Nota de repúdio às demissões na Caros Amigos

Nota de repúdio às demissões na Caros Amigos
página no facebook: Redação da Caros Amigos em Greve

Foi com muito pesar, mas com muita força que recebemos no dia 08 de março a notícia de que a equipe de redação da Caros Amigos entrara em greve. Pesar pois o corte na folha salarial e a crescente precarização do trabalho d@s compas jornalistas evidencia uma grande crise nas condições trabalhistas no Brasil, e força pois nos solidarizamos com as e os companheir@s que não se calaram frente à esta investida do diretor-geral da editora Wagner Nabuco.

Temos total consciência da importância dos veículos de comunicação contra-hegemônicos na construção de uma outra sociedade. Mas esta mudança precisa vir, também, de dentro. A notícia do dia 11 de março informando que tod@s @s jornalistas que aderiram à greve haviam sido demitid@s é encarada por nós como uma aberração. Como uma revista que sempre buscou mostrar-se adepta da transparência e das lutas sociais demite jornalistas que há tanto constroem esse projeto de mídia alternativa?

Nós, como uma tendência que atua no Movimento Estudantil da USP, não podemos deixar de encarar este fato como inserido em um crescente de perseguições às mobilizações sociais. Na USP estudantes que organizaram-se politicamente estão sendo processad@s criminalmente. Ameaças frequentes de expulsão e até mesmo prisão são ferramentas para instaurar o terror e eliminar pela raíz qualquer herança de mobilização que ainda pudesse existir na Universidade de São Paulo. Assim como as demissões na Caros Amigos que funcionam sob a alegação de “quebra de confiança” para mostrar que o avanço conservador tem vindo com força.

A história de mobilizações não é recente, resistiu e perdurou pela história da humanidade através de séculos. Não será agora que nos calarão. Não será agora que nos submeteremos às regras proferidas pelo Capital.

Repudiamos a atitude da direção da Caros Amigos e a precarização do trabalho.
E damos nosso total apoio as/aos compas que estão em luta!
Contem conosco no que for preciso!
Construir uma outra sociedade não pode ser crime!

Arriba l@s que luchan!

Rizoma – Tendência Libertária e Autônoma

ENTENDA O CASO:

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Segue abaixo a nota de qndo a Caros Amigos entrou em greve e na sequência o relato sobre a demissão.

08/março/2013

Nota da Redação da Revista Caros Amigos

ESTAMOS EM GREVE

Nós, integrantes da equipe de redação da revista Caros Amigos, responsáveis diretos pela publicação da edição mensal, o site Caros Amigos e as edições especiais e encartes da Editora Casa Amarela, denunciamos a crescente precarização das nossas condições de trabalho, seja pela ausência de registro na carteira profissional, o não recolhimento das contribuições do FGTS e do INSS, e, agora, o agravamento da situação pela ameaça concreta de corte da folha salarial em 50%, com a demissão de boa parte da equipe.

No dia 4 de março, o diretor-geral da editora, Wagner Nabuco, comunicou aos integrantes da redação (jornalistas e designers gráficos) que a partir do dia 1º de abril haverá um corte na folha salarial da redação de 50%, que passará de um total de R$32.000,00 para R$16.000,00. Ele justificou a drástica medida devido ao pagamento de dívidas fiscais acumuladas desde o ano 2000 e ao déficit operacional entre receitas da editora e custos fixos, incluindo os nossos (baixos) salários.

Tendo em vista que a redação já trabalha com equipe bastante reduzida – um total de 11 profissionais –, o corte proposto pelo diretor-geral significa na prática manter os serviços editoriais com uma equipe fixa de cinco (5) ou seis (6) pessoas – com evidente aumento de trabalho sem compensação salarial. Significa também a demissão de vários jornalistas que têm se dedicado a dar sustentação ao projeto editorial da Caros Amigos, que é reconhecido publicamente como uma referência positiva de jornalismo crítico e independente em relação ao jogo do mercado.

O diretor-geral argumentou que vai procurar abastecer o material jornalístico da editora com a utilização de serviços de free-lancers, o que significa, na prática, aprofundar a precarização do mercado de trabalho e manter o esquema de sonegação das contribuições sociais para a Previdência.

Por não concordarmos com tais medidas que aviltam ainda mais as relações de trabalho, e por sentirmo-nos desrespeitados na nossa condição de trabalhadores, cidadãos e jornalistas, denunciamos esse terrível golpe contra a redação da revista e nos declaramos em greve, na expectativa de que essa situação possa ser revertida.

Lamentamos profundamente que essa crise provocada pela direção venha causar sérios prejuízos ao projeto editorial da Caros Amigos, que tem contado com a simpatia e apoio dos setores progressistas e de esquerda da sociedade.

São Paulo, 8 de março de 2013.

01 – Alexandre Bazzan

02 – Caio Zinet

03 – Cecília Luedemann

04 – Débora Prado

05 – Eliane Parmezani

06 – Gabriela Moncau

07 – Gilberto Breyne

08 – Hamilton Octavio de Souza

09 – Otávio Nagoya

10 – Paula Salati

11 – Ricardo Palamartchuk

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11/março/2013

DIRETOR DA CAROS AMIGOS DEMITE

EQUIPE DA REDAÇÃO EM GREVE

O diretor-geral da revista Caros Amigos, Wagner Nabuco, chamou hoje (11/03/2013) a equipe de redação e anunciou que a empresa está demitindo todos os trabalhadores que se encontravam em greve desde sexta-feira, dia 08/03, alegando “quebra de confiança”.

Nós, integrantes da equipe de redação da revista Caros Amigos – responsáveis diret…os pela publicação da edição mensal, o site Caros Amigos, as edições especiais e encartes da Editora Casa Amarela – lamentamos a decisão da Direção. Consideramos a precarização do trabalho e a atitude unilateral como passos para trás no fortalecimento do projeto editorial da revista, que sempre se colocou como uma publicação independente, de jornalismo crítico e de qualidade, apoiando por diversas vezes, inclusive, a luta de trabalhadores de outras áreas contra a precarização no mercado de trabalho.

A greve é um instrumento legal, previsto na Constituição brasileira e direito de todos os trabalhadores. Foi adotada como medida para tentar melhorar as condições de trabalho na revista e foi precedida por uma série de incansáveis diálogos por parte desta equipe, desde que ela começou a ser montada em 2009. As tentativas foram sempre no sentido de atingir o piso salarial para todos os profissionais, encerrar os atrasos no pagamento dos salários e direitos como férias e 13º, que nos atingiram por mais de uma vez, de conquistar o registro dos funcionários fixos e uma melhor relação com colaboradores freelancers, que também convivem e conviveram com baixas remunerações e atrasos nos pagamentos.

Diante de alegações por parte da direção sobre dificuldades financeiras vividas pela empresa por se tratar de uma publicação alternativa, convivemos com salários mais baixos que os pisos e os praticados pelo mercado, e também com a inexistência de muitos direitos trabalhistas. Aceitamos negociar gradativamente a correção desses problemas de forma a fazer com que a Caros Amigos, “a primeira à esquerda”, não se tornasse agente de exploração de seus funcionários e avançasse nessa frente conforme suas possibilidades. Trabalhamos para ampliar a receita da empresa, seja pelo prestígio do trabalho realizado, muitas vezes premiado, seja pelo aumento do trabalho em forma de outras publicações como especiais e encartes.

Em todos os anos entre 2009 e 2013, mantivemos o diálogo salutar com a Direção, buscando negociar melhores condições para desenvolvermos o trabalho com o qual estávamos comprometidos. Isso foi feito por meio de cartas de toda a redação à direção, conversas de comissões da redação com a direção e inúmeras negociações entre o editor-chefe e diretor-geral.

Apesar de todos nossos esforços em construir uma boa relação interna, fomos pegos de surpresa com o anúncio de corte da folha salarial em 50%, com a demissão de boa parte da equipe ou redução do salário dos 11 funcionários de 32 mil pra 16 mil ao todo, conforme relatado em nota divulgada na data de anúncio da greve e que segue novamente ao final desta.

O anúncio de medida drástica que atinge diretamente os trabalhadores foi feito em forma de comunicado pelo diretor-geral, sem margem para negociação. Ainda buscamos pelo diálogo reverter o problema junto à direção por uma semana. Sem margem para conversa, recorremos à paralisação como forma de ampliarmos nossas vozes, mas fomos surpreendidos mais uma vez com o comunicado da demissão coletiva.

Nossa luta não é – e nunca foi – contra a revista Caros Amigos. Pelo contrario, reforçamos a importância de publicações contra-hegemônicas e críticas em um cenário difícil para a democratização da comunicação no Brasil, que cerceia a variedade de vozes. Nossa luta é, portanto, para o fortalecimento e a coerência de um veículo fundamental do qual sempre tivemos o maior orgulho de participar.

Vimos a público lamentar profundamente que essa crise provocada pela direção venha causar sérios prejuízos ao projeto editorial da Caros Amigos, que contou por todos esses anos com nossa dedicação.

Saímos desse espaço de forma digna diante de uma situação que tornou a greve inevitável, na esperança que nossos apelos sirvam de acúmulo para o futuro da Caros Amigos de modo que ela se torne exemplo não só no campo editorial, mas nas relações que mantém com seus funcionários e colaboradores. Esperamos que o compromisso assumido com colaboradores durante a gestão dessa equipe seja louvado e que eles recebam seus pagamentos sem atrasos. Também que sejam honrados nossos diretos trabalhistas.

Agradecemos todos que se solidarizaram com nossa situação e os que seguirão nos apoiando nessa nova etapa. Esperamos que esta experiência sirva de acúmulo e motivo de debate sobre a precarização, o achatamento de salários, a piora nas condições de trabalho e atitudes patronais – que existem tanto em empresas da grande imprensa quanto nas da contra-hegemônica – no sentido de buscarmos melhores condições para todos exercerem suas profissões. Por fim, esperamos que o exemplo comece pela imprensa contra-hegemônica com a correção de práticas como esta.

São Paulo, 11 de março de 2013.

01 – Alexandre Bazzan

02 – Caio Zinet

03 – Cecília Luedemann

04 – Débora Prado

05 – Eliane Parmezani

06 – Gabriela Moncau

07 – Gilberto Breyne

08 – Hamilton Octavio de Souza

09 – Otávio Nagoya

10 – Paula Salati

11 – Ricardo Palamartchuk

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