Dois mil e crise [avaliação de conjuntura e perspectivas]

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Conjuntura da USP em 2015

Acabadas as férias, encontramos na USP uma “nova” conjuntura. Uma conjuntura difícil nascida das medidas da reitoria, que cada vez mais explicita seu projeto de precarização do trabalho e da permanência estudantil. As consequências das medidas tomadas em 2014, justificadas pela crise orçamentária, surgem de maneira rápida e desastrosa. É preciso organizar o movimento estudantil para que, em unidade com as/os trabalhadoras/es, resistam frente aos ataques da reitoria e do Estado.

O PIDV (Plano de Incentivo à Demissão Voluntária para trabalhadores/as), imposto pela reitoria em 2014, começa a exibir seus frutos. Vale lembrar que, ao contrário do que era tão difundido pela reitoria e pela mídia, o problema da USP nunca foi ter funcionárias/os demais. Ao contrário, desde a década de 1990 a expansão da universidade foi acompanhada por um tímido aumento no quadro de funcionários/as, sendo visível a sobrecarga de trabalho agora intensificada pela saída de cerca de mil e quinhentos trabalhadores/as através do PIDV. É nesse contexto de demissões e congelamento das contratações que voltamos das férias, com o fechamento do bandejão da prefeitura e a estagnação das vagas das creches, ambos contraditoriamente justificados pela falta de funcionários/as.

A reitoria não só manobrou e jogou a culpa da crise orçamentária na quantidade de funcionárias/os – quando sabemos que quaisquer fatores que provocaram a crise são resultado das imposições da burocracia, que age essencialmente segundo seus próprios interesses – como apresentou uma “solução” ainda mais devastadora. Não se traça planos à toa, planos que afundam ainda mais a universidade e agravam a crise. Esse discurso e essas medidas apontam para o sucateamento e precarização do trabalho e do ensino, e abre espaço para decisões ainda mais drásticas, como a tão especulada e aclamada pela mídia: a privatização. Privatização que leva à terceirização, que submete as/os trabalhadoras/es terceirizadas/os a uma situação ainda mais vulnerável, já que muitas vezes estas/es estão desprovidas/os de sindicatos combativos que possam mobilizar a categoria e fazer frente às longas jornadas de trabalho, horas-extra mal pagas e salários baixos.

A precarização do trabalho e da permanência estudantil são evidentes. Além da sobrecarga aos/às trabalhadores/as que restaram, o congelamento das vagas nas creches universitárias atinge mães trabalhadoras e estudantes que dependem desse recurso para poder justamente trabalhar e estudar, e a questão se repete quando se trata dos Hospitais Universitários. Outro ponto relevante é a contaminação do acervo da Biblioteca da FFLCH, informação que já se sabe desde abril de 2014, mas que a diretoria da unidade se sentiu confortável em não dar respostas, mostrando seu total descompromisso com a saúde das/os funcionárias/os e com as condições de estudo das/dos estudantes.

Cotas e permanência estudantil

O movimento estudantil precisa se atentar também, mais do que nunca, a duas pautas que são essenciais e latentes esse ano: as cotas e a permanência estudantil. 2015 é um ano decisivo para a implementação das cotas, sendo preciso marcar a posição dos/das estudantes e de grupos que debatem o tema sobre como acreditam que esse processo deva acontecer, além de pressionar para que o tema seja discutido de maneira séria e política fazendo frente à proposta apresentada pela reitoria de discutir outra forma de ingresso (ENEM) ao invés de assumir abertamente um projeto de cotas raciais e sociais.

Quanto à permanência, essa exige uma mobilização estudantil forte, com as ações que forem necessárias diante dos cortes de bolsas estudantis, corte em vagas de estágios, congelamento do valor das bolsas de auxílio e tentativa de desvinculação da administração da política de permanência passando para o governo do Estado. O fechamento da creche e dos bandejões é um ataque direto à permanência estudantil, não podemos deixar estas medidas sem respostas! Também não podemos aceitar a terceirização como proposta da reitoria para que mantenha os restaurantes abertos, não será às custas de maior exploração de trabalhador_s que vamos conquistar nossas reivindicações!

Ameaça aos espaços estudantis e repressão

Soma-se a isso a ameaça existente aos espaços de alguns Centros Acadêmicos, como os da EACH, FAU e ECA, que se configura como um nítido avanço da repressão contra as nossas formas de organização e ação políticas. Assim se apresenta o quadro de pressão contra os/as estudantes: querem atacar a permanência, querem atacar os espaços físicos, querem sufocar o movimento estudantil! A resposta deve então ser a nossa mobilização e organização para enfrentar desde já tais ataques, que são duros e evidenciam a necessidade de resistência.

Nesse sentido, não podemos esquecer que começamos 2015 também com o avanço da repressão por parte das reitorias: em defesa da moradia estudantil, dezessete estudantes ocuparam a diretoria da UNESP Araraquara, tendo a reitoria respondido com a intervenção da polícia militar e com o anúncio de expulsões! A luta pela permanência estudantil é comum às/aos estudantes de todas as universidades e devemos nos solidarizar e mobilizar pelas/os companeheiras/os da UNESP, pois a continuação da resistência e o apoio à elas/eles servem para pressionar o Conselho Universitário contra as expulsões e deixar claro para os de acima que não seremos silenciadas/os!

Mobilizar e organizar a luta

A greve de 2014 foi um marco na defesa dos direitos das/dos trabalhadores, porém é preciso lembrar que a categoria dos estudantes esteve pouco presente e por isso nossas pautas pouco apareceram. O movimento estudantil precisa começar o ano letivo já preparado para a luta em um 2015 difícil. Nossas demandas precisam ser encaradas com a atenção e seriedade que necessitam. Devemos nos organizar em cada curso, em cada faculdade, em cada Centro Acadêmico e por toda a universidade, pois é em unidade e com organização que construímos o poder estudantil e popular e conquistamos nossas vitórias!

Defendemos que se convoque urgentemente uma Assembleia Geral de Estudantes para organizarmos o movimento estudantil! Exigimos Cotas Já e não apenas mudança no sistema de ingresso que garante com que a elite tenha dupla chance de entrar na USP (através da Fuvest e do Enem). Defender nossas políticas de permanência estudantil, nossos espaços de auto-organização e organizar a solidariedade aos/às estudantes expulsos/as da UNESP! Construir uma forte mobilização pautada na unidade entre estudantes e trabalhador_s!

LEVANTE-SE E LUTE MOVIMENTO ESTUDANTIL!

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