[Debate] Crise! Quais os desafios para trabalhadores e estudantes?

Demissões, congelamento de salários, inflação em disparada, cortes em direitos trabalhistas, fechamento de escolas, abertura de prisões, repressão…

Estes são apenas alguns dos reflexos gerados pela crise que estamos enfrentando. Muito se tem falado sobre a necessidade de dar respostas dos trabalhadores para isto, mas que respostas são essas? Quais os desafios para a esquerda frente a este cenário? Qual é o papel do movimento estudantil nesta luta?

Com o objetivo de debater estes pontos, nós do Rizoma organizamos este debate que contará com a seguinte mesa:

– JORGE GRESPAN, é professor do curso de História na USP e tem como linha de pesquisa, entre outras, o conceito de crise econômica em Marx;
– MAGNO DE CARVALHO, é diretor do SINTUSP e membro da executiva nacional da CSP-Conlutas;
– AMANDA MONTEIRO, é estudante de História e militante do Rizoma;

Estão todos convidados!
A previsão é de que sejam falas iniciais de 10 a 15 minutos e depois seja aberto tempo para perguntas e debate;

SEGUNDA-FEIRA
26 de outubro às 18h
Auditório da História

O LEVANTE DOS SECUNDARISTAS

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Ato contra o fechamento de escolas no estado de São Paulo (09/10/15)

O dia amanheceu cinzento. Quase como uma visão do que enfrentaríamos. Às 8h da manhã haviam centenas de estudantes concentrados no MASP, sendo a grande maioria de secundaristas (alunos do fundamental e médio da rede pública de ensino), prontos para ocuparem as faixas da Av. Paulista. Às 8h:30 a Paulista já estava tomada e os coros começavam a engrossar. As organizações não orgânicas ao movimento, que tentaram dirigir o ato, foram rechaçadas e a grande massa de secundaristas levantou a mobilização apesar destas direções. O ato começou seu trajeto rumo à Av. Consolação e não demorou até encontrar seu primeiro obstáculo.

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Um dos manifestantes, um estudante secundarista, foi detido por PMs de forma arbitrária e truculenta, como é próprio da instituição. As imagens acima mostram como foi a abordagem: um PM torce o punho do garoto, enquanto outros cercam a cena para impedir as pessoas de intervirem.

A polícia é o braço armado do Estado. É a instituição que garante a “Ordem e o Progresso”. Mas não de todos e sim de uma determinada classe, a burguesia, que se sente ameaçada quando a juventude toma as ruas em reivindicação daquilo que lhe pertence. Outra questão que é colocada e será explorada logo à frente é a de que a tática da polícia nesses atos é sempre a mesma: provocar com intervenções fortuitas e gratuitas para minarem a nossa unidade.

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Durante 5 minutos, palavras de ordem rechaçando a brutalidade da PM, como “Solta um, ou leva todo mundo!” e pelo fim da PM, “Não acabou, tem que acabar: eu quero o fim da polícia já!”, ecoaram. Os estudantes secundaristas passavam a mensagem bem clara: NINGUÉM FICA PARA TRÁS! A resistência das pessoas que ali estavam fez com que o garoto fosse solto.

A PM conseguiu o que queria: separar o ato em duas partes. Durante o ocorrido uma parte do bloco que marchava, a que estava mais a frente e, portanto, não sabia que o garoto tinha sido pego, prosseguiu com o ato e a segunda parte do bloco assumiu a postura de escoltar o garoto e garantir que mais ninguém fosse pego. Em meio a toda a confusão gerada, um jornalista que fazia a cobertura do ato para o portal de mídia Viomundo – Caio Castor – registrava toda a repressão e teve seu equipamento danificado pela polícia.

Caio não desistiu e abordou o oficial que comandava a operação, de nome Capitão Santos. O jornalista alertou que eles haviam danificado seu equipamento e disse que as imagens estariam no ar ainda hoje.

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A resposta do Cap. Santos (que pode ser conferida no link aos 4 minutos e 50 segundos) foi a seguinte:

– “Vou te pegar depois! Vou te pegar depois! Pode sumir do mapa, eu vou te pegar!”

Outra tática que a PM usa em manifestações é a de impedir que a imprensa classista cumpra seu papel, que é de denunciar a violência repressiva dos agentes do Estado. Como prometido, Capitão Santos iniciou um safari atrás do jornalista que correu para se proteger após as ameaças.

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As imagens mostram Caio sendo algemado e conduzido até a viatura, que o levaria ao 78º DP (Rua Estados Unidos, 1608, Jardins – SP). Ao mesmo tempo a tropa de choque chegou e fez mais dois reféns: um professor de sociologia e um estudante que estavam na luta contra o fechamento das escolas.

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Enquanto a polícia mantinha o professor e o estudante separados da manifestação e algemados, diversas pessoas exigiam que a mochila de ambos fosse revistada publicamente, pois sabemos que é prática cotidiana da polícia plantar provas falsas em mochilas, como ficou amplamente conhecido nos protestos de 2013 contra o aumento da tarifa e nos protestos de 2014 contra a Copa do Mundo. Estas pessoas eram ameaçados constantemente pela polícia que queria impedir qualquer filmagem da repressão ou da revista nas mochilas. O estudante foi liberado ainda na Av. Paulista e o professor foi levado à mesma DP que o jornalista. Após horas na delegacia, os dois foram liberados após prestarem depoimento acompanhados de um advogado.

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O ato unificou-se novamente com os estudantes sentados em frente ao prédio da Gazeta e de lá fizeram meia-volta e desceram a Rua Pamplona cortando pela Alameda Itu sentido 9 de Julho onde o ato teria um de seus momentos mais marcantes: a ocupação de ponta a ponta do túnel que retorna à Consolação.
Mesmo com a presença das tropas de choque, o ato rumou até a Praça Roosevelt para seu momento final. Um regime de assembleia foi instituído, as saudações foram dadas e rapidamente os estudantes deliberaram o próximo ato que ficou marcado para o dia 15/10 às 10:00h, com concentração no Palácio dos Bandeirantes.

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Todo apoio à luta contra o fechamento das escolas

Nós do Rizoma – Tendência Estudantil Libertária – saudamos a forte luta de estudantes secundaristas, professores e funcionários das escolas que serão fechadas. Também saudamos todas os lutadores e lutadoras que mesmo não sendo atingidos diretamente pela “reorganização escolar” promovida pelo governador Geraldo Alckmin, sabem que a luta é uma só. Apoiamos a mobilização contra o fechamento das escolas e reforçamos a convocatória para o ato do dia 15, que será um dia nacional de lutas contra os ataques e os cortes na educação feitos pelos governos.

TODOS AO ATO DIA 15!
TOMAR AS RUAS!
BARRAR O FECHAMENTO DAS ESCOLAS!

“Se minha escola fechar
A cidade vai parar!”

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Saudações, Rizoma.

A questão da auto-organização das mulheres

Muito tem-se falado de auto organização das mulheres no movimento estudantil por conta da mobilização que tem chamado plenárias e atos auto organizados. Porém, uma imediata reação equivocada e muito comum nos movimentos tem sido adotada por alguns grupos: a de necessariamente negá-la, dando a entender que este debate já se esgotou.

Sabemos que traçar as origens do capitalismo é possível, mas não temos registros precisos de quando surge a dominação patriarcal. Por não ser uma dominação somente econômica, o debate se torna mais complexo internamente aos movimentos compostos por homens e mulheres e demonstra o quanto esse tipo de dominação está mais profundamente enraizada na sociedade como um todo. Nesse sentido os homens que compoem as organizações de esquerda não estão livres de cometer infrações machistas contra as companheiras de luta, o que torna imprecindível que as mulheres estejam organizadas para garantir o espaço político que por tanto tempo foi negado por ninguém menos que os homens.

Não é de hoje que os movimentos revolucionários discutem a auto organização das mulheres, sendo muitas vezes, repelida sem que se aprofunde a discussão o suficiente. A imediata reação de negação à organização específica de mulheres já aconteceu no seio das organizações socialistas, como por exemplo em 1907, quando Alexandra Kollontai sugeriu que houvesse uma reunião “para mulheres apenas”, prontamente alguém anunciou outra reunião, “para homens apenas”. Esta segunda pretendia preparar os homens para barrar essa tentativa com o argumento de que isso poderia afetar a unidade dentro da organização e dividir a classe. Sabemos que a revolução russa que se deu 10 anos depois foi muito importante para conquistas do movimento de mulheres, mas devemos nos atentar principalmente para o fato de que as pautas de mulheres eram decididas entre elas através de uma frente de mulheres que se formou depois de muita insistencia, e por isso, durante algum tempo – ou até a burocratização do estado soviético – foram garatidos alguns direitos como por exemplo, o direito ao divórcio, o seguro social e a paridade de direitos em relação ao matrimônio. Tais direitos não foram dados de bandeja pelos companheiros. Podemos citar a legalização do aborto que foi garantida pelo departamento feminino do Partido Bolchevique. Esta medida de legalização do aborto era uma divergência clara dentro do partido, e não por coincidência, a maioria de homens que a sustentava. O que garantiu o atendimento de pautas como esta foi a auto organização de mulheres e a tomada de decisões de pautas femininas por mulheres.

Temos hoje também o exemplo do exército de mulheres curdas que se organiza na Unidade de Defesa das Mulheres (YPJ) separadamente das Unidades de Defesa do Povo (YPG) na luta contra o Estado Islamico. As mulheres atuam em ambas, mas a YPG tem foco no treinamento de mulheres. Uma unidade não existe em detrimento da outra, mas cria condições para que as mulheres além de se proteger da ainda vigente ordem patriarcal que não acaba de uma hora para outra, pratiquem a política sem direções masculinas de forma a ocupar um posto que não era comum à elas. As direções da Unidade mista (YPG) são compostas pelo mesmo número de homens e mulheres e são negadas aos homens que alguma vez praticaram violência contra qualquer mulher. A experiência revolucionária auto organizada é necessária e urgente para a garantia de que o patriarcado seja derrubado juntamente ao capitalismo e não de forma a priorizar o fim de um ou outro. Quando lutamos contra uma opressão, não pedimos favores, mas sim, arrancamos nossas reivindicações, e no movimento de mulheres trabalhadoras isso não deve ser diferente!

Hoje na USP, estamos no início de uma mobilização de mulheres pela auto defesa das mesmas que a princípio é de interesse das mulheres. Isso não implica a exclusão de homens do movimento, mas sim a retomada de discussão da auto organização dentro do movimento que até então estava restrita apenas internamente às organizações. Entendemos que o debate está aberto e jamais esgotado de forma que há ações que poderíamos compor conjuntamente e ações que são mais estratégicas e efetivas se organizadas por nós mulheres. Cabe ao conjunto do movimento pensar no porquê da necessidade da auto organização dessas mulheres no decorrer da história, sem negligenciar a discussão com uma negação automática. Entendemos também que a auto organização tem se mostrado efetiva se pensarmos que atrai mulheres de cursos aos quais ainda não chegam as mobillizações e que os atos tem demonstrado quantitativamente a necessidade das mulheres de espaços aonde possam fazer política com as próprias mãos.
Ousar lutar contra o patriarcado é revolucionário!

UNESP/São Paulo organiza calendário de lutas para o ato do dia 18!

Estudantes do Instituto de Artes da UNESP também vão compor o ATO NACIONAL de 18 de setembro e para isso estão organizando um calendário de mobilização! Com panfletagem no Metrô Barra Funda e roda de conversa com metroviário sobre os ataques à classe trabalhadora, estudantes da UNESP mostram qual o caminho: é na aliança entre estudantes e trabalhadores que vamos derrotar os ataques contra a nossa classe e construirmos as bases da nova sociedade!

Segue o evento no facebook e copiamos abaixo o calendário de atividades: https://www.facebook.com/events/463182493890004/

A crise econômica no país está se agravando: a taxa de desemprego cresce, há demissões em massa, universidades federais com contas atrasadas, arrochos salariais e a cada dia os jornais noticiam mais cortes e repressão!

O número de greves, tanto estaduais, quanto federais só tem aumentado, demonstrando a enorme insatisfação da população, que diariamente utiliza os transportes públicos cada vez mais precarizados e caros.

Recentemente, o governador do estado de São Paulo anunciou a privatização da linha 5 do metrô. No dia primeiro de setembro, os metroviários realizaram um ato na estação Capão Redondo, juntamente com movimentos populares e a população local, levantando a bandeira contra a privatização do transporte, que não só atinge seus usuários como também precariza as condições de trabalho da categoria.

Da mesma forma, as políticas levadas a cabo pelo governo do PT/PMDB, assim como do PSDB, negam os direitos da classe trabalhadora e dos setores oprimidos. Legitimam os ataques à juventude, aos trabalhadores e ao povo pobre, e o descarado genocídio dos indígenas e da população negra. A partir da necessidade de uma resposta combativa a esses ataques, algumas centrais sindicais constroem um ato nacional no dia 18 de setembro.

Chamamos todos para se incorporarem ao nosso calendário de lutas!

TERÇA-FEIRA 15/09:
6h – 7h30 – Panfletagem na estação do metrô Barra Funda junto com metroviários

QUARTA-FEIRA 16/09:
18h – Roda de conversa com Metroviário: As privatizações e a Agenda Brasil

SEXTA-FEIRA 18/09:
15h – Concentração no IA para a Marcha Nacional dos trabalhadores e trabalhadoras
17h – Saída da Marcha do Vão do MASP
https://www.facebook.com/events/126073597743347/

CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA LINHA 5 DO METRÔ!
DERROTAR O AJUSTE FISCAL E A AGENDA BRASIL!
CONTRA TODOS OS ATAQUES À CLASSE TRABALHADORA!
POR UMA ALTERNATIVA CLASSISTA DOS TRABALHADORES, DA JUVENTUDE E DO POVO POBRE!

Sobre o caso do estudante da USP baleado

Ontem (01/09), por volta das 21h, um estudante da FFLCH foi baleado numa tentativa de assalto dentro do campus do Butantã. Essa ocorrência faz com que seja ainda mais reavivada a questão da segurança no campus e as medidas que a reitoria da USP vem tomando frente a ela. Medidas tais como a instalação de centenas de câmeras pelo campus e a adoção do modelo Koban pela PM para atender a universidade vem sendo apontadas como as soluções efetivas para reduzir a violência.

Sobre a assinatura do convênio USP-PM em 2011 o mesmo era falado. Nesse ano, a necessidade do policiamento do campus foi ressaltada intensamente após a morte de um estudante da FEA no estacionamento da faculdade, e pouco tempo depois o acordo foi assinado. No entanto, desde então o que se pôde observar, ao contrário da esperada redução do número de casos, foi o aumento dos roubos, assaltos e estupros na Cidade Universitária. A isso somado também o aumento da repressão por parte da reitoria e da PM às movimentações políticas de trabalhadores e estudantes da USP. Um exemplo recente é a utilização das filmagens das câmeras de vigilância para punir as estudantes que fizeram ações diretas no ato auto-organizado de mulheres pela segurança no campus e contra polícia militar, no dia 24 de agosto. Cada vez com maior frequência vemos ações truculentas da PM nas manifestações, na dissolução de piquetes durante greves, proibição de festas no campus, processos e sindicâncias.

2011 e 2015 apresentam diferenças, mas também alguns pontos comuns. Apesar da conjuntura ser de uma repressão infinitamente maior para trabalhadores e estudantes em todos os níveis, assim como em 2011, a tentativa de assalto nessa terça, que resultou no estudante baleado, parece já ser usado pela reitoria e pelo Governo do Estado para abrir caminho às suas medidas. Hoje foi veiculada a notícia de que o novo policiamento deve começar a ser implementado já na segunda-feira (07/09).

Nós do Rizoma nos solidarizamos com o ocorrido com o estudante Alexandre Cardoso na noite de ontem, bem como com seus parentes e familiares, mas sabemos a que esse fato está servindo. E frente a essa ofensiva reiteramos: FORA PM!

02/09/2015