“Não se nasce mulher, torna-se mulher”

Hoje é o aniversário de Simone de Beauvoir. Se estivesse viva, ela faria 104 anos.

Retirado de Blogueiras Feministas

Simone de Beauvoir

Texto de Bia Cardoso.

Simone de Beauvoir nasceu em 09 de janeiro de 1908. É uma das mais conhecidas feministas e também uma das mais importantes. Autora do livro “O Segundo Sexo”, um dos clássicos da literatura feminista, Simone manteve por toda vida uma atitude transgressora e anti-conservadora. Sua obra literária é existencialista e questionadora.

No site Simone de Beauvoir você pode conhecer suas obras, biografia e vários artigos interessantes como a entrevista entitulada “O Segundo Sexo 25 anos depois”.

Gerassi — Você disse que sua própria consciência feminista surgiu da experiência de escrever O Segundo Sexo. Como você vê o desenvolvimento do movimento após a publicação do seu livro em termos de sua própria trajetória?

Beauvoir — Ao escrever O Segundo Sexo tomei consciência, pela primeira vez, de que eu mesma estava levando uma vida falsa, ou melhor, estava me beneficiando dessa sociedade patriarcal sem ao menos perceber. Acontece que bem cedo em minha vida aceitei os valores masculinos e vivia de acordo com eles. É claro, fui muito bem-sucedida e isso reforçou em mim a crença de que homens e mulheres poderiam ser iguais se as mulheres quisessem essa igualdade. Em outros termos, eu era uma intelectual. Tive a sorte de pertencer a uma família burguesa, que, além de financiar meus estudos nas melhores escolas, também permitiu que eu brincasse com as idéias. Por causa disso, consegui entrar no mundo dos homens sem muita dificuldade. Mostrei que poderia discutir filosofia, arte, literatura, etc., no “nível dos homens”. Eu guardava tudo o que fosse próprio da condição feminina para mim. Fui, então, motivada por meu sucesso a continuar, e, ao fazê-lo, vi que poderia me sustentar financeiramente assim como qualquer intelectual do sexo masculino, e que eu era levada a sério assim como qualquer um de meus colegas do sexo masculino. Sendo quem eu era, descobri que poderia viajar sozinha se quisesse, sentar nos cafés e escrever, e ser respeitada como qualquer escritor do sexo masculino, e assim por diante. Cada etapa fortalecia meu senso de independência e igualdade. Portanto, tornou-se muito fácil para mim esquecer que uma secretária nunca poderia gozar destes mesmos privilégios.

O feminismo de Simone sempre esteve intrinsecamente ligado com a defesa da liberdade plena. Em “Por uma moral da ambiguidade” ela diz:

É preciso ainda recordar que o fim supremo a que o homem deve visar é sua liberdade, única coisa capaz de fundar o valor de todo fim; o conforto, a felicidade, todos os bens relativos definidos pelos projetos humanos serão, pois, subordinados a essa condição absolula de realização. A liberdade de um único homem deve contar mais que uma colheita de algodão ou de borracha: embora esse princípio não seja, de fato, respeitado, ele costuma ser teoricamente reconhecido. Mas o que torna o problema tão difícil é que se trata de escolher entre a negação de uma liberdade ou de outra: toda guerra supõe uma disciplina, toda revolução, uma ditadura, toda política, mentiras; do assassinato à mistificação, a ação implica todas as formas de submissão. Ela é, portanto, em todos os casos absurda? Ou é possível, no próprio seio do escândalo que ela implica, encontrar apesar de tudo razões para querer uma coisa mais do que a outra? (pág. 93)

Ela não se dedicou apenas a filosofia, mas também escreveu romances, entre eles “A Mulher Desiludida”.

Passo tempo demais em casa de Colette depois que ela se recuperou. Apesar da sua grande gentileza, sinto que minha solicitude corre o risco de importuná-la. Quando se viveu de tal maneira para os outros, é um pouco difícil começar a viver para si. Não cair nas armadilhas da dedicação: sei muito bem que as palavras dar e receber são intercambiáveis e como eu tinha necessidade da necessidade que minhas filhas tinham de mim. Nesse sentido nunca blefei. “Você é maravilhosa”, dizia-me Maurice. Ele me dizia isso frequentemente, a qualquer pretexto. “Porque, para você, dar prazer ao outros é antes dar prazer a você mesma.” Eu ria: “É verdade, é uma forma de egoísmo.” Aquela ternura em seus olhos: “A mais deliciosa que existe.” (pág. 145)

Conheça mais a obra de Beauvoir e acompanhe o blog Beauvoir au jour le jour.

 

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