Nota de apoio ao lançamento do grupo “Ação Libertária Estudantil” na Colômbia

Nesta quinta-feira, em um território logo ali, será lançada oficialmente a organização “Acción Libertaria Estudiantil” na cidade de Bogotá (Colômbia).
De fato não @s conhecemos, mas o atual aumento de grupos libertários surgindo muito nos alegra.

Há um fracasso dado nesta política representativa e para nós é fundamental que organizações libertárias floresçam para que uma outra proposta, de um outro mundo, de uma outra política – tão “outra” como diriam @s zapatistas – possa nascer.

Quando o Rizoma surgiu no Movimento Estudantil da Universidade de São Paulo (Brasil), não foram poucas as críticas que recebemos. Não foram poucos partidos políticos – tanto aqueles que disputam as eleições burguesas, quanto outros que anseiam por dizimar experiências anarquistas – que nos fizeram todas as críticas possíveis e impossíveis.

Com muitas delas pudemos nos alimentar e nos fortalecer. Nós não surgimos por uma iluminação divina, tampouco por uma tomada de consciência vinda do além. O Rizoma surge da necessidade real de construir uma luta autônoma, radicalizada e classista. Nascemos no seio da greve estudantil de 2011 e é esta a nossa raiz que não negamos. Estamos lado a lado com as greves, lado a lado com as medidas combativas organizadas através da democracia direta.

Por mera coincidência o lançamento da organização “Acción Libertária Estudiantil” será no mesmo dia da Assembleia Geral de Estudantes da USP, que seguem em greve há mais de 100 dias. Esta semana quase tod_s acreditavam que a greve caminhava para seus acordos finais, mas a luta é mais forte do que a truculência da reitoria da USP e a greve SEGUE e SE FORTALECERÁ! Hoje é um dia importantíssimo, para ambas as geografias em seus próprios calendários.
E por isso  estamos aqui para saudar este novo grupo estudantil e libertário que surge!

Saudações compas!

Do que precisarem contar com nós, estaremos aqui.
 

Avante!

SAIBA MAIS SOBRE A ORGANIZAÇÃO: https://www.facebook.com/accion.libertaria.estudiantil.14

LANÇAMENTO:

Difundimos:
¡Venimos a Luchar! ★ ¡Venimos a Vencer!
Este jueves 11 de Septiembre realizaremos el acto de lanzamiento de Acción Libertaria Estudiantil, organización estudiantil de la ciudad de Bogotá con la que buscamos construir Anarquismo Social & Organizado en las instituciones educativas y en nuestro territorio en general.
En nuestra actividad cultural de lanzamiento realizaremos una intervención artística en la plaza Che que estará acompañada de música y un delicioso canelazo.
Esperamos nos puedan acompañar. Les invitamos a estar pendientes de nuestros medios virtuales pues prontamente estaremos realizando más actividades.
Se siente, se escucha… ¡Arriba l★s que luchan!

HIDEKI FOI SOLTO!!!! #LIBERDADEPARAHIDEKI

Hoje, depois de muita luta saiu o alvará de soltura para o Hideki!!!!

http://noticias.r7.com/sao-paulo/justica-tem-48h-para-decidir-liberdade-de-ativistas-presos-durante-protesto-06082014

Ainda estamos sem palavras, então por enquanto ficam as palavras da Rede de solidariedade no dia em que nosso amigo completou 40 dias na prisão: http://liberdadeparahideki.org/0108-sangue-suor-e-lagrimas-40-dias-preso/

 

No dia 23 de junho nosso amigo Hideki foi preso. Injustamente tomaram sua liberdade e sua voz, agrediram-no física e psicologicamente e levaram-no para longe de seus amigos e familiares. Naquela semana nos reunimos para formar essa rede e tornar pública a sua imagem e, consequentemente, sua defesa e o autoritarismo do nosso Estado. Foi uma semana dura…nos reunimos por muitos dias e de quando em quando se podia notar olhares distantes, sinais de angústia – um roer de unhas, cabelos enroscados nos dedos, cigarros consumidos como num sopro…- , uma óbvia inquietação. Era difícil conter o choro ao olhar as fotos divulgadas sobre o caso (e ainda é…). Foi muito angustiante dar os primeiros passos na articulação dessa rede sem saber se sensibilizaríamos as pessoas, se teríamos apoio, se também seriamos presos e, principalmente, se conseguiríamos libertá-lo…mas nosso amigo precisava de nosso apoio.

Desde então, conseguimos tornar o caso público: manifestações de apoio vieram do México, Argentina, Rocinha, mais de cem grupos e coletivos de todo espectro social e nacional assinam nosso manifesto, mais de mil tsurus foram feitos desejando sua liberdade, vários desejos também feitos às estrelas. Tudo isso nos animou, mas com as seguidas negativas aos pedidos de Habeas Corpus também vieram mais presos políticos e mais ações injustas do Estado como repressão a manifestações que ironicamente pediam a liberdade de manifestação. E também nos exaurimos, não estávamos preparados para tanto tempo de produção de conteúdo e articulação, afinal também temos obrigações que não poderíamos mais deixar de lado: trabalho, estudos, teses e trabalhos inadiáveis…mas nosso amigo precisava de nosso apoio.

Agora, pensando nesses longos 40 dias de prisão, paramos um instante para nos aprumar. Essa prisão nos afetou a todos! Revivemos emoções, relembramos momentos, reavaliamos posturas e conjunturas, retomamos contatos, renovamos nossas agendas, reagendamos compromissos…mas a angústia da primeira semana ainda está aqui: não temos dormido direito, não conseguimos falar de alguns assuntos, passamos a ter desconfianças e incertezas. Cada passo que demos até aqui nos modificou por completo, cada pedra que jogamos nesse lago criou uma onda, e essas reverberações agora nos afetam e também a quem nos cerca. Não foram somente lágrimas, tivemos momentos de descontração, claro, ficaríamos loucos se não o tivéssemos, mas aquela angústia sempre esteve aqui nos nossos peitos. Sentimos a falta do Hideki…

Pensem vocês, o que fizeram desde o dia 23 de junho? Assistiram jogos da Copa? Saíram para se divertir? Passearam num parque? Viajaram à praia? Dormiram confortavelmente em suas camas nas noites frias? Conheceram pessoas interessantes? Fizeram jantares para amigos ou familiares? Manifestaram-se contrários às arbitrariedades e injustiças cometidas em seu Estado ou em qualquer outro lugar do mundo? Namoraram? Não fizeram nada, por opção? Gritaram seu desconforto com algo, só para desabafar? Pois bem, tudo isso e ainda mais está sendo negado a nosso amigo Hideki. Imaginem como deve ser não ter liberdades individuais por 40 dias. Conseguem imaginar isso? A nossa angústia de ter nosso amigo preso não deve chegar perto da angústia de se estar preso. Por isso vamos continuar nessa campanha pela sua libertação, nos sacrificando pelo nosso amigo e esperando de braços abertos sua libertação.

Se sabemos, cada um de nós, no que a prisão do Hideki nos afetou, não podemos imaginar como afetou a ele. Não podemos imaginar como estará nosso amigo querido nesse exato momento, tampouco como ele estará quando o encontrarmos novamente. Esperamos do fundo de nossos corações que ele esteja se mantendo forte e vivaz. Que ele saia dessa turbulência fortalecido, mas não embrutecido. Que ele saia são, sem perder o brilho dos olhos e a humanidade que sempre demonstrou e esperou em todos. Nosso amigo precisa de nosso apoio agora e vai precisar ainda mais quando estiver aqui fora com a gente.

Por que libertária e autônoma?

Antes de apresentar o resultado de nossos debates sobre o que é o Rizoma, achamos importante destacar algumas ressalvas: não temos a intenção de apresentar definições imutáveis e não queremos nos apegar a conceitos rígidos. Apesar de entendermos que não são as definições que engessam os coletivos, defendemos que os conceitos e as definições devem sair de nossas práticas coletivas, e servir para o fortalecimento destas, possibilitando a construção de discursos que expressem reflexões e legitimações acerca da nossa ação. Isto é, entendemos que as definições aqui apresentadas são somente uma única foto de um longo filme. Queremos construir um coletivo dinâmico, em permanente construção, que mantêm uma autocrítica e se renova constantemente: o Rizoma não é, está sendo.

Exatamente por intencionarmos que o nosso grupo seja fluído e aberto a mudanças, escolhermos o conceito de tendência para nos definir. Tendência porque queremos que as ações e as reflexões de nosso grupo tendam a um horizonte político, no caso, ao horizonte da vertente libertária. Tendência porque o que nos une são alguns acordos metodológicos e programáticos – alguns consensos sobre os fins que queremos, e sobre os devidos meios. Tendência porque entendemos que através de nossa atuação na microrealidade universitária, podemos contribuir de maneira rizomática em lutas mais amplas. Tendência porque entendemos também que é necessário termos compromisso e respeito coletivo nesta caminhada afim de que ela se dê da melhor maneira possível – somos contra a disciplina como meio de domesticar os corpos, mas defendemos sim a importância do compromisso, do “procedê”, de se cumprir as tarefas com as quais nos comprometemos individualmente e coletivamente. Todavia, gostaríamos muito de frisar que visamos a leveza, de maneira alguma entendemos que o Rizoma deva funcionar como um partido tampouco como uma seita – não queremos um grupo uniforme nem uniformizado! O Rizoma que viemos nos esforçando para construir nestes seis iniciais meses não é um coletivo restrito a pessoas de uma determinada posição ideológica ou filosófica; o Rizoma que queremos é tão somente um grupo de estudantes que participam do movimento estudantil e compartilham alguns objetivos e alguns métodos de luta. Queremos sim influenciar o movimento fortalecendo algumas práticas e aspectos específicos deste, todavia, não queremos impor nossas posições e cooptar pessoas tanto quanto não queremos somente aceitar ou negar posições de outros. Não queremos ser nem a vanguarda, tampouco a retaguarda do movimento. Queremos propor, criticar e construir coletivamente; ombro a ombro.

Ao dizermos que o Rizoma não é restrito a uma determinada corrente político-ideológica não queremos de maneira alguma negar que temos sim proximidade com algumas correntes, como por exemplo, com diferentes linhas do anarquismo, com o situacionismo, com o autonomismo, com o zapatismo, com algumas linhas heterodoxas do marxismo (autonomistas, conselhistas, lefebvrianos…). Queremos sim deixar claro que o Rizoma é uma tendencia, não um partido; que é um determinado setor do movimento, não um grupo político. Sendo assim, achamos sim ser necessário termos alguns objetivos de longo prazo, alguns horizontes convergentes, entretanto, sem deixar que estes acordos engessem o grupo. É aí que entra a segunda parte da definição do Rizoma: por que libertária e autônoma?

Libertárixs porque somos contra todas as formas de opressão, sejam elas econômicas, políticas, ideológicas etc. Somos contra a dominação Estatal (antiestatistas), somos contra a exploração capitalista (anticapitalistas), somos contra as opressões étnicas, de gênero e de orientação sexual e somos contra as instituições e ideologias disciplinares, que nos tornam servos doceis. Somos libertárixs porque entendemos que somente através da ação direta, somente com xs próprixs oprimidxs realizando as suas lutas sem depender nem contar com representantes, é possível conquistarmos avanços rumo a uma sociedade sem dominação. Somos libertárixs porque entendemos que devemos começar a construir agora, através de nossas lutas, a sociedade em que queremos viver amanhã – e por isto, defendemos a autogestão e a democracia direta como formas organizativas. Somos libertárxs porque entendemos que a minha liberdade individual é estendida ao infinito quando se encontra com a do outro, isto é, porque entendemos que a liberdade individual tem que ser complementar a liberdade coletiva. Somos libertárixs porque reivindicamos a liberdade social, não a liberdade egoísta do senso comum liberal. E somos libertárixs também porque entendemos que somente com uma ampla aliança entre os movimentos sociais dos diferentes setores populares é possível a transformação que tanto desejamos.

E por sermos libertárixs, não queremos aparelhar lutas nem coptar militantes. E por semos libertárixs, nos identificamos com as diferentes lutas populares históricas e contemporâneas contra esta sociedade de dominação. E por sermos libertárixs, entendemos que deve haver sim coerência entre o discurso e a prática, e estamos aqui pra agir, não pra fazer discursos vazios – a ação e a nossa maneira de agir é parte intrínseca e inseparável do que somos. E por sermos libertárixs, não apresentaremos nunca uma proposta pronta, fechada e imutável; entendemos que o caminho se faz caminhando, que a construção é constante e permanente. E por sermos libertárixs, não lemos a realidade como um mero resultado das relações econômicas, mas sim como resultado de complexas relações de poder das diferentes esferas da realidade social. E por sermos libertárixs, quando olhamos ao nosso redor e vemos tanta repressão, inexoravelmente, levantaremos as mangas de nossa camisa, e iremos corajosamente a luta – até destruirmos tudo o que nos oprime! Até construirmos uma sociedade igualitária e livre!

E por sermos libertárixs, somos também autônomos. Autônomos porque defendemos que os próprios movimentos devem definir seus destinos – os caminhos devem ser decididos por todxs do movimento e no movimento, não em gabinetes de partidos, empresas, governos, ou de qualquer outro tipo de organização e de instituição . Autônomos porque queremos ressaltar a importância da questão territorial nas lutas contestativas.

Por isto tudo, resolvemos nos empenhar neste projeto coletivo, e estaremos sempre abertos a todxs que quiserem ajudar na construção desta alternativa para o movimento estudantil.

 Lutar por uma outra universidade para construir uma outra sociedade!
Rizoma, julho 2012