9 pessoas são detidas no RJ em ação da PM

Por Mídia NINJA

Ao todo 9 pessoas foram presas de forma arbitrária e violenta pela PM do Rio de Janeiro no Arpoador esta tarde.

Os jovens foram violentamente espancados e, ao gravar as imagens do abuso policial, o midialivrista Filipe Peçanha teve sua câmera confiscada e também foi detido, com a absurda acusação de falsidade ideológica já que não portava identificação de imprensa. Todos os videos e fotos foram apagados pelos policiais.

O Policial que efetuou as prisões e comandou a ação violenta é o Tenente Ramos, o mesmo que prendeu o ativista Baiano no dia 15 de outubro, conforme a foto veiculada nesse post, durante as manifestações legitimas organizadas pelos movimentos sociais da cidade.

Confira o relato de Filipe Peçanha:
www.youtube.com/watch?v=drgslMJodgo&feature=youtu.be

E o posicionamento da Mídia Ninja sobre o ocorrido:

SEU CELULAR AGORA É UMA ARMA E USÁ-LO É CRIME

Mais um Ninja preso no Rio de Janeiro. Algumas considerações importantes e perguntas para pensarmos o que isso significa.

Não era manifestação ou ato politico. A princípio não era uma situação “especial” onde grupos organizados estavam nas ruas em defesa de suas bandeiras de luta, e que por isso poderiam oferecer perigo a ordem pública ou a propriedade privada. Esses são os argumentos utilizados pra justificar os absurdos cometidos pela PM brasileira a partir de junho de 2013, num processo crescente de criminalização dos movimentos sociais e do livre exercicio de manifestação e expressão.
O que acontecia era uma ação corriqueira da PM carioca, na praia do Arpoador, no Rio de Janeiro. Repetindo um procedimento recorrente nas periferias do Brasil, a PM usava de violência contra jovens negros, em plena zona sul. Acostumados com este tipo de atitude, e muitas vezes acobertados pelo conservadorismo de nossa elite, os policiais não contavam com a presença de um midialivrista por ali. Afinal de contas, era uma praia da zona sul, e os jovens são negros, e supostamente estavam cometendo um crime. Agredir é mostrar a todos que estamos fazendo o nosso trabalho, não é mesmo?


Ledo engano. Na sociedade da massa de mídia, podemos sacar o celular, ou uma câmera diante de qualquer violência, inclusive a policial, e foi isso que aconteceu.

Todos sabemos que a PM brasileira é a que mais mata e que as balas de borracha utilizadas nas manifestações são substituídas por balas de fusil nas favelas. Diariamente convivemos com os relatos sobre a violência policial. Entretanto, na periferia ou no campo, qualquer forma de registro, relato ou denúncia são acuados com muita intimidação e violência. Não se fala e não se filma porque se paga com a vida muitas vezes. O medo e a morte são as armas para conter a liberdade e impor a ordem.
Mas na zona sul do Rio de Janeiro?

E aquela dondoca que tava tirando a foto do cachorrinho e sem querer registrou o ato, vai ser presa também?

Ou será que o fato de fazer parte de uma midia livre que tem acompanhado de perto os abusos policiais e as lutas populares na cidade são agravantes?

Independente das respostas a estas perguntas, o que sabemos é que o repórter Ninja foi preso, acusado de falsidade ideologica, e que teve todo o conteúdo registrado apagado pelos policiais. Este é o fato.
As dezenas de acusações sobre abuso da PM contra jornalistas e contra a liberdade de expressão que vieram a tona com as recentes manifestações estavam circunscritas principalmente neste ambiente politico, onde a multiplicidade de interesses e afetos deixam o contexto mais difuso. O jornalista e o ativista estavam no mesmo lugar e sofriam o mesmo ataque. Um ataque cruel aos nossos direitos, mas com uma camuflagem muitas vezes imposta pelos próprios veículos de comunicação, que transformam desejos da sociedade em atos de vandalismo, e assim escondem diariamente a violência praticada pelo Estado contra a sua própria população. Quando explorado, isso é feito de forma sensacionalista e movido por impetos conservadores, que ainda pedem mais violência.

Mas, fora deste ambiente politico, o que será que a imprensa vai falar deste fato?

O que aconteceu hoje no Rio, e ainda aguarda desdobramentos, é um ato claro de ataque direto a Liberdade de Expressão e revela o completo Despreparo de nossa Policia Militar. Não existe o que camuflar. A ação era cotidiana, numa praia, e Filipe, com o seu espirito midialivrista apenas registrava um fato que achava importante e que está relacionado diretamente com a sua vida.

O registro de práticas de violência e crimes deveria ser algo muitíssimo valorizado e incentivado pela Justiça Brasileira. Quantos crimes seriam esclarecidos, quantas injustiças identificadas e evitadas se o cidadão comum, independente de sua profissão, tivesse a consciência da importância do registro de provas contra tudo isso. As câmeras dos celulares não existem apenas para os Selfies. Elas são ferramentas também a serviço da Justiça e da Verdade, e este é um dos principais valores do midialivrismo.
Contudo, o que deveria ser uma arma da Justiça se transforma em Crime, numa inversão absurda de valores em nome da continuidade da violência e do desrespeito aos nossos direitos civis. Em nome da continuidade dos métodos aplicados por nosso Politica Militar.

E por que a PM tem medo e prende? E se prende, pq solta? E se solta, porque não pode prender, o que nós podemos fazer?

Numa massa de midia, sem necessidade de registros ou diplomas, este direito fundamental não pode ser ameaçado, e isso não pode ser visto apenas como um problema de jornalistas e profissionais de comunicação. É um problema de todos que acreditam na Liberdade de Expressão e não tem medo de suas consequências.

Filipe está solto, mas nós seguimos ameaçados.

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