Nota de agradecimento de um dxs presxs políticos da Luta Contra o Aumento

Um pouco de inspiração no dia de hoje.
Força companheirxs! Seguimos em luta nesta Guerra Contra o Aumento!

NOTA DE AGRADECIMENTO A TODXS QUE LUTARAM E LUTAM PELA LIBERDADE DOS PRESOS POLÍTCOS NA LUTA CONTRA O AUMENTO DAS TARIFAS E CONTRA A CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAS.

Eu, Ederson Duda da Silva, preso no dia 11 de junho durante as Manifestações do 3 Grande Ato Contra o Aumento da Passagem de São Paulo, venho a público agradecer a todxs amigxs e manifestantes que do lado de fora continuaram a lutar por nossa liberdade, que fizeram de tudo para que hoje eu pudesse estar solto e escrevendo este relato/texto.

Acredito que não há palavras e letrinhas que possa retribuir por toda luta que foi travada do lado de fora da prisão.

Espero que os mais de duzentos presos políticos, durante as Manifestações Contra o Aumento da Tarifa, em São Paulo e no resto do Brasil, não tenham passado pelo mesmo processo de terrorismo psicológico que eu e mais três companheirxs passamos durante os três dias em que ficamos presos entre CDP Belem-2 e a penitenciaria de Tremembé.

Fomos arbitrariamente tratados desde o início. Fomos presos e levados para um presídio de segurança máxima para servi de exemplo para outras manifestantes que querem ir contra o Estado. Não tive direito nem de poder fazer uma ligação e poder avisar pessoas do lado de fora.

Fomos isolados do mundo exterior, não sabíamos o que estava acontecendo, apenas por meio de agentes penitenciários em determinados momento que avisava que a luta do lado de fora continuava e crescia. E quando ouvi isso fiquei muito feliz. Muito mesmo. Uma alegria e esperança em saber que mesmo que ficasse por tempo indeterminado naquela cela, pessoas do lado de fora continuava a luta, isso foi uma fonte de energia muito grande.

Quando na quinta-feira, 11, tive a oportunidade de ver o noticiário na TV depois de três dias, me deparei com aquela multidão na rua, parando São Paulo, ver a adesão popular, várias cores diferentes, dividindo o mesmo espaço para gritar contra o Estado e a força abusiva da PM, as pessoas lutando, gritando palavras de ordem, sem medo, foi uma das sensações mais fortes que senti. Me veio um sorriso de a ponta a ponta. Uma alegria profunda e muito gostosa enchia meu espírito de energia, para aguentar firme aquele baque e poder voltar logo pra rua e me juntar aquela multidão.

Agora não é mais pelos 0,20 centavos!

Desde o início da prisão fui – junto com outrxs – considerado preso político e “inimigo do Estado”, servindo como exemplo para os demais, tratado como “terrorista” por exercer meu livre direito de Manifestação.

Sou integrante do GTNM-SP – Grupo Tortura Nunca Mais São Paulo – e ficou claro diante das coisas que presenciei durante o tempo que passei na cadeia, a forma como fui tratado, que muito pouco mudou desde a Ditadura Militar.

Não temos mais os Militares no poder, mas a estrutura de controle, disciplina e poder permanecem. Toda Manifestação que vá contra o Estado será duramente punida! Foi o que senti.

Estamos em um Estado Democrático, a sociedade tem o direito de se Manifestar, esta no art. 5 da Constituição Federal, de 1988.

Fui privado deste direito, assim como muitxs outrxs. O Estado não assegurou meu direito de manifestação do pensamento. Mais uma vez a constituição brasileira foi atropelada por Governos que acham que podem tudo e querem manter o controle através da força – força da militarização cada vez maior dos Estados – e do medo – como torturas psicológicas.

Para mim fica claro que tudo isso é um processo de criminalização de Movimentos Socias – assim como na Ditadura Militar. O Estado utiliza o medo para neutralizar a sociedade de exercer seu direito de manifestar-se. O medo é uma das táticas mais terríveis, pois, é duro imaginar que você pode passar um bom tempo na cadeia em condições decadentes – como é o sistema carcerário brasileiro – por não concordar com as condutas opressoras do Estado – como foi o meu caso.

É preciso mudamos essa conduta!

O controle social e a existência de um “estado de segurança preventiva” indicam diferentes modalidades de repressão. O papel crescente do serviço de inteligência, do controle e uso de novas tecnologias, a repressão simbólica, o avanço na coordenação internacional da repressão realizada pelos EUA e seus planos de militarização do continente, destinados a reproduzir e fortalecer sua hegemonia mundial leva a discussão da criminalização e do Estado democrático para a ordem do dia.

Nesse conflito social, os movimentos de jovens, mulheres, indígenas, camponeses, trabalhadores desempregados ou precarizados, populações afetadas pelos empreendimentos e grandes eventos do novo modelo de “desenvolvimento” do capitalismo neoliberal, vem sofrendo grande repressão do Estado Democrático, que não prioriza o dialogo com a sociedade, mas sim o uso da força da Militarização dos estados para impedir a sociedade de exercer seu direito e manifestar-se.

A criminalização dos movimentos populares é um aspecto orgânico da política de “controle social”. Articula diferentes planos das estratégias de dominação, que vão desde a criminalização da pobreza e a judicialização do protesto social, até a repressão política aberta e a militarização. São diferentes mecanismos tendentes a subordinar os povos às lógicas políticas do grande capital, para assegurar o controle dos territórios, das populações que os habitam, dos bens da natureza, e para reduzir ou domesticas as dissidências.

A “guerra ao terrorismo” – tratado de Washington – assumiu uma dimensão mundial, fazendo crescer de maneira brutal as assimetrias de forças e de oportunidades.
Funcionais para o enfoque de estigmatização “dos pobres”, “dos diferentes” e daqueles que desafiam o poder, deixando claro a “criminalização da pobreza” e de “criminalização dos movimentos sociais”.

Não podemos nos calar diante disso!

Estamos vivendo um momento histórico no Brasil e eles não vão nos calar com seu terrorismo psicológico!

Eles não vão nos desmobilizar com seus joguinhos políticos de interesse!

Eles não entendem que não é sobre o transporte e os 0,20 centavos.

Esta luta é muito além do que eles querem pautar. É a indignação engasgada na garganta de mais de quinhentos anos de opressão, exploração.

Eu, como muitos cidadãos do mundo, não me sinto representado por estas instituições democráticas representativas. Não me sinto representado por esta prática democrática em que a elite e a classe política se apropria da representação, não presta contas em nenhum momento e justifica qualquer coisa em função dos interesses que servem ao Estado e à classe política, ou seja, os interesses econômicos, tecnológicos e culturais. Eles não me representam!!!

Não me representam! É esse o espírito que carrego. São sentimentos fortes desde o Ocupa Sampa. São ideias que estão no ar. Um novo tipo de conduta que surge e que eles não sabem lidar – ou sabem, com a força bruta da Polícia. Não entendem a não liderança, não representação. Não entendem o espaço público e participativo – ou não querem entender.

O sistema político representativo está em grave crise por não ter conseguido dar respostas satisfatórias à sociedade.

“Dizem os de cima: ‘Nós mandamos. Somos mais poderosos, ainda que em menor número. Não nos importa o que vocês digam-escutem-pensem-façam. Sempre serão mudos, surdos, imóveis.”

“Porém o kaos que vem de abaixo… Ah, esse… Os de cima não entendemos o que dizem, quem são, quanto custam os de baixo. “

Tentarão nos parar pela força e medo. Tentarão transformar isto tudo em um protesto moral inofensivo. Mas a verdadeira razão de estarmos reunidos e lutando é o fato de já não suportamos mais sermos ignorados, de não sermos ouvidos e de nos tratar como pura e simples massa de manobra em época de eleição.

ELES NÃO NOS REPRESENTAM!

E eu, serei eternamente grato por todxs que lutaram por mim e por outrxs presos políticos. Serei eternamente grato por poder fazer parte desse momento histórico. E serei eternamente indignado e contra qualquer poder que tente por a mão em cima de mim, que oprima aquelxs em minha volta, que exerça da força para dominação!

Estamos tentando construir a liberdade que desejamos – a única coisa que falta é a “tinta vermelha”

“Você, que está aqui presente, está dando a todos nós tinta vermelha.”

Até a vitória, sempre!

Marichiweu!!!

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