“Não começou ontem, e não terminará hoje.”
Sobre a atual conjuntura, por Rizoma
“A SS agora veste o cinza da PM”
(Discurso ou Revólver – Facção Central)
O ano de 2011
Este ano foi marcante e essencial para os movimentos sociais que atuam em São Paulo. Em meio à efervescência da Luta Contra o Aumento (quando a passagem subiu para R$3), da Marcha da Maconha e a reintegração de posse da Reitoria da USP, vivenciamos um pouco da violência e terrorismo da qual a periferia é vítima todos os dias. Na região do centro e da Av. Paulista, repletas de imprensa, a bala é de borracha e a Polícia Militar de SP precisa responder minimamente às acusações de abuso de poder. Sabemos que quando as câmeras somem e não se pode registrar e divulgar as ações policiais, a repressão na periferia é responsável pela morte sumária de nossa juventude preta e pobre.
Após a violenta repressão à Marcha da Maconha em maio de 2011 se organizou um grande ato pela Liberdade de Expressão e o Fim da Violência Policial. Naquele cenário vivenciamos uma primeira experiência de esvaziamento de pautas com a manipulação de grupos que tornaram o ato um grande guarda-chuva. Sob o fluido nome de “Marcha da Liberdade”, juntamos todas as pautas da esquerda alternativa frequentadora da região da Augusta. Naquele momento ainda juntávamos pautas de esquerda, mas a expulsão de partidos políticos de forma violenta – como se deu nos atos de 2013 – era algo improvável. Apesar da menor radicalidade e propostas desarticuladas com os movimentos de periferia e resistência, tivemos um terreno fértil para o surgimento de novos grupos e coletivos políticos.
2011 e o início de 2012 também foram cenários de fortes movimentos pautando a luta por moradia, greves e ocupações em universidades, articulação pela regulamentação das armas menos letais e desmilitarização da polícia, ocupações de praças públicas com aulas, oficinas, experiências de vivência coletiva e a terrível memória – que ainda segue travada na garganta de todxs – da reintegração de posse do Pinheirinho. Também tivemos marcos dentro do próprio movimento autônomo e libertário que trouxeram novamente à tona a importância da discussão de gênero dentro dos coletivos e a necessária resposta em casos de agressões machistas.
Foi em meio a este contexto que o Rizoma surgiu, quando se fez possível e necessária a construção de um coletivo libertário e autônomo que atuasse no movimento estudantil da USP a partir de linhas como ação direta, formação teórica coletiva, horizontalidade, solidariedade, e que se articulasse em rede com os demais movimentos e coletivos autônomos da cidade e do estado de São Paulo.
Essas linhas foram base para uma prática que engloba a construção de ações, para além dos discursos em palanques, contra a repressão e os processos que criminalizam estudantes na USP, o apoio à luta e aos saraus realizados na favela da São Remo, a proposição de encontros estaduais libertários, o estreitamento do diálogo e ações conjuntas com os demais coletivos autônomos da USP e centros acadêmicos, e atividades que tematizassem a violência de gênero, autogestão, horizontalidade, cultura de segurança e intervenção direta. Isso significa dizer que nossa prática e nossa compreensão de luta são baseadas nas experiências acumuladas coletivamente nesses processos.
Temos clareza de que o Rizoma tem sua ação localizada em um tempo e espaço. Esta compreensão parte do entendimento de que a ampliação da luta contra as opressões está associada à existência simultânea de vários focos sociais combativos. Em outras palavras, acreditamos na importância de uma rede que integre ampla quantidade de grupos, pessoas, reivindicações, instrumentos de luta, espaços, urgências, desejos e possibilidades – pois assim é possível lutar, sem deixar de respeitar e se valer dos acúmulos locais já existentes.