Texto gatilho do debate de genêro que rolou no Terceiro Encontro de Estudantes Libertárixs, por Vivian Dias do Coletivo de Ação Social (Marília-SP)
“Todo ser humano fêmea não é necessariamente uma mulher, para ser assim considerada ela deve participar dessa realidade misteriosa e ameaçadora conhecida como feminilidade”.- Simone Beauvoir.
Desde o nascimento somos individual e coletivamente condicionadxs a aceitar, incorporar e reproduzir características estereotipadas e advindas da divisão binária do ser humano. Diante disso, faz-se estritamente necessária a compreensão de que estas (pré) definições acerca do que é ser feminino e masculino são, antes de tudo, construções sociais e não determinações biológicas imutáveis.
Ao final do parto xs médicxs comumente dizem: “é uma menina” ou “é um menino”. Expressões como estas que, se isoladas, não fazem com que x bebê inevitavelmente se identifique com o gênero que lhe foi atribuído segundo seu aparelho reprodutor. O drama do gênero é uma performance repetida, ou seja, deve ser reencenado continuamente para formar um padrão.
No geral, o mundo está inserido na cultura de construção social da divisão binária do ser humano. Por isso é que existem as definições tão naturalizadas acerca dos padrões comportamentais do que é ser feminino e do que é ser masculino. Como se não pudesse haver mesclas destas características entre si. Como se uma mulher necessariamente tivesse que ser dócil, feminina, delicada, e todos os demais exemplos extremamente clichês acerca destas definições limitadoras. Por conta da problemática da naturalização que se dá social e culturalmente, esta divisão binária do ser é encontrada em basicamente todos os espaços e das mais variadas formas, no trabalho, nas relações pessoais, na família (até porque a mesma está pautada no patriarcalismo – que vem para reforçar e assegurar a inferiorização do feminino perante o masculino) e também dentro dos movimentos sociais, principalmente quando não há uma discussão, compreensão e prática das inúmeras questões ligadas ao gênero, ao feminismo e ao machismo.
Vivemos em uma sociedade onde as características atribuídas ao que é ser masculino, como por exemplo, a racionalidade, são extremamente valorizadas, respeitadas e pregadas à mil maneiras como características superiores aquelas tidas femininas, como a sensibilidade, a emoção, etc. Fato este que é utilizado como forma de controle, domínio e poder. Pois desde sempre, asseguram aos homens e a todxs aquelxs que possuem a característica da racionalidade dominante, um papel hierarquizado.
As funções intelectuais, como o pensamento estratégico, as falas públicas, dentre outros, costumam ser atribuídas majoritariamente aos homens, enquanto as mulheres ficam com tarefas básicas e braçais, como por exemplo, ouvir, respeitar, compreender, ajudar na limpeza, na cozinha, etc. Como se ambas as tarefas não pudessem e, de certa forma, devessem ser feitas por qualquer ser, independentemente do gênero. Como se esta mescla não devesse ser praticada a partir de nosso dia a dia, para nos ajudarmos mutuamente a desconstruir esta cultura binária, segregadora e hierárquica. Em muitos ambientes politizados, a divisão sexual do trabalho transparece nitidamente, saltando aos olhos de quem ousar criticar para ajudar a desconstruir esta naturalização tão completamente ilógica com ideais libertários, tão hierarquizada, polarizada, enfim, tão cruel.
Frequentemente é dito a nós mulheres que, para participarmos de espaços politizados devemos ser frias, racionais e não emotivas, sentimentais. Fala problemática esta já que reflete a naturalização do binarismo, pois subentendesse que mulheres possuem esta característica predominante, enquanto os homens não. Mas ai é que pergunto: Quando é que a construção social será, de fato, levada em conta para que haja uma maior compreensão quanto axs outrxs, para podermos agir e nos posicionar com responsabilidade?
“O corpo se torna seu gênero através de uma série de atos que são renovados, revisados e consolidados através do tempo. Essa repetição é, inevitavelmente, uma reencenação e uma reexperienciação de uma série de significados já socialmente estabelecidos”.- Judith Butler.
gostei muito do significado, estou lendo a obra de Norma Telles ( Encantacoes escritoras e imaginacao literaria no Brasil seculo XIX) palavra binardismo e citada na obra de varios autores como levi strauss.
cristina omena