PDF do panfleto: balanco-2sem
Este ano começou com um evidente acirramento entre a classe trabalhadora e os capitalistas e estatistas, reflexo da crise econômica que estamos vivendo: ataques do governo através de arrochos salariais, inflação e ameaças como o PL 4330 da terceirização. Apesar de não termos conseguido barrar o aumento das tarifas nos transportes públicos, o conjunto de lutadoras e lutadores ao redor do país organizaram suas defesas com fortes greves de categorias como a dos professores de São Paulo e do Paraná, greve dos servidores públicos, metalúrgicos e muitas outras. Um número considerável de universidades federais também se levantou e seguem travando uma batalha contra os cortes do governo federal. O ano de 2015 começou marcado pela expressão “dois mil e crise” e o desafio que está colocado é como o conjunto da classe trabalhadora e sua juventude continuará dando respostas frente a tantos ataques. Enxergamos que o Movimento Estudantil tem um papel essencial nessa resposta, porque ele tem o poder de organizar uma parcela relevante dessa juventude.
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Na militância estudantil das estaduais paulistas este primeiro semestre ficou marcado pela luta contra a repressão. Na UNESP, os estudantes conseguiram se organizar e realizar atos de solidariedade aos trabalhadores – como no caso do Instituto de Artes que realizou uma intervenção no metrô de São Paulo em solidariedade aos metroviários que foram demitidos – além de conduzir uma campanha contra os processos administrativos resultantes da ocupação por moradia em Araraquara. Apesar de vitoriosa, pois as expulsões foram revogadas, ficou latente a necessidade dos estudantes da UNESP darem um passo a mais na articulação a nível estadual. Os desafios para os próximos períodos serão cada vez maiores e somente com organizações bem consolidadas nas bases dos cursos e que estejam alinhadas a nível estadual será possível estarmos preparados para as respostas que a conjuntura exigirá de nós. A repressão já voltou a mostrar a sua cara com as ameaças de expulsões no campus de Rio Claro e o movimento não poderá vacilar. Para isso é urgente que todos os estudantes combativos da UNESP se engajem na consolidação de uma organização a nível estadual que seja efetiva para mobilizar as bases estudantis e colocar o movimento nas lutas do próximo período.
Na USP, a paralisação nacional do dia 29 de maio foi um marco para o movimento. A forte repressão que enfrentamos mostrou para toda a população a truculência intrínseca à polícia militar que reprime trabalhadores e violenta mulheres, mas este dia também mostrou que levamos a sério o lema “não tem arrego”. Esta resposta violenta do estado de São Paulo contra estudantes e trabalhadores da USP explicitou outro acirramento que estava sendo colocado neste primeiro semestre. O ano mal tinha começado e já estávamos em ritmo acelerado de paralisações culminando com a ocupação da reunião do Conselho Universitário (C.O.) pela reivindicação de cotas raciais e sociais. Vitórias estavam sendo alcançadas como no caso da EACH que arrancou da direção da universidade um espaço estudantil que havia sido roubado pela burocracia e a devolução de 700 bolsas de permanência estudantil que haviam sido cortadas. Na prefeitura do campus a mobilização de trabalhadores também foi vitoriosa conseguindo o afastamento de 4 chefetes da prefeitura do campus que assediavam os funcionários através de xingamentos homofóbicos, machistas e racistas.
Mas nossas respostas ainda ficaram aquém dos ataques, pois encerramos o primeiro semestre sem conseguir reverter, por exemplo, o fechamento de vagas nas creches – que afetam diretamente as mulheres trabalhadoras e estudantes. A ocupação do C.O. no IPEN resultou em repressão através de processos e o plano de demissão voluntária continua aumentando a exploração dos funcionários. Também terminamos o semestre com o fechamento do bandejão da prefeitura e com uma política de acesso à universidade que está bem longe do que o movimento estudantil reivindicava em torno da pauta de cotas.
Aqui é preciso fazer um balanço crítico sobre o que está ocorrendo na USP e no movimento estudantil como um todo. Na maior universidade do país estamos lidando há anos com uma direção que tem servido em diversos momentos para desorganizar o movimento estudantil, como é o caso do Diretório Central de Estudantes da USP nas mãos do PSOL e do PSTU. Reflexo disso foi a primeira assembleia geral do ano que só veio a ocorrer em abril, quando o movimento sindical já estava encabeçando importantes paralisações e o conjunto de trabalhadores e estudantes já havia realizado até ocupação no órgão máximo da burocracia universitária. Essa desorganização fez com que não conseguíssemos mobilizar para responder à implementação do ENEM – que veio como manobra para não aprovar cotas raciais e sociais – e tantos outros ataques. Também não estávamos organizados e mobilizados para que, no recuo da categoria de trabalhadores frente ao ínfimo reajuste dado pelo governo estadual e o desgaste da greve do ano passado, conseguíssemos assumir a linha de frente para barrar os diversos ataques que estão sendo efetuados pela reitoria da USP.
Para além das pautas específicas nas universidades, os estudantes deveriam ter se feito mais presentes nas mobilizações nacionais contra os ataques do governo federal. Com grande parte de suas entidades nas mãos de organizações governistas que, através da UNE, fazem do movimento estudantil uma proteção ao governo anti-operário do PT, toda a potência do movimento estudantil tem ficado atrofiada há anos. Devemos ter certeza: serão estas direções governistas que correrão novamente à defesa do governo no momento em que este, retalhado por suas contradições, se afunda em uma crise política. Sofrendo ataques políticos internos à própria dinâmica estatal (na câmara e no senado) e pressionado pelos trabalhadores em conjunto, serão organizações como o Levante Popular da Juventude e a Articulação de Esquerda que tentarão dirigir a juventude e o movimento estudantil à defesa de um governo inimigo da classe trabalhadora. Será nosso dever e dever de todas as organizações da esquerda combativa, disputar essa direção e organizar o movimento estudantil não em defesa do governo, mas ao lado da classe trabalhadora contra a conciliação de classe e a crença no projeto falido do petismo. Dessa maneira, explorando as contradições das direções governistas e oportunistas, devemos encabeçar um movimento de ruptura com esse projeto e avançarmos impulsionando o movimento estudantil à luta ativa contra o governo.
Frente a atual situação do movimento estudantil soma-se também o fato de que, quando não estão na mãos dos governistas, as entidades estão sob direção de outras organizações reformistas. É urgente a tarefa do crescimento de direções combativas e revolucionárias nos centros acadêmicos e diretórios para que estas não sejam exceções pontuais e consigam se colocar à altura dos desafios que se abrem no próximo período. Por isso, nós do Rizoma continuaremos focados na atuação pela base dos cursos tentando mobilizar e organizar o movimento estudantil, dando também um passo a mais para ampliar a atuação em outras universidades, pois só conseguiremos barrar os virulentos ataques que estão vindo dos capitalistas e estatistas com ações unificadas e radicalizadas de todo o corpo estudantil em aliança com os trabalhadores!
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Os governos sabem a força que temos e, enquanto aplicava arrochos generalizados, tratou logo de tentar calar alguns dos sindicatos mais combativos e de setores mais estratégicos dando reajustes, ainda que com porcentagens menores do que a inflação, para trabalhadores das estaduais paulistas – que têm no SINTUSP uma importante e radicalizada atuação – e para os metroviários – setor altamente estratégico e também com forte tradição de luta. A derrota da greve de professores de São Paulo mostrou que o governo está disposto a reduzir ao máximo as condições de vida dos trabalhadores, mas serviu também para mostrar a traição das direções governistas que oscilam e muitas vezes fazem o jogo dos patrões e governos. A classe trabalhadora está rompendo cada vez mais rápido com as políticas de centrais como a CUT e diante do acirramento da luta esta tendência é ainda mais crescente. Cabe ao movimento estudantil também conseguir superar as direções que servem de âncora para um movimento que tem uma potência enorme.
Recuperar a combatividade estudantil, organizar o movimento e prepará-lo para os enfrentamentos necessários. Este é o desafio para o próximo período e no qual estaremos engajados. Esperamos que mais e mais estudantes componham estas fileiras de luta.
Avante compas!
Nenhum passo atrás!
Venceremos.