Versão em PDF: texto-eleicoes-DCE-2014-avesso
Estamos às vésperas de mais um processo eleitoral para o Diretório Central dos Estudantes da USP. Todo mundo está se sentindo no clima de São Paulo Fashion Week, onde já podemos escolher qual a melhor tonalidade para esta estação. Entre um desfile e outro de nuances bem distantes do vermelho, podemos nos deliciar com maravilhosas pílulas de imobilismo. Enquanto aproveitamos este momento emocionante de êxtase onde, em breve, aplaudiremos cada cédula preenchida, cada voto implorado, chorado, suado, onde poderemos ligar imediatamente para nossa dirigência para contar que fizemos bem a tarefa de casa e que em breve poderemos (re)começar a escolinha de “como conquistar um cargo político em 3 passos”, gostaríamos de propor uma breve retrospectiva para deixar claro que os anos de eleições têm sido tóxicos para o movimento:
Em 2011 tivemos um final de ano marcado por momentos de fortíssima resistência. Com a entrada da Polícia Militar na USP dois processos de ocupações foram deflagrados, manifestações de rua estavam sempre na pauta do movimento e a tendência era de crescimento exponencial das lutas. Era quase fim de ano e ouvíamos de alguns setores do Movimento Estudantil que era melhor entrarmos de férias e depois retomarmos as mobilizações. Garantiam que o ano recomeçaria com uma forte mobilização, comprometeram-se com isso, mas estes setores já são muito bem treinados no curso avançado de “como ser cara de pau”.
Desta forma 2012 começou. Começou bem para a REItoria que, enquanto fazia a reintegração de posse da Moradia Retomada, expulsava 6 estudantes e processava mais de 90, assistia de camarote a diversão colorida cheia de confetes e serpentinas das eleições para CAs e DCE no começo do ano, misturada com as eleições municipais e mais eleições para DCE no final do ano. 2012 terminou em completo marasmo, de fato foi o ano da “Universidade em Movimento que Não ia Se Adaptar”, mas que entregou de bandeja todo o setor estudantil para o banquete cerimonial do Rodas.
O ano seguinte permaneceu quase inteiro sem grandes acontecimentos. De fato a chapa de “unidade” para o DCE estava muito ocupada construindo luta nos sofás cor-lilás. Outro graande acontecimento é o mês de outubro que dá uma energia nova para o movimento. A greve e ocupação iniciadas foram importantes para explicitar o iminente colapso da estrutura universitária. Também ficou claro que o interesse das/os estudantes e o da grande maioria do corpo docente são inconciliáveis. Até mesmo o setor mais progressista do professorado não conseguiu disfarçar o descontentamento com nossos piquetes, trancaços e ocupação, enfim, nossos métodos de luta. Esses acontecimentos são resultados da democracia direta, da luta real que é travada quando o movimento estudantil consegue superar, mesmo que momentaneamente, as alienações que o separam da realidade. Mas novamente fomos tomados por uma súbita vontade de “tirar férias” da luta. Mais uma vez a mobilização foi sequestrada por parte daquelas/es que não admitem seguir com o jogo se não for nas regras delas/es, e que, sendo os donos da bola, interrompem a partida quando bem convém.
2014 chegou e, somado aos problemas não resolvidos na greve passada, vivemos um período de corte orçamentário que afeta diretamente toda a categoria estudantil que precisa de programas de permanência, temos um campus inteiro da USP em crise e os processos de vigilância e repressão se intensificando, com instalação de câmeras e continuidade dos processos contra estudantes que se mobilizam. Também estamos em um cenário de constantes casos de opressão envolvendo machismo, racismo e trans-bi-lesbo-homofobia que exigem uma resposta imediata do movimento. Mas já estamos em abril e nada foi feito.
Qual a solução para tantos problemas? Dissimuladamente dirão que são as eleições! Alegando que “se elegermos corretamente uma chapa, composta por pessoas iluminadas que compreendem em sua totalidade todos nossos sonhos e demandas, os problemas serão resolvidos”. É preciso rejeitar essa desculpa esfarrapada! Voto é alienação! É separar o indivíduo da sua capacidade política e entregá-la para alguém pretensiosamente mais inteligente e preparado. É o contrário da democracia e da ação direta. É a reprodução das ferramentas dos de acima. É preciso que não se tenha mais ilusões neste método que há tempos aponta para seu fracasso completo.
Há dias estamos imersos em cartazes e faixas das mais variadas cores e formas, nomes pomposos, exércitos uniformizados que se atacam superficialmente dizendo querer fazer o melhor por você, estudante. E tudo o que você precisa fazer é ajudá-los a adentrar no gabinete-mirim.
Para nós revolução social não se faz indo até a urna mais próxima. Lutar é muito mais do que disputar direções e entidades. Nos espere perto das urnas apenas quando elas estiverem pegando fogo, pois nossos sonhos não cabem nelas.
Por isso continuaremos a construir campanhas marginais e periféricas a favor das lutas contra a repressão, por cotas sociais e raciais e por permanência estudantil. Mas não nas urnas! Não nas urnas, pois simplesmente não temos tempo a perder nesta guerra contra o capitalismo e o Estado que nos violenta. Não nas urnas, pois para nós o movimento não é estágio para conseguir cargo em gabinete. Não nas urnas, porque não aceitamos que nos sequestrem a política! Não nas urnas, porque todas as conquistas significativas foram fruto da luta e da organização popular das mais variadas formas, mas nunca representativa. Não nas urnas, porque o papo é reto e a democracia é uma farsa se não for democracia direta!
Não dependa, não se submeta. Construa a luta com suas próprias mãos!
SAUDAÇÕES E FORÇAS AOS CORAÇÕES LIBERTÁRIOS!
Indicamos também a leitura de outros 2 textos nossos:
20/agosto/2012: PORQUE NÃO COMPOR O XI CONGRESSO
[https://rizoma.milharal.org/2012/08/20/porque-nao-compor-o-xi-congresso/]
27/novembro/2012: 2012, O ANO DA UNIVERSIDADE EM MOVIMENTO QUE NÃO IA SE ADAPTAR
[https://rizoma.milharal.org/2012/11/27/2012-o-ano-da-universidade-sem-movimento-que-nao-ia-se-adaptar/]