Stuart Hall, os black bloc’s e a criminalização dos movimentos sociais

Retirado de kilombagem

No dia de hoje, 10 de fevereiro, morrem dois homens que ficarão para a história.

A primeira morte, ocorrida em Londres, Stuart Hall, um intelectual jamaicano que vivia na Inglaterra e principal nome dos estudos pós-coloniais, nos deixa uma robusta produção teórica que ainda não foi suficientemente dimensionada. Seu vasto campo de estudos, trás como elemento importante, a desconstrução da racialização e dos estigmas (presentes e atuantes) provocados pela colonização. Toda morte é uma perda, mas esta, ganha notoriedade por ser de um intelectual (diaspórico) que em vida, provocou-nos a pensar o mundo, para além do que nossa visão turva estava disposta. Uma morte que anuncia o fim do ciclo de vida de um ser humano, que deixou suas contribuições para além de seus limites biológicos. Hall “after life”  ainda será foco de muitas reflexões.

 

A segunda morte, e não menos importante (aliás, dessa se falará muito mais pelos próximos tempos) é do trabalhador-  também negro –   cinegrafista da Rede Bandeirantes Santiago Ilídio Andrade, de 49 anos, morto em serviço após ser alvo acidental de algum tipo de explosivo durante os protestos contra o aumento de passagem no Rio de Janeiro. Uma tragédia sem precedentes que certamente será utilizada contra os movimentos sociais brasileiros.

Uma tragédia para amigos e famílias do cinegrafista; uma tragédia para a categoria de jornalistas, mas, sobretudo, para o conjunto dos movimentos sociais, que a muito vem denunciando as desigualdades do nosso país. A tragédia é sem precedentes, não porque nunca houve acidentes a repórteres durante as manifestações – aliás, se a Associação dos Profissionais do Repórteres Fotográficos – AFORC fizer uma retrospectiva em seus documentos, encontrará uma grande lista de reportes agredidos e gravemente feridos neste tipo de evento pelas força da ordem. A tragédia é sem precedentes, porque ao que afirmam empolgadas as controversas investigações (com advogado de miliciano defendendo “black bocker” e vinculando indiretamente o nome de políticos que ameaçam a atual hegemonia política-eleitoral no RJ), o “artefato” causador da morte saiu das mãos de um manifestante. Bingo!!!!

“Era a brecha que o sistema queria”, avisa os carniceiros “que chegou o grande dia”

O que assusta, nesta paráfrase dos Racionais MCs, além da tristeza e pesar pela morte de  um ser humano no exercício da sua função, é ver confirmado na Televisão (Tiravisão, como classifica o meu tio evangélico) um aspecto medonho da teoria de Stuart Hall:

O significado não é um reflexo transparente do mundo da linguagem, mas surge das diferenças entre os termos e as categorias, os sistemas de referência, que classificam o mundo e fazem com que ele seja apropriado desta forma pelo pensamento social e o senso comum. (Hall, 2009:177)

 

A trágica morte do Santiago não terá o mesmo significado que a morte de outros trabalhadores de sua cor (neste país que mata negro por ser negro): Não porque sua profissão seja melhor do que a profissão dos trabalhadores (a maioria negros) mortos nas obra da Copa ou do PAC, não porque esse confronto (que ele cobria e registrava) seja diferente dos outros em que repórteres também  foram agredidos e até mutilados no exercício da função (me refiro ao repórter que perdeu o olho em Junho de 2013 após ter sido atingido por uma bala de borracha disparada pelos aparatos de repressão estatal).  O significado desta morte, está justamente na – ha muito tempo esperada – chance de colocar a tragédia na conta dos movimentos sociais.

É aqui que o pensador jamaicano (que infelizmente também morreu hoje) entra novamente para nos ajudar: a racialização, para ele (inspirado em sua leitura de Frantz Fanon), não é só o preconceito ao negro, mas é o ato de depositar no Outro (esse outro pode ser o gay, o negro, a mulher, os árabes, os movimentos sociais) as agressividades libidinais que são nossas (da sociedade como um todo).

Dizer que foi o Black Bloc que assassinou o jornalista, é ignorar que essa tática (eles não são um grupo, mas uma tática de autodefesa) só é útil diante da violenta, exagerada e desmedida REPRESSÃO POLICIAL. É ignorar que em geral, a violência em manifestações é sempre deflagrada pela repressão que elas encontram, e não aleatoriamente, como insistem em rotular os grandes veículos de comunicação; é  maquiar os dados de forma que  o problema passe a ser quem luta, e não o aumento da passagem, a mobilidade urbana e as desigualdades sociais.

O problema, que não é só dos cariocas, é que a significação (o significado) da morte do jornalista está em disputa, e a criminalização destes movimentos não será isolada, mas repercutirá em todo o contexto da luta de classes no Brasil (é amigo, ela existe, é só assistir o Jornal Hoje, que vc verá na nota de repudio da AFORC lida pela repórter global, com uma raiva que faz a higienista repórter do SBT Cheirazade parecer pacifista):

“Nós, jornalistas de imagem, exigimos que as autoridades de segurança do estado do Rio de Janeiro instaurem imediatamente uma investigação criminal para apurar quem defende, financia e presta assessoria jurídica a este grupo de criminosos, hoje assassinos, intitulados black blocs, que agridem e matam jornalista e praticam uma série de atos de vandalismos contra o patrimônio público e privado”, 

As Notas emitidas pelos órgãos de representação dos jornalistas não falam da violência policial, não dizem por que havia manifestação, mas incita o ódio institucional aos militantes… não se enganem! O apelo não é apenas contra o black bloc!

Ou o conjunto dos movimentos sociais se posiciona (aqui eu prefiro o Gramsci ao já saudoso Stuart Hall) nesse “jogo de significados”, politizando este debate em outros termos, ou assistiremos, de camarote no sofá das 8hs, a criminalização absoluta a qualquer tipo de movimento social que entrar em confronto com as forças de repressão do Estado… É sabido que os grandes meios de comunicação estão a serviço de um projeto de sociedade que garanta, mesmo sob nossos corpos, a plena circulação de mercadorias para acumulação de capitais.

Há um silencio desta grande mídia com a violência implícita às péssimas condições de vida; na imbecilização de seus suaves venenos midiáticos; no assassinato sistemático de jovens negros pelas periferias do Brasil. Mas ao mesmo tempo, evidente o seu apoio à aprovação das chamadas leis antiterrorismo em seu foco de institucionalização do terror contra quem ousar desafiar os grandes interesses em nome da vida (como é o caso de moradores desabrigados pelos governos locais, a mando da especulação imobiliária ligada à Copa do Mundo).

Se ficar provado que o dito “artefato” foi mesmo deflagrado por um manifestante, resta aos movimentos envolvidos fazer uma autocrítica e discutir criticamente os limites e possibilidades desta e de outras táticas de resistência ou enfrentamento. Pois de fato, qualquer passo em falso, será sempre usado contra os mais fracos. Mas é preciso não perder de vista que na imensa maioria das vezes (como no caso da manifestação em questão), quem inicia o confronto violento são as forças de repressão do Estado, buscando dispersar os manifestantes a bombas e cacetadas.

Choremos essa trágica morte, pois uma vida se perdeu… E uma vida interrompida é sempre o sinônimo de uma tragédia incalculável no seio da família e amigos que ficam… choremos por essa tragédia, mas não subestimemos a violência que esta se advogando contra quem, a partir de hoje ousar enfrentar estes “podres poderes”.

A Direita (bingo, ela também existe!!!) não se importa com mais um (negro) trabalhador morto em serviço- não esqueçamos que ele não usava os equipamentos de seguranças recomendados para esse tipo de ação, como capacete – mas explorará a dor dessa perda e  a indignação destes profissionais para legitimar seus próprios projetos espúrios.

 

Deivison Nkosi – Grupo KILOMBAGEM

Reuniões Abertas 2014 – CA’s e Espaços Estudantis

Galera, fiquem atentos às primeiras reuniões abertas dos Centros Acadêmicos de seus cursos. As/os calouras/os são muito bem-vindas/os!

A maioria delas acontece essa semana.

Segue o calendário desse fim de fevereiro pré-carnavalesco:

25/FEVTERÇA – Reunião aberta CEGE – 18h – Espaço Aquário

– Reunião aberta CAHIS – 18h – CAHIS

26/FEVQUARTA – Plenária sobre o trancamento das salas de aula (CAELL) – 12h e 18h – Sala 102 da letras

                               – Grupo de Estudos Libertários – 18h – Cahis

27/FEVQUINTAAssembléia ordinária dos estudantes de letras (caráter explicativo) – 12h e 18h – Frente ao prédio da letras.

                               – Fórum Espaço Aquário (ABERTO!) – 18h – Espaço Aquário

 

 

Quem se importa com a morte de mais um José?

Por Negro Belchior 

“Mandaram meu filho ajoelhar e o assassinaram”

A frase acima é do pai da vítima, o senhor que você vê na foto, que afirma que o rapaz foi assassinado por PMs. Revoltados, moradores incendiaram dois ônibus e fecharam via na Zona Norte do Rio

Mais uma operação da Polícia Militar carioca, agora no Morro São João, no Engenho Novo, terminou com a morte de um civil – um jovem negro, para não fugir a regra. Na noite desta quarta-feira, José Carlos Lopes Junior, de 19 anos, teria sido sumariamente executado por policiais militares – segundo relatos de moradores publicados pelo jornal carioca O Dia. Após essa ação da PM, dezenas de moradores da favela, que conta com Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) desde janeiro de 2011, fecharam o acesso principal e incendiaram dois ônibus.

O pai da vítima, José Carlos Lopes, afirmou o seguinte ao jornal:  Mandaram meu filho ajoelhar e o assassinaram. Que polícia é essa? Por isso que sumiram com o Amarildo e não acontece nada”.

E o Rio sangra…

Há muitos anos movimentos sociais brasileiros e organizações internacionais denunciam a política de segurança e a permanente ação genocida das polícias no Rio de Janeiro e de todo o país.

O Estado e suas polícias – que são inclusive glamourizadas no cinema — têm suas ações legitimadas pelos grandes meios de comunicação que repetem o discurso sobre a necessidade de se garantir a segurança do “cidadão de bem”, além de contribuir para que a violência seja considerado algo natural, desde que por uma suposta legítima defesa e, também, é claro, desde que dirigida a um alvo determinado – e aí os “alvos” são, quase sempre, não por acaso, pobres e pretos.

Quem se importa com a morte de mais um José?

Que grande jornal televisivo cobrirá a dor da família?

A “opinião pública” vai exigir uma caça ao vivo e em tomadas cinematográficas do suspeito pelo assassinato de José?

Debateremos leis mais severas para coibir a ação dos assassinos a serviço do estado?

Ouviremos discursos emocionados de âncoras nos telejornais das grandes redes de televisão?

Especialistas analisarão, em horário nobre, a fragilidade de uma democracia que promove com seu aparato armado, uma carnificina muito maior que a registrada em nossas duas ditaduras civil-militares?

A Polícia Federal será acionada para encontrar, seja onde for, o “foragido”?

Ah, ele não está foragido! O fardado que apertou o gatilho será comemorado e ganhará mais status em sua corporação.

E logo virão as cenas do próximo capítulo…

E a poesia dos Racionais…  cada dia mais sentido faz!

 “Recebe o mérito, a farda, que pratica o mal.

Me vê , pobre, preso ou morto, Já é cultural”.

Racionais

Bloco de Carnaval da Fanfarra do M.A.L – ESTE DOMINGO!

Bora colaaaar!!!!

São Paulo, junho de 2013, o levante popular colocou os governantes em baixo de suas camas em posição fecal. O gigante nunca acordou, nunca existiu nenhum gigante. O que existiu foi um histórico de intensa luta contra o sistema e o aprendizado acumulado daqueles que sempre combateram. A tarifa foi derrubada e com ela qualquer esperança coxinha de que não haverá revolução.

Estádio, FIFA, rede globo, coca-cola, estado de exceção que é permanente, gás lacrimogêneo, higienização, remoção de comunidades, nacionalismo, pinho-sol, prisões arbitrárias, Elisabete Gomes da Silva, Olimpíadas.

… Foda.

Já disse Voltairine de Claire “auto-responsabilidade, e a não adoração de líderes” são os ingredientes desse Coquetel Molotov que será lançado, durante o Bloco do M.A.L., na rua no dia 23 de fevereiro de 2014, às 15h, partindo do Largo do Arouche.

Não tocamos em atos contra a corrupção!

Somos Anticapitalistas!

Machistas não passarão!

Fodam-se as catracas!

Me cago en los nacionalistas!

Fanfarra do M.A.L. – nem melhor, nem diferente, pior!

Letra do samba-enredo 2014, link para download no final:

vem ver a copa acabar
antes de começar
vem lutar nesse carnaval
vem curtir o samba e dançar e cantar com a Fanfarra do M.A.L!

não vai ter remoção (não vai ter copa não!)
não vai ter estado de exceção (é permanente!)
não vai ter gentrificação
vai ter o povo ensaiando pra revolução!

agora a rua é nossa
com a revolta não há quem possa
bonito é o povo entrando em campo
é ver a fifa caindo em pranto

o dia raiou mais bonito, o continente inteiro acordou tranquilo
a tarifa foi pro precipício, o mundo inteiro entendeu o feminismo
os governantes pediram penico, os empresários foram demitidos
o trabalho não é mais permitido, polícia perdeu já não faz mais sentido!

[http://www.2shared.com/audio/77Jx94Go/15_Samba_enredo_2014.html]

Este sábado! Sarau da São Remo! Chega junto!

Evento no facebook: https://www.facebook.com/events/222708171265528/

Recado do Sarau Na Voz a Vez: “E para alavancar o PROJETO ALAVANCA, estaremos arrecadando, durante o Sarau, produtos de limpezas para realizar um grande mutirão de limpeza do prédio.
Vamos limpar a casa para iniciarmos as atividades e precisamos da colaboração de todos! Qualquer ajuda será bem vinda.”