dado que confirma a avaliação do colega da UnB. Segundo ele, o percentual de brasileiros filiados a partido político tem se mantido estável em torno de 1% do eleitorado nacional.

— Não vejo isso como ameaça porque continuamos tendo novas filiações, embora em ritmo menor.

Para os dois, com a queda do número de novos adeptos cada vez menos as legendas exercerão a função de interlocutoras com a sociedade.

http://oglobo.globo.com/pais/no-ano-dos-protestos-numero-de-filiacoes-partidos-despencou-11828231