COTAS: Estratégia e Mobilização – debate público com o Território Livre

A publicação de uma nota das/os compas do Território Livre www.facebook.com/tlivre/posts/981526678526312 que explicitou a sua divergência com a pauta de cotas raciais e sociais, retomando seu programa, gerou uma agitação acerca do tema. Achamos importante encamparmos esse debate com uma discussão programática cada vez mais aprofundada e como uma contribuição para os próximos passos do movimento estudantil da USP.

Acreditamos que a aplicação de cotas na universidade é necessária e urgente, e já apresentamos os motivos em diversos panfletos. Dessa forma, o posicionamento que se segue não pretende revisitar todos os motivos pelos quais defendemos essa pauta, mas acirrar o debate quanto à estratégia em que esta luta está inserida.

Contribuindo para o debate e avanço programático do movimento estudantil da USP vamos publicar em breve, além deste, um segundo texto abordando o debate sobre reformismo e suas práticas no movimento estudantil.

Cotas: estratégia na luta contra o capitalismo e a destruição da universidade burguesa

Gostaríamos, primeiramente, de destacar uma das ideias principais do texto publicado pelo TL, no caso, a ideia de que defender cotas na universidade seria uma perspectiva dentro dos marcos do capital. Apresentamos então, o seguinte questionamento: qual pauta ou reivindicação hoje não ocorre dentro dos marcos do capital? Esta limitação se dá sob todas as reivindicações que podemos fazer de forma imediata. Desde os salários, até os empregos, bolsas e moradia. No limite, todas estas pautas podem estar circunscritas à possibilidade dentro do capitalismo e são, de uma maneira ou de outra, reformas. Não achamos que as/os compas do TL não sabem disso. A reflexão cabe, portanto, a outro âmbito do debate sobre cotas: de que maneira elas afetam a luta dentro do movimento. Se são pautas que contribuem para fortalecer a mobilização e caminhar adiante, ou se nos fazem recuar, estagnar. Em suma, se elas estão ou não inseridas numa perspectiva revolucionária e apontam um horizonte para a mobilização.

Parece-nos que o TL julga que cotas, enquanto medida a ser implementada, em nada altera a realidade material e não possui em si nenhum acúmulo para a luta de classes. Discordamos desta análise. Acreditamos que a pauta da implementação de cotas raciais e sociais deve ser defendida pelo movimento estudantil da USP não apenas pelas melhoras imediatas, mas porque ela deve possuir em si, e principalmente de acordo com os métodos que utilizarmos para conquistá-las, um horizonte revolucionário.

A universidade surgiu com o intuito de formar a elite intelectual burguesa, mas hoje cumpre também a função de diferenciar o trabalho entre mão-de-obra precarizada e mão-de-obra especializada, restringindo a última a somente uma parcela da população. Não há possibilidade, no capitalismo, que toda a sociedade ingresse no mercado de trabalho como mão de obra especializada, então é necessário que amplas camadas da classe trabalhadora continuem como um exército precarizado. Essa manutenção se dá com a cobrança de mensalidades, nas universidades privadas, e com a falácia da meritocracia dos vestibulares nas universidades públicas. Os cortes e limitações nas politicas de assistência estudantil também garantem a manutenção da universidade como ela é: elitizada.

No Brasil, a ampliação das universidades federais e das demais políticas de apoio estudantil nas universidades privadas representou um aumento no acesso ao ensino superior em uma conjuntura de estabilidade. Mas agora, em um contexto de aprofundamento da crise econômica, os cortes afetam primeiramente aquilo que é considerado “supérfluo”, como por exemplo, a formação superior para trabalhadoras/es.

A universidade revela, portanto, qual é seu projeto dentro da sociedade capitalista. Defendemos a pauta de cotas, com seu recorte racial e social, porque fazemos uma avaliação de que ela fere diretamente tal proposta de universidade e evidencia suas contradições, explicitando o papel que esta cumpre na manutenção do capitalismo e que precisa ser destruída junto com ele. As cotas sociais e raciais, quando erguidas com uma perspectiva revolucionária, sem isolar essa reivindicação das demais bandeiras do movimento, têm a possibilidade de ser um importante componente de um programa revolucionário para o Movimento Estudantil, ligando-o com o conjunto da classe trabalhadora e sua juventude. É dessa forma que a reivindicação por cotas se configura como um ataque direto ao funcionamento da instituição universitária e em consequência, ao capital, ao qual ela serve.

Cotas e o acirramento nas mobilizações do movimento estudantil

Acreditamos que a implementação de cotas raciais e sociais tende a acirrar as contradições materiais internas à universidade com a proletarização do corpo estudantil que passa a colocar a instituição universitária numa latente exigência por recursos destinados à permanência. Pois não basta ingressar, também é necessário conseguir permanecer e concluir a graduação. Não afirmamos que exista uma reação imediata e automática com a mudança no recorte de classe do corpo estudantil, pois para a luta não basta apenas a condição material. Sabemos que a realidade não é essa. A força de um movimento não se dá pela precariedade de sua condição, mas pela sua capacidade organizativa e de articulação, com a combatividade das organizações que o compõe, pelo caráter democrático de suas assembleias e comandos, pela confiança na força de suas entidades. No entanto, se a classe trabalhadora é o sujeito revolucionário a lutar pelas suas condições de vida e trabalho, a/o estudante trabalhador/a é o sujeito a lutar pelas suas condições de vida e permanência. Dá-se dessa maneira um protagonismo às pautas classistas de nosso movimento, impondo assim essa contradição.

Nas universidades federais, as mobilizações que se intensificam este ano, e que estão ocupando diversas reitorias, tem como uma de suas pautas centrais a permanência, justamente porque ampliou-se o acesso à universidade, mas não as bolsas de permanência estudantil em sua quantidade e valor necessários.

Também apostamos, de forma estratégica, que a luta pelas pautas classistas – e aqui inserimos as cotas raciais e sociais – trazem acúmulos para o debate interno ao movimento estudantil.

Quais estudantes o movimento estudantil deve mobilizar e organizar? A universidade – e principalmente a USP por ter em seu corpo discente tantos filhos da burguesia – é também um campo de batalha da luta de classes. Por isso devemos ter como foco as reivindicações de classe, voltada para os estudantes filhos da classe trabalhadora e aqueles tantos estudantes que já são trabalhadores. É evidente que a pauta de cotas não é do interesse da totalidade de estudantes da USP, pois estes também defendem seus interesses de classe. O movimento estudantil não deve limitar a sua potência buscando pautas que sejam do interesse de todo o corpo discente, pois isso é ilusório e prejudicial ao movimento. A luta contra a terceirização não é do interesse dos filhos de donos de empresas terceirizadas. A luta contra o fechamento dos bandeijões e das creches não é do interesse dos estudantes que possuem condições econômicas e não precisam destes instrumentos. E a luta por cotas também não é do interesse de tantos filhos da elite que baseiam sua vida na defesa da meritocracia.

Acreditamos que ao reivindicar uma pauta com recorte racial conseguimos avançar também nos debates internos do movimento estudantil, pois torna-se fundamental que travemos uma luta anti-racista entre os próprios estudantes mobilizados – que não estão apartados e nem protegidos da reprodução das ideologias opressivas presentes na sociedade. A reivindicação de cotas raciais e sociais é para nós, um elemento importante também neste sentido.

Cotas: reformismo?

Outro ponto que o texto dos/as camaradas do Território Livre levantam é acerca do reformismo. Temos total acordo quanto aos graves custos provocados pela social democracia. Esta política – que não questiona, e tampouco combate, o aparelho do Estado e deposita no acúmulo de políticas públicas estatistas a sua estratégia – é responsável por estagnar, aparelhar e fazer recuar a luta da classe trabalhadora em prol de um pacto com a burguesia. Esta prática que no Brasil se expressa principalmente no PT deve ser denunciada e combatida sem hesitação.

Avaliamos que a pauta de cotas não se trata de uma prática reformista essencialmente. Isto é evidenciado quando a inserimos em uma estratégia ampla para a luta do movimento estudantil. Uma estratégia que, além de evidenciar as contradições na divisão do trabalho e acirrar as contradições materiais que existem na universidade, ameace diretamente a estrutura universitária através de uma luta baseada nos métodos radicalizados de nosso movimento. Atentamos para o ponto que há grupos políticos que atuam na USP há décadas e também defendem a pauta de cotas, mas pouco ou nada fazem para que o movimento estudantil encabece um processo de mobilização real para conquistá-la. Esse é um dos muitos prejuízos que a prática reformista traz para o nosso movimento, ponto este que vamos avançar mais no segundo texto. A conquista da pauta de cotas precisa se dar com a luta fortemente organizada nos cursos e radicalizada em seus métodos para que a pauta não seja solicitada à reitoria, mas sim imposta pela força do movimento estudantil em unidade com as/os trabalhadoras/es. A pauta, assim como os métodos, precisam apontar para o projeto político que estamos construindo, e por isso, reforçamos a importância das greves, das paralisações e ocupações como forma de conquistarmos nossos eixos de luta e para seguirmos avançando no acúmulo organizativo da juventude frente às ofensivas do capital e do Estado contra nós.

Posta essa divergência programática com as/os compas do Território Livre, temos certeza que seguiremos ombro a ombro nos piquetes, trancaços e greves, cerrando fileiras nas mais diversas trincheiras da luta. Sabemos de que lado as/os compas estão. Se temos discordâncias, então façamos a disputa política nas assembleias, reuniões e comandos! E sejamos unidos na ação contra nossos inimigos! Contra Estado, burguesia, burocratas e patrões!

Aos piquetes!
Às greves!
Lutar por cotas e permanência estudantil!

cotas

PARALISAÇÃO na USP! Construir a paralisação lado a lado com trabalhadoras e trabalhadores!

paralisacao14-04bracoscruzadosDia 14/04, Terça-feira, tem PARALISAÇÃO na USP!

Terça-feira, dia 14, tem reunião do “Conselho Universitário” e já sabemos que Zago e os burocratas tentarão votar uma política de acesso à universidade que caiba bem aos seus interesses. Interesses que – já sabemos – vão na contramão do que o movimento estudantil defende. Por isso, é fundamental fazermos um ATO em frente do local em que vai acontecer o conselho universitário e, assim como fizeram os lutadores da OCUPAÇÃO PRETA, tensionar os burocratas!

Esta paralisação foi iniciativa da mobilização das trabalhadoras e trabalhadores em assembleia, organizad_s no sindicato, como parte de uma série de ações para fazer frente aos abusos e imposições da reitoria. O movimento estudantil não pode ficar inerte! Mesmo sem uma assembleia geral, o que dificulta enormemente uma articulação do M.E. como um todo, diversos cursos fizeram o debate sobre a necessidade da paralisação unificada de estudantes e trabalhadores e dia 14 estarão presentes no ato em frente ao C.O e realizarão atividades em seus locais de estudo.

Os ataques à permanência estudantil não estão desvinculados dos ataques às/aos trabalhador_s. Fazem parte de um mesmo processo de precarização do trabalho e das condições de estudo. A unidade entre nossas categorias é uma necessidade para nos defendermos contra um inimigo comum!

Terça-feira, temos que fomentar ainda mais essa aliança e construir a paralisação em nossos cursos! Convencer o setor estudantil a quebrar com a normalidade da sala de aula e – fora desta – construir a luta pela permanência estudantil, exigindo a abertura de contratações e se posicionando contra o corte de vagas nas creches e nas bolsas. Construir lado a lado com os trabalhadores a campanha salarial de 2015 e avançar com a reivindicação de cotas raciais e sociais!

COTAS JÁ!

PERMANÊNCIA ESTUDANTIL!

ALIANÇA COM TRABALHADORAS E TRABALHADORES!

Rizoma – Tendência Estudantil Libertária

rizoma@riseup.net

12/04/2015

[Informe] Ocupação Preta no Conselho Universitário da USP

Estudantes negr_s conseguiram implodir o CO que se negou até o fim em abrir as portas. A tentativa era de apresentar o projeto de cotas da frente pró-cotas e forçar o CO a discutir uma política de acesso efetiva, que inclua estudantes pobres e negr_s na universidade.

Enquanto algumas pessoas eram barradas na entrada, outras duas ficaram presas lá dentro, durante cárcere privado por algum tempo. O choque também apareceu para reprimir uma mobilização estudantil.

O coletivo negro da ECA, Opá Negra, fez um vídeo que retrata muito bem o que ocorreu:

Assembleia Geral dos Estudantes

Todas a Assembleia Geral dos Estudantes às 18h no vão livre da Hist/Geo para decidirmos quais serão os eixos prioritários de nossa luta.

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Definir eixos prioritários para a greve estudantil: por uma universidade à serviço do povo!

Apesar do adiamento desta assembleia, em nossa última deliberação conseguimos traçar os primeiros passos organizativos da nossa greve ao instituirmos o Comando de Greve como instrumento fundamental para organizar a luta. Mas ainda falta o essencial: definir por quais eixos iremos lutar!

Funcionárias/os e docentes se organizaram e aprovaram uma série de reivindicações. Respeitamos e apoiamos a autonomia destes setores para organizar sua luta, mas precisamos também defender a nossa autonomia enquanto setor estudantil. Enquanto estudantes, o que nos ataca mais diretamente? Qual é o projeto de universidade que nós queremos construir? Por quais pautas seguiremos em greve até que tenhamos conquistas reais?

A assembleia passada deixou muito claro quais os eixos que estudantes defendem: Exigimos COTAS JÁ! Não vamos mais permitir que esta seja uma bandeira tímida do Movimento Estudantil. Se estamos de fato em defesa de uma universidade pública a serviço daquelas pessoas que a sustentam precisamos radicalizar a mobilização e não arredar o pé até que conquistemos nossas pautas! A implementação de cotas não envolve nenhum centavo do orçamento da USP, não tem desculpa e nem mimimi de reitor!

Garantir a entrada de estudantes pobres e negros está ligada diretamente com a necessidade de defendermos aqueles que conseguiram furar a barreira do vestibular e dependem das políticas de permanência estudantil para conseguir se formar. Chega de ter só estudante rica/o conseguindo se sustentar na universidade! Exigimos bolsas reais de apoio à permanência estudantil!

Frente ao descaso da reitoria para com o campus da USP localizado na Zona Leste precisamos deixar claro que um campus universitário na ZL foi reivindicação dos Movimentos Sociais e é lá que a EACH irá permanecer – e descontaminada! Não será nenhum setor estudantil ou trabalhador que irá arcar com as irresponsabilidades do governo do Estado e a da reitoria.

E se queremos poder seguir em luta, sem a criminalização de nossos movimentos, devemos garantir a defesa às/aos nossas/os companheiras/os de militância e exigir o fim de todos os processos contra estudantes da USP, UNESP e UNICAMP!

Cotas já, permanência estudantil , fim dos processos e defesa da EACH como eixos prioritários para greve estudantil!
Se o projeto dos de acima é precarizar para privatizar, o nosso é criar o poder popular
Legitimidade ao Comando de Greve!
AVANCEMOS!