Professora negra da USP é assediada e humilhada no restaurante Dueto

Retirado de: http://mariafro.com/2013/11/26/professora-negra-da-usp-e-assediada-e-humilhada-no-restaurante-dueto/

Caso de assédio moral, machismo e racismo tudo junto e misturado no Dueto, um restaurante que adorava frequentar.

A indicação do post denúncia é de Domingos Tomé, também cliente do Dueto.  Ontem mesmo falava com Laerte Coutinho do dia que nos encontramos neste restaurante quando vários pais da escola da Vila foram jantar após a formatura de nossos filhos.

Além de não ir mais neste restaurante vou informar minha filha que o frequenta desde pequena com seus amigos  e informarei meus amigos. Espero que este sujeito asqueroso seja processado, nem diante de testemunhas ele não se constrangeu nem um pouco em assediar moralmente uma cliente, ofendê-la, humilhá-la.

Como escrevi no 20 de novembro sobre o racismo e o machismo: Nenhum homem pode entender integralmente como é degradante para nós mulheres sermos assediadas, violentadas, diminuídas em nossa humanidade por termos útero e vagina. 

Há machistas que nos agridem até mesmo expondo partes do corpo feminino com comentários grotescos, como se fôssemos cadáveres em uma aula de anatomia. O machista reifica o corpo feminino ao requinte de nos reduzir a um único órgão: a vagina.

Não há violência física que não seja precedida da violência psicológica e moral e o machista e seus sentimentos grotescos quer ter direito sobre os nossos corpos, decidir nossa moral a partir da roupa que vestimos, do linguajar que usamos, do sexo que fazemos. 

O nível do controle que a sociedade machista quer exercer sobre o corpo da mulher chega ao absurdo de querer criminalizar aquela que aborta. Quando não se tem direito sobre o próprio corpo não se goza de plena liberdade. Os escravos não têm direito sobre o seu corpo. Não somos escravas.

O machista é tão abjeto que na impossibilidade de argumentar, naturaliza a diferença entre os sexos para submeter a mulher.

Ao sair de casa para comemorar seu aniversário de 33 anos, no dia 8 agosto,  a geóloga e Professora  Doutora USP, Adriana Alves,  jamais imaginou que seria uma noite tão constrangedora.  Ela chamou um grupo de amigos e todos se encontraram no restaurante Dueto Bar, localizado no bairro do Butantã em São Paulo.  “É um bar frequentado principalmente por pós-graduandos e professores da USP. Era meu bar predileto, ia lá quase que semanalmente há pelo menos quatro anos”, descreve a professora em entrevista ao site Mundo Negro.

Seus pelos lá de baixo devem ser duros como os da sua cabeça”, diz dono de restaurante à professora negra da USP

Por Silvia Nascimento, Mundo Negro


Fachada do Restaurante “Dueto Bar”, no Butantã-SP

Tudo corria bem, até que ela o seus amigos foram para frente do restaurante, na calçada, para fumar e conversar. O dono do estabelecimento, um holandês de nome Peter, que nunca havia falado com ela, juntou-se ao  grupo com a intenção de se aproximar da professora.  “Ele começou perguntando se meus dentes eram verdadeiros, por serem muito brancos, eu dei uma risada e respondi que sim. Tentamos mudar o assunto da conversa, quando ele me perguntou se eu gostaria de tomar café  da manhã com ele no dia seguinte”, descreve a professora.  Ela tentou desconversar novamente, questionando o que a esposa dele acharia da proposta, e ele respondeu “que ela não tinha nada com aquilo”.

Para ver ser Peter desistia das investidas, Adriana foi ao banheiro e ao voltar, se posicionou bem entre seus amigos. O holandês deu a volta para se aproximar dela novamente e perguntou se ela se depilava. Brava e em tom agressivo a professora respondeu que não tinha pelos, quando ele retrucou: “Aposto que tem e os de lá de baixo devem ser duros como os da sua cabeça”.  Os amigos não reagiram, um deles era chileno e não falava português. Adriana resolver deixar o local, contra a vontade de Peter que perguntou ainda “qual era a última vez que ela tinha gozado gostoso”.

“Cheguei em casa e desatei a chorar. Pensei, sim, que a motivação dele foi racial. Há várias reclamações no site do restaurante, mas todas por grosseria. Então ele se achou no direito de falar daquela forma comigo, é porque sou negra e sabemos muito bem como a mulher negra figura no imaginário brasileiro”, afirma Adriana. Ela conta ainda que quando relatou o ocorrido aos amigos negros, todos de pronto entenderam o “viés racial” da situação. Já as amigas brancas, disseram que isso é normal e acontece “com qualquer mulher”.

Inquérito foi instaurado

Em agosto, logo após o ocorrido, Adriana Alves se dirigiu à Delegacia de Defesa da Mulher para instaurar inquérito. No entanto, a delegada presente entendeu que crimes de racismo deveriam ser investigados numa delegacia comum. No dia 14 de novembro,  assessorada pelo advogado do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), Daniel Oliveira, a professora foi orientada a retornar à 3ª Delegacia de Defesa da  Mulher para fazer o boletim de ocorrência, e nesta segunda tentativa não houve objeção.

“Trata-se  de com caso de racismo, porque o dono do restaurante não apenas a assediou, mas fez uma associação relativa ao cabelo dela, que tem obviamente uma conotação preconceituosa”, explica Oliveira do CEERT.

Silvia Nascimento – Site Mundo Negro www.mundonegro.inf.br

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Professora negra da USP sofre ofensa racista em restaurante de São Paulo

Docente afirma que o proprietário do restaurante a insultou de acordo com depoimento prestado à 3ª Delegacia da Mulher (Bairro Jaguaré), na última quinta-feira – 14/11

A geóloga e docente da Universidade de São Paulo, Adriana Alves estava reunida com amigos no Restaurante Dueto, no dia 08 de agosto, para comemorar seu aniversário.

Segundo ela, o dono do bar, o holandês Peter, se aproximou e proferiu palavras grosseiras com o objetivo de manter relações sexuais, ouvidas por ela e por testemunhas que devem ser chamadas para depor.

Prevalecendo-se da condição de proprietário do estabelecimento, Peter não se intimidou com as recusas de Adriana e passou a ser cada vez mais inconveniente. Em determinado momento perguntou: “Seus dentes são de verdade? Você se depila nas partes pubianas? Há quanto tempo você não goza gostoso?”.

Diante da negativa e enfretamento de Adriana, disparou: “Seus pelos pubianos devem ser tão duros quanto os da sua cabeça!”.

A vítima acredita que a sua condição de mulher negra tenha motivado o assédio. Seu advogado, Daniel Teixeira, concorda: “De acordo com o relato dos fatos, é possível perceber uma conotação nitidamente preconceituosa na atitude do proprietário do restaurante, seja nas palavras que utilizou para abordá-la, seja nas palavras ditas após a professora ter se negado a dar-lhe qualquer atenção”.

O pedido de instauração de inquérito foi protocolado pelos advogados do CEERT na 3ª Delegacia de Defesa da Mulher.

Mais informações
Juliana Gonçalves, assessora de imprensa do CEERT – Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades. Site:www.ceert.org.br
Contatos: 11 985259387 11 957062171 jukisantos@gmail.com

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