Não creditem nada aos meios de comunicação que se empenham constantemente em deslegitimar a nossa querida, velha e sofrida periferia. (por Yuri Polvilho)

Pedirei, apesar do grande texto que escrevi, aos meus amigos não informados na totalidade acerca do que acontece na USP leiam:

Não creditem nada aos meios de comunicação que se empenham constantemente em deslegitimar a nossa querida, velha e sofrida periferia.

Os meios de comunicação possuem sim pessoas em seu comando e que cumprem um papel dentro de nossa sociedade hierarquizada e da divisão produtiva e social existente dentro de nosso território, ou seja, assim como qualquer discurso, não possuem neutralidade, acrescentando o fato de nas mãos da grande mídia esse discurso se portar como um interesse exclusivo objetivado em mascarar as verdadeiras relações das coisas.

Quanto ao “TÚNEL” encontrado na comunidade da São Remo, tenho toda a certeza de que se trata de mais uma jogada que já vem acontecendo há alguns meses, como interesse da Gestão do REITOR João Grandino Rodas, escolhido pelo governador Geraldo Alckmin –sim, o mesmo do Massacre do PINHEIRINHO e dos despejos violentos aos moradores ocupantes de imóveis abandonados do centro –, em total alinhamento com a política de/para ELITE do PSDB. RODAS pretende e já lança um projeto de “REURBANIZAÇÃO” da comunidade da São Remo, já relembrando a chegada de eventos internacionais como a Copa e Olimpíadas e a grande valorização de propriedades e terrenos no bairro do Butantã, que se expressa como um reflexo da ESPECULAÇÃO imobiliária em expansão sob os interesses das grandes Empreiteiras e Elites, tendo como objetivo a expulsão dos pobres das regiões de nova “centralidade”.

Esse projeto de dominação não direciona-se simplesmente à São Remo, mas já ocorre em diversas comunidades da região oeste (Jaguaré e Rio Pequeno) e em outas várias comunidades de São Paulo, pois na falta de um túnel existe o FOGO NO BARRACO. Sim, maninho, isso é sustentado pelo pórrio governo que você acredita pensar em você, pobre, preto/índio, trabalhador ou estudante, migrante [ou filho] das periferias, ora apenas ameaçado pelo “não ter” e agora vítima da principal ferramenta de extermínio em massa, a polícia — em especial a ROTA– e o exército.

Essa é a maneira de como o Estado lida com os problemas sociais gerados pelo próprio sistema de desigualdade e contradições que defende (o capitalismo), através do massacre disfarçado em forma de “ordem” que se estabelecerá pela ROTA aos “favelados traficantes”, e já percebo a tentativa da grande mídia em vincular a ampla questão do tráfico de drogas com as mobilizações estudantis na USP no ano passado, que tinha como primeiros objetivos a critica à organização da universidade, que se baseia até hoje num estatuto criado em 1972, durante a ditadura militar, que delega poderes totais ao Reitor de punir e fazer o que bem entende — inclusive gastar o dinheiro provindo dos impostos de toda a sociedade com um tapete persa de R$30.000,00 e bebidas do mais alto luxo — e tem desempenhado tal papel com louvor, tentando inconstitucionalmente expulsar aproximadamente cerca de 90 estudantes que lutam também pelo fim do VESTIBULAR, que excluirá a imensa maioria de vocês, estudantes da precária escola pública, e para que os cerca de 3 Biliões recebidos anualmente pela USP do governo sejam utilizados para garantir a vocês, os poucos que conseguirão passar pelo “filtro social” representado pelo vestibular, tenham condições de concluir seus estudos e tenham sim auxílios para sua permanência estudantil, como moradia, alimentação, transporte e bolsas.Aliás, a respeito dessa questão da maconha, parte dos estudantes se propunha sim a dialogar sobre o tema, mas com o intuito de se apresentar soluções a essa questão complexa por vias do diálogo e da paz, vendo essa questão não como um caso de polícia, mas de políticas públicas.

Pois então, é chegada a hora de vocês também saírem da neutralidade e ou se juntarem a nossos irmãos históricos das senzalas e ocas, que agora habitam as periferias e prosseguem suas vidas rotineiras nos trabalhos e escolas públicas, que lhes esgota a psique e o físico , ou ao grupo seleto das elites brancas das quais jamais farão parte, a não ser em pensamento e comportamento.

Lembrem-se de que os direitos que temos hoje não vieram de nada, mas sim das lutas sociais encabeçadas por sindicatos, organizações populares, movimentos sociais e até por seu vô/vó, pai/mãe que ocuparam e construíram com seus próprios braços as casas que habitam hoje.

Precisamos de mais ousadia e organização da periferia frente ao poder que nos é imposto, seja ele de ordem econômica, política, cultural, ideológico, religioso e psicológico, representado hoje pelos inimigos históricos da periferia: O ESTADO e suas instituições (Polícia, tribunais, exércitos e etc.).

Fica apenas o salve de mais um negro também vindo das periferias, que por muita sorte, conseguiu infiltrar-se em meio a USP, lembrando sempre que hoje o “túnel” é na são remo, mas que amanhã pode aparecer na sua casa!

Salve,

Yuri.

 

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