2° Panfleto

Panfleto 2 versão PDF

Existe entre os jovens um sentimento muito forte de estranhamento em relação às entidades e instituições representativas, em relação à democracia indireta e às ditas vanguardas dirigentes. A noção de que as próprias pessoas devem se colocar enquanto sujeitos políticos ativos se fortalece, bem como a ideia de que os espaços estudantis devem ser abertos para todos e articulado sem hierarquias. Esse sentimento não só é legítimo como também expressa as possibilidades para um movimento estudantil mais efetivo – e é nessa tendência que opera o Rizoma.

Todavia, na última assembleia geral, em que os estudantes consentiram com um comando de mobilização teoricamente “aberto” e por “consenso”, esse sentimento legítimo de repulsa as pretensas vanguardas e as instituições foi oportunamente distorcido por partidos políticos que não visam estimular a horizontalidade e a democracia direta, mas sim dirigir os estudantes e partidarizar suas entidades.

O intuito desses em discursar valores que não defendem é simples: retomar a direção (formal e prática) do movimento estudantil, que durante o comando de greve coubera a  outros grupos políticos. E para isto, instrumentalizaram um discurso que cativa os estudantes, embora este esteja longe de seus reais interesses. Para provar essa hipocrisia basta ver que o mesmo setor que defendeu a “abertura” e “democratização” do comando é o setor que a anos dirige o DCE da USP – entidade de representação estruturalmente verticalizada e excludente, ideal para quem ambiciona a direção do movimento e as políticas de gabinete.

Os estudantes devem ter em conta, como lembra Michel Foucault, que “a historicidade que nos domina e nos determina é belicosa. Relação de poder, não relação de sentido”. Em outras palavras, os estudantes não podem confundir conceitos como autogestão, democracia direta e horizontalidade com o fim dos antagonismos de opinião e de ação,  com o fim dos conflitos e das divergências: estas disputas além de inevitáveis,  expressam a heterogeneidade e a criatividade dos estudantes. Propor um movimento de “consenso” é esvaziar qualquer possibilidade real de debate e reflexão, levando para outra instância (no caso, o DCE) as decisões importantes do movimento. E no que pese os reais problemas que o comando de greve detinha, é difícil negar que frente ao DCE ele se
revelou um importante espaço de debate e ação – além de ser bastante mais democrático e contar com pessoas de diferentes posições políticas.

Os estudantes devem ter a capacidade de discernir as manobras e as partidarizações que empatam a autogestão dos centros acadêmicos e do DCE, que dificultam as políticas diretas contra a reurbanização da São Remo e o aumento das catracas na USP, que convencem os estudantes que um voto em uma urna é tudo o que pode ser feito. O desafio posto é o da autoorganização dos estudantes: auto-organização que abra espaços deliberativos e organizativos mais horizontais, possibilitando o convívio de divergências teóricas e práticas – mas buscando pontos de unidades de ação. Quando isto ocorrer, os ditos dirigentes finalmente terão de descer de seus palanques para assumir que são somente mais alguns estudantes num conflito social real, complexo e  bem maior que suas camisetas e chapas eleitoreiras.

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