[Informe] Reitoria da PUC/SP é ocupada por estudantes na noite de 17/mar

Nós, do Rizoma, declaramos todo o apoio à ocupação da Reitoria e estamos a postos para apoiar _s companheir_s em luta com o que for necessário. Por enquanto fazemos a divulgação do documento enviado pela Comissão de Comunicação.

TODO APOIO À OCUPAÇÃO DA REITORIA DA PUC!

——-

Nota à imprensa:

Na noite desta terça feira, 21 de Março, cerca de 400 estudantes da PUC-SP
ocuparam a Reitoria da Universidade. Eles realizaram uma assembleia geral
por volta das 19 horas e deliberaram pela ocupação.

A ocupação se dá após algumas semanas de mobilizações em que o corpo
estudantil cobrou uma audiência pública com a Reitoria e a Fundação São
Paulo (Fundasp), mantenedora da PUC, para que se abrisse um diálogo com a
comunidade acerca da crise financeira da PUC-SP e os consequentes cortes no
orçamento, que resultaram na demissão de professores e funcionários, além
da retirada do subsídio do Restaurante Universitário – o preço do bandejão
subiu de R$5,60 para R$10,34. Os subsequentes aumentos no valor das
mensalidades também foram citados nos atos e assembleias realizados desde o início das aulas.

Diante da recusa da direção da Universidade em comparecer diante da
comunidade, esclarecer a causa dos problemas financeiros enfrentados e
abrir as contas da PUC, o movimento criou uma comissão de negociação para
iniciar diálogo com a Reitoria.

As reivindicações do Movimento Estudantil da PUC-SP são:

– Volta do subsídio para todos os estudantes no bandejão.

– Assembleia Estatuinte: Pelo fim da lista tríplice e do Conselho
Administrativo (CONSAD)

– Creche para os filhos de estudantes, professores e funcionários.

– Audiência pública com a Reitoria e a Fundasp já.

– Reabertura de turmas nos cursos de Filosofia, Geografia, Serviço Social,
História e Ciências Sociais.

– Fim da precarização dos contratos de trabalho dos professores

A comissão de comunicação deve soltar em breve um manifesto mais detalhado sobre as reivindicações e os próximos passos do Movimento.

São Paulo, 18 de Março de 2015.

Comissão de Comunicação da Reitoria Ocupada

Carta de apresentação

O que é o Rizoma?

O Rizoma é uma tendência estudantil libertária. Batalhamos para construir um movimento estudantil forte e comprometido com a luta da classe trabalhadora, que encontre na ação e democracia direta as ferramentas de sua resistência. Somos uma tendência, pois defendemos as organizações de base, como centros acadêmicos, e não queremos substituí-las por nosso coletivo, mas fortalecê-las enquanto ferramenta de organização e mobilização. Nos organizamos de forma horizontal e construímos a prática libertária em todos os espaços de nossa atuação, pois acreditamos ser necessário e urgente o enfrentamento contra as políticas da classe dominante.

Por quê atuamos no Movimento Estudantil?

O Rizoma nasceu da greve de 2011 na USP – contra o convênio feito com a Polícia Militar – e atua desde então no movimento estudantil. Defendemos a organização pelos locais de estudo, trabalho e moradia, pois é, para nós, no local do nosso cotidiano que lutamos contra as opressões e a exploração da sociedade capitalista.

Somos estudantes e reivindicamos as memórias deste movimento que se fez presente em importantes ações ao longo de toda a história da luta de classes e por diversas vezes buscou a construção de um projeto libertário para a sociedade.

Acreditamos na força do movimento estudantil tanto para a defesa de suas próprias pautas quanto pela importante aliança com os/as trabalhadores/as de dentro e fora do espaço da universidade. É na solidariedade de classe que encontramos a unidade para consolidar a força do poder popular.

Por quê defendemos a organização?

Ao longo da greve de 2011 diversas pessoas, que militavam enquanto independentes, foram percebendo cada vez mais as limitações de se atuar isoladamente. A partir desta experiência ficava cada vez mais nítido que era preciso agir em coletivo para intervir de forma efetiva nas lutas.

Surgimos com o objetivo de constituir uma corrente libertária dentro do Movimento Estudantil com capacidade concreta de mobilização e enfrentamento. A nossa construção coletiva se contrapõe à ideologia individualista, pois acreditamos que o discurso político se torna mais coeso e as ações se tornam mais efetivas quando pensadas em conjunto.

Defendemos a organização horizontal e de base para construirmos as respostas aos desafios que estão colocados. É no debate e na formulação conjunta de propostas e estratégias para o movimento que conseguiremos lutar contra as medidas da Reitoria e alavancar processos de mudança profunda na sociedade.

Quais métodos de luta defendemos?

Devido ao caráter de classe (dominante) da Universidade, buscamos impulsionar um Movimento que, ao mesmo tempo lute por melhorias imediatas nas condições de vida da classe trabalhadora e ataque o caráter burguês e conservador dessa instituição. As pautas de reivindicações, mas também os métodos, mostram para qual projeto estamos apontando.

Defendemos as assembleias e os fóruns de democracia direta, sempre ligados e respondendo à base do movimento para ir em sentido oposto aos fóruns burocráticos e à política representativa. Fazemos nós, por nossas próprias mãos, as ferramentas de decisão do movimento.

Defendemos as ações diretas radicalizadas, como piquetes e ocupações, que servem para enfrentar a reitoria e desestabilizar a estrutura da universidade. E, acima de tudo, defendemos a greve como instrumento de mobilização legítimo e eficiente. Nela negamos a passividade de estudante, saindo das salas de aula para aprender na prática como conquistar o que nos diz respeito.

O que queremos para a universidade?

Desde o seu surgimento a universidade é estruturada para afirmar a sociedade dividida entre classes. Deve estar no horizonte do movimento estudantil a superação dessa instituição que mantém e reproduz a lógica capitalista. Para isso, é necessário explicitar seu caráter excludente e combater as políticas de precarização do trabalho e do estudo.

Por ser uma instituição capitalista que responde apenas aos interesses da elite dominante, a universidade não têm e não terá função revolucionária. Não defendemos, portanto, pautas de reestruturação da universidade, como as que giram ao redor da estrutura de poder. A estrutura da universidade dentro do sistema capitalista só pode servir ao capital, independente do modo como escolhemos a reitoria ou a forma como são formulados os estatutos.

Analisando historicamente e de maneira ampla o papel da universidade, esta serve também à divisão social do trabalho e à segmentação da classe trabalhadora em mão-de-obra “qualificada” (o chamado trabalho “intelectual”) e mão-de-obra precarizada (chamado trabalho “braçal”). Divisão colocada pela classe dominante que almeja manter a estrutura social intacta, reservando os postos de trabalho “qualificados” à uma parcela da população, enquanto grande parte se encontra nos postos de trabalho precarizados. Essa forma de divisão do trabalho e segmentação da classe é inerente à função da universidade e é essencial para a manutenção do capitalismo.

Lutamos por cotas sociais e raciais, porque essa é uma pauta classista e que fere diretamente o projeto de universidade burguesa. Cor de pele e poder de consumo ainda são critérios, mesmo que indiretos, para o ingresso na universidade, o que se constata quando observamos quais lugares as pessoas negras assumem na universidade – na maioria das vezes, concentradas nos trabalhos mais precarizados e poucas em sala de aula. A perpetuação dessa condição, escancara como o capitalismo marca pela cor da pele a segmentação da classe.

Defendemos a permanência estudantil, através da ampliação de moradias e bolsas estudantis, pois as poucas pessoas pobres que ingressam na universidade enfrentam sérias dificuldades para se manterem ao longo de seus estudos. Vemos que é perpetuada a lógica de que trabalhar não é uma necessidade real e imediata de estudantes, o que dificulta em muito a permanência da juventude da classe trabalhadora. Desde já, e principalmente quando conquistarmos o sistema de cotas, será preciso ampliar e garantir políticas de permanência estudantil para que o acesso à universidade não seja fictício, com mais pessoas negras e pobres ingressando, mas não conseguindo concluir a graduação, deparado-se com mais um funil social.

Também lutamos contra qualquer medida de repressão à mobilização. Com o acirramento da luta, cada vez mais a Reitoria se utiliza de todo o aparato repressivo do estado para tentar esmagar o movimento. Cresce dentro da Universidade as violentas ofensivas da Polícia Militar que sempre esteve a serviço dos interesses do Estado e da burguesia, reprimindo a luta da classe trabalhadora e também a juventude, principalmente a juventude negra nas periferias. Na universidade a repressão também se manifesta com processos e expulsões contra aquelas que se organizam e lutam, demonstrando ainda mais que a “justiça” está do lado dos patrões e da burocracia universitária. A defesa de nossas/os lutadoras/es pautada na ação direta é um dever do Movimento Estudantil, essencial para sua continuidade e fortalecimento.

E para que seja possível organizar todas estas frentes de luta precisamos garantir a existência de espaços estudantis que não sejam controlados pela burocracia universitária e que fomentem a autogestão estudantil.

No movimento estudantil estas são as nossas defesas mais centrais para que, em aliança com as outras forças da classe trabalhadora, possamos lutar contra a universidade e a sociedade capitalista!

OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER!
PELA IMPLEMENTAÇÃO DE COTAS SOCIAIS E RACIAIS!
EM DEFESA DA PERMANÊNCIA ESTUDANTIL!
CONTRA A REPRESSÃO!
DEFENDER OS ESPAÇOS ESTUDANTIS!

cropped-rtel.jpg

PARTICIPE!

 

Dois mil e crise sem arrego! Atividade aberta sobre conjuntura na USP

prontoCARTAZATIVIDADECONJUNTURA2

Nos dias 18 e 19 de março o Rizoma fará duas atividades abertas para discutir a conjuntura na USP.

O espaço é super aberto para conversarmos sobre o cenário de crise que já estamos enfrentando e que já demonstra que se aprofundará nos próximos meses

Veteran_s e ingressantes, estão convidad_s para conversarmos, trocar informes e pensar em propostas sobre como podemos responder a tudo isso.

Desde já recomendamos a leitura do texto que soltamos sobre conjuntura: https://rizoma.milharal.org/2015/03/09/dois-mil-e-crise-avaliacao-de-conjuntura-e-perspectivas/

Ambas as atividades são abertas a estudantes de todas as unidades da USP e quem for de fora da USP também. Pensamos em duas datas diferentes para que as pessoas pudessem escolher em qual delas fica mais fácil a sua participação.

// Atentem-se para as datas, horários e locais:

NA FAU: 18/março, quarta-feira às 17 horas. A atividade será no espaço conhecido como Caramelo. Evento: https://www.facebook.com/events/1543877989211027/

NA FFLCH: 19/março, quinta-feira às 18 horas. A atividade será na entrada do prédio da História e Geografia, que fica no lado oposto ao vão. É só procurar pela entrada dos bamboos – Evento: https://www.facebook.com/events/867773066623450/

Dois mil e crise [avaliação de conjuntura e perspectivas]

Texto em PDF: rizoma-conjuntura-2015

rizoma-conjuntura-2015-page-001

Conjuntura da USP em 2015

Acabadas as férias, encontramos na USP uma “nova” conjuntura. Uma conjuntura difícil nascida das medidas da reitoria, que cada vez mais explicita seu projeto de precarização do trabalho e da permanência estudantil. As consequências das medidas tomadas em 2014, justificadas pela crise orçamentária, surgem de maneira rápida e desastrosa. É preciso organizar o movimento estudantil para que, em unidade com as/os trabalhadoras/es, resistam frente aos ataques da reitoria e do Estado.

O PIDV (Plano de Incentivo à Demissão Voluntária para trabalhadores/as), imposto pela reitoria em 2014, começa a exibir seus frutos. Vale lembrar que, ao contrário do que era tão difundido pela reitoria e pela mídia, o problema da USP nunca foi ter funcionárias/os demais. Ao contrário, desde a década de 1990 a expansão da universidade foi acompanhada por um tímido aumento no quadro de funcionários/as, sendo visível a sobrecarga de trabalho agora intensificada pela saída de cerca de mil e quinhentos trabalhadores/as através do PIDV. É nesse contexto de demissões e congelamento das contratações que voltamos das férias, com o fechamento do bandejão da prefeitura e a estagnação das vagas das creches, ambos contraditoriamente justificados pela falta de funcionários/as.

A reitoria não só manobrou e jogou a culpa da crise orçamentária na quantidade de funcionárias/os – quando sabemos que quaisquer fatores que provocaram a crise são resultado das imposições da burocracia, que age essencialmente segundo seus próprios interesses – como apresentou uma “solução” ainda mais devastadora. Não se traça planos à toa, planos que afundam ainda mais a universidade e agravam a crise. Esse discurso e essas medidas apontam para o sucateamento e precarização do trabalho e do ensino, e abre espaço para decisões ainda mais drásticas, como a tão especulada e aclamada pela mídia: a privatização. Privatização que leva à terceirização, que submete as/os trabalhadoras/es terceirizadas/os a uma situação ainda mais vulnerável, já que muitas vezes estas/es estão desprovidas/os de sindicatos combativos que possam mobilizar a categoria e fazer frente às longas jornadas de trabalho, horas-extra mal pagas e salários baixos.

A precarização do trabalho e da permanência estudantil são evidentes. Além da sobrecarga aos/às trabalhadores/as que restaram, o congelamento das vagas nas creches universitárias atinge mães trabalhadoras e estudantes que dependem desse recurso para poder justamente trabalhar e estudar, e a questão se repete quando se trata dos Hospitais Universitários. Outro ponto relevante é a contaminação do acervo da Biblioteca da FFLCH, informação que já se sabe desde abril de 2014, mas que a diretoria da unidade se sentiu confortável em não dar respostas, mostrando seu total descompromisso com a saúde das/os funcionárias/os e com as condições de estudo das/dos estudantes.

Cotas e permanência estudantil

O movimento estudantil precisa se atentar também, mais do que nunca, a duas pautas que são essenciais e latentes esse ano: as cotas e a permanência estudantil. 2015 é um ano decisivo para a implementação das cotas, sendo preciso marcar a posição dos/das estudantes e de grupos que debatem o tema sobre como acreditam que esse processo deva acontecer, além de pressionar para que o tema seja discutido de maneira séria e política fazendo frente à proposta apresentada pela reitoria de discutir outra forma de ingresso (ENEM) ao invés de assumir abertamente um projeto de cotas raciais e sociais.

Quanto à permanência, essa exige uma mobilização estudantil forte, com as ações que forem necessárias diante dos cortes de bolsas estudantis, corte em vagas de estágios, congelamento do valor das bolsas de auxílio e tentativa de desvinculação da administração da política de permanência passando para o governo do Estado. O fechamento da creche e dos bandejões é um ataque direto à permanência estudantil, não podemos deixar estas medidas sem respostas! Também não podemos aceitar a terceirização como proposta da reitoria para que mantenha os restaurantes abertos, não será às custas de maior exploração de trabalhador_s que vamos conquistar nossas reivindicações!

Ameaça aos espaços estudantis e repressão

Soma-se a isso a ameaça existente aos espaços de alguns Centros Acadêmicos, como os da EACH, FAU e ECA, que se configura como um nítido avanço da repressão contra as nossas formas de organização e ação políticas. Assim se apresenta o quadro de pressão contra os/as estudantes: querem atacar a permanência, querem atacar os espaços físicos, querem sufocar o movimento estudantil! A resposta deve então ser a nossa mobilização e organização para enfrentar desde já tais ataques, que são duros e evidenciam a necessidade de resistência.

Nesse sentido, não podemos esquecer que começamos 2015 também com o avanço da repressão por parte das reitorias: em defesa da moradia estudantil, dezessete estudantes ocuparam a diretoria da UNESP Araraquara, tendo a reitoria respondido com a intervenção da polícia militar e com o anúncio de expulsões! A luta pela permanência estudantil é comum às/aos estudantes de todas as universidades e devemos nos solidarizar e mobilizar pelas/os companeheiras/os da UNESP, pois a continuação da resistência e o apoio à elas/eles servem para pressionar o Conselho Universitário contra as expulsões e deixar claro para os de acima que não seremos silenciadas/os!

Mobilizar e organizar a luta

A greve de 2014 foi um marco na defesa dos direitos das/dos trabalhadores, porém é preciso lembrar que a categoria dos estudantes esteve pouco presente e por isso nossas pautas pouco apareceram. O movimento estudantil precisa começar o ano letivo já preparado para a luta em um 2015 difícil. Nossas demandas precisam ser encaradas com a atenção e seriedade que necessitam. Devemos nos organizar em cada curso, em cada faculdade, em cada Centro Acadêmico e por toda a universidade, pois é em unidade e com organização que construímos o poder estudantil e popular e conquistamos nossas vitórias!

Defendemos que se convoque urgentemente uma Assembleia Geral de Estudantes para organizarmos o movimento estudantil! Exigimos Cotas Já e não apenas mudança no sistema de ingresso que garante com que a elite tenha dupla chance de entrar na USP (através da Fuvest e do Enem). Defender nossas políticas de permanência estudantil, nossos espaços de auto-organização e organizar a solidariedade aos/às estudantes expulsos/as da UNESP! Construir uma forte mobilização pautada na unidade entre estudantes e trabalhador_s!

LEVANTE-SE E LUTE MOVIMENTO ESTUDANTIL!

Balanço da luta contra o aumento de 2015

Embora a luta contra o aumento de 2015 não tenha sido encerrada com um informe oficial do MPL ela anunciou seu fim no ato do dia 06 de fevereiro que reuniu menos de 500 pessoas. Desde o início era sabido que a luta deste ano se apresentaria como um desafio muito maior que foi junho de 2013. Por um lado, estava claro que seria uma questão de honra tanto para o governo do estado, quanto da prefeitura, não ceder para o movimento mais uma vez e por outro, a mobilização encontraria dificuldades para a radicalização dos atos de rua tendo em vista a sofisticação e aperfeiçoamento dos métodos repressivos desde 2013. Assim como em 2013 soltamos um balanço sobre a luta contra o aumento, este ano fazemos o mesmo para que de cada processo de mobilização possamos aprender com nossos erros e acertos.

Já nos primeiros dias da mobilização, nós soltamos um texto¹ que apresentava a nossa avaliação sobre quais as medidas minimamente necessárias para que esta batalha fosse vitoriosa. Falamos sobre a problemática em torno do passe livre estudantil, da necessidade de aliança com os trabalhadores em trono da pauta contra as demissões e deixamos claro que na nossa avaliação deveríamos tomar as ruas em torno do eixo de luta “contra o aumento”, organizar o movimento através da democracia direta e entrar pra vencer. Estes pontos guiaram nossa atuação ao longo da mobilização no início deste ano em nossa participação tanto nos atos, quanto nas poucas reuniões chamadas pelo MPL e em nossa articulação no Movimento Estudantil da USP que é onde insere-se a nossa militância de base.

Em linhas gerais gostaríamos de reforçar neste balanço alguns pontos:

Como reflexo da forma como a luta foi organizada todo mundo pode observar que ao invés de aumentar o número de pessoas nas ruas ao longo dos atos, a luta foi definhando a passos largos. Esta queda vertiginosa mostra as dificuldades em manter as pessoas nas ruas e mobilizadas quando estas não sentem que são necessárias e parte essencial do movimento. Quando são apartadas do poder de decisão sobre os rumos e estratégias da luta que estão diretamente envolvidas as pessoas passam a se enxergar como apenas mais um número caminhando por avenidas aleatórias.

A luta contra o aumento não deveria ter sido organizada de forma centralizada no MPL apenas porquê este é o coletivo que pauta transporte. O Movimento Passe Livre aglutina sim um capital simbólico construído ao longo dos anos, mas o aumento da passagem é um ataque a tod_s da classe trabalhadora. Nós defendemos a democracia direta e a autogestão, pois acreditamos que as decisões devem ser tomadas pelas pessoas que são afetadas diretamente pelas questões em foco. E por isso sustentamos ao longo de toda a luta contra o aumento – e seguiremos sustentando – a defesa das deliberações vindas das bases. Em períodos de greve, mais do que nunca, nós fazemos a defesa irredutível pela criação dos comandos de greve, pois compreendemos que é principalmente nos picos de luta que temos capacidade para avançar ainda mais no aprendizado das nossas ferramentas de luta. Nem nós, nem tantas outras pessoas que se organizam politicamente, precisariam desviar a sua “área de atuação” e começar a discutir qual o melhor sistema de licitação, ou qual a melhor especificidade técnica dos transportes para saber o quanto pesa o aumento no seu bolso e isso era mais do que o suficiente para que todas estas pessoas pudessem dizer como achavam melhor que a luta contra o aumento fosse organizada.

A completa ineficiência dos fóruns de base articulados pelo MPL e a ausência de espaços de democracia direta reais serviu como uma contenção da luta e impossibilitou que as pessoas nas ruas decidissem o quanto acreditavam, ou não, na possibilidade de vitória. Na prática, a direção do movimento impediu que a base ultrapassasse seu próprio descrédito e provasse nas ruas o quanto poder tínhamos, de fato, para barrar o aumento. Fazemos também a crítica às tantas organizações da esquerda que surfaram nos holofotes da luta contra o aumento apenas para aglutinar mais adeptos, ao invés de ter a coragem de fazer a crítica aberta ao MPL e tentar reorganizar a luta a tempo que esta fosse vitoriosa.

Tendo em vista que nós fomos uma das poucas organizações que abertamente colocaram divergências com a forma como a mobilização estava sendo organizada, recaiu sobre nós as críticas que blindavam a estratégia do MPL. Sobre isto gostaríamos de comentar abertamente o ocorrido na Assembleia da Zona Oeste, tão comentado pelos corredores, em textos e no boca a boca da militância.

O tão citado conflito na assembleia ocorrida na Praça Elis Regina é, ao nosso ver, um momento de inflexão onde dois formatos diferentes de militância se esbarraram abertamente. De um lado estava o MPL e pessoas próximas, que convocaram a assembleia com as pautas já delimitadas a priori e que tinham um objetivo de construir um núcleo que pautasse as necessidades de transporte da região. De outro lado estavam vários setores organizados bem como trabalhadoras da USP que estão acostumados com fóruns de decisão onde as próprias pessoas podem decidir o que será pauta ou não, e acabavam de sair de uma greve de 4 meses onde todas as decisões foram tomadas em assembleias e/ou outros espaços de democracia direta. A diferença crucial naquele espaço estava entre quem achava que era necessário construir a luta apenas em torno das pautas locais, e quem via as assembleias de bairro como instâncias de base para organizar a luta contra o aumento como um todo.

A assembleia teve seu ponto culminante quando uma parte defendeu a comunicação entre movimento geral e os bairros através da proposta de que as assembleias de bairro pudessem dar seus próprios informes na assembleia maior que ocorria antes dos atos centrais. Esta proposta buscava integrar as organizações dos bairros para que houvesse uma troca real sobre quais debates, pautas e atividades cada região estava pensando com o objetivo comum de barrar o aumento, tendo em vista que este se dava de forma homogênea em toda a cidade de São Paulo ( com variações de valores nas regiões metropolitanas). O MPL neste momento fez uma fala dizendo que iria se retirar da assembleia caso esta proposta fosse votada e nos dias seguintes passou a convocar outro espaço de organização por transporte na Zona Oeste. Precisamos deixar claro que nós, do Rizoma, achamos absolutamente saudável o embate político, pois acreditamos que é no debate de ideias e práticas que conseguimos avançar. Um lugar onde todos concordam com todos tem algo de errado e com certeza angústias estão sendo caladas. Por isso referendamos nossas críticas à forma como o MPL conduziu a luta contra o aumento deste ano que, no fundo, é apenas a continuidade da centralização também observada nas jornadas de junho de 2013 em São Paulo.

A manutenção do aumento da tarifa não é fruto do mero acaso. É resultado de sucessivos erros estratégicos. No entanto, não nos lamentemos por essa derrota, não há tempo. 2015 apresenta um cenário de crise nacional e só com a população organizada e combativa conseguiremos barrar os próximos ataques. Que da luta contra o aumento de 2015 fique mais uma vez o ensinamento: defender as organizações de base, superar as direções que freiam a luta, reforçar ainda mais a solidariedade entre trabalhadores e estudantes e organizar através da democracia direta a defesa da classe trabalhadora!

OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER!

¹ rizoma.milharal.org/2015/01/15/vencer-nas-ruas-estudantes-na-luta-contra-o-aumento