Carta de Homero Santiago aos 150 professores que assinaram o documento “Diante da Situação”
“Pois então, há gente que compra deputado, há reitores que compram chefes de unidades, há quem faça piquete, e assim por diante”
Caros colegas,
Como não sou bom em discussão poética e não tenho condições de argumentar com a memória de longa data (não que a tenha perdido, simplesmente não conheço a USP dos tempos de antanho), vou me permitir alguns comentários mais chãos, ou mlehor, algumas impressões, me servindo da memória mais imediata (entrei em 1993 na USP), acerca do documento recente “diante da situação”, que nos foi enviado a todos e foi noticiado hoje pela Folha de S. Paulo.
* Sobre os meios de produção do texto e a coleta de assinaturas, não vejo maiores problemas; é uma via legítima. Porém, há de se ponderar, como fez perfeitamente o prof. Adrián: “o modo de circulação do texto, como o de qualquer texto, é parte de seu sentido, inclusive o fato de ter alcançado tão rapidamente divulgação na Folha de São Paulo”. Querendo ou não é um texto feito para sair no jornal (o que não quer dizer que tenha sido tal a intenção).
* É cansativa essa coisa toda de “excelência”, “qualidade”, etc. Em termos mais teóricos, se poderia invocar Gilles Deleuze: só os funcionários do saber costumam levar a sério tais argumentos – e sempre no mau sentido: é a desculpa para as piores coisas, para as atitudes mais burocráticas, para a constituição de um discurso afinado ao poder (com intenção ou não); em bocas cínicas é tenebroso (o que não quer dizer que todos os signatários o sejam; somente que alguns o são com certeza, e vou me permitir relacionar as ações aos bois, mesmo sem nomeá-los).
* É incrível que alguns (a maioria, ao menos dentre os que conheço, não) dos que lastimam que “excepcionalmente” se interrompa o “trabalho universitário sério e precioso” são os mesmos (dois ou três) que dispensam os alunos mais cedo porque marcaram consulta no HU – ora, bolas! por que não marcam fora do horário de aula. Houve (uma única vez, pelo menos) um que interrompeu a aula porque precisava ir ao “Banespa” (faz algum tempo).
* Dentre os arautos da excelência, há aqueles que vivem viajando e nunca se preocupam com nada relativamente aos cursos e aos alunos (há os que viajam e se preocupam, e que são a maioria). Há os que por algum motivo (em geral por ocupar cargos burocráticos), cuidam da própria vida e estão há anos dando o mesmo curso; quando o curso é bom, isso é até positivo, quando o curso é ruim, é uma desgraça para o conjunto dos alunos.